21/09/2022

Crítica do filme: 'O Segredo de Madeleine Collins'


O nó que a mente provoca dentro de um egoísmo onde não existe pensar no outro. Exibido no Festival Varilux de Cinema Francês 2022, O Segredo de Madeleine Collins é um drama psicológico que nos mostra uma mulher que vive duas vidas e sofre os abalos emocionais quando conflitos destroem as mentiras contadas. Escrito e dirigido por Antoine Barraud, o longa-metragem é uma viagem à mente de uma perturbada mulher que basicamente perdeu o senso crítico e a noção da realidade. No papel principal a competente atriz belga Virginie Efira.


Na trama, acompanhamos a história de Judith Fauvet (Virginie Efira), uma tradutora, com a desculpa perfeita de ter um trabalho onde viaja muito, acaba criando na sua rotina duas vidas. Esposa de um maestro e mãe de dois filhos na França e também tendo um amante e uma filha pequena na Suíça, vamos entendendo aos poucos o que acontece nessa história com algumas reviravoltas que reflete sobre o lado psicológico de uma personagem perdida em realidades distintas fazendo força para acreditar que ambas são suas verdades. Quando as mentiras desabam, seu castelo criado vai ruindo aos poucos, ela se vê perdida sem saber como resetar tudo que criou.


A Judith que queria ser Margot e a Margot que queria ser Judith. É difícil traçar um raio-x da personagem, sua forte personalidade parece bloquear qualquer sensibilidade pelo sentimento dos outros. Se veste dentro de uma bolha egocêntrica, egoísta, se embolando em mentiras. Parece viver intensamente as duas histórias. Como a mentira tem pernas curtas, acaba se envolvendo em conflitos quando o que andavam em paralelos distantes acabam se aproximando. Não fica bem definido os abalos emocionais, há somente a parte implícita, ela sente dores mas que parecem ser do desespero de não conseguir suportar andar somente em uma dessas histórias.


Abdal, o amante suíço, conhece suas mentiras e durante muito tempo foi conivente com elas até certo tempo quando passou a perceber que aquela história não era correta. A ruptura chega por essa estrada, onde são deixados conflitos iminentes, forçando Judith a lidar com a situação. Assim, entendemos melhor esse lado da moeda, como a protagonista se tornou a mãe da filha de Abdal.


O Segredo de Madeleine Collins envolve o espectador sobre a imensidão das emoções e dos conflitos sobre o que quer, o que sente. Um recorte profundo de uma mulher afogada nas emoções das vidas que criou.



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Crítica do filme: 'O Livro dos Prazeres'


Os medos e o duelo sobre a intimidade dentro de um renascer. Baseado na obra Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres de Clarice Lispector o longa-metragem O Livro dos Prazeres dirigido por Marcela Lordy é uma imersão à vida de uma mulher, livre, que busca o entendimento dos seus desejos através de situações onde transbordam suas emoções. Tendo lindas paisagens do Rio de Janeiro como plano de fundo, vamos entendendo aos poucos essa forte personagem que nos apresenta mais um trabalho irretocável de uma das grandes atrizes do cinema brasileiro, Simone Spoladore.


Na trama, conhecemos Lóri (Simone Spoladore), uma professora que nunca mergulhou no mar, moradora agora do Rio de Janeiro que parece gostar de contemplar sua solitude e a liberdade que possui principalmente em uma trajetória pelos desejos. Fugindo dos irmãos controladores (principalmente dos embates com o cínico Davi), ela sai do interior e vai morar em um enorme apartamento deixado por sua mãe, de frente para a praia de Copacabana. Sente-se livre, mesmo sabendo que ainda, de alguma forma, parece depender financeiramente de seu pai. Ela conhece Ulísses (Javier Drolas), um filósofo e escritor argentino, criado pelos avós, que veio para o Brasil como professor convidado e nunca mais voltou. A relação entre os dois é um enorme duelo que Lóri precisará entender melhor, para poder sentir e viver.


Um grande sábio nunca fala de si? Introspectiva, a protagonista vive sua liberdade de forma intensa não se aproximando de muitos que chegam ao seu redor. O prazer e o sentimento são duas portas bem distantes na sua visão do presente. Parece viver uma tristeza profunda com o falecimento de sua mãe. Pode ser que ela sempre se sentiu um enigma e quando percebe que alguém começa a decifrá-la, se sente vulnerável, sem saber como lidar. Ulisses é essa variável incontrolável que chega em sua vida e ela começa a perceber uma desconstrução na maneira de lidar com a intimidade, frequentemente é pega de surpresa quando percebe deixar rastros dessa intimidade em conversas passadas. A partir daí, um duelo é instaurado levando Lóri a um universo de descobertas.


A única maneira de não sentir dor é não se abrindo para o mundo? A solidão não é um sentimento só seu. Precisando entender o silêncio, seus momentos de conflitos, passar pelas dores, a personagem atravessa novos pensares que traçam paralelos com o existencialismo. O Livro dos Prazeres é um dos mais reflexivos filmes brasileiros lançados esse ano nos cinemas, um projeto que nos leva de uma crise existencial até o equilíbrio de um nascer de novo.

 


 

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20/09/2022

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Crítica do filme: 'Pai Nosso?'


Os horrores de um médico que nunca deveria exercer a medicina. Um verdadeiro filme de terror. Assim podemos definir o documentário Pai Nosso?, dirigido pela cineasta Lucie Jourdan. Com uma história que gira em torno de um renomado médico de especializado em fertilização que rompe completamente as barreiras da ética, conhecemos a macabra história de um raio de cidades de Indiana onde uma surpreendente revelação chega com um enorme impacto para inúmeras famílias.  


Nesse impactante e surpreendente documentário disponível na Netflix, somos levados para uma complicada história cheia de traumas e momentos de tristeza quando uma mulher, querendo saber quem é seu pai acaba descobrindo uma macabra manobra praticada por um renomado médico de uma cidade de Indiana, nos Estados Unidos. Ao longo de anos cada vez mais parentes são encontrados mostrando a monstruosidade que fora feita através da inseminação artificial com o sêmen do próprio médico que atendia suas pacientes. Num raio de algumas cidades de Indiana, o mais absurdo era bastante lógico: qualquer pessoa que passasse por eles poderiam ser seus irmãos. Assim, vários pontos traumático são associados ao ato do médico. Famílias são quase destruídas por essa revelação, mudando a vida deles para sempre.


O caso acaba virando notícia quando uma repórter que trabalha em uma televisão local resolve investigar o médico. A partir desse ponto, a intimidação por parte do médico se tornou algo iminente e de maneira aterrorizante, com ligações ofensivas. A investigação vai a fundo e descobre o passado dele e como ao longo dos anos se tornou um religioso fervoroso, Presbítero de uma igreja cristã. Inclusive é assustador o que se descobre sobre o lado religioso desse medico supostamente ligado à Quiverfull que é uma espécie de culto que acredita na pro-criação. Seriam eles fruto de uma organização secreta e doentia?


A grande busca de todos os atingidos por essa história é o porquê. Nessa jornada, decepções com a procuradoria geral e com questões envoltas à leis se tornam frequentes mesmo com a obviedade dos graves atos cometidos por alguém que deveria respeitar suas pacientes.


Pai Nosso? é um projeto forte que nos mostra os horrores provocados por um fanático religioso que resolveu brincar de Deus ferindo princípios médicos, éticos, causando um trauma inesquecível à dezenas de mulheres e suas famílias.



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Crítica do filme: 'Utopia'


A melhor lei é a lei humana, ter a chance de existir. Indicado do Afeganistão ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro no ano de 2015, Utopia, dirigido pelo cineasta iraniano Hassan Nazer é uma jornada em torno dos dilemas da crença, dos absurdos limites ultrapassados da ética, um longa-metragem com fortes mensagens que nos mostra três destinos que acabam sendo interligados por uma situação. O roteiro possui esses três paralelos, em três lugares diferentes, de maneira que somente no final do filme entendemos sobre quais pontos futuros e de quais personagens as imagens no início mostram.


No Afeganistão, após o marido ficar durante anos em estado vegetativo após ser ferido em um conflito, Janan (Martine Malalai Zikria) embarca em uma jornada para ser mãe utilizando a técnica de inseminação artificial. Para isso, ela resolve ir até o Reino Unido para iniciar o procedimento em uma clínica que lhe fora indicada. Chegando lá seu destino se cruza com William (Andrew Shaver) um estudante de sociologia médica, egocêntrico, que trabalha nessa clínica. Esse último faz uma troca do sêmen que iria ser doado por um doador anônimo pelo dele. Paralelo a essa história, conhecemos um ex-professor alcoólatra que é preso por uma briga de bar e terá seu destino convergindo com Janan em um momento muito delicado dela.


Os paralelos buscam o presente de algumas pessoas afim de apresentar os personagens por meio de seus conflitos. Para Janan há um conflito interno sobre o desejo em ser mãe e a maneira como os outros ao seu redor vão reagir à situação por conta da situação do marido. Isso nos leva a refletir sobre a situação no país onde mora, extremamente conservador. Ela durante muito tempo lutou para ser independente em uma vida marcada pelas perdas que teve ao seu redor.  O lado de William é um pensar cheio de egocentrismo, até mesmo egoísta, ultrapassando limites éticos (como é bem mostrado no filme no papo com o diretor da clínica). Está em um momento conturbado, próximo do fim no seu relacionamento com a namorada. Seu pai era militar do exército britânico e morreu em serviço no Afeganistão. Parece viver em uma bolha onde se julga com direitos de como se os outros fossem marionetes transformar o destino deles.  


A utopia do título chega quando na imaginação de alguns onde um mundo onde raça, cultura e religião não seria mais um problema. Mas como chegar a isso? Algum ser humano tem o poder sobre todas as coisas e sobre todos os destinos? Essa co-produção Inglaterra e Afeganistão nos faz refletir sobre dilemas existenciais que se diferem entre crenças.  



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18/09/2022

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Crítica do filme: 'Eike – Tudo ou Nada'

(Foto creditos: Desireé do Valle).


A ascensão e o declínio de um capitalista que já fora um dos homens mais ricos do planeta. Inspirado no livro homônimo da jornalista Malu Gaspar, Eike – Tudo ou Nada é um mergulho em uma fase intensa da vida do empresário Eike Batista onde buscou navegar na onda do pré-sal e acabou por diversas variáveis perdendo fortuna e indo parar na cadeia acusado de corrupção. Ao longo dos quase 110 minutos de projeção, vemos personagens com nomes parecidos com os da realidade, também o uso de um narrador que busca levar até o espectador os detalhes fora das imagens desse conturbado momento onde a palavra Economia era discutida em todos os lugares tão quanto a palavra Futebol. O escolhido para o papel principal foi o veterano ator Nelson Freitas Jr, que inclusive conheceu Eike pessoalmente durante o tempo em que foi casado com Isis, a irmã de Luma de Oliveira.

Na trama, caminhamos em um grande recorte de pouco mais de uma década na vida do empresário Eike Batista (Nelson Freitas Jr.), começando no ano de 2006. Na época do pré-sal, veio o grande sonho de investimento de Eike, criar uma petroleira chamada OGX. Reuniu muitos ex-funcionários da Petrobras e montou uma equipe para ir atrás de um mar de petróleo, mais de 70 bilhões de barris, oito vezes o valor do PIB brasileiro. Aos poucos vamos vendo da ascensão até o declínio de sua carreira profissional com decisões equivocadas, alianças nocivas, planos mirabolantes ligados à emoção e ao seu espírito de excesso de ambição. Para entendermos melhor o que as imagens mostram, há um narrador, Benigno (Thelmo Fernandes), um funcionário de confiança de Eike que possui problemas com bebida e acaba sendo testemunha de todos as variáveis complicadas que levaram ao declínio do empresário.


Os bastidores desse recorte do capitalismo: O empreendedorismo, o risco, o investimento, os equívocos, as emoções, a corrupção. Essa sequência lida bem com que o roteiro navega. Eike começou vendendo seguros na Alemanha para custear sua faculdade se aventurou no Brasil no garimpo, foi ganhando muito dinheiro até se arriscar com o pré-sal (um conjunto de rochas carbonáticas no litoral brasileiro, com potencial para gerar petróleo. Essa camada fica abaixo de uma camada de sal por isso o nome). Aqui é um recorte do ano de 2006 até mais ou menos 2014 que além dos já detalhados momentos profissionais conturbados que levaram à sua prisão acusado de fazer parte de um esquema de corrupção do ex-governador Sergio Cabral.  


O filme também passa meio que rapidamente pelos conflitos do casamento midiático com a artista Luma de Oliveira (Carol Castro), até mesmo sobre o noticiado pivô da separação dos dois. O olhar do trabalhador brasileiro que pensou em investir e o fez, buscando altas cifras através de se arriscar na bolsa pela primeira vez durante o momento que prestígio de Eike e suas ideias é um recorte aprofundado por aqui.  


Eike – Tudo ou Nada possui um ritmo dinâmico, que busca aproximar a história do público com sua linguagem popular, fruto das mentes criativas dos dois jovens e competentes cineastas que assumiram o projeto, Dida Andrade e Andradina Azevedo.


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17/09/2022

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Crítica do filme: 'Desterro'


O eu interior que provoca reflexões também através do olhar do outro. Instigantes diálogos que giram em torno de momentos de reflexões e decisões de uma personagem que parece buscar construir narrativas para um melhor entendimento do seu momento atual como mãe, esposa, filha e amiga, assim começamos falando sobre esse profundo drama existencial chamado Desterro. Exibido no Festival de Cinema de Roterdã, onde teve sua primeira exibição, essa co-produção Brasil, Argentina e Portugal encosta na filosofia, no sentido de descobertas sobre valores, conhecimentos e formas de entender o viver que acontece ao seu redor. O título do filme, Desterro, tem seus vários sentidos quando pensamos sobre o que vemos ao longo dos 123 minutos de projeção. Aqui se mistura em fatores que indicam o momento de solitude, um isolamento voluntário, e também na ação de sair do lugar onde mora por vontade própria.


Dirigido pela cineasta Maria Clara Escobar, em seu primeiro longa-metragem de ficção como diretora, o filme nos leva para a história de Laura (Carla Kinzo) que está num relacionamento há oito anos com Israel (Otto Jr.) com quem tem um filho. Ela se vê paralisada diversas vezes pelas dúvidas e formas de entender a sua vida. Além de tudo, entender um lugar que já tentou olhar demais acaba sendo o ponto de ruptura que chega para a personagem. Certo dia, resolve sair de casa, embarcando em uma viagem sem avisos, deixando Israel e seu filho, em busca de reconectar consigo mesma. As imagens aqui dizem muito, muitas vezes sem falas, é um recorte profundo que muitas vezes pode parecer um quebra-cabeça para o espectador pois a narrativa gira em torno de uma personagem em conflito.


O roteiro, assinado pela própria diretora que conta ainda com a colaboração da protagonista Carla Kinzo e do cineasta Caetano Gotardo, é muito interessante, traça paralelos que se convergem em recortes temporais sob pontos de vista distintos. Assim, vamos caminhando nessa narrativa, num primeiro momento entendendo o contexto em que se encontra Laura e num segundo momento o reflexos de suas decisões aos olhos do companheiro Israel.


Será um confronto entre o concreto e o abstrato? O incômodo parece cercar a personagem Laura, seja nos diálogos com os pais que sempre falam as mesmas coisas sobre casamento e parecem implicar dentro de uma veia conservadora na maneira de entenderem sobre relacionamentos, seja nos papos na cozinha com o seu companheiro, uma pessoa que parece distante, acomodado na sua irreversível praticidade de seu entendimento do mundo. Há também o olhar curioso sobre histórias que acabam cruzando seu caminho, como um papo entre duas mulheres no metrô ou nos depoimentos de passageiras de um ônibus.  


Quando a resposta é o silêncio que atravessa a madrugada. Um dos caminhos para um entendimento melhor da protagonista chega em torno dos inúmeros diálogos sobre situações do cotidiano, seus e dos outros, e também na busca de reflexões sobre determinados recortes de suas idas e vindas. Seu pensar transborda em determinado momento, um fator irrecuperável de seu momento presente, do simples fato de não conseguir mais caminhar na sua monotonia gritante que logo se torna evidente mas já era iminente. A partir daí, escolhas chegam na sua frente dentro da liberdade de seu caminho, da sua estrada, gerando autodescobertas.  


Desterro é um trabalho que vai te conquistando aos poucos, parece instigar o espectador para a necessidade de alguns em refletir sobre o seu próprio eu interior e também através do olhar do outro.



 

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16/09/2022

Crítica do filme: 'A Mulher Rei'


A força feminina em tempos de guerra e luta pela sobrevivência. Buscando trazer um recorte impactante sobre lendárias guerreiras africanas que protegiam o Reino de Daomé, uma das potências africanas entre os séculos séculos XVIII e XIX, a cineasta norte-americana Gina Prince-Bythewood envolve o público em um longa-metragem repleto de ação que pode ser visto como uma aula de história com o foco na emancipação feminina. O projeto, roteirizado pela dupla Dana Stevens e Maria Bello (sim, aquela atriz espetacular de filmes como Marcas da Violência e Coyote Ugly) é inspirado em fatos reais. Em um dos papeis principais, a maravilhosa atriz, vencedora do Oscar, Viola Davis.


Na trama, voltamos séculos atrás para conhecer uma parte da história do Reino de Daomé, um poderoso e visado lugar no continente africano (hoje onde fica o Benin) comandado nesse recorte pelo rei Geyzo (John Boyega). Um dos orgulhos desse lugar é o valente e corajoso exército feminino denominado Agojie, comandado por uma general chamada Nanisca (Viola Davis), uma mulher cheia de traumas em seu passado e que com o passar do tempo se tornou uma das guerreiras mais temidas da região. No filme vamos vendo o treinamento de uma geração nova que chega para esse exército, assim conhecemos Nawi (Thuso Mbedu), uma jovem, destemida, que foi entregue por seu pai adotivo. Quando um novo inimigo chega na região, as veteranas e as novas guerreiras precisarão defender com todas as forças o seu reino.


O roteiro nos apresenta duas fortes personagens femininas, que acabam tendo um forte elo dentro da trama, e por esses dois paralelos que se convergem vamos entrando em fatos históricos marcantes. Primeiro vamos sendo guiados pela história de Nawi, desde seu início nos treinamentos, da sua característica de rebeldia que se molda para desenvolver sua coragem, até suas dúvidas sobre o campo das emoções. Ao mesmo tempo vamos entendendo melhor a rotina das guerreiras através de Nanisca, uma valente general que tem um trauma no seu passado que acaba voltando com situações que acontecem no presente. Envolta dessas duas trajetórias, somos apresentados a situação do poderoso Reino de Daomé, sobre como conseguiram se desenvolver economicamente através da venda de prisioneiros para europeus (muitos desses viravam escravos por aqui na América, no Brasil inclusive). Nesse ponto até mesmo uma negociação com dois negociantes, que falam português, é vista no filme. A parte histórica aqui é bem detalhada e realmente temos a vontade de folear livros e fazer inúmeras buscas pela internet para saber mais sobre esse exército de mulheres e as variáveis de ascensão de Daomé.


A Mulher Rei, que teve sua estreia mundial feita no prestiado Festival de Toronto no início desse mês de setembro, busca em seus 135 minutos de projeção nos mostrar uma história que fala muito sobre emancipação feminina em tempos onde a coragem era uma característica importante para sobrevivência.



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14/09/2022

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Pausa para uma série: 'Line of Duty'


As várias formas de seguir a lei. Criado pelo inglês Jed Mercurio, o seriado britânico Line of Duty nos leva através de uma competente equipe de corregedoria da polícia (aqui intitulada de unidade policial anti-corrupção) a um observador olhar para complicadas tramas que envolvem esse lado da lei. Com uma temporada melhor que a outra (esse texto vale para as duas primeiras pois foram as que vi), sempre com tramas densas, repletas de ação, drama e suspense somos apresentados para alguns casos que realmente existiram.  


Na trama, acompanhamos o superintendente Ted Hastings (Adrian Dunbar), que logo na primeira temporada precisa encontrar mais um integrante para a equipe que chefia, a AC-12, uma unidade anti-corrupção da polícia britânica. Assim chega no nome do sargento Steve Arnott (Martin Compston). Ele se junta a policial Kate Fleming (Vicky McClure) e o trio irá enfrentar histórias complexas onde precisam encontrar as pistas para investigações que envolvem alguém da força policial. Detestados pela maioria dos policiais, eles embarcam em situações de fortes emoções que acabam convergindo, em alguns casos com as suas próprias vidas pessoais.


Caminhando por histórias impactantes, algumas delas baseadas em acontecimentos reais, as duas primeiras temporadas de Line Of Duty (que já tem um total de cinco e disponíveis na Netflix) são brilhantes. Na primeira temporada, um policial renomado (interpretado pelo ótimo Lennie James), com um ficha maravilhosa e alvo da investigação do grupo que logo percebem que ele está metido em uma trama cheia de variáveis. Na segunda temporada, lidam com o caso de uma policial (interpretada pela ótima Keeley Hawes) extremamente inteligente que após uma chamada policial acaba trazendo com ela uma trama que envolve o alto escalão do departamento de polícia.


Aqui a ética e a moral são pontos que estão implícitos como parâmetros de investigações. Mas até mesmo sobre essa situação, o seriado utiliza o contraponto trazendo dramas da própria equipe do AC-12 que se chocam com essas questões trazendo à mesa a razão humana, os erros e acertos que cometem pelo caminho. Essa parte do roteiro é muito bem detalhada, o paralelo entre vida pessoal e vida profissional (na segunda temporada principalmente) fica mais marcante.


Line of Duty é inteligente, empolgante, nos leva a acreditar e desacreditar nos personagens, são histórias onde a moral e a ética tem diversas interpretações.  



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Crítica do filme: 'A Nave'


É possível abordar um tema muito triste de forma tão encantadora. Dirigido pelo cineasta mexicano Batan Silva, A Nave nos leva a uma jornada ao mundo mágico dos sonhos em paralelo a dura realidade de uma doença terrível que afasta da felicidade milhares de pessoas a cada dia. A desconstrução de um protagonista perdido nos seus medos e depressão é o nosso guia nessa viagem emocionante que nos faz refletir a casa segundo sobre a vida.


Baseado em fatos reais, o longa-metragem mexicano conta a história de Miguel (Pablo Cruz), um depressivo locutor de uma rádio, que tem um programa voltado para o público infantil, que vive uma verdadeira crise existencial passando os dias sem pensar no seu futuro e tendo que cumprir seus afazeres profissionais apenas por obrigação. Tudo muda em sua vida quando, enquanto está no ar, recebe a ligação de uma criança dizendo que gostaria de realizar o sonho de ver o mar só que essa criança está com câncer terminal e mora em um hospital. A história mexe com o protagonista que resolve remodelar toda sua vida para enfim conseguir realizar o sonho do pequeno ouvinte.


Um assunto tão triste mas guiado por uma leveza de grandes histórias. Falar sobre o câncer é sempre algo muito complicado. Aqui, até mesmo as pessoas ao redor de um paciente com câncer (no caso, a mãe) também é retratado, além da insensibilidade médica em um momento. Mas para aprofundar nesse assunto, há uma outra estrada que corre em paralelo. O atalho da comédia aqui se encaixa na estrutura emocional abalada de seu protagonista, um homem já adulto que se vê completamente sem direção. Quando ele começa a refletir sobre a sua vida e seus medos, novas descobertas se abrem em sua frente possibilitando ele ser um amigo importante para o jovem com câncer. Toda essa desconstrução é muito bem conduzida pelo roteiro assinado por Pablo Cruz (o próprio protagonista).


O lúdico aqui ganha um ótimo espaço. A nave, o comandante dela, os caminhos da imaginação guiados pela criatividade deixam o doloroso e eminente caminho do jovem paciente um pouco menos triste mas sem nunca deixar de ter pela frente a realidade que tanto nos comove. A Nave emociona, nos faz abrir sorrisos mas também cair lágrimas. Um filme pra grudar nos nossos corações.



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Crítica do filme: 'Código: Imperador'


As confusões de um roteiro nada objetivo. Disponível no catálogo da Netflix, o longa-metragem espanhol Código: Imperador nos mostra por um confuso protagonista as tramas investigativas de agências paralelas que buscam informações valiosas de alvos pré-determinados. O grande conflito do personagem principal se apresenta quando se envolve com uma mulher que de alguma forma está envolvida em uma das investigações. Código: Imperador poderia ser um seriado, talvez com mais tempo entenderíamos melhor todos os mistérios não solucionados de um filme que abre as portas mas não as fecha.


Na trama, conhecemos Juan (Luis Tosar), um experiente investigador que parece trabalhar para algumas pessoas que buscam informações comprometedoras de políticos, esportista, alguém visto com certa relevância na sociedade. Ao longo de um certo período de tempo, algumas investigações de Juan acabam entrando em conflito com sua vida pessoal quando ele se apaixona por Wendy (Alexandra Masangkay). Assim, o protagonista precisará tomar algumas decisões.


Luis Tosar é um grande ator, busca com seu personagem abrir portas, construir reflexões ao redor dos conflitos mas tudo acaba sendo muito confuso. Os coadjuvantes não tem destaque, fato que deixa lacunas soltas dentro dos porquês. O ritmo é acelerado, flertando com a ação mas logo fugindo para o suspense. Não entendemos direito a teia de intrigas que são ligadas ao misterioso trabalho do protagonista, como o filme tem partes inspiradas em fatos reais (também não muito bem esclarecida essa parte) partimos do princípio que seus dilemas do presente encostam em algumas questões éticas oriundas de reflexões sobre o jogo de poder e manipulação do qual faz parte mas que nunca esteve em posição tão comprometedora como se encontra atualmente.


Dirigido pelo cineasta espanhol Jorge Coira, com roteiro assinado por Jorge Guerricaechevarría, Código: Imperador busca em seus mistérios ser impactante como um filme sobre investigações mas os conflitos guiados pelos dramas do protagonista acabam nos levando a campos reflexivos sobre relacionamentos, ou até mesmo a relação entre trabalho e vida pessoal.



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13/09/2022

Crítica do filme: 'Joe Bell'


As segundas chances que não temos mas que de alguma forma nos fazem refletir sobre as oportunidades que não voltam mais. Nos mostrando a história de um homem em uma saga de dor e reflexões Joe Bell nos atinge profundamente colocando no centro das atenções um assunto que cada vez mais acontece e trazem consequências tristes, em vários lugares do mundo: o bullying. Dirigido pelo cineasta nova iorquino Reinaldo Marcus Green, o longa-metragem está disponível no catálogo da HBO Max.


Na trama, conhecemos Joe Bell (Mark Wahlberg), um homem atingido por uma enorme tragédia. Seu filho mais velho Jadin (Reid Miller) cometeu suicídio após uma série de situações constrangedoras que passou provocado pelo preconceito de muitos por ele ser gay. Buscando reunir forças nesse momento tão difícil para qualquer pessoa, ele resolve botar em prática um projeto onde vai caminhar por diversos estados norte-americanos conscientizando a população sobre o bullying.


Os diálogos imaginados, contra os pensares de outrora. O arrependimento é um sentimento, totalmente abstrato mas que aqui é personificado pelos diálogos entre pai e filho durante a caminhada do protagonista. Joe busca com seu objetivo refletir sobre o que poderia ter feito de diferente para que seu filho não tomasse a atitude que tomou ao mesmo tempo que encontra uma saída para sua forte tristeza que é a conscientização para ajudar outros e outras que possam estar passando pela mesma situação de Jadin. Mas isso acaba tendo um preço, Joe se distancia do resto de sua família, a esposa e o outro filho, se fechando em uma bolha que nunca sairia.


A culpa é um fator chave para explicações de alguns porquês. Aqui entramos na polêmica do preconceito, na forma como o pai machista enxergava o filho assumidamente gay, uma quebra de relação, mostrada em algumas cenas bem detalhadamente, que seria um dos fatores para a depressão e desespero de Jadin. Na escola, o bullying constante vai minando os sonhos e a felicidade de um jovem que apenas quer ser feliz.


Esse filme deveria ser exibido em escolas e debatido entre alunos e professores. Nos faz refletir sobre a nossa sociedade. Os preconceitos de muitos ainda enterram sonhos de outros.



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06/09/2022

Crítica do filme: 'A Perfeição'


Quando a surpresa se torna o grande ponto do roteiro. Escrito e dirigido pelo cineasta nova iorquino Richard Shepard (também assinam o roteiro Nicole Snyder e Eric C. Charmelo), A Perfeição, filme disponível na Netflix é um longa-metragem de 90 minutos que gera diversas surpresas ao espectador. O roteiro, que busca seu diferencial na troca de perspectiva, gera um plot twist que muda até mesmo todo o sentido que a sinopse oficial do filme transmitia. Esse não é um filme sobre inveja, é um filme sobre vingança!


Na trama, conhecemos Charlotte (Allison Williams), uma musicista brilhante que anos atrás teve que paralisar a carreira para cuidar da saúde de sua mãe. O tempo passa e ela reencontra seu mentor Anton (Steven Weber), seus professores, em uma apresentação da nova estrela da escola de música que fazia parte, Lizzie (Logan Browning). As duas de cara se entendem, sentem uma conexão forte e se aproximam bastante. Durante uma viagem, uma situação acontece fazendo com que imaginemos as razões das ações quando é apresentado ao público uma outra visão daquela mesma história.


Esse é um daqueles filmes difíceis de escrever sem soltar algum spoiler, mas vamos tentar. O trauma é ponto chave. A desconstrução de Charlotte é oriunda de conflituosas situações que a abalaram durante toda uma vida. Ao conhecer Lizzie, parece que a protagonista se via no lugar dela. Mas aí imaginamos: ela pensa que ela deveria estar ali? Ou por ela está ali algo deveria ser feito? São duas perguntas que se parecem mas são diferentes, principalmente pelo pensar de Charlotte. Uma pulga atrás da orelha acaba surgindo quando descobrimos verdades escondidas na história dessa misteriosa personagem brilhantemente interpretada por Allison Williams.


O fator do brilhantismo musical, do comprometimento, da disciplina se tornam elementos que vão sendo inseridos aos poucos nessa violenta história de ações extremas. O terror logo toma conta da trama nas ações surpreendentes, na também já dita troca de perspectiva, assim acompanhamos sob algumas óticas os rumos de todo iminente conflito. Você pode refletir sobre esse filme através das duas personagens que veem seus destinos se chocarem através de extremas situações que se encontram. A Perfeição se torna impactante aos poucos e chocante no restante do tempo.



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Crítica do filme: 'Os Bons Companheiros' *Revisão*


As amizades influentes e a inconsequência que beira a falta de referências. Adaptação do livro Wiseguy, de Nicholas Pileggi, Os Bons Companheiros é um dos grandes clássicos do cinema quando pensamos em filmes de máfia. Dirigido por Martin Scorsese o filme nos mostra a estrada tumultuada de um homem, desde a adolescência, até seus inconsequentes atos ao longo de anos. Ao longo de cerca de 30 anos vamos acompanhando a ascensão e a queda de três homens que convivem com a violência a cada dia que se encontram. O projeto não deixa de ser um recorte do mundo dos mafiosos sob o ponto de vista dos mesmos, já que é baseado em fatos reais.


Na trama, conhecemos o jovem Henry Hill (Ray Liotta) que sempre sonhou em fazer parte do grupo de gângster que dominavam as ruas do bairro onde morava. Começando lá embaixo na hierarquia ao longo do tempo foi crescendo e seu destino acaba se chocando com o de James Conway (Robert De Niro) um experiente criminoso e do explosivo e altamente inconsequentemente Tommy (Joe Pesci). O trio arma diversos atos criminosos e se envolvem cada vez mais com o crime, principalmente quando chega forte o tráfico de drogas na cidade. Mas essa amizade fica em xeque quando conflitos começam a surgir para os três.


O que é a amizade para alguém que é um criminoso? Existe lealdade eterna em um grupo mafioso? O recorte nas fases de vida do protagonista nos ambientam na situação de um bairro pobre nos Estados Unidos dominada pelos mafiosos ítalo-americanos que já foram objetos de retratos em outros poderosos filmes sobre o tema. Aqui, acompanhamos a origem da ascensão de um jovem que tem o curioso sonho em ser um gângster. Isso é oriundo do tamanho do fascínio que esses criminosos exalavam sempre com muito dinheiro, carros novos e muita influência e respeito. Nessa parte, logo no início dessa jornada, refletimos a todo instante sobre referências.


Durante anos, crimes diversos, contrabandos, são vistos como mais um trabalho qualquer para Henry e seus sócios, uma banalização de atos que vão na contra mão de uma sociedade honesta que não parece existir ali naquele meio de mafiosos. As alianças tomam conta da trama quando conflituosas ações começam a surgir em desequilíbrio, principalmente com a chegada das drogas pesadas que tornam a exposição da organização algo cada vez mais evidente somado ao massivo reforço nas ações policiais para coibir o tráfico.


A personalidade dos intensos e muitas vezes violentos personagens vão se moldando e se construindo ao longo do tempo e também pelo tamanho dos problemas que enfrentam nas operações. Em certo momento as iminentes traições saem de trás da cortina mostrando que os elos, que para alguns eram fortes, podem ser quebrados e o sentido de liberdade não seria o mesmo para sempre. Henry Hill viveu intensamente por três décadas no grupo criminoso e virou testemunha chave em vários processos contra uma enorme rede criminosa, fato que o levou a viver o restante de sua vida no programa de proteção à testemunha das autoridades norte-americanas.


Os Bons Companheiros é um raio-x completo sobre várias fases na vida de um homem que se jogou para a inconsequência a partir do fascínio em exemplos errados da sociedade.




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Crítica do filme: 'Homens de Ouro'


Um mirabolante plano que tinha tudo para dar errado em alguma hora. Baseado em fatos reais que aconteceram na cidade de Turim, na Itália, em meados na década de 90, Homens de Ouro, que teve exibições em uma das edições do Festival de Cinema Italiano (que acontece todo ano no Brasil), nos mostra os detalhes de um roubo à um carro de transporte de valores dos correios italiano. Focando em algumas perspectivas sobre início, meio e presente em relação ao roubo, somos apresentados a histórias que se unem pela insatisfação que vivem em suas vidas naquele momento. A direção é do cineasta Vincenzo Alfieri.


Na trama, conhecemos Luigi (Giampaolo Morelli), um motorista de um dos carros fortes do correio de uma cidade na Itália que sonha em ter muito dinheiro e mudar completamente de vida. Assim, certo dia, ele resolve bolar um plano maluco junto do enrolado amigo Luciano (Giuseppe Ragone) para roubar a mercadoria que transporta em seu trabalho. Só que os dois sozinhos não conseguem executar o plano completo, assim eles precisam chamar Alvisi (Fabio De Luigi), um homem carrancudo, que beira ao grosseiro, mas que é o companheiro diário de viagens no carro forte de Luigi. Mesclando drama com pitadas afiadas de comédia, vamos conhecendo a história desse roubo que ficou marcado na história da Itália.


A sacada do roteiro é apresentar a trajetória do roubo pela perspectiva dos três personagens, assim vemos os motivos que se apresentam para cada um fazer parte dessa arriscada jornada. A inconsequência é um elo entre as três histórias, o conseguir dinheiro roubando é uma variável que leva a realização de sonhos de alguns, melhora de vida de outros entre outras situações que aparecem (até outros personagens) que acabam levando o grupo para um desfecho trágico longe da felicidade mirada. A mescla com o humor deixa o filme mais leve, há um background ligado ao esporte mais popular na Itália, o futebol, por aí se desenham personalidades e a seriedade ou não que lidam com essa ação.


Homens de Ouro é um filme sobre um roubo mirabolante executado por personagens que pensam sobre a vida de formas diferentes. Para quem curte filmes baseados em fatos reais, pode ser uma boa dar uma conferida nesse projeto.



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Crítica do filme: 'A Casa'


Quando as emoções ficam à frente da razão. Imagina uma situação onde você tem uma vida confortável, uma família feliz, um apartamento luxuoso com uma vista maravilhosa, um emprego muito bom, só que em algumas semanas, como um efeito dominó, tudo isso se perde. No drama espanhol A CASA, escrito e dirigido pela dupla David Pastor e Àlex Pastor, nós somos testemunhas de um homem em espiral de inveja e loucura querendo tomar a vida de outra pessoa. Um suspense mesclado com drama que nos leva a pensar a todo instante sobre os seres humanos e suas fraquezas.


Na trama, conhecemos o publicitário Javier (Javier Gutiérrez), um homem que sempre teve bons empregos, morava em ótimos lugares que certo dia acaba perdendo todo esse status que conquistou após ser demitido e nunca mais conseguir um outro emprego muitas vezes por ser considerado velho demais para algumas empresas. Tendo que fazer uma nova engenharia financeira na sua vida, precisa vender o apartamento luxuoso que morava com a família. Só que os dias vão passando e Javier não consegue ficar longe do apartamento, inclusive invandindo-o várias vezes para saber mais detalhes da vida do novo morador, o vice-presidente de uma empresa de transportes Tomás (Mario Casas). Assim, começa uma obsessão que terá um destino trágico para alguns.


A parte psicológica bem detalhada do protagonista nos leva a uma jornada de reflexões. Javier não aceita de maneira nenhuma a perda de seu status profissional, de sua vida confortável. Como lidar com isso? Cheio de conflitos internos que vão muito além da inveja iminente, vemos isso na maneira como lida com o filho e a esposa no cotidiano, ultrapassa todos os limites embarcando em uma narrativa somente sua (oriundo do seu ar egoísta), não deixando rastros de lucidez em nenhum momento, se jogando na reta inconsequente onde se coloca em uma via unilateral extremamente cruel com os outros que na cabeça dele se tornam obstáculos no seu caminho.


Na outra parte dessa história vemos um homem buscando a redenção de seus traumas, um problema com álcool que quase acabou com seu casamento e o afastou de sua filha. Como vice-presidente da empresa comandada pelo pai da esposa, se vê exposto por ter esse cargo, em cotidianos tensos mas buscando soluções para não voltar à bebida, inclusive indo a um grupo de apoio para pessoas que sofrem do mesmo mal.


A Casa é um recorte de duas vidas, a reconstrução e a destruição, que acabam se chocando por conta da ambição e inveja sem limites de um protagonista consumido pelos seus sentimentos de reconquista, uma variável que usa a sociedade e a boa vontade como trampolim para sua jornada egoísta.



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