12/12/2013

Crítica do filme: 'A Vida Secreta de Walter Mitty'



Você já fez algo realmente extraordinário? Com um roteiro do sempre competente Steve Conrad (À Procura da Felicidade), baseado em um personagem fantástico criado pelo escritor americano James Thurber no conto publicado na revista The New Yorker em 1939, o novo trabalho como diretor do astro de Hollywood Ben Stiller A Vida Secreta de Walter Mitty se propõe em ajudar ao público a encontrar a verdadeira beleza do sonhar contido dentro de todos nós.

Na quimérica história, conhecemos Walter Mitty (Ben Stiller), um homem que trabalha há 16 anos em uma revista de grande circulação chamada Life sendo gerente da parte de processamento de imagens. Walter é tímido, tem poucos amigos e possui uma imaginação que ultrapassa qualquer limite da definição de absurdo. Em suas experiências memoráveis dentro de seus sonhos, o pacato cidadão possui inúmeras histórias fantásticas. Porém, na realidade, sofre por não conseguir se aproximar da mulher que ama e enfrentar de frente os grandes vilões de sua vida. Quando seu emprego é colocado em risco, Walter (um surpreendente e exímio skatista) parte em uma jornada muito mais fantástica que qualquer outro sonho já visto.

O roteiro é muito consistente deixando o público louco para saber o que virá na sequência das ações do protagonista. O filme mistura fantasias mirabolantes e realidade, o espectador precisa ficar atento para saber o que cada cena significa. Entre paisagens lindas, diálogos cômicos, e uma cena impagável fazendo analogia ao ótimo filme de David Fincher O Curioso Caso de Benjamin Button, A Vida Secreta de Walter Mitty é mais um daqueles filmes que ficará dentro de sua memória cinéfila durante muito tempo.

Um dos pontos altos desse projeto é o estupendo trabalho de Ben Stiller (quem diria?!), tanto na atuação, quanto na direção. Consciente e entendendo cada detalhe de seu curioso personagem, domina as grandes cenas como um veterano das telonas. Entre fantásticos sonhos e cenas puxadas ao drama, Stiller consegue ser simples e profundo ao mesmo tempo mostrando uma delicadeza absurda para que junto de seu personagem nos mostrar a beleza que existe na redescoberta da vida.

A trilha sonora assinada por Theodore Shapiro (O Diabo Veste Prada) é espetacular, o espectador se sente a todo instante fazendo parte da jornada de Walter Mitty. Outro ponto a ganhar destaque são as cenas entre Ben Stiller e Kristen Wiig (quem diria (2)?!). Essa última,  quando deixar de fazer comédias pastelões inúteis e ridículas como Missão Madrinha de Casamento, mostra que tem potencial de algum dia ser uma atriz muito interessante.

Contando também com a participação mais do que especial do ganhador do Oscar Sean Penn, A Vida Secreta de Walter Mitty se consolida a cada minuto de fita como um retrato maduro entre a realidade e a ficção. Então pessoal, o jeito é seguir o ABC de Walter Mitty. Veja o mundo. Os perigos que virão. Chegue mais perto. Sinta. Esse é o propósito da vida. Não percam essa fabulosa experiência cinematográfica que Jung iria amar. Bravo!
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10/12/2013

Crítica do filme: 'Como Não Perder essa Mulher'

Após o ano de 2012, com pelo menos três ótimos filmes no currículo, o artista californiano Joseph Gordon-Levitt (Lincoln) resolve ingressar na carreira de diretor apresentando o interessante drama Como Não Perder essa Mulher. O roteiro - que também é escrito pelo Robin do último filme de Christopher Nolan – fala com maturidade sobre a vida sexual de um jovem, tema que em muitos outros filmes é tratado com descaso e ignorância, principalmente pelos bobocas filmes pipocas hollywoodianos. O longa-metragem, estimado em U$$ 6 Milhões, conta com as presenças marcantes de Julianne Moore (Carrie, a Estranha) e da musa Scarlett Johansson (Hitchcock), ambas super divertidas em seus respectivos papéis.

A comédia cult Como Não Perder Essa Mulher acompanha Jon (Joseph Gordon-Levitt ), um clássico Don Juan dos dias de hoje que vive intensamente sua juventude e seus filmes pornôs. Levando uma vida sem relacionamentos sérios, consegue encontrar felicidade em simples movimentos noturnos cotidianos. Um dia, em mais uma dessas noites regadas a bebidas e mulheres, conhece Barbara (Scarlett Johansson), nascendo deste encontro uma paixão avassaladora. Após os enormes conflitos que atrapalham esse relacionamento, Jon conhece Esther (Julianne Moore) e a maturidade e os simples prazeres da vida são vistos de outra forma por esse curioso personagem.

Não é fácil abordar o sexo no cinema. Um dos grandes méritos de Gordon-Levitt e companhia é conseguir passar muita verdade e naturalidade nos ótimos diálogos que o filme possui. A história a princípio parece bobinha e seu personagem um eterno histrião. Porém, a cada nova sequência somos jogados e postos a pensar sobre as atitudes imaturas desse protagonista que com certeza vai dar o que falar no final da sessão. As coadjuvantes, já mencionadas no primeiro parágrafo, elevam a qualidade da fita, sendo muito bem aproveitadas pelo ótimo roteiro.

O filme é muito direto na hora de passar suas mensagens se tornando dinâmico mas também um pouco repetitivo. O lado positivo é que essa tática em chegar logo ao tema central da história, prende o público rapidamente (ajudado pelo forte carisma dos personagens). O lado negativo é que perto do fim da história percebemos que muitas mensagens se tornaram repetitivas e isso pode gerar um certo desgosto do espectador que entender assim.

Uma curiosidade marcou a pré-produção deste projeto. Joseph Gordon-Levitt escreveu o papel de Barbara especialmente para Scarlett Johansson. Imaginem a felicidade do jovem artista quando a musa de Woody Allen – e porque não dizer, de todos nós cinéfilos - concordou em estrelar o filme. Além disso, o personagem principal era para ser interpretado por Channing Tatum, porém, o diretor assumiu o posto alguns dias antes de começar a rodar o filme. Não é todo dia que podemos contracenar com a Scarlett não é Sr. Gordon-Levitt?


Brincadeiras à parte, esse trabalho merece ser conferido por todos os cinéfilos. Afinal, não é todo dia que somos brindados com argumentos inteligentes e fáceis de entender sobre um tema que corre nosso imaginário desde a juventude. Lembramos vagamente de Kinsey e outros tantos estudiosos da área que tentaram surpreender o público em dezenas de publicações. Usar o cinema para falar sobre o sexo desta forma madura é muito mais prazeroso para todos nós.   
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Crítica do filme: 'Até que a Sorte nos Separe 2'

Fica difícil saber por onde começar a falar dessa nova comédia com cara, pescoço e pernas de global. Com um orçamento na casa dos R$ 6,5 milhões, Até que a Sorte nos Separe 2 deve chegar aos cinemas brasileiros na próxima sexta-feira com mais de 700 cópias. Se o número for esse mesmo, provavelmente baterá alguns recordes e se tornará o filme de maior lançamento da história do cinema nacional. A questão é: aonde foi parar a qualidade nesses 6 milhões gastos? O roteiro é pífio, as atuações arrastadas e a direção completamente perdida. Mais uma enorme decepção nacional do gênero comédia.

Gravado no Rio de Janeiro e em Las Vegas, nos Estados Unidos, Até que a Sorte nos Separe 2 volta a apresentar ao público as confusões do tijucano Tino e sua família. Dessa vez, o personagem mais sortudo do cinema nacional é salvo de uma eminente falência pela surpreendente herança deixada por um tio de sua esposa. Com R$ 50 Milhões no bolso e com a simples missão de jogar as cinzas do falecido tio meio do Grand Canyon, viaja com sua mulher Jane (Camila Morgado) e seus filhos para Las Vegas onde, novamente, se mete em diversas confusões no cassino do hotel onde está hospedado.  

O roteiro é terrível. Bobagens gigantescas, toscas, se misturam com diálogos sem o mínimo de veracidade e repletos de exageros. A overdose de besteiras que vemos nas telonas chega ao seu ápice nas sequências de MMA que só servem mesmo para promover esse esporte - nada violento (sarcasmo) - que por acaso tem preciosos minutos reservados em uma famosa emissora de televisão, que por acaso mais ainda tem uma certa influência neste filme. Por que será?  

A petropolitana Camila Morgado (a eterna Olga) tem a fácil missão de substituir a atriz Danielle Winits que por algum motivo não pode reviver a personagem que interpretou no primeiro filme. Isso é o que chamamos de desperdício de talento. Morgado faz de tudo para dar algum oásis à terrível história, porém, não consegue. O personagem de Leandro Hassum (Se Puder... Dirija!), Tino, é um dos mais caricatos e chatos da história do cinema nacional. A atuação do comediante é de dar pena, completamente perdido em cena, exagera de maneira impressionante em sua atuação. Uma boa seria Hassum voltar ao teatro, onde realmente é um dos grandes talentos brasileiros. Fazer cinema não é tão fácil assim e nós cinéfilos não somos pacóvios!

A única coisa de interessante, e rezo para que não tenha sido usado muito dos seis milhões nisso, é a participação especial (bem rápida) de Jerry Lewis. O comediante norte-americano de 89 anos, que ficou famoso já na década de 40 quando formou uma dupla espetacular com Dean Martin, interpreta uma espécie de mensagem de hotel, talvez uma homenagem a um de seus filmes mais famosos, O Mensageiro Trapalhão (1960). E saibam que filme Até que a Sorte nos Separe 2  só não ganhou nota zero por conta dessa homenagem.


Lançado ano passado, o primeiro filme levou mais de 3 milhões de espectadores aos cinemas. Essa sequência baterá esse número facilmente. Mas será que é esse tipo de filme que o público quer assistir? Precisamos desligar nossa inteligência durante o pouco mais de 90 minutos de fita e rir de qualquer coisa que apresentam para nós? É justo com quem ama cinema e ainda acredita nas produções nacionais? Com R$ 6,5 Milhões, em vez de bobagens, poderiam dar a chance para dezenas de projetos mais interessantes que certamente existem e estão espalhados pelo nosso país. 
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Crítica do filme: 'Minhocas'

Após os cinéfilos de todo o mundo conferirem A Noiva Cadáver, Fuga das Galinhas e Mary and Max, entre outros ótimos filmes que adotam a técnica do Stop Motion como modelagem para as telonas, chega aos nossos cinemas na próxima sexta-feira 13 uma aventura bem longe de ser uma experiência apavorante, estamos falando do cativante Minhocas. A corajosa produção é a primeira experiência de nosso cinema nessa técnica de animação adotada por grandes diretores de todo o planeta, como o genial Tim Burton.

Inspirado em um curta-metragem homônimo, vencedor de 11 prêmios no Brasil, incluindo Animamundi e o Festival de Gramado, Minhocas conta a história de Júnior, um menino sonhador que sofre por não conseguir se incluir nas conversas, jogos e animações da turminha que conhece. Certo dia, após ser desafiado por alguns colegas, é cavado para fora da terra onde vive, indo parar em um lugar novo e perigoso. Assim, vive uma série de aventuras ao lado dos amigos Nico e Linda procurando um jeito de voltar para casa.

Como toda a animação, a dublagem é um ponto fundamental para o sucesso com o público. Os dubladores envolvidos nesse projeto conseguem captar muito bem a essência de cada personagem, resultando em ótimas cenas. O público, tanto o infantil como o adulto, recebe e interage com os acontecimentos da história. O roteiro se divide em partes para a criançada e em partes para os adultos. Essa divisão, gera uma desencaixe nas interações pois existem algumas mensagens que os baixinhos vão conseguir entender. Porém, esse argumento não desqualifica de maneira nenhuma a produção.

O interessante projeto, longe de ser uma obra-prima, consegue com poucos elementos chegar ao seu objetivo de passar uma mensagem educativa. Entre os rasos diálogos, encontramos mensagens bem profundas sobre ecologia, cidadania e amizade. Os próprios personagens são cativantes por conta, exatamente, dessas interações que chegam aos ouvidos da criançada, de forma leve e descontraída. O papai e a mamãe que forem levar os filhos para conferir essa animação irão sentir que conseguiram em um só evento, divertir e levar uma mensagem bonita para sua família. Não percam!


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01/12/2013

Crítica do filme: "Última Viagem a Vegas"

Reunindo um elenco de estrelas do cinema e falando sobre a maturidade em aproveitar a vida, o cineasta Jon Turteltaub (A Lenda do Tesouro Perdido) chega com seu novo trabalho aos nossos cinemas, a comédia Última Viagem a Vegas. A terceira idade é o foco principal deste longa-metragem roteirizado por Dan Fogelman (Amor a Toda Prova), que tenta se sustentar com diálogos cômicos e uma boa atuação de Kevin Kline (Um Peixe Chamado Wanda). Mesmo com alguns elementos envolventes, a história tem altos e baixos. Do meio pra frente parece sem direção mas as situações hilárias que passam os velhinhos devem tirar bons risos da plateia.

Na trama, quatro amigos de infância, que hoje já estão na fase dos 70 anos, resolvem se reencontrar após anos sem contato para comemorar a despedida de solteiro de um deles em Las Vegas, o ricaço Billy (Michael Douglas). Além de Billy, o grupo é formado por: Sam (Kevin Kline), Archie (Morgan Freeman) e Paddy (Robert de Niro). O primeiro está infeliz e depressivo no casamento, o segundo teve muitos problemas de saúde além de ser tratado como criança pelo filho, o terceiro é um viúvo ranzinza e infeliz que tem contas a acertar com Billy. Esse grupo vai se meter em altas confusões pelas noites na famosa cidade dos cassinos.  

Talvez o menos famoso da turma, Kevin Kline, leva o filme nas costas. Seu personagem é o único que consegue ter excelentes momentos na trama. O ator nova-iorquino esbanja categoria e improvisos.  Robert De Niro e Michael Douglas ficam engessados nos seus respectivos papéis, não conseguindo desenvolver de maneira convincente seus personagens. O primeiro tem até uma cena bem legal que lembra o personagem Jake La Motta, interpretado por De Niro no filme Touro Indomável, mas decepciona como um todo. Já Morgan Freeman, faz de tudo para desenvolver seu personagem mas Kevin Kline é quem acerta bastante com seu excêntrico velhinho que ganha um Viagra e uma camisinha da esposa pra curtir Las Vegas.

Em algumas sequências, principalmente em uma específica da boate, há um uso excessivo de merchandising de famosas bebidas alcoólicas. O diretor poderia ter sido um pouco mais delicado para incluir essas marcas no longa, ficou muito exposto e gratuito da maneira que foi filmado. Muitos dirão que esse trabalho é um Se Beber, Não Case sênior, cheio de bebidas e mulheres bonitas. Realmente os filmes possuem vários elementos em comum mas por conta da qualidade de seu elenco, Última Viagem a Vegas é muito mais maduro na hora de passar sua mensagem. Pra quem gosta de comédia, o filme estreia dia 06 de dezembro em todo o Brasil.



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29/11/2013

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Crítica do filme: 'Carrie, a Estranha' (2013)

Depois de cinco anos longe das telonas e tendo no currículo o excelente filme Meninos Não Choram (que deu o primeiro Oscar para a atriz Hilary Swank), a cineasta norte-americana Kimberly Peirce topou o desafio de recriar o universo de uma das histórias mais famosas de Stephen King, Carrie, a Estranha. Com pequenas adaptações para a nossa época, fato que já diferencia esse remake do seu original dirigido por Brian de Palma em 1976, e uma atuação convincente de Chloë Grace Moretz (Kics-Ass 2) essa nova releitura possui bons argumentos para convencer o público a partir do dia 06 de dezembro nos cinemas.

Na história, conhecemos Carrie White (Chloë Grace Moretz) uma jovem que entrou no colégio recentemente a pedido da justiça já que antes recebia apenas aulas em casa. Sua mãe Margaret White (Julianne Moore) é uma costureira e fanática religiosa que impõe uma severa disciplina de sua jovem filha. Certo dia, Carrie sofre um intenso bullying de sua classe dentro da banheiro e a partir deste fato vai descobrindo que possui poderes especiais que culminam no terrível dia de sua formatura na escola.

O conflito familiar na casa 47 é mostrado de forma intensa, com direito a agressões verbais e físicas. Carrie começa a bater de frente com sua mãe e a argumentar com eficácia, principalmente quando a personagem amadurece começando a estudar e entender melhor seus poderes. A questão é que ela ainda é jovem e confusa, tendo apenas como porto seguro e desabafo algumas conversas com sua professora de educação física, Ms. Desjardin (Judy Greer).

Chloë Grace Moretz volta a atuar bem em um remake. No ano de 2010, a jovem atriz norte americana de apenas 16 anos surpreendeu os cinéfilos com uma bela atuação na pele da vampira Abby, no suspense Deixe-me Entrar, baseado na fita sueca de Tomas Alfredson (O Espião Que Sabia Demais), Deixe Ela Entrar. Um dos pontos negativos é a atuação de Julianne Moore (Amor a Toda Prova) que exagera na composição de sua personagem mas não compromete a história.

Como qualquer remake, nem tudo é igualzinho ao original. Nesse caso, a essência da história é preservada, além de algumas cenas clássicas. Os efeitos especiais, detalhe que não tinha na fita original, são muito bem executados e acrescentam, sem exageros, bastante às sequências. Carrie, a Estranha 2013, é um bom filme de terror camuflado de suspense sobrenatural.  Pra quem gosta do gênero, deve agradar.


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27/11/2013

Crítica do filme: 'Azul é a Cor mais Quente'

E vem da terra de Godard o filme mais quente deste ano, Azul é a Cor mais Quente. Dirigido pelo tunisiano Abdellatif Kechiche,  ganhador da Palma de Cannes neste ano, o drama francês é uma excepcional e comovente história recheada de diálogos árduos, cenas picantes e uma inteligente análise dos sentimentos humanos, feita de forma transparente, real e bastante atual. O longa metragem é provocante, chocante e ao mesmo tempo apresenta contornos dramáticos em forma de gestos de ternura e carinho de suas personagens. Esse é um filme que ficará na sua memória por muito tempo.

Nesse polêmico filme, que estreia na sexta-feira que vem (06 de dezembro) aqui no Brasil, somos apresentados a Adèle (Adèle Exarchopoulos), uma jovem charmosa (principalmente quando prende o cabelo) que está passando por uma época de descobertas em sua vida pessoal. Adèle é gulosa e gosta de dançar, utiliza esse movimento corporal como forma de fugir dos conflitos que prefere não enfrentar. Após uma experiência homossexual traumática, acaba conhecendo Emma (Léa Seydoux) uma jovem artista que possui um lindo sorriso com dentinhos separados e chamativos cabelos azuis. As duas logo se apaixonam e enfrentam todos os dramas de um relacionamento conturbado.

A construção da protagonista é maravilhosa, em certo momento do filme, motivada por inseguranças e ciúmes, a personagem enfrenta uma crise existencial. Admiradora de Kubrick, Scorsese e do cinema norte americano Adèle se constrói e desconstrói durante os 180 minutos de fita. Na primeira fase da história, confusa e com desejos reprimidos sofre pressão do grupinho de amigas que faz parte.  Já na segunda fase, mais madura e completamente apaixonada, precisa enfrentar as dores de um amor que nasceu de forma bonita e se encaminha para um desfecho melancólico por conta das atitudes inconseqüentes da própria personagem.

As cenas de sexo são extremamente fortes, intensas, picantes. É uma doação fora do comum das duas atrizes em cena. A câmera do diretor captura todos os detalhes da aventura sexual que é mostrada ao público. Mesmo com essas sequências, que vão dar no que falar, Azul é a Cor mais Quente é muito mais que um simples filme que contém cenas intensas de sexo. Fala sobre as descobertas da vida adulta, não só no campo emocional, como no familiar e profissional. Os diálogos são cirúrgicos, muito bem dosados. Somos envolvidos rapidamente pela carismática história.

As conversas em alto nível intelectual vão agradar o público. As amantes dão um show de conhecimento das artes argumentando sobre quadros de Picasso e conversando sobre teorias de Sartre. Os cinéfilos são abençoados com duas grandes interpretações. Todos os prêmios do mundo para as atrizes Léa Seydoux (Adeus, Minha Rainha) e Adèle Exarchopoulos. Vocês não podem perder esse lindo trabalho. Um dos melhores filmes do ano, sem dúvidas! Bravo!





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26/11/2013

Crítica do filme: 'Um Time Show de Bola'

Nossos vizinhos argentinos utilizando técnicas de animação é uma coisa que não vemos todo ano aqui no Brasil. Juntando o amor pelo futebol que unem os dois países e com personagens que lembram ex-jogadores latinos, o ganhador do Oscar Juan José Campanella (O Segredo dos Seus Olhos) se junta a Gastón Gorali, Roberto Fontanarrosa e Eduardo Sacheri (roteirista de O Segredos Seus Olhos) para criar uma história rica em ensinamentos para cinéfilos de todas as idades.

Um Time Show de Bola conta a história de Amadeo, um adolescente que vive e trabalha como garçom em num bar de pouco movimento numa pequena cidade na Argentina. O tímido jovem é um exímio jogador de pebolim (também conhecido como Totó em algumas regiões brasileiras) e morre de amores por sua amiga de infância Laura. Certo dia, é desafiado pelo jovem mais malandro do vilarejo, Colosso, para uma partida e acaba vencendo dando um show. Anos mais tarde, Colosso se transforma no melhor jogador de futebol do mundo, e volta para casa disposto a se vingar da única derrota que sofreu em sua vida. Como num passe de mágica, seus eternos amiguinhos do seu jogo de Pebolim ganham vida e juntos embarcam numa emocionante viagem cheia de aventuras para salvar Laura e o vilarejo onde moram.

O filme desenvolve muito bem situações relacionadas à amizade, trabalho em equipe, companheirismo e confiança. É uma grande aula de cinema para a molecada aplicada pelo genial diretor argentino Juan José Campanella (O Segredo dos Seus Olhos). A técnica de animação é um mero detalhe dentro da película. Os personagens são fascinantes. Beto, com suas trancinhas, que lembram o ex-jogador de futebol profissional colombiano Carlos Valderrama, é, sem dúvidas nenhuma, o personagem mais carismático da trama. Seu complexo com a beleza e seu ego aguçado, tornam uma delícia os diálogos com seus companheiros de time.

O vilão da trama é bem mais complexo que em outros filmes bobocas hollywoodianos a que estamos acostumados. O objetivo do personagem é buscar uma forma de redenção para seu único fracasso da vida: uma derrota em uma mesa de pebolim quando criança. Assim, estruturou toda sua vida para um retorno triunfal, desleal e maquiavélico. O desenrolar do personagem é brilhante, ele chega ao objetivo mas não da maneira que sonhou ou mesmo imaginava.

Uma das críticas mais contundentes aparece já no desfecho da história com uma brincadeira em relação aos inúmeros patrocínios que alguns times possuem no futebol e a dúvida que passam certos indivíduos que dominam o futebol fora das quatro linhas. A pergunta que fazemos quando se encerra essa ótima história gira em torno de uma questão que muitos de nós já pensamos. O futebol é um negócio, uma diversão ou as duas coisas? Veja o filme e tire suas conclusões. Bravo!  




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Crítica do filme: 'Ensaio'

Parece que a dança misturada com dramaturgia vem ganhando cada vez mais espaço nos nossos cinemas. Depois do interessante Esse Amor que nos Consome, chega aos cinemas na próxima sexta-feira (29) o trabalho da diretora Tânia Lamarca, Ensaio. Elementos de dança, teatro e cinema se misturam de maneira desencontrada transformando uma simples história em uma experiência profunda e com uma beleza poética fruto dos belos movimentos corporais dos personagens principais. Rodado todo em Florianópolis, o longa metragem parece um aulão pré-vestibular sobre a revolução Farropilha.

Ensaio, rodado no longínquo ano de 2010, conta a história de um excêntrico diretor de um espetáculo de dança chamado Caio (Chico Caprario) que esta preste a estrear seu novo projeto, um trabalho meticuloso sobre Anita e Garibaldi. Seus dois bailarinos principais, Eva (Lavínia Bizzotto) e Daniel (Bruno Cezario) que dão vida aos protagonistas, demonstram toda suas dores e conflitos pessoais durante esses ensaios. Eva enfrenta uma gravidez indesejada e o seu parceiro de palco, lembranças do passado em sua terra natal aterrorizada pela ditadura militar décadas atrás.

As poderosas batidas nas teclas do piano e o som envolvente dos violinos, fruto da trilha sonora do pianista e compositor Alberto Andrés Heller, tentam rechear o filme de tensão e emoção. O problema é que em alguns momentos o que acontece em cena não é compatível com as melodias, confundindo o espectador. Não há profundidade nos papéis e o roteiro é falho em não conseguir construir com bom senso a ponte entre as danças e a história. Resumindo, o filme passa longe de ser harmônico se perdendo na tentativa de ser uma obra feita para cinema.  

Um dos grandes pecados do projeto é a falta de objetivos dos elementos que aparecem em cena mesmo com as visíveis doações emocionais dos artistas. O personagem Caio, diretor do espetáculo, é um eterno descontrolado dentro da trama deixando o público confuso muitas vezes. Um breve oásis quando pensamos em competência cênica é a atriz Lavínia Bizzotto, intérprete de Eva, que mostra uma entrega intensa de corpo, alma e coração, levando o filme nas costas em quase todos os momentos.


Na tentativa de ser um filme com os padrões cinematográficos, propriamente dito, Ensaio acaba sendo uma experiência que testa o público em interações não muito comuns quando pensamos em sétima arte. É um trabalho que será elogiado por Ana Botafogo, Deborah Colker e Carlinhos de Jesus pois convence muito mais sendo um espetáculo de dança do que sendo um filme para cinema. 
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25/11/2013

Crítica do filme 'Somos o que Somos'

Tentando criar uma atmosfera de suspense do início ao fim, o cineasta Jim Mickle (Stake Land - Anoitecer Violento) chega aos nossos cinemas na próxima sexta-feira (29) com seu mais recente trabalho. Somos o que Somos é um filme em que não existem risos. Caras sisudas, ambientes lúgubres e diálogos com citações religiosas fervorosas recheiam essa sonolenta fita, um remake de um longa-metragem mexicano escrito e dirigido por Jorge Michel Grau, que peca por não conseguir desenvolver muito bem os personagens principais da história.

Na trama, conhecemos a família Parker que logo de cara sofre com o falecimento suspeito da matriarca e com a chegada de uma tempestade terrível. Esses dois acontecimentos mexem com a rotina da pacata família que esconde segredos inimagináveis do resto da população da cidadezinha em que vivem. A figura do pai, interpretado de maneira preguiçosa pelo ator Bill Sage (Preciosa - Uma História de Esperança), não consegue avultar-se sobre a história. Toda a trama gira em torno deste personagem que passa o tempo todo com a cara fechada, amargurada, cozinhando e tentando esconder os segredos de sua família a qualquer preço.

O roteiro do filme é aquele quebra-cabeça dos mais difíceis de encontrar as peças certas nos encaixes corretos. O público percebe que está prestes a se surpreender nas próximas cenas e analisa com cuidado todas as dicas que os personagens deixam em suas atitudes suspeitas. Um ritual de passagem, uma tradição familiar sinistra, o confronto ideológico entre o certo e errado das duas jovens irmãs são abordados de maneira superficial deixando de criar uma sintonia entre trama e público.   

Em alguns momentos, as cenas geram um certo calafrio e indigestão. As surpresas macabras vão sendo mostradas e deixando o espectador aterrorizado com o ritual da família Parker. Mas o filme não consegue ser mais do que uma trama misteriosa, deixa tantas lacunas para serem completadas que chega ao desfecho com o público sentindo falta de maiores explicações e mais desenvolvimento da história e dos personagens. Entre um desses personagens mal desenvolvidos, Marge a vizinha da família, papel da eterna top gun girl, a sumida atriz Kelly McGillis (Top Gun: Ases Indomáveis).


A tentativa de criar uma família que Hannibal adoraria conhecer gera ao longo dos 110 minutos de filme uma frustração gigante. Não existe qualquer sintonia entre personagens, história e cinema. Porém, vale o aviso: se for assistir a esse filme não vá logo depois do almoço. Sem dúvidas, Somos o que Somos é uma sobremesa indigesta em muitos sentidos. 
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