29/12/2014

Crítica do filme: 'Cowboys (Kauboji)'



A vida pode até ser chata às vezes, mas um faroeste nunca! Com uma abertura ao melhor estilo dos seriados norte-americanos, o indicado ao Oscar de Melhor filme estrangeiro pela Croácia neste ano de 2015, Cowboys, é uma comédia com tons dramático muito bem dirigida pelo cineasta Tomislav Mrsic e com atuações bem competentes. Ao longo dos 107 minutos de fita, vamos acompanhando diversas situações engraçadas que acontecem com os personagens em cena. É o tipo de filme que agrada a todo tipo de público.

Na trama, um fracassado diretor de teatro precisa reunir um grupo de pessoas para encenar uma peça de teatro que não ocorre há 15 anos no lugar onde vivem. Só que o grupo de atores selecionados nunca pisaram em um palco antes e inúmeras confusões cômicas vão se moldando conforme vamos conhecendo melhor a vida de cada um desses personagens, principalmente quando eles escolhem que o gênero da peça que vão ensaiar é o famoso Western, o faroeste.

Uma grande amizade entre pessoas totalmente diferentes é formada. Dentro e fora dos palcos, um torna-se cúmplice do outro e juntos vão encontrando uma nova forma de chegar na tão sonhada e desejada felicidade. O mentor disso é Sasa, interpretado brilhantemente pelo ator croata Sasa Anlokovic, o professor dessa simpática turma de desajustados. O carisma transborda em cena, impossível não adorar essa deliciosa história.

Esse projeto se mostra tão simples como fazer aquele delicioso feijão com arroz na tarde de domingo para toda uma família. Os atores dominam completamente seus personagens e o público aos poucos vai escolhendo seus favoritos. A fórmula dá certo: um enlatado europeu com pitadas norte-americanas e um roteiro de deixar até John Wayne feliz.
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27/12/2014

Crítica do filme: 'O Vale Sombrio (Das finstere Tal)'



O indicado ao Oscar de Melhor filme estrangeiro este ano pela Áustria é uma jornada sangrenta em busca de um certo conforto emocional. Protagonizado pelo inglês Sam Riley e com o ator Clemens Schick (que fez o longa-metragem Praia do Futuro com Wagner Moura) no elenco, o longa-metragem possui um roteiro fraco que só não classifica a fita como ruim por conta da inteligente maneira do experiente diretor Andreas Prochaska conduzir as sequências. É um dos filmes mais fracos que foram indicados ao pré-Oscar este ano.

Na trama, um forasteiro chega a uma aldeia isolada, nas vésperas de um rigoroso inverno. Logo em sua chegada, paga uma quantidade considerável de dinheiro para os “donos” do lugar. O que ninguém sabe, é que esse homem está com uma grande sede de vingança contra quase todas as pessoas deste lugar. Assim, passo a passo, um plano é arquitetado e executado. 

O filme, desde seu princípio, tem um ar melancólico. Os personagens são frutos de uma época sem lei, onde comboios deram formados para dominar terras e pessoas. O retrato que engloba essa trama, foca nas razões que levaram o protagonista a cometer uma série de atos tão violentos. Quando esse clímax passa, o filme parece não ter muito sentido, além de uma série de pequenos clichês que vão sendo adicionados. É muito pouco para realmente prender a atenção do público, entre outras coisas, falta empatia do personagem principal em cena.

A fotografia é belíssima, a direção de Prochaska tenta captar o que pode dos detalhes dessa dura história mas o roteiro, além da atuação de seu protagonista, deixam muito a desejar. O Vale Sombrio (Das finstere Tal) não é um filme como um todo ruim mas com certeza não está à altura de outros filmes indicados ao Oscar de Melhor filme estrangeiro esse ano.
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Crítica do filme: 'Wish I Was Here'



A adversidade é um trampolim para a maturidade. Em seu terceiro longa-metragem do currículo, o norte-americano Zach Braff, que você já deve ter ouvido falar por conta do seriado Scrubs, volta a falar sobre dramas familiares e personagens complexos no intrigante e cheio de metáforas Wish I Was Here. O filme é um drama comovente sobre a arte do crescer e saber a hora certa de adicionar componentes de maturidade nas suas escolhas de vida.

Na trama, conhecemos um ator desempregado chamado Aidan (Zach Braff), pai de dois filhos, que vive às custas de sua mulher Sarah (Kate Hudson) que é extremamente infeliz no casamento. Para piorar, seu pai Gabe (Mandy Patinkin) está com câncer terminal e sua vida começa a desabar ao seu redor. Assim, o protagonista embarcará em uma jornada em busca de um novo sentido para seu destino.

Wish I Was Here é uma história madura sobre as verdades do mundo lá fora. O protagonista vive em busca de seu sonho mas acaba esquecendo das coisas básicas como por exemplo sustentar sua família. O roteiro de Zach Braff brilha nesse momento. Acomodado pelo sustento de sua mulher e pela ajuda considerável que seu pai lhe dava, o personagem entra em parafuso quando precisa aprender a caminhar sozinho, mesmo que forçadamente. Esse longa-metragem é uma história totalmente possível em nossa realidade, principalmente quando pensamos naquele amigo que sempre foi mimado por sua família, talvez por isso que a história chegue com um certo impacto para cada um de nós cinéfilos.

O termômetro da trama é a esposa do protagonista, Sarah, interpretada de maneira muito competente por Kate Hudson. Há uma sutileza, uma energia enlatada que vai saindo em cada cena. Prestamos atenção atentamente a cada passo de Sarah, principalmente porque quando aparece em cena brilha e nos trás respostas a lacunas não preenchidas, resumindo, acaba sendo o ponto de intercessão de toda a trama.

Como em todo filme de Braff, uma ótima trilha sonora se mistura adequadamente às sequências. Falando no diretor, esse artista completo, é um dos poucos que conseguem dirigir e atuar com muito êxito em seus projeto. Quem não lembra do ótimo Hora de Voltar com Natalie Portman? Se continuar nessa caminhada de sucesso, a cada novo projeto que Braff assina mais ansiedade vai gerar aos amantes do bom cinema.
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25/12/2014

Crítica do filme: 'Violette'



Viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas apenas existe. Em seu quinto longa-metragem, o cineasta francês Martin Provost resolve contar uma história real, forte e cheia de detalhes que impactaram o modo de pensar francês durante todo o século passado. Com um grande desfile de astros da literatura e filosofia, um roteiro primoroso e a dupla Emmanuelle Devos e Sandrine Kiberlain inspiradas, Violette se transforma ao longo dos 139 minutos de fita um retrato contundente sobre uma figura ímpar em uma sociedade careta que recebe um tapa em cada linha de seus polêmicos textos.

Na história, roteirizada pelo próprio diretor, conhecemos mais profundamente a vida da escritora Violette Leduc, uma mulher guerreira que encontrou a salvação através da escrita. Sua amizade e sua paixão por Simone de Beauvoir também é meticulosamente bem mostrada. Se sentindo em um deserto que monologa, desafiando o convencional da época, quebrando tabus, sendo admirada por ilustres escritores do século XX, a protagonista é muito poderosa. Emmanuelle Devos embute uma energia vigorosa que é fundamental para que tenhamos empatia por Violette. Uma grande atuação dessa excelente atriz, talvez, pouco conhecida aqui no Brasil. 

Ao longo da ótima trama, vemos um despertar da sexualidade, uma liberdade profunda em expressar e sentir suas emoções. As asfixias da vida geram uma força em Violette para que a mesma escreva sobre sua ardente e sofrida vida. Na verdade, Violette se punia a cada passo sem êxito, a cada chance desperdiçada, chegava ao limite da razão e emoção facilmente, fruto de sua vida sofrida e os traumas do passado que sempre voltavam como fantasmas sem solução. Sua amizade com Beauvoir ajuda a encontrar o caminho e a ganhar um pouco de razão em busca de seu destino.

O roteiro concentra-se no período pós segunda guerra até o lançamento de seu famoso livro, A Bastarda, em meados da década de 60. Assim, contornamos uma sociedade francesa que se remodela após uma das grandes tragédias mundiais. O sofrimento de Violette é um pouco o reflexo de uma sociedade que precisa lutar por sua existência, nesse ponto Violette absorve uma obsessão pela escrita, sonhando que o escrever lhe trará tudo que a vida lhe tirou.

Depressiva, pobre, despretensiosa de grande beleza, Violette é um personagem fascinante que nas telonas do cinema transbordará emoções a cada instante. Não percam esta bela fita francesa.
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24/12/2014

Crítica do filme: 'Para Sempre Alice'



E se todas as lembranças de nossas vidas simplesmente sumissem ou nunca mais conseguíssemos lembrá-las mais? Para falar sobre o terrível Mal de Alzheimer nas telonas, os diretores Richard Glatzer e Wash Westmoreland criam uma história forte, convincente e comovente que envolve problemas existenciais de uma impactante mulher. Para Sempre Alice é muito mais que um drama tocante, é uma lição de vida onde o público presencia uma das grandes atrizes em atividade no auge do seu talento.

Na trama, conhecemos Alice (Julianne Moore), uma conceituada professora e autora de livros que se encontra em uma fase conturbada de sua vida ao ser diagnosticada com Mal de Alzheimer aos 50 anos. Tentando não enlouquecer e espantando a tristeza, encontra um desafogo para suas dores na tentativa de reaproximação com sua filha mais nova, com quem sempre teve muitos problemas e discussões. 

O roteiro, que é baseado na obra de Lisa Genova, aborda a vida da protagonista no trabalho e na família, antes e depois de ser diagnosticada com a doença. No campo familiar, as relações passam a ser mais melancólicas, frias e distantes. Vemos uma protagonista que se desmonta no campo emocional com tanta verdade que somente uma atriz do nível de Julianne Moore para conseguir tal feito. Não tenham dúvidas, é uma das grandes interpretações femininas do ano, Moore tem boas chances de ganhar o próximo Oscar por essa atuação. 

A protagonista é levada a um recomeço distante, Se encontra aprendendo a arte do reaprender todos os dias. Toda a vida acumulando memórias, como conheceu seu marido, quando segurou pela primeira vez seus filhos, tudo isso sendo retirado de maneira cruel. Esse trabalho não deixa de levantar uma bandeira importante sobre a doença que sofre a personagem principal. Assim como o filme de estreia da Sarah Polley como diretora (Longe Dela), esse belo projeto mostra a dura realidade de quem possui Alzheimer.

Com Alec Baldwin (que também tem uma ótima atuação, preenchendo a telona de emoção) , Kristen Stewart e Kate Bosworth no elenco, Para Sempre Alice estreia ano que vem nos cinemas brasileiros e mais uma vez ganhamos a oportunidade de conferir mais um espetáculo em cena de Julianne Moore. Ela vale o ingresso!
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