19/06/2017

,

Crítica do filme: 'Uma Noite e Tanto'

A amizade não tem idade. Seis anos após seu último trabalho atrás das câmeras, (A Arte da Conquista , 2011) o cineasta Gavin Wiesen se arrisca dessa vez na comédia, explorando o já batido tema de relacionamento entre sogros e genros, All Nighter reúne bons atores, cada um de sua geração, para abordar o tema mas acaba não conseguindo diferenciais em relações a outras comédias de gênero caindo no glamouroso e tedioso terreno do clichê. É mais um daqueles filmes que passará despercebido do circuito norte americano e nem deve desembarcar por aqui. O elenco é bom mas fica provado mais uma vez que se o roteiro não ajudar, nada fica interessante na tela grande.

Na trama, conhecemos Martin (Emile Hirsch) e Ginnie (Analeigh Tipton), um casal fofo que se encontra pela primeira com o pai de Ginnie, o super ocupado Mr. Gallo (J.K. Simmons). Como em todo filme previsível, o encontro dá muito errado. Meses depois, já separado de Ginnie, Martin acorda com Mr Gallo em sua porta pedindo sua ajuda para encontrar a filha que não responde suas ligações faz dias. Assim, mesmo sem se conhecerem direito, a dupla dinâmica irá percorrer muitos quilômetros em busca do paradeiro da jovem.

Seguindo o ritmo de algumas outras comédias, roteiros que se passam em um dia intenso cheio de confusões, aventuras e cenas bobinhas tentando ser engraçadas, o longa metragem foca na relação de um sogro de profissão misteriosa (em certos momentos parece que ele é um espião ou algo do tipo) e um ex-genro, músico, que ainda tenta descobrir o que fazer realmente da vida após o término com a ex-namorada. A dupla dinâmica perambula por uma grande cidade norte americana atrás de uma pessoa que parece ter sumido do mapa. As pistas que chegam, cada uma mais forçada que a outra, vão levando os protagonistas a uma autodescoberta ou melhor, uma auto avaliação sobre seus propósitos da vida (ou alguma coisa parecida do tipo).


Raspando às vezes em diálogos que exploram a experiência contra a maturidade (poderia ter sido mais explorado isso) misturando com cenas de ação cômicas dos filmes da década de 90, o projeto é um grande sonífero onde não vemos a hora de chegar ao fim. 
Continue lendo... Crítica do filme: 'Uma Noite e Tanto'

15/06/2017

Crítica do filme: 'Neve Negra'

O passado não reconhece o seu lugar, está sempre presente. Depois de dez anos de seu último longa metragem (O Sinal, 2007), o cineasta argentino Martin Hodara volta a tela grande em um ótimo suspense com atmosfera tensa que estreou no Brasil no último dia 08 de junho (muito mal lançado por sinal pois coincidiu com a data de abertura do poderoso e de mesmo público Festival Varilux de Cinema Francês). O roteiro é sublime, nos faz ficar atento até o último segundo. O elenco é de primeira, tendo como cereja do bolo o maior ator da atualidade, o argentino Ricardo Darin. Neve Negra é um, sem dúvidas, um dos grandes suspenses do ano.

Na trama, conhecemos o casal Laura (Laia Costa) e Marcos (Leonardo Sbaraglia) que viajam da Espanha, onde moram, para uma cidade gelada na Argentina para resolver questões burocráticas e a herança do pai de Marcos que falecera recentemente. Chegando no lugar, Marcos confrontará uma tragédia no passado de sua família principalmente quando precisa convencer o irmão Salvador (Ricardo Darin) a vender a casa onde vive. Laura aos poucos vai entendendo o jogo quase que psicológico que os dois irmãos mantém reunindo peças de uma quebra cabeça cheio de amargura, solidão e tristeza.

Os segredos pertencentes a família começam a cair por terra quando um iminente confronto dos irmãos é imposto por uma futura, possível e rentável venda do terreno onde viveram toda uma vida. As revelações chegam aos poucos, o que deixa o clima cheio de tensão. A esposa de Marcos tem papel importante nesse quebra cabeça, ela segue como os olhos do público a cada peça encontrada para esclarecimento do que realmente aconteceu ali no passado que essa família jamais esqueceu. A reunião de todas as peças culmina em um final chocante, arrebatador.

Um dos focos da trama, a amargura de Salvador é nítida, tido como o vilão de sempre por um pai pouco piedoso que descarregou toda sua frustração com o ocorrido no colo do irmão mais velho. A composição de Darin para sua personagem é algo estrondoso, consegue preencher as cenas com poucas falas mas uma expressão que fala muito deixando o público atento para qualquer revelação que chegue em algum instante.


Neve Negra foi um estrondoso sucesso na Argentina logo na semana de estreia. Realmente é um filme que mexe com nossas emoções, angustiante até a última gota de sofrimento que chegam em forma de revelações bombásticas de um passado inesquecível de uma família que guardava segredos polêmicos. Fora o excelente roteiro, a brilhante direção e atuações acima da média, um filme com Ricardo Darín no elenco sempre precisa ser visto.
Continue lendo... Crítica do filme: 'Neve Negra'

Crítica do filme: 'Na Cama com Victoria'

Aquele que está indeciso em começar é lento a agir. Dirigido pela cineasta francesa Justine Triet (La bataille de Solférino), Na Cama com Victoria é cheio de boas intenções, com uma personagem com personalidade forte que está em plena confusão em sua vida. O longa apresenta um grande raio-x da personagem principal, tentando a todo instante transformá-la em heroína dos novos tempos alternando vida pessoal e trabalho. Porém, o roteiro parece não ter inspiração para transformar a vida da protagonista em um filme que prenda nossa atenção. O filme tem cerca de noventa minutos mas prece que são mais de três horas. Cansativo, repetitivo e sem respirar um pingo de empatia. Selecionado para o Festival Varilux de Cinema Francês desse ano, talvez esse seja um dos piores filmes dessa edição.

Na trama, conhecemos a bela advogada criminalista Victoria (Virginie Effra), mãe de duas filhas pequenas, divorciada,  que enfrenta um grande vazio em sua vida amorosa e com diversos problemas no seu trabalho. Certo dia, resolve ir até um casamento onde encontra um velho conhecido que acaba sofrendo uma ação criminal por parte da namorada. Assim, tentando ajudar o amigo e também tentando corrigir suas lacunas não preenchidas na vida pessoal, Victoria se aproxima de Sam (Vincent Lacoste), um jovem ex-cliente que a ajudará a completar todas suas jornadas.

O roteiro, dessa comédia disfarçada de drama, se atira em várias direções tentando se sustentar em subtramas fracas, como a cansativa e repetitiva tentativa de mostrar os problemas que a advogada enfrenta em sua vida sexual e nos debates jurídicos que simultaneamente norteiam o desfecho dessa cansativa história. A protagonista, interpretada pela conhecida atriz belga Virginie Effra, brilha em poucos momentos, as melhores partes são nos diálogos com Sam sobre sua vida. A trilha sonora merece destaque, um oásis em meio a um deserto de situações tumultuadas pela falta de objetividade da trama.


Selecionado para a semana internacional da crítica no Festival de Cannes (2016) e indicado ao César (2017) na categoria Melhor atriz e melhor filme, Na Cama com Victoria deve estrear em breve no Brasil. 
Continue lendo... Crítica do filme: 'Na Cama com Victoria'

14/06/2017

Crítica do filme: 'A Viagem de Fanny'

A amizade é um amor que nunca morre. Falando sobre os horrores da maior guerra que esse mundo já viu na visão de um grupo de crianças, A Viagem de Fanny é mais um recorte sobre a caçada nazista aos judeus em uma época onde confiar era muito difícil tamanho o medo que a população das cidades ocupadas pelas tropas alemães tinham. Baseado na obra Le Voyage de Fanny - L'Histoire Vraie d'une Jeune Fille au Destin Hors du Commun, um livro de memórias da protagonista dessa saga pela sobrevivência, a cineasta francesa Lola Doillon percorre o caminho das emoções de maneira doce sem deixar de mostrar as realidades dessa jornada.

Na trama, ambientado na década de 40 na França, e baseada em fatos reais, conhecemos a jovem Fanny (Léonie Souchaud) uma menina corajosa e teimosa que vive com as irmãs em um lar repleto de outras crianças judias. Na França, durante a segunda guerra, judeus confiavam seus filhos a diversas instituições encarregadas de protegê-los de qualquer ameaça. Certo dia, com a iminente invasão nazista a instituição que Fanny estava, ela precisa fugir com um grupo de outros pequenos e tentar de todas as formas chegar até o território suíço.

Viajando por lindas paisagens, em contraponto ao caos que os nazistas provocavam naquela época, o grupinho super carismático enfrenta enormes desafios na luta pela sobrevivência. O filme não deixa de mostrar o lado imaginário e dos sonhos dos jovens  que a cada pequena oportunidade voltam a ser crianças brincando com os animais ou jogando bola entre uma fuga e outra. As recordações de seus pais geram momentos de muita emoção, cada pequenino enxerga o momento em que vivem de uma maneira, ganhando força na esperança e na amizade. Fanny acaba virando a líder do grupo por acaso, quando as opções desaparecem, é um conflito de emoções muito grande que a jovem precisa enfrentar mas sempre contando com a ajuda de seus amigos.


A Viagem de Fanny , um bom drama disfarçado de sessão da tarde, tem estreia prevista para a segunda semana de agosto no circuito exibidor brasileiro, promete agradar a todos os públicos. Explica um pouco da história do mundo e muito sobre a ótica de quem de fato viveu de perto os horrores de uma guerra. É uma jornada com lições que servem para toda uma vida.
Continue lendo... Crítica do filme: 'A Viagem de Fanny'

Crítica do filme: 'Um Instante de Amor'

As coisas mais belas são ditadas pela loucura e escritas pela razão. Baseado na obra de Milena Agus e dirigido pela atriz e cineasta francesa Nicole Garcia (Um Belo Domingo) Um Instante de Amor, com estreia prevista para o próximo dia 29 de junho e selecionado para o Festival Varilux de Cinema Francês desse ano, além de concorrer a Palma de Ouro no Festival de Cannes 2016, é um filme confuso que explora a loucura e o amor de maneira até certo ponto metafórica que deixa interrogações até para o cinéfilo mais observador. Tendo a maravilhosa Marion Cotillard como protagonista, que esbanja sensualidade na pele de sua complexa personagem e também o ótimo ator espanhol Alex Brendemühl (O Médico Alemão) o filme não consegue ter forças para sustentar uma história que mais amarrada e explicada poderia ser melhor compreendida.

Na trama, ambientado na década de 50, conhecemos a bela Gabrielle (Marion Cotillard) uma jovem que passa por problemas com sua família e alguns transtornos não explicados que vão da mente ao corpo. Preocupados com a situação e uma leva de loucura de sua filha, seus pais resolvem forçar seu casamento com o gentil pedreiro José (Alex Brendemühl). Assim, Gabrielle acaba se casando com um homem que não ama. Durante sua estadia em uma clínica para se curar de algumas de suas dores, acaba conhecendo um militar chamado André Sauvage (Louis Garrel) por quem tem uma paixão avassaladora mesmo em pouco.

Ao longo de duas (sonolentas) horas, somos testemunhas de um casamento infeliz com Gabrielle não fazendo nenhuma questão de convívio com seu recém marido, esse, por outro lado, tenta compreender de sua forma os impulsos de sua complicada nova esposa. No miolo dessa história chega um novo personagem, um militar em estado terminal que está internado na mesma clínica da protagonista e logo surge uma paixão obsessiva (muito mais por parte dela) com algumas verdades e em partes desilusões, essas últimas explicadas no desfecho. A falha mais grave do roteiro (não sabemos se o livro é assim também) é não dar uma ênfase maior na primeira fase de Gabrielle o que provoca uma série de lacunas não compreendidas nos distanciando do que acontece em cena a cada sequência.


Talvez seja um dos piores filmes de Marion nos últimos anos. Por mais dedicação e doação que há para sua personagem, que esbanja sensualidade em cena, não consegue sustentar um tempo tão longo de um recorte de loucura e amor com personagens apáticos em cena. 
Continue lendo... Crítica do filme: 'Um Instante de Amor'

13/06/2017

Crítica do filme: 'Em Guerra por Amor (In Guerra per Amore)

Como o humor e a crítica podem andar lado a lado numa tela de cinema. Pierfrancesco Diliberto, conhecido como Pif, um dos artistas mais famosos da Itália atualmente, dirige, roteiriza e protagoniza essa ótima comédia, Em Guerra por Amor (In Guerra per Amore), recheada de críticas sobre as ações dos Estados Unidos em um dos recortes dos aliados na segunda guerra mundial. De maneira debochada e muitas vezes brilhante, Pif e companhia transformam uma mera comédia italiana em um filme forte e contundente que explica de maneira bem trivial um olhar interessante sobre a maior de todas as guerras.

Na trama, ambientada no início da década de 40, conhecemos um jovem muito simpático chamado Arturo Giammaresi (Pierfrancesco Diliberto) que está apaixonado pela filha do dono do restaurante onde trabalha. Sem ter muitos recursos, sendo imigrante em uma terra que está prestes a entrar com mais força na segunda grande guerra, consegue que o amor de sua vida, que está com casamento marcado com outra pessoa, consiga viver feliz com ele caso o mesmo vá até a Sicília na Itália e peça a mão dela ao pai da jovem. Sem ter como custear uma viagem extremamente cara na época, consegue se alistar no exército norte americano, pois, os Estados Unidos está recrutando pessoas que querem lutar e que falem bem os dialetos locais na Itália. Assim, colocando a vida em risco, embarca em uma viagem de grandes descobertas em meio a uma guerra que deixou cicatrizes em todos os habitantes desse planeta além de consequências durante décadas para frente por conta do papel da máfia nessa chegada norte americana a Itália.

O filme é uma ótima diversão. Faz rir muito, faz chorar, faz a cada sequência exalar em seu protagonista uma empatia fantástica. Lembrando filmes antigos de comédia em meio guerra, por isso talvez um certo ar nostálgico acompanha o projeto ao longo de toda a projeção, trata os detalhes de como os americanos entraram na Sicilia, com o auxílio da máfia e pessoas influentes ligadas ao crime ganhando poder para facilitar a entrada americana na cidade. Tudo é feito de maneira cômica, maneirada apenas nas convicções do tenente Philip Chiamparino (Andrea Di Stefano), personagem importante que se torna grande amigo do protagonista e também responsável pelo desfecho emocionante dessa bela história.

O romantismo não fica em segundo plano e Arturo ganha ajuda de coadjuvantes de luxo, e muito engraçados, como os amigos, um deles cego, que o ajuda a encontrar o pai de seu amor. O filme também não deixa de dar seu ponto de vista as desgraças da guerra, no filme representado mais agudamente por uma mãe e um filho que não tem o pai de volta quando os norte americanos resolvem soltar comunistas e antifascistas por conta de acordos duvidosos de poder.


Sem previsão de estreia no Brasil (Alô distribuidoras!!!), essa deliciosa comédia italiana é uma  uma bela, inteligente e bem humorada narrativa sobre as polêmicas relações entre as forças aliadas e a máfia italiana durante a Segunda Guerra Mundial.  
Continue lendo... Crítica do filme: 'Em Guerra por Amor (In Guerra per Amore)

Crítica do filme: 'A Garota Ocidental'

Você é livre para fazer suas escolhas, mas, às vezes, prisioneiro das consequências. Abordando um grande conflito familiar envolvendo uma jovem maior de idade que possui um pensamento diferente de seu pai e mãe sobre com quem deve se casar, A Garota Ocidental apresenta argumentos a esse conflito imposto e um pouco da visão de todos que estão ao redor dessa família paquistanesa. A protagonista, interpretada pela ótima atriz francesa Lina El Arabi, é uma mulher de espírito livre que luta pelo que entende ser o certo em um pedaço de ocidente repleto de imigrantes com pensamentos de seus países de origem.   

Na trama, conhecemos a jovem Zahira (Lina El Arabi) uma imigrante paquistanesa que mora na França e está totalmente adaptada ao seu estilo de vida nessa cidade. Quando chega aos 18 anos e seu pai e mãe impõem um casamento arranjado, onde ela deve escolher entre três pretendentes, a jovem com bastante coragem se diz contrária a decisão e acaba provocando um grande abalo na família. O subtítulo do filme no Brasil, entre o coração e a tradição é exatamente o conflito que a protagonista percorre durante intensos 98 minutos de projeção.

O conflito das aparências e costumes contra o lado da razão e emoção. Toda a trama se envolve em escolhas. A trajetória da protagonista é cheia de obstáculos provocados pelas imposições de sua família que deseja que ela se case com algum dos três pretendentes paquistaneses que pré definiram, além de passar por uma gravidez, fruto de um relacionamento com um alguém que ela achava que a amava. O irmão de Zahira, Amir (Sébastien Houbani), é peça chave nesse tabuleiro sentimental, se vê em grande conflito em como ajudar a resolver a situação. Os preenchimentos das lacunas emocionais e suas consequências são feitos de maneira cirúrgica pelas lentes do cineasta belga Stephan Streker (em seu terceiro longa metragem na carreira) que dirige e escreve o roteiro desse profundo drama exibido no Festival Internacional de Toronto, Rotterdam e Istambul deste ano.

Com estreia prevista para o dia 22 de junho, A Garota Ocidental é um recorte sobre o mundo das tradições. Um filme que chega também como uma crítica social, seus limites emocionais a flor da pele e as saídas muitas vezes não encontradas pelos envolvidos. Com grandes atuações e um desfecho arrebatador, esse é um daqueles filmes que você não pode perder.


Continue lendo... Crítica do filme: 'A Garota Ocidental'

11/06/2017

Crítica do filme: 'The King (Deoking)'

Quem abre o coração à ambição, fecha-o à tranquilidade. Depois de um hiato de quatro anos depois de seu último longa-metragem Gwansang (2013), o cineasta sul coreano Jae-rim Han volta as telonas com um filme explosivo que abre feridas bastante expostas sobre a corrupção no submundo jurídico/político de uma Seul repleta de polêmicas e grandes trocas no poder. The King (Deoking) é um daqueles filmes onde a adrenalina toma conta de várias sequências, aproximando o espectador de subtramas repleta de gângsters, chantagens e muita ambição. O filme, que estreou no oriente em janeiro desse ano, ainda não tem data para desembarcar em nosso país.

Na trama, conhecemos, em um primeiro momento mais jovem, o brigão e relaxado Park Tae-su (interpretado pelo ótimo ator In-sung Jo), nascido na periferia da capital coreana, de família pobre, sendo criado por um pai trambiqueiro e que sempre arruma uma confusão. Estamos na década de 80 e aos poucos, via imprensa e por testemunhar seu pai desesperado implorando para um, cresce um desejo no protagonista em ser um promotor de justiça, cargo carregado de poder e influência em uma coreia recheado de casos violentos e corrupção em todos os escalões do poder. Assim, de preguiçoso e brigão, vira um estudioso intenso e consegue passar para a prestigiada faculdade de Direito se tornando um promotor. Chegando na nova função, nada do que sonhara (status, fama, dinheiro e poder) chega rapidamente e depois de insistir em um caso de abuso de um professor com uma aluna, acaba recebendo a chance de entrar para um grupo de promotores protegidos comandados por Han-Kang Sik (Woo-sung Jung) que exalam poder, fortuna e o controle do poder jurídico coreano. Vivendo agora do jeito que sonhou, acaba tendo também que sentir na pele as consequências de um lado sujo de sua profissão.

Tudo funciona muito bem no filme. O ritmo alucinante não deixa nem bebermos nosso refrigerante durante a sessão. Dividido milimetricamente em arcos poderosos, repleto de cenas com tons de humor dramático mesclando com dramas violentos, o filme conta em um pouco mais de duas horas a história do seu protagonista em décadas e toda a corrupção que a Coreia do Sul vive nesse tempo. O projeto não deixa de ser uma grande crítica ao sistema coreano mas que também pode ser ampliado a uma crítica mundial do setor. A troca de favores de pessoas influentes no campo jurídico/político, a escolha a dedo dos casos, a ligação com bandidos de alta periculosidade, tudo isso sabemos que acontece em muitas partes do mundo.


O filme tem méritos também por não fugir das responsabilidades do protagonista, e impor consequências severas pelos anos em que foi submisso a uma vida de riqueza de bens mas sem uma gota de compaixão humana. A transformação do personagem chega em torno de vingança, deixando o último arco com surpresas e cenas sensacionais, de tirar o fôlego. The King (Deoking) , sem previsão de estreia no Brasil (tomara que alguma distribuidora abra o olho para esse filmão) é um daqueles filmes que podemos dizer ser um dos melhores trabalhos do ano.


Continue lendo... Crítica do filme: 'The King (Deoking)'

10/06/2017

Crítica do filme: 'The White King' (O Rei branco)

Dirigido pela dupla Alex Helfrecht e Jörg Tittel, The White King, baseado na obra do escritor húngaro György Dragomán é um filme extremamente complexo que aborda um novo lugar, cheio de ideologias e princípios. O projeto, exibido em alguns festivais pelo mundo tem uma pegada meio Goonies dos novos tempos, com incrementos de ficção científica em um roteiro repleto de originalidade que explora as leis criadas por uma nova sociedade cheia de regras ofensivas, de controle absoluto e sem democracia. Essa ficção científica tem um excelente trailer e isso gera o interesse mas vendo o filme percebemos claramente que falta fôlego para a trama se sustentar, principalmente pelas lacunas não respondidas o que deixa tudo muito complicado de se entender.

Na trama, conhecemos um jovem chamado Djata (Lorenzo Allchurch) que vive uma vida cheia de regras em uma nova sociedade junto com sua mãe e seu pai Peter (Ross Partridge). Certo dia, após voltarem de um piquenique seu pai, um ex-major do exército do lugar é levado para uma espécie de prisão onde traidores são colocados. Seu filho então parte em busca de respostas para encontrar seu pai e para isso contará com algumas poucas ajudas ao longo desse caminho repleta de espaços não respondidos.

Uma construção de um novo mundo? Uma irmandade com novas ideias entre conflitos e ideais de um mundo que não existe mais? Militares e seus princípios duvidosos no poder? Que diabos é aquela estátua no alto da montanha que lembra muito o seriado Lost? Diversas perguntas (sem respostas) são feitas por nós meros mortais cinéfilos que tentamos entender esse longa metragem. O arco da amizade é bem feito, adapta os laços para a sociedade nova que foi imposta cheia de risco e onde a coragem é o principal trunfo. Já o tema central, a busca pelo pai desaparecido (ou melhor dizendo escondido em uma prisão que ninguém sabe onde é) é muito rasa. Nem outros personagens aparecendo na trama, como o avô do menino, um coronel aposentado e de prestígio ajudam a gente a entender melhor o que é direito esse projeto.


Taxado como ficção científica, e realmente é, o filme navega pelo drama durante bom tempo nesse universo criado por Dragomán repleto de brutalidade ditatorial e com personagens motivados por razões humanas envolvidos nas leis do universo, o amor de uma família. Infelizmente o filme tem apenas bons momentos, talvez o livro seja melhor.


Continue lendo... Crítica do filme: 'The White King' (O Rei branco)

Crítica do filme: 'Nocturama'

Selecionado para alguns festivais pelo mundo e absurdamente sem a mínima chance de ser exibido pelo circuito exibidor brasileiro (talvez pela falta de faro de muitas distribuidoras), exceto em um festival ou outro, o novo e impactante trabalho do excelente cineasta francês Bertrand Bonello (L'Apollonide - Os Amores da Casa de Tolerância), Nocturama, é uma trama cheia de reviravoltas que expõe um confronto de ideias e a falta de limite que pessoas comuns podem ter. O filme é uma grande crítica e expõe argumentos fortes que fala de maneira bem efetiva sobre muitos dos conflitos que assombram países de todo o planeta.

Na trama, conhecemos jovens de diversas etnias que se espalham por uma grande cidade francesa tramando alguma coisa que é revelada aos poucos. Um pouco do cotidiano desses jovens, já no dia da ação, mostram que são pessoas comuns que não geram nem tipo de alerta da polícia. Com a chegada da noite, se reúnem em uma loja de roupas de vários andares, onde é exposto um plano aterrorizante de diversos atentados em lugares previamente estudados. Ao longo dessa noite, muitas questões serão abordadas e o roteiro volta em algo parecido com flashbacks para explicar um pouco de como eles chegaram até esse dia.

Fica claro, por diversos diálogos ao longo das sequências, que os jovens não aguentam viver na sociedade onde vivem, cada um com seu motivo. Isso gera um conflito interno muito grande, um jovem segurança de um edifício com andares desativados, um casal de namorados que tinham a vida toda pela frente, jovens com estruturas emocionais fortes outros nem tanto. Cada um a sua maneira vai deixando de tentar viver a vida como ela é e embarcam em um plano inconsequente. A ficha parece que só cai quando estão confinados em uma loja no fim da noite, discussões e ações, além do conflito de ideias, tomam conta dos diálogos e as incertezas e o medo apontam para todos eles.  Presos em seus próprios pensamentos, o não saber o que fazer dali para frente é uma verdade que eles não conseguem esconder.


Bonello, que dirige e assina o roteiro, mais uma vez volta às telonas com uma trama intrigante e corajosa que expõe uma parte da sociedade em crise de consciência e totalmente inconsequente que muitas vezes encontra refúgio no seu gritar em atitudes que impactam negativamente ao todo levando o medo para outras pessoas. Nocturama é um filme para ser visto, discutido e analisado. Uma aula de cinema desse cineasta francês que possui trabalhos interessantes em sua vasta filmografia.
Continue lendo... Crítica do filme: 'Nocturama'