21/06/2017

Crítica do filme: 'Free Fire'

Em terra de cego, quem tem olho é rei. Com produção executiva de Martin Scorsese, chegou aos cinemas ingleses em março desse ano um filme pouco badalado mas bastante sangrento. Com óbvias referências a filmes policiais e ação de décadas passadas, como o clássico Cães de AluguelFree Fire chegou às telonas sem muita repercussão, mesmo tendo um elenco bem interessante, e manobra suas ações em um roteiro simples, bem objetivo e uma direção que dá muito ritmo a história. O roteiro e a direção são assinados pelo cineasta inglês Ben Wheatley (Turistas (Sightseers)) que executa um trabalho convincente e cheio de momentos hilários em meio ao caos.

Na trama, ambientada na década de 80 em Boston (EUA), um grupo de criminosos, comandados por Chris (Cillian Murphy) e com contato de Justine (Brie Larson), chegam a um balcão enorme e abandonado para comprar armas do grupo comandado por Vernon (Sharlto Copley) e Martin (Babou Ceesay). Chegando lá, após uma série de discussões mais brandas, um dos comandados de Verbon e Martin identifica em um dos comandados do outro grupo o homem que violentou uma parente dele na noite passada. Confusão armada, todos se abrigam onde podem, com as armas que tem em uma grande batalha cheia de tiros, explosões e muito violência.

É quase uma sessão nostalgia, aquelas roupas antigas, cada figuraça que aparece em cena e muita ação. Free Fire pode ser tudo menos um filme monótono. Todo mundo é vilão, não há mocinhos. Uma batalha pela sobrevivência ao melhor estilo Counter Strike é instaurada, os personagens interagem com diálogos marcantes (ao melhor estilo Tarantino). Os objetivos, a princípio de ficar com o dinheiro da transação mal resolvida, vira uma batalha sangrenta cheio de alternativas já que ninguém confia em ninguém. As situações projetadas ao longo dos 90 minutos de filmes se passam todas dentro do balcão ao melhor estilo ‘essa noite tudo deu errado’. Aos poucos, o longa vira uma grande comédia de erros e com personagens convincentes.

Sem previsão de estrear no Brasil (alô distribuidoras!), Free Fire é um filme quente para todos os amantes de filmes do Tarantino, alguns do próprio Scorsese.  Extremamente bem filmado, é uma sátira de criminosos e seus desesperos provocados por maluquices em busca de seus objetivos. 


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20/06/2017

Crítica do filme: 'The Belko Experiment'

A responsabilidade de todos é o único caminho para a sobrevivência humana. Dirigido por Greg McLean (Wolf Creek - Viagem ao Inferno) e com roteiro do cineasta sensação do momento James Gunn (responsável pelos excelentes filmes dos Guardiões da Galáxia) The Belko Experiment é um aterrorizante jogo/experimento onde o psicológico, colocado em uma situação extrema, faz rodopios nas mentes dos personagens levando a inconsequentes situações de terror e medo. Valeria a pena se alguma distribuidora comprasse os direitos e exibisse esse projeto nos cinemas brasileiros.

Na trama, conhecemos um grupo grande de pessoas que trabalham na Colômbia em uma filial de uma multinacional. Chegando um dia para o trabalho e com filas de carros para serem revistados e novos guardas em posição ao redor do complexo alguns personagens já percebem que algo de incomum vai acontecer. Após chegarem as suas mesas de trabalho, um pouco antes da hora do almoço, uma voz no alto falante diz que eles precisam obedecer e matar metade dos funcionários senão alguns aleatoriamente morrerão em minutos. Parte das pessoas acha que é brincadeira até que as primeiras mortes começam a acontecer. Lutando para sobreviverem, os funcionários precisarão tomar medidas drásticas para tentar algum êxito nesse jogo macabro.

The Belko Experiment é um filme difícil de se definir. Tinha tudo para ser um baita filme aterrorizante (em alguns momentos a tensão é bem forte e chama a atenção) mas acaba se perdendo um pouco no seu arco final mas sem deixar de ser interessante, principalmente se analisarmos os aspectos e mudanças (ou não) de personalidades a partir da situação extrema que os personagens são guiados. O personagem central acaba sendo Barry Norris (Tony Goldwyn – o eterno vilão de Ghost), que de chefe e respeitado por todos acaba sendo o líder da revolta pela sobrevivência colocando dúvidas em todos que antes o respeitavam. Ex-militar, parece que quando o chamado para sobreviver é acionado, ele vira a chave e passa a ser o grande vilão da situação.

O roteiro é cirúrgico com as portas possíveis de abrirem em busca da solução para o problema que os funcionários estrangeiros em uma filial na América do Sul passam. O absurdo da situação detalham os pensamentos e ações de ótimos personagens misturados com outros que não adicionam basicamente nada a trama. As escolhas partem por afinidade, o casal que já existira, uma nova funcionária que fica meio em cima do muro em que decisão tomar, os departamentos se defendendo e os que não conseguem superar a barreira do medo seguindo o que mais personifica a posição de líder. A cada nova tarefa dada por uma voz marcante no alto falante, tudo muda de figura e antes pensando em um coletivo a trama percorre os caminhos do egoísmo onde cada um luta sozinho sua própria batalha pela sobrevivência. A tensão provocada nos intensos minutos de projeção leva o público a todo instante criar teorias do que vai acontecer com aquelas pessoas e que situação é essa que vivem: um jogo? Um experimento? As respostas para nossas lacunas não preenchidas são inúmeras.


Sem previsão de estreia no Brasil, The Belko Experiment , esse thriller com bastante intensidade e com alguns personagens muito interessantes poderia ser uma das grandes sensações do ano, talvez, se fosse dirigido por seu roteirista. 
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Crítica do filme: 'Chips - O Filme'

Escrito, dirigido e estrelado por Dax Shepard (provável diretor do próximo Scooby-Doo que deve ser lançado em 2020 no Brasil), baseado em um seriado das antigas, que teve seis temporadas entre o final dos anos 70 e o início da década de 80, escrito por Rick Rosner, Chips - O Filme é mais uma daquelas comédias bem bobas que seguem a linha de Anjos da Lei e outros projetos do gênero. Há uma clara releitura de todo o universo da série. Tentando transformar a história com elementos de humor escrachado (bem diferente do usado no seriado), bastante ofensivo em alguns momentos, Chips o Filme perde um pouco da magia que ganhara milhões de fãs mundo a fora décadas atrás. Os fãs do seriado, em sua grande maioria, podem não gostar do resultado final desse filme.

Na trama, conhecemos um agente do FBI é designado para trabalhar infiltrado na equipe de patrulheiros rodoviários de Los Angeles com o nome de Frank “Ponch” Poncherello (Michael Peña) com o objetivo de descobrir corrupção dentro da corporação dos motoqueiros policiais. Ao mesmo tempo da entrada de Ponch à equipe, o ex-motociclista profissional Jon Baker (Dax Shepard), não sabemos como, consegue entrar na corporação e se torna parceiro de Ponch. Vindos de dois universos completamente diferentes e de personalidades bastante distante, a dupla precisará unir forças para descobrir as verdades sobre crimes de uma mesma gangue que acontecem na região.

O filme é honesto com o público desde seu trailer. Não ilude ninguém, se veste de comédia absurda e dá seguimento em uma história pra lá de maluca cheia de cenas picantes, destruição de carros, seduções via telefone e diálogos pouco construtivos. O roteiro falha em muitos momentos, nem as cenas de ação possui algum brilho. O vilão, papel do ótimo ator Vincent D'Onofrio, é a melhor parte do filme mesmo tendo pouco espaço em tanta cena desnecessária ao longo dos intermináveis 100 minutos de projeção. É mais um enlatado norte americano, igual a dezenas de comédias lançadas por Hollywood ano após ano.


Com um orçamento de absurdos 60 milhões de dólares e ao optar por um roteiro terrível com o simples intuito de gerar risadas bobas e vender pipoca, Chips - O Filme fica muito distante de ser uma homenagem à Larry Wilcox, Erik Estrada (os atores do antigo seriado) e aos fãs do antigo seriado. 
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19/06/2017

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Crítica do filme: 'Uma Noite e Tanto'

A amizade não tem idade. Seis anos após seu último trabalho atrás das câmeras, (A Arte da Conquista , 2011) o cineasta Gavin Wiesen se arrisca dessa vez na comédia, explorando o já batido tema de relacionamento entre sogros e genros, All Nighter reúne bons atores, cada um de sua geração, para abordar o tema mas acaba não conseguindo diferenciais em relações a outras comédias de gênero caindo no glamouroso e tedioso terreno do clichê. É mais um daqueles filmes que passará despercebido do circuito norte americano e nem deve desembarcar por aqui. O elenco é bom mas fica provado mais uma vez que se o roteiro não ajudar, nada fica interessante na tela grande.

Na trama, conhecemos Martin (Emile Hirsch) e Ginnie (Analeigh Tipton), um casal fofo que se encontra pela primeira com o pai de Ginnie, o super ocupado Mr. Gallo (J.K. Simmons). Como em todo filme previsível, o encontro dá muito errado. Meses depois, já separado de Ginnie, Martin acorda com Mr Gallo em sua porta pedindo sua ajuda para encontrar a filha que não responde suas ligações faz dias. Assim, mesmo sem se conhecerem direito, a dupla dinâmica irá percorrer muitos quilômetros em busca do paradeiro da jovem.

Seguindo o ritmo de algumas outras comédias, roteiros que se passam em um dia intenso cheio de confusões, aventuras e cenas bobinhas tentando ser engraçadas, o longa metragem foca na relação de um sogro de profissão misteriosa (em certos momentos parece que ele é um espião ou algo do tipo) e um ex-genro, músico, que ainda tenta descobrir o que fazer realmente da vida após o término com a ex-namorada. A dupla dinâmica perambula por uma grande cidade norte americana atrás de uma pessoa que parece ter sumido do mapa. As pistas que chegam, cada uma mais forçada que a outra, vão levando os protagonistas a uma autodescoberta ou melhor, uma auto avaliação sobre seus propósitos da vida (ou alguma coisa parecida do tipo).


Raspando às vezes em diálogos que exploram a experiência contra a maturidade (poderia ter sido mais explorado isso) misturando com cenas de ação cômicas dos filmes da década de 90, o projeto é um grande sonífero onde não vemos a hora de chegar ao fim. 
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15/06/2017

Crítica do filme: 'Neve Negra'

O passado não reconhece o seu lugar, está sempre presente. Depois de dez anos de seu último longa metragem (O Sinal, 2007), o cineasta argentino Martin Hodara volta a tela grande em um ótimo suspense com atmosfera tensa que estreou no Brasil no último dia 08 de junho (muito mal lançado por sinal pois coincidiu com a data de abertura do poderoso e de mesmo público Festival Varilux de Cinema Francês). O roteiro é sublime, nos faz ficar atento até o último segundo. O elenco é de primeira, tendo como cereja do bolo o maior ator da atualidade, o argentino Ricardo Darin. Neve Negra é um, sem dúvidas, um dos grandes suspenses do ano.

Na trama, conhecemos o casal Laura (Laia Costa) e Marcos (Leonardo Sbaraglia) que viajam da Espanha, onde moram, para uma cidade gelada na Argentina para resolver questões burocráticas e a herança do pai de Marcos que falecera recentemente. Chegando no lugar, Marcos confrontará uma tragédia no passado de sua família principalmente quando precisa convencer o irmão Salvador (Ricardo Darin) a vender a casa onde vive. Laura aos poucos vai entendendo o jogo quase que psicológico que os dois irmãos mantém reunindo peças de uma quebra cabeça cheio de amargura, solidão e tristeza.

Os segredos pertencentes a família começam a cair por terra quando um iminente confronto dos irmãos é imposto por uma futura, possível e rentável venda do terreno onde viveram toda uma vida. As revelações chegam aos poucos, o que deixa o clima cheio de tensão. A esposa de Marcos tem papel importante nesse quebra cabeça, ela segue como os olhos do público a cada peça encontrada para esclarecimento do que realmente aconteceu ali no passado que essa família jamais esqueceu. A reunião de todas as peças culmina em um final chocante, arrebatador.

Um dos focos da trama, a amargura de Salvador é nítida, tido como o vilão de sempre por um pai pouco piedoso que descarregou toda sua frustração com o ocorrido no colo do irmão mais velho. A composição de Darin para sua personagem é algo estrondoso, consegue preencher as cenas com poucas falas mas uma expressão que fala muito deixando o público atento para qualquer revelação que chegue em algum instante.


Neve Negra foi um estrondoso sucesso na Argentina logo na semana de estreia. Realmente é um filme que mexe com nossas emoções, angustiante até a última gota de sofrimento que chegam em forma de revelações bombásticas de um passado inesquecível de uma família que guardava segredos polêmicos. Fora o excelente roteiro, a brilhante direção e atuações acima da média, um filme com Ricardo Darín no elenco sempre precisa ser visto.
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Crítica do filme: 'Na Cama com Victoria'

Aquele que está indeciso em começar é lento a agir. Dirigido pela cineasta francesa Justine Triet (La bataille de Solférino), Na Cama com Victoria é cheio de boas intenções, com uma personagem com personalidade forte que está em plena confusão em sua vida. O longa apresenta um grande raio-x da personagem principal, tentando a todo instante transformá-la em heroína dos novos tempos alternando vida pessoal e trabalho. Porém, o roteiro parece não ter inspiração para transformar a vida da protagonista em um filme que prenda nossa atenção. O filme tem cerca de noventa minutos mas prece que são mais de três horas. Cansativo, repetitivo e sem respirar um pingo de empatia. Selecionado para o Festival Varilux de Cinema Francês desse ano, talvez esse seja um dos piores filmes dessa edição.

Na trama, conhecemos a bela advogada criminalista Victoria (Virginie Effra), mãe de duas filhas pequenas, divorciada,  que enfrenta um grande vazio em sua vida amorosa e com diversos problemas no seu trabalho. Certo dia, resolve ir até um casamento onde encontra um velho conhecido que acaba sofrendo uma ação criminal por parte da namorada. Assim, tentando ajudar o amigo e também tentando corrigir suas lacunas não preenchidas na vida pessoal, Victoria se aproxima de Sam (Vincent Lacoste), um jovem ex-cliente que a ajudará a completar todas suas jornadas.

O roteiro, dessa comédia disfarçada de drama, se atira em várias direções tentando se sustentar em subtramas fracas, como a cansativa e repetitiva tentativa de mostrar os problemas que a advogada enfrenta em sua vida sexual e nos debates jurídicos que simultaneamente norteiam o desfecho dessa cansativa história. A protagonista, interpretada pela conhecida atriz belga Virginie Effra, brilha em poucos momentos, as melhores partes são nos diálogos com Sam sobre sua vida. A trilha sonora merece destaque, um oásis em meio a um deserto de situações tumultuadas pela falta de objetividade da trama.


Selecionado para a semana internacional da crítica no Festival de Cannes (2016) e indicado ao César (2017) na categoria Melhor atriz e melhor filme, Na Cama com Victoria deve estrear em breve no Brasil. 
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14/06/2017

Crítica do filme: 'A Viagem de Fanny'

A amizade é um amor que nunca morre. Falando sobre os horrores da maior guerra que esse mundo já viu na visão de um grupo de crianças, A Viagem de Fanny é mais um recorte sobre a caçada nazista aos judeus em uma época onde confiar era muito difícil tamanho o medo que a população das cidades ocupadas pelas tropas alemães tinham. Baseado na obra Le Voyage de Fanny - L'Histoire Vraie d'une Jeune Fille au Destin Hors du Commun, um livro de memórias da protagonista dessa saga pela sobrevivência, a cineasta francesa Lola Doillon percorre o caminho das emoções de maneira doce sem deixar de mostrar as realidades dessa jornada.

Na trama, ambientado na década de 40 na França, e baseada em fatos reais, conhecemos a jovem Fanny (Léonie Souchaud) uma menina corajosa e teimosa que vive com as irmãs em um lar repleto de outras crianças judias. Na França, durante a segunda guerra, judeus confiavam seus filhos a diversas instituições encarregadas de protegê-los de qualquer ameaça. Certo dia, com a iminente invasão nazista a instituição que Fanny estava, ela precisa fugir com um grupo de outros pequenos e tentar de todas as formas chegar até o território suíço.

Viajando por lindas paisagens, em contraponto ao caos que os nazistas provocavam naquela época, o grupinho super carismático enfrenta enormes desafios na luta pela sobrevivência. O filme não deixa de mostrar o lado imaginário e dos sonhos dos jovens  que a cada pequena oportunidade voltam a ser crianças brincando com os animais ou jogando bola entre uma fuga e outra. As recordações de seus pais geram momentos de muita emoção, cada pequenino enxerga o momento em que vivem de uma maneira, ganhando força na esperança e na amizade. Fanny acaba virando a líder do grupo por acaso, quando as opções desaparecem, é um conflito de emoções muito grande que a jovem precisa enfrentar mas sempre contando com a ajuda de seus amigos.


A Viagem de Fanny , um bom drama disfarçado de sessão da tarde, tem estreia prevista para a segunda semana de agosto no circuito exibidor brasileiro, promete agradar a todos os públicos. Explica um pouco da história do mundo e muito sobre a ótica de quem de fato viveu de perto os horrores de uma guerra. É uma jornada com lições que servem para toda uma vida.
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Crítica do filme: 'Um Instante de Amor'

As coisas mais belas são ditadas pela loucura e escritas pela razão. Baseado na obra de Milena Agus e dirigido pela atriz e cineasta francesa Nicole Garcia (Um Belo Domingo) Um Instante de Amor, com estreia prevista para o próximo dia 29 de junho e selecionado para o Festival Varilux de Cinema Francês desse ano, além de concorrer a Palma de Ouro no Festival de Cannes 2016, é um filme confuso que explora a loucura e o amor de maneira até certo ponto metafórica que deixa interrogações até para o cinéfilo mais observador. Tendo a maravilhosa Marion Cotillard como protagonista, que esbanja sensualidade na pele de sua complexa personagem e também o ótimo ator espanhol Alex Brendemühl (O Médico Alemão) o filme não consegue ter forças para sustentar uma história que mais amarrada e explicada poderia ser melhor compreendida.

Na trama, ambientado na década de 50, conhecemos a bela Gabrielle (Marion Cotillard) uma jovem que passa por problemas com sua família e alguns transtornos não explicados que vão da mente ao corpo. Preocupados com a situação e uma leva de loucura de sua filha, seus pais resolvem forçar seu casamento com o gentil pedreiro José (Alex Brendemühl). Assim, Gabrielle acaba se casando com um homem que não ama. Durante sua estadia em uma clínica para se curar de algumas de suas dores, acaba conhecendo um militar chamado André Sauvage (Louis Garrel) por quem tem uma paixão avassaladora mesmo em pouco.

Ao longo de duas (sonolentas) horas, somos testemunhas de um casamento infeliz com Gabrielle não fazendo nenhuma questão de convívio com seu recém marido, esse, por outro lado, tenta compreender de sua forma os impulsos de sua complicada nova esposa. No miolo dessa história chega um novo personagem, um militar em estado terminal que está internado na mesma clínica da protagonista e logo surge uma paixão obsessiva (muito mais por parte dela) com algumas verdades e em partes desilusões, essas últimas explicadas no desfecho. A falha mais grave do roteiro (não sabemos se o livro é assim também) é não dar uma ênfase maior na primeira fase de Gabrielle o que provoca uma série de lacunas não compreendidas nos distanciando do que acontece em cena a cada sequência.


Talvez seja um dos piores filmes de Marion nos últimos anos. Por mais dedicação e doação que há para sua personagem, que esbanja sensualidade em cena, não consegue sustentar um tempo tão longo de um recorte de loucura e amor com personagens apáticos em cena. 
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13/06/2017

Crítica do filme: 'Em Guerra por Amor (In Guerra per Amore)

Como o humor e a crítica podem andar lado a lado numa tela de cinema. Pierfrancesco Diliberto, conhecido como Pif, um dos artistas mais famosos da Itália atualmente, dirige, roteiriza e protagoniza essa ótima comédia, Em Guerra por Amor (In Guerra per Amore), recheada de críticas sobre as ações dos Estados Unidos em um dos recortes dos aliados na segunda guerra mundial. De maneira debochada e muitas vezes brilhante, Pif e companhia transformam uma mera comédia italiana em um filme forte e contundente que explica de maneira bem trivial um olhar interessante sobre a maior de todas as guerras.

Na trama, ambientada no início da década de 40, conhecemos um jovem muito simpático chamado Arturo Giammaresi (Pierfrancesco Diliberto) que está apaixonado pela filha do dono do restaurante onde trabalha. Sem ter muitos recursos, sendo imigrante em uma terra que está prestes a entrar com mais força na segunda grande guerra, consegue que o amor de sua vida, que está com casamento marcado com outra pessoa, consiga viver feliz com ele caso o mesmo vá até a Sicília na Itália e peça a mão dela ao pai da jovem. Sem ter como custear uma viagem extremamente cara na época, consegue se alistar no exército norte americano, pois, os Estados Unidos está recrutando pessoas que querem lutar e que falem bem os dialetos locais na Itália. Assim, colocando a vida em risco, embarca em uma viagem de grandes descobertas em meio a uma guerra que deixou cicatrizes em todos os habitantes desse planeta além de consequências durante décadas para frente por conta do papel da máfia nessa chegada norte americana a Itália.

O filme é uma ótima diversão. Faz rir muito, faz chorar, faz a cada sequência exalar em seu protagonista uma empatia fantástica. Lembrando filmes antigos de comédia em meio guerra, por isso talvez um certo ar nostálgico acompanha o projeto ao longo de toda a projeção, trata os detalhes de como os americanos entraram na Sicilia, com o auxílio da máfia e pessoas influentes ligadas ao crime ganhando poder para facilitar a entrada americana na cidade. Tudo é feito de maneira cômica, maneirada apenas nas convicções do tenente Philip Chiamparino (Andrea Di Stefano), personagem importante que se torna grande amigo do protagonista e também responsável pelo desfecho emocionante dessa bela história.

O romantismo não fica em segundo plano e Arturo ganha ajuda de coadjuvantes de luxo, e muito engraçados, como os amigos, um deles cego, que o ajuda a encontrar o pai de seu amor. O filme também não deixa de dar seu ponto de vista as desgraças da guerra, no filme representado mais agudamente por uma mãe e um filho que não tem o pai de volta quando os norte americanos resolvem soltar comunistas e antifascistas por conta de acordos duvidosos de poder.


Sem previsão de estreia no Brasil (Alô distribuidoras!!!), essa deliciosa comédia italiana é uma  uma bela, inteligente e bem humorada narrativa sobre as polêmicas relações entre as forças aliadas e a máfia italiana durante a Segunda Guerra Mundial.  
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Crítica do filme: 'A Garota Ocidental'

Você é livre para fazer suas escolhas, mas, às vezes, prisioneiro das consequências. Abordando um grande conflito familiar envolvendo uma jovem maior de idade que possui um pensamento diferente de seu pai e mãe sobre com quem deve se casar, A Garota Ocidental apresenta argumentos a esse conflito imposto e um pouco da visão de todos que estão ao redor dessa família paquistanesa. A protagonista, interpretada pela ótima atriz francesa Lina El Arabi, é uma mulher de espírito livre que luta pelo que entende ser o certo em um pedaço de ocidente repleto de imigrantes com pensamentos de seus países de origem.   

Na trama, conhecemos a jovem Zahira (Lina El Arabi) uma imigrante paquistanesa que mora na França e está totalmente adaptada ao seu estilo de vida nessa cidade. Quando chega aos 18 anos e seu pai e mãe impõem um casamento arranjado, onde ela deve escolher entre três pretendentes, a jovem com bastante coragem se diz contrária a decisão e acaba provocando um grande abalo na família. O subtítulo do filme no Brasil, entre o coração e a tradição é exatamente o conflito que a protagonista percorre durante intensos 98 minutos de projeção.

O conflito das aparências e costumes contra o lado da razão e emoção. Toda a trama se envolve em escolhas. A trajetória da protagonista é cheia de obstáculos provocados pelas imposições de sua família que deseja que ela se case com algum dos três pretendentes paquistaneses que pré definiram, além de passar por uma gravidez, fruto de um relacionamento com um alguém que ela achava que a amava. O irmão de Zahira, Amir (Sébastien Houbani), é peça chave nesse tabuleiro sentimental, se vê em grande conflito em como ajudar a resolver a situação. Os preenchimentos das lacunas emocionais e suas consequências são feitos de maneira cirúrgica pelas lentes do cineasta belga Stephan Streker (em seu terceiro longa metragem na carreira) que dirige e escreve o roteiro desse profundo drama exibido no Festival Internacional de Toronto, Rotterdam e Istambul deste ano.

Com estreia prevista para o dia 22 de junho, A Garota Ocidental é um recorte sobre o mundo das tradições. Um filme que chega também como uma crítica social, seus limites emocionais a flor da pele e as saídas muitas vezes não encontradas pelos envolvidos. Com grandes atuações e um desfecho arrebatador, esse é um daqueles filmes que você não pode perder.


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