A vida é minha e eu só abro pra quem eu quiser. Baseado no
livro homônimo escrito Dave Eggers, O
Círculo é, antes de mais nada, uma tentativa de crítica social e
tecnológica aos limites do bom senso. Jogando no liquidificador big brother,
facebook e pitadas de show de truman, o projeto sofre com um primeiro ato
bastante morno, cheia de lacunas para serem preenchidas no decorrer da trama.
Os personagens não são carismáticos, há uma grande corrida para o clímax o que
acaba deixando brechas importantes, as famosas pontas soltas, no roteiro. Dirigido
pelo cineasta norte americano James Ponsoldt (dó ótimo The Spectacular Now e
do interessante Smashed: De Volta a
Realidade) tinha tudo para ser um grande filme, possui momentos
interessantes, mas acaba parando nos clichês e fazendo o espectador acreditar
que o livro possa ser melhor.
Na trama, conhecemos Mae (Emma Watson), uma jovem que
trabalha em um lugar onde não gosta e vive com seus pais em uma casa humilde em
uma cidade norte americana. Certo dia, consegue uma grande oportunidade de uma
entrevista em uma empresa nova, famosa ligada a tecnologia, informações, dados
e redes sociais chamada o Círculo. Chegando lá, sua primeira impressão é estar
no paraíso, o ambiente de trabalho é maravilhoso e sempre acontece várias
atividades ‘extra job’ como shows de músicas e variadas festas. Conforme o
tempo passa, a protagonista percebe que nem tudo é mil maravilhas,
principalmente como passa a viver como se estivesse em um reality show e toda
sua vida é transmitida ao vivo todos os dias da semana. Percebendo a furada em
que se meteu e com a ajuda do criador da ideia da empresa que vive agora
imperceptível e quase escondido Ty (John Boyega), Mae tentará achar uma solução
para o abuso digital cometido pela empresa.
O mundo vive um grande paradoxo de avanço de funcionalidades
básicas que facilitam um simples pagamento de conta até a criação de elos de
amizades instantâneos via assuntos incomuns (muitas vezes). Os livros de
verdade estão sendo aos poucos substituídos por tablets e e-books, as relações
interpessoais estão sendo cada vez mais ‘curtidas’ e um simples abraço ou
aperto de mão está virando algo quase obsoleto. Isso é bom ou ruim? Tudo é
filmado, postado, compartilhado. A informação virou questão de segundos. No
segundo ato do filme, abordando as relações variadas num universo digital sem
filtros, o longa metragem tem seu melhor momento, com argumentos variados para
um problema que enfrentaremos bem mais forte futuramente.
Eles pedem perdão mas não pedem permissão. O cotidiano da
protagonista muda bastante conforme vai crescendo na linha de comando e
estratégia do Círculo. Suas reuniões com seus chefes, um deles interpretado
pelo ganhador do Oscar Tom Hanks, são intensas e cheias de entusiasmo, fato que
muda bastante aos olhos de Mae pois as consequências para a quebra de
privacidade são inúmeras e sentidas na pele pela personagem. Por conta do abuso
da tecnologia e a falta de limites sobre a privacidade alheia, Mae se afasta
dos pais, da melhor amiga Annie (que a colocou dentro da nova empresa), e vive
via ‘live’ um trágico episódio com um amigo de infância, Mercer (Ellar Coltrane
de Boyhood: Da Infância à Juventude).
O Círculo, talvez,
possa ter o papel para refletirmos nossa sociedade globalizada de hoje em dia.
É um exercício sobre privacidade alheia e um tom agudo de abuso de tecnologia
para obter o controle de muitos, por poucos.