11/02/2018

Crítica do filme: 'The Square - A Arte da Discórdia'

Quando nem tudo sai como planejado. Depois do ótimo Força Maior, o cineasta e roteirista sueco Ruben Östlund volta as telonas com um filme que busca colocar em evidência, para debates e argumentos, o papel de cada um de nós na sociedade em que vivemos. Ao longo dos 142 minutos de projeção, vemos a narrativa da trama por meio de peça de curta duração, uma espécie de séries de esquetes, método que se desmancha em bons e sonolentos momentos.

O atual detentor da Palma de Ouro, prêmio máximo do impactante Festival de Cannes, conta a história de Christian (Claes Bang), um complicado curador de um famoso museu da capital sueca que está preparando uma exposição bastante peculiar onde um quadrado é o centro de reflexão dos visitantes sobre a sociedade em que vivem. Paralelo ao início desse experimento, o curador se envolve em uma sequência de descontroles a partir do roubo de seu celular.

The Square, no original, segue na linha de ser um filme com espírito reflexivo, onde precisamos buscar na atualidade de nosso conhecimento as entrelinhas das críticas sociais envolvidas por uma série de situações constrangedoras. A grande questão são as associações que o filme se prende em seu desfecho, deixando muitas sequências sem fundamento. É como se uma pizza fosse cortada a La francesa, e os sabores se misturando em ‘squares’ chegando a alguma sensação de compreensão.


O contorno da trama, chega por personagens complexos, como Anne (interpretada pela excelente Elisabeth Moss). Pessoas e situações, que são novidade na vida de Christian, parece que se ligam e ao mesmo tempo desconectam o personagem de sua confortável vida, deixando suas emoções em ebulição, causando um eminente descontrole. O quadrado do título, resumidamente, é a maneira como Christian se encontra, mostrando que qualquer um de nós, quando paramos para refletir podemos mudar a maneira como enxergamos tudo e todos.
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Crítica do filme: 'A Grande Jogada'

Um roteiro Straight Flush. Talvez, o patinho feio da temporada e pouco lembrado pelas escolhas sempre polêmicas dos indicados ao Oscar, A Grande Jogada é um filme rico tecnicamente, com atuações profundas e personagens explosivos com personalidade impactante. Protagonizado pela ótima Jessica Chastain, o filme navega nos guetos luxuosos da oportunidade, onde fazer o dinheiro é questão de minutos. A produção também marca a estreia do roteirista Aaron Sorkin que também assina o roteiro.

Na trama, baseada em fatos reais e no livro Molly's Game: From Hollywood's Elite to Wall Street's Billionaire Boys Club, My High-Stakes Adventure in the World of Underground Poker, A Grande Jogada conta a história de uma ex-atleta de alto rendimento do esqui norte-americana chamada Molly Bloom (Jessica Chastain) que após insucessos na carreira, resolve embarcar em uma jornada inusitada que a leva ao centro de comando das mesas de pôquer mais exclusivas – repletas de pessoas famosas e bilionários – de toda Los Angeles e Nova Iorque. O roteiro faz um bate e volta, passando pelo início de Bloom nessa carreira de empresária e todas as conseqüências que vieram quando chega ao apse do poder.

Uma das coisas mais importantes em uma produção cinematográfica é o ritmo. A Grande Jogada acerta o tom na maior parte dos intensos 140 minutos. Dinâmico, revelador e charmoso, o roteiro de Sorkin (que já ganhou o Oscar por A Rede Social) nos leva a uma viagem ao submundo da jogatina onde o dinheiro rola solto, e as emoções junto com os egos se misturam transformando mesas de pôquer exclusivas – e porque não dizer secretas – em uma roda gigante de blefes, flushes, dramas e disputas pelo poder. Uma das imensas curiosidades, é saber quem era de fato o ‘Player X’, talvez o grande adversário de Molly, um astro mega famoso que muitos dizem ser Tobey Maguire (porém, informação nunca revelada pela verdadeira Molly Bloom).

Como parte da composição da personagem, nos aproximamos de todo um contexto familiar da protagonista, personificado pelas fortes brigas com o exigente pai, o psicólogo Larry (Kevin Costner, em uma interpretação cirúrgica), e a disputa que vivia em casa já que seus irmãos eram bem sucedidos no que escolheram como profissão. Os conflitos com seu advogado Charlie (Idris Elba) também dão força à trama e aos poucos vamos desvendando facetas da personagem principal.

Dia 22 de fevereiro você tem um encontro nos cinemas com uma das personagens femininas mais fortes da temporada. Reunindo uma tempestade de confiança misturada com dramas existenciais, Molly Bloom até hoje guarda segredos de muitos. Um quebra cabeça misterioso, repleto de algo parecido como ética, de uma mulher que tem o poder de informações sobre gente muito poderosa.


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Crítica do filme: 'Extraordinário'

O poder da emoção passa pela forma como enxergamos o mundo ao nosso redor. Filme sensação em bilheterias do mundo todo, Extraordinário, baseado no livro homônimo de R.J. Palacio (que já teve outra obra adaptada para o cinema, As Vantagens de Ser Invisível), narra uma história muito bonita que fala sobre família, amizade e principalmente sobre sonhos. Dirigido pelo norte-americano Stephen Chbosky, o filme conta com uma linda atuação do jovem Jacob Tremblay (O Quarto de Jack).

Na trama, indicada ao Oscar 2018 na categoria Melhor Maquiagem, conhecemos o jovem Auggie (Jacob Tremblay) que depois de alguns anos terá seu primeiro dia em uma escola repleto de outras crianças. Auggie nasceu com Síndrome de Treacher Collins (TCS) que causa deformidades craniofaciais, fato que o fez ser educado até então dentro de casa por sua mãe Isabel (Julia Roberts). Adorado por sua família, que também tem o engraçado pai Nate (Owen Wilson) e a carinhosa irmã mais velha Via (Izabela Vidovic), Auggie precisará enfrentar o mundo fora de sua casa.

O roteiro tem bom desenvolvimento, mesmo que com muitas quebras de narrativas, alternando profundidade em alguns personagens que cercam o protagonista, e histórias que ficam perto da superfície. Os arcos das óticas, onde vemos o andamento da trama pelo olhar da irmã, ou do futuro melhor amigo, são ótimas, deixando um grande ponto de interrogação do porque não fora feito o mesmo com os pais, por mais que esses estejam bastante presentes em cena. Segue também a rota dos clichês em alguns momentos, como 90% dos blockbusters.


Wonder, no original, emociona do início ao fim. A simpatia do personagem principal, em mais uma impactante atuação do jovem e futuro ganhador de Oscar Jacob Tremblay, é algo inspirador. Através de seus sonhos, combate os medos mais profundos, criando coragem para encarar o complicado universo escolar, cheio de bullying e desconfiança de olhares por conta de sua condição. As novas amizades, os vilões, as menções a Star Wars, os sonhos, tudo vira força, e às vezes obstáculos, onde nosso carismático protagonista precisará enfrentar para descobrir o real significado do que é viver.
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03/02/2018

Crítica do filme: 'Victoria e Abdul: O Confidente da Rainha'

A força de uma amizade. Acostumado a projetos de grandes orçamentos, e muitos desses filmes de época, o cineasta britânico Stephen Frears, creditado como diretor em mais de 60 produções em toda a carreira, que vão de longas, curtas até episódios de seriados, chega aos cinemas com uma delicada história de amizade que a família real britânica tentou esconder durante anos. Victoria e Abdul: O Confidente da Rainha, baseado no livro homônimo de Shrabani Basu, é uma bonita história sobre culturas diferentes que reunidas por uma amizade fazem o conhecimento do mundo chegar aos olhos dos envolvidos.O projeto traz uma atuação de gala da genial Judi Dench na pele da protagonista, com uma curiosidade: Dench já havia interpretado a Rainha Victoria em outro filme, o belo Sua Majestade, Mrs. Brown.

Na trama, ambientada em 1887, conhecemos o carismático indiano Abdul (Ali Fazal) que acaba sendo escolhido pela guarda britânica para participar de uma cerimônia do jubileu de ouro da Rainha Victoria (Judi Dench). Aos poucos e sempre com os olhos atentos de todos ao redor, Abdul começa a se aproximar da rainha e acaba se tornando o professor de Victoria e ao mesmo tempo um fiel escudeiro. Uma linda amizade que duraria pouco tempo mas com uma intensidade maravilhosa.

Victoria e Abdul: O Confidente da Rainha é um filme muito bonito, mas que não consegue a profundidade que poderia. Judi Dench desfila elegância e presença em cena, leva o filme muitas vezes sozinha. As idas e vindas dessa amizade inusitada, já que a Inglaterra estava no comando da Índia e os britânicos sempre enxergavam os indianos como uma raça inferior, são compostas por cenas lindas principalmente com a vontade da toda poderosa da Inglaterra em ampliar seus conhecimentos sobre uma cultura que não conhecia.

Indicado a dois Oscars, o projeto passou com certo sucesso pelas cinemas brasileiros, talvez camuflado pelos outros filmes mais poderosos da corrido ao Oscar. É um filme que passa boas energias mas que deixa um gosto de que poderia ser mais impactante do que é.


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02/02/2018

Crítica do filme: 'Suburbicon - Bem-Vindos ao Paraíso'

Nada é o que parece. Primeira vez dirigindo um longa-metragem roteirizado pelos irmãos Coen, o astro e ganhador do Oscar George Clooney chegou aos cinemas recentemente com o projeto intitulado Suburbicon - Bem-Vindos ao Paraíso. Reunindo uma descarada mistura de Fargo com outros filmes de Coen, que reúne situações extremas e até certo modo surpreendentes, personagens longe da normalidade, um desfecho que busca o emblemático sempre deixando migalhas nas entrelinhas, Suburbicon acaba se tornando uma sonolenta comédia misturada com suspense de 105 minutos de projeção.

Na trama, conhecemos a curiosa cidade de Suburbicon, onde a imensa maioria dos moradores são de classe média e brancos. Gardner (Matt Damon) tem uma rotina monótona e vive em uma boa casa com a mulher, a cunhada e seu filho. Certo dia, quase paralelamente a chegada de novos vizinhos, sua casa é invadida por dois homens extremamente violentos que transformam em terror algumas horas dessa noite, que leva ao falecimento de sua esposa (interpretada pela sempre competente Julianne Moore). Mas nem tudo é o que parece em Suburbicon e começamos a entender melhor essa história pela ótica do filho de Gardner que presencia situações estranhas envolvendo seu pai.

A atmosfera familiar de outros filmes de Coen, deixam Suburbicon à beira de Deja Vú. Isso porque falta carisma nos personagens, ou desenvolvimentos no roteiro relevantes para transformar esse projeto em algo único. O tom do enredo, buscando formas de interação com o público via tensão, provocando o suspense pelo olhar do filho, funciona até um certo momento mas fica com falta de conexão quando entendemos melhor a resolução dos fatos e os motivos para ações que vemos. A situação que vive os novos vizinhos, que são negros, e os absurdos preconceitos da vizinhança ficam em segundo plano.


Suburbicon - Bem-Vindos ao Paraíso procura mostrar as fragilidades humanas, repletas de egos, preconceitos, ganância e egoísmo, principalmente na sociedade norte-americana. Como filme, funciona em partes, deixando o sono chegar em muitos instantes.
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Crítica do filme: 'Roman J. Israel, Esq'

Felicidade não existe, o que existe na vida são momentos felizes. Após o ótimo O Abutre, lançado cerca de quatro anos atrás, o roteirista e cineasta Dan Gilroy volta para a cadeira de diretor, dessa vez, para contar a curiosa história de um advogado que praticamente redescobre a vida profissional, e também pessoal, após o falecimento de seu antigo sócio. Na pele do protagonista, novamente vemos um desfile de habilidades em cena de Denzel Washington, que nos brinda com mais uma bela interpretação, quase sempre com personagens complexos que chegam aos nossos olhos com imenso carisma. Merecida indicação ao Oscar desse ano na categoria melhor ator.

Na trama, conhecemos o inteligente advogado Roman J. Israel (Denzel Washington) que trabalha faz muito tempo em uma firma de advocacia que ajudava pessoas de baixa renda. Roman sempre ficava como coadjuvante, não ia aos tribunais, conhece todos os casos e os ajuda na resolução mas sempre ajudando por trás da cortina. Quando inesperadamente seu sócio falece, o protagonista é envolvido mais a fundo na situação da empresa e acaba tendo que começar a aparecer mais, encontrando novos lugares e conhecendo de perto mais pessoas que mexem com a Lei.

O projeto possui um desenvolvimento interessante, onde cada arco contribui para a formação de um quebra cabeça existencial ligado ao modo de enxergar o mundo da lei do curioso personagem. Lutando contra seu destino incerto, Roman se sente perdido em sua trajetória após ficar atrás das cortinas durante mais de duas décadas e eu agora precisa buscar outro espaço para suas causas, conhecendo novas pessoas que muitas vezes, pensam bem diferente dele, ou, não acompanham suas ideias.

Dentro de suas excentricidades, Roman acaba descobrindo maneiras curiosas de encontrar a tão sonhada liberdade, mesmo que isso o coloque sempre em evidência e bastante exposto em inúmeras situações. A virada do personagem acontece várias vezes ao longo dessa trajetória, comete um erro grave e esse fato acaba sendo a porta de entrada para um desfecho profundo e repleto de significados.

Persistente em suas ideias, sempre com seu fone de ouvido Sony tocando belas canções, com seu jeito desajeitado de andar,  Roman J. Israel, Esq é um personagem fascinante que vale o filme.

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29/01/2018

Crítica do filme: 'A Rede' (The Net/Geumul)

O outro lado da moeda. Dirigido pelo excepcional cineasta sul coreano Kim Ki-duk (Primavera, Verão, Outono, Inverno... E Primavera, Casa Vazia, Pieta), Geumul, no original, é um retrato atual de um conflito de anos. Os conflitos entre as duas coréias, suas visões diferentes de enxergar o planeta, o modo como a população de cada região vivem, os costumes, o consumo, tudo isso é pano de fundo para a trama desse belo projeto de um dos diretores mais corajosos do planeta, sempre com filmes importantes e debatendo assuntos da atualidade. Interpretando o protagonista, o ótimo ator Seung-bum Ryoo merece destaque.

Na trama, conhecemos um humilde pescador norte coreano chamado Nam Chul-woo (Seung-bum Ryoo), um homem que vive em uma casa super humilde e acorda cedo em busca do seu ganha pão. Certo dia, após o motor de seu barco (único patrimônio que possui e que demorou cerca de dez anos para conseguir) falhar no meio da fronteira com a Coreia do Sul, acaba indo parar do outro lado, na outra coréia e acaba sendo alvo de uma investigação criteriosa pelo lado sul coreano que quer saber se ele é algum espião enviado pelo outro lado. Sem saber direito como lidar com a situação, o pescador precisa agüentar a todo tipo de ameaça para conseguir impor a sua verdade.

Há muitas dúvidas deixadas no ar. Será o protagonista um espião? Como será a recepção do pescador quando e se voltar a sua Coreia? Quem está mentindo nessa história? O filme consegue ficar na linha tênue e complicada da imparcialidade. Como o fato narrado, outras histórias parecidas devem ter acontecido ao longo desses anos de divisão coreana. Como todos sabemos, na Coreia do Norte tudo é muito restrito, o filme navega nessa linha e a devoção do protagonista com sua bandeira é algo que notamos logo na chegada dele do outro lado. As diferenças de cultura, sentimos nas reações dele ao, por um breve período, conhecer de perto como as coisas são em um dos países mais desenvolvidos do planeta.

Recentemente fora vista que as duas coréias irão disputar uma modalidade olímpica juntas, um avanço nas relações desses dois países, completamente diferente mas que podem futuramente representar um só povo.

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28/01/2018

Crítica do filme: 'A Guerra dos Sexos'

Depois dos ótimos Pequena Miss Sunshine e Ruby Sparks - A Namorada Perfeita a dupla de cineastas Jonathan Dayton e Valerie Fari voltou às telonas no final do ano passado com A Guerra dos Sexos , filme baseado em uma história real que agitou o mundo dos esportes na década de 70. O projeto mescla os dramas pessoais dos atletas com as imposições e pressões do milionário universo do tênis mundial.

Na trama, conhecemos o ex-campeão de alguns torneios importantes do mundo de glamour do tênis profissional, Bobby Riggs (Steve Carell), um compulsivo apostador, fanfarrão que resolve desafiar uma tenista para uma partida de tênis. Após conseguir vencer a primeira partida contra uma ex-campeã, no jogo seguinte é desafiado pela sensacional jogadora Billie Jean King (Emma Stone), em uma partida que ficou conhecida: a batalha dos sexos. Essa partida também valeu para se solidificarem os direitos das mulheres no circuito mundial de tênis.

Steve Carell, que adora personagens complexos, e bem diferenciados, às vezes deveras excêntrico, encaixa bem na pele de Bibby Riggs que era bastante exagerado (como alguns papéis de Carell em sua vasta carreira entre flmes densos e comédias bobinhas). Mesmo o filme abrindo bastante espaço para seu pequeno show de comédia – muitas vezes em grande exagero - o roteiro possui arcos bem definidos mesmo que falte um pouco de carisma e uma apresentação mais ampla sobre o contexto dos personagens.

A Billie Jean King de Emma Stone é bem mais complexa e muito de sua personalidade é revelada. O caso homossexual com uma cabeleireira, a situação de não poder expor a situação por medo do preconceito, a posição do atual marido que meio que descobre sua traição após uma visita surpresa a um hotel em que estava hospedada por conta de jogos do circuito. King também aparece na sua luta contra os organizadores das partidas de tênis, criando, junto com outras atletas, mais à frente (e não mostrado tanto no filme) a WTA, organização que dura até hoje e cuida do tênis feminino no circuito mundial de tênis.

A Guerra dos Sexos, que passou voando pelo circuito, mostra a luta das mulheres para terem igualdade de direitos aos homens, em um esporte onde até os dias de hoje essa luta continua com polêmicas e declarações fortes de tenistas, de ambos os sexos, renomados. A luta iniciada por King anos atrás, continua até hoje.


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Crítica do filme: 'O Touro Ferdinando'

Após dirigir Rio 2, três anos trás, o cineasta brasileiro Carlos Saldanha, conhecido mundialmente por suas animações, volta às telonas com mais um projeto para a criançada, O Touro Indomável. Indicado recentemente ao prêmio de Melhor Animação 2018 no próximo Oscar, o filme vem fazendo uma trajetória interessante nos cinemas. É uma aventura repleta de delicadeza mas sem muita criatividade para contar o caminho dos curiosos personagens que aparecem buscando a atenção do público.

Baseado no livro homônimo do autor Munro Leaf, O Touro Ferdinando conta a história de Ferdinando em duas partes. Na primeira, é jovem tourinho que vê seu mundo desabar quando seu pai é selecionado para uma tourada e nunca mais volta. Assim, o protagonista resolve fugir e acaba encontrando a felicidade em um lar de um pai e filha, numa fazenda bonita repleta de flores e animais carismáticos. Ferdinando, já na segunda parte, vira um touro gigantesco e atrapalhado que acaba sendo capturado de volta a onde viveu sua infância, uma espécie de vila de treinamento de touros para serem selecionados para touradas.  

As características do protagonista principal são bem definidas e acabam sendo o alicerce do que vemos na telona. Um animal com visual gigantesco e até certo ponto assustador na história vira um sentimental, amante das flores, inteligente touro, isso cativa mas acaba ficando só nisso quando pensamos no filme como um todo. Por ser muito trivial, até na criação dos personagens que rodeiam o protagonista, o filme se rende apenas a pequenos stand-up comedy para crianças onde cada personagem tenta soltar sua simpatia. O desenvolvimento da história é sonolento, sem muita criatividade, principalmente quando pensamos em começo, meio e fim.


Não há como negar que o filme é fofo. Mas mesmo dentro de suas delicadezas com seu personagem carismático, o longa-metragem carece de uma história mais interessante. 
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Crítica do filme: 'The Post'

Nesse quinto trabalho dirigindo Hanks (O Resgate do Soldado Ryan, Prenda-me Se for Capaz, O Terminal e Ponte de Espiões), e o segundo dirigindo Streep (A.I. - Inteligência Artificial), o mundialmente conhecido cineasta norte-americano Steven Spielberg volta às telonas com o drama The Post. O roteiro, assinado pela dupla Liz Hannah (em seu primeiro roteiro para longa-metragem) e Josh Singer (Spotlight: Segredos Revelados) é cirúrgico ao analisar as sequências de acontecimentos que ficou conhecido como um emblemático episódio de vitória da democracia na figura da imprensa contra um governo cheio de segredos.

Baseado em fatos reais, em um caso famoso político/midiático conhecido como ‘Papéis do Pentágono’, ambientado na década de 70, o editor chefe do famoso jornal (na época nem tão famoso assim) The Washington Post Ben Bradlee (Tom Hanks) é informado por uma fonte de um de seus jornalistas que está de posse em documentos sigilosos do governo americano que atinge não só o presidente da época, Richard Milhous Nixon, mas graves informações sobre o governo norte-americano e seu papel com a Guerra do Vietnã. Assim, Ben precisa do apoio da atual manda chuva do jornal, Kay Graham (Meryl Streep) para publicar a matéria sem medo de serem perseguidos pelo governo norte americano.

O longa é desenhado para fazer o elenco brilhar. Isso, de fato, acontece. Hanks busca uma naturalidade em seu forte personagem, um workholic de marca maior que busca afirmação da sua profissão peneirando as notícias e participando de encontros importantes sobre os rumos do local onde trabalha.  Streep é detalhista na pele de Kay Graham, mostrando o seu desenvolvimento no mundo dos negócios após uma tragédia com seu ex-marido, uma das mais influentes mulheres do século passado. Mesmo não sendo nem de longe uma das melhores atuações de Streep – talvez um grande exagero ela ser indicada ao Oscar desse ano – é um trabalho competente da maior indicada ao mais famoso prêmio do cinema mundial.


The Post estreou na última quinta-feira no circuito e deve fazer um grande sucesso, não só porque a história é bem contada mas por contar com um elenco encabeçado por dois dos maiores astros do planeta. O projeto não deixa de ser, um minuto sequer, uma grande homenagem ao jornalismo, seus princípios e as recordações de pessoas influentes desse poder de mostrar ao público as verdades e os fatos sobre qualquer ocorrido.
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23/01/2018

Crítica do filme: 'Viva - A Vida é uma Festa'

Falar sobre outras culturas é algo mágico que o cinema transforma em inesquecível. Grande favorito para conquistar o próximo Oscar de Melhor Animação, a aventura Viva - A Vida é uma Festa é um daqueles filmes que realmente nos fazem emocionar com uma narrativa empolgante, personagens carismáticos com inúmeras mensagens do bem transmitida para todas as idades. O cineasta norte americano Lee Unkrich (de sucessos como Toy Story 3) leva a magia e a beleza de uma cultura rica em elementos transbordarem em carisma do lado de cá da telona.

Na trama, conhecemos o menino sonhador Miguel, um jovem que adora música mesmo sua família não gostando da ideia, pois, anos atrás um parente abandonou a família pela carreira musical e nunca mais voltou para casa. Durante uma pequena investigação descobre segredos desconhecidos da família e após tocar uma canção com um violão mágico, acaba indo para em uma terra dos mortos. Lá, descobre, nesse mundo fantástico e cheio de parentes que nunca conhecera, descobre mais sobre sua família e um novo segredo se torna um objetivo em sua busca constante em voltar para o mundo dos vivos.


O filme transborda alegria, tristeza, é um drama envolvente mas bastante delicado. Somos guiados pelas ações do forte protagonista, em busca de seus sonhos e não compreendendo restrições para ir em busca do que mais ama. As reviravoltas são ótimas e nos deixam cada mais apaixonados por essa singela trama que explora a cultura de uma parte do continente americano que pouco vemos na tela grande. Um dos trunfos dessa produção, elogiadíssima por cinéfilos mundo à fora, é conseguir envolver públicos de todas as idades. Há mensagens lindas de amor e família embutida em cada sequência dessa pequena obra prima. Impossível não se emocionar.  
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