Em meio ao desejo de encontrar a figura materna, metáforas maravilhosas brindam os cinéfilos que sabem sonhar
Um retrato impactante de uma infância pobre de riquezas mas
rica em alegria e vontade de viver. Dirigido pelo americano Benh Zeitlin (que ajuda no roteiro e na
trilha sonora também) “Indomável
Sonhadora” tem todos os elementos para ser considero um dos melhores filmes
do Festival do Rio desse ano. No drama, imagens fortes, marcantes, mostram uma
simples realidade. A câmera fica bastante próxima dos personagens (um efeito
para incomodar, é algo positivo) talvez uma maneira de aproximar o espectador
na ótica de quem interage em cena. As metáforas incorporadas ao filme só elevam
a qualidade dessa ótima fita.
Na trama, acompanhamos Hushpuppy (interpretada pela
excepcional atriz mirim Quvenzhané
Wallis) uma menina que vive em um vilarejo com seu pai, aparentemente longe
das grandes cidades. Sua vida é monótona e muito simples tendo que viver com as
doenças do pai e a falta que sente de sua mãe. Quando uma tempestade chega ao vilarejo,
destrói toda aquela comunidade. Após o desastre e quando os habitantes estão
todos longe de suas casas (em um abrigo para desabrigados) eles lutam para
voltar ao mundo deles e se revoltam contra tudo e todos. O simples desejo humano
de poder voltar para casa. Imagens muito bem captadas, valorizam ainda mais essa
jornada de retomada pela esperança de novos dias.
O filme se apresenta como uma narrativa da mente super desenvolvida
e criativa da pequena personagem principal. Em meio aquelas botas brancas e
sujas pela lama reside uma menina sonhadora, por mais que o pai (volta e meia)
não deixa ela ser de fato uma menina. As dificuldades de Hushpuppy vão do
temperamento esquisito do pai (interpretado pelo ótimo ator Dwight Henry) até ter que se virar
acendendo o fogão com um incinerador onde precisa-se colocar um capacete de
proteção, se não queima (uma cena marcante que vemos nesse longa).Tem diálogos
imaginários com a mãe, sempre em situações de extremo desconforto, como se
fosse uma espécie de saída daquele lugar, naquele momento. Já no desfecho, à
bordo do ‘rabugento’, um sonho de encontrar a figura materna é o seu mais novo
objetivo.
A trilha sonora é ótima, preenche cada sequencia com sua
discreta maestria. O longa tem cenas memoráveis, os gigantes javalis que
confrontam a nossa jovem heroína são um achado maravilhoso, virando o clímax da
metáfora criada. O espectador é brindado por atuações maravilhosas de Dwight Henry e Quvenzhané Wallis. O primeiro
consegue passar toda a dor e transformação de seu personagem com uma
veracidade que impressiona. A segunda tem uma atuação digna de Oscar, fala com
o olhar, maravilhosa até o último segundo.
Um filme que todo o cinéfilo sonhador precisa conferir. A
magia da sétima arte está contida em cada segundo dessa obra-prima. Você não
vai perder né?!