A Apple Tv vem trazendo, ao longo de sua ainda curta história, diversas obras de impacto quando o assunto é séries. Você pode perceber isso pelas diversas listas de melhores do ano espalhadas pela internet, nas quais sempre aparece uma série desse poderoso streaming – que talvez ainda não tenha o reconhecimento que merece. A Última Fronteira, criada por Jon Bokenkamp e Richard D'Ovidio, chegou para tentar ser mais um desses competentes títulos: uma trama de espionagem ambientada no frio do Alaska que distribui reflexões sobre moral, família e identidade.
Ao longo dos seus 10 episódios, acompanhamos Frank (Jason Clarke - um dos atores mais
subestimados dos últimos anos) um policial federal alocado no Alaska, sua terra
natal, com fortes marcas no passado. Ele precisa lidar com a inusitada queda de
um avião repleto de prisioneiros perigosos e ir à caça dos sobreviventes. Nessa
perigosa caminhada, acaba recebendo a ajuda da misteriosa Sidney (Haley Bennett), uma agente da
inteligência norte-americana que parece saber muito mais do que revela.
A narrativa propõe alguns olhares sobre a situação central de
sua premissa, oferecendo ao público dois protagonistas, duas perspectivas. Em
um primeiro momento - e talvez a base mais sólida dessa história - conhecemos
um homem que tenta reestruturar sua família após uma tragédia do passado, algo
que estremeceu a relação com a esposa e afastou um pouco o filho. Guiado por
princípios e buscando não entrar nos deslizes da hipocrisia, Frank é aquele
típico policial boa praça: que todos gostam e defensor da sua comunidade. Esse
personagem é muito bem lapidado através de mais uma ótima atuação de Jason Clarke.
Quando entramos nas verdades sobre Sidney e ganhamos a
oportunidade de seguir por sua perspectiva, o roteiro busca encontrar
rapidamente as peças do quebra-cabeça que se apresenta, embolando explicações. Ao
transformar a ambígua agente secreta em uma peça que transita entre o que pode
certo ou errado - com contradições e conflitos morais – a narrativa se perde em
meio a uma embolada trama de espionagem, que vai perdendo aos poucos o sentido.
De um ponto simples de seu enredo à forma como a história se
apresenta (o roteiro), essa série parece não conseguir sustentar todos os
elementos de impacto que propõe. Há bons episódios e outros sonolentos, resultando
em uma gangorra de emoções apenas satisfatória. A aposta em compor personagens com
certo grau de anti-heroísmo, como forma de validar falhas morais evidentes,
acaba sendo um tiro no pé de uma narrativa que poderia nos envolver bem mais.
