Nunca desista dos seus sonhos. Aproveitando esse lema
bastante comum nas pessoas sensíveis e sonhadoras, o diretor Matteo Garrone (Gomorra)
apresenta uma história dramática, com um particular humor europeu como pano de
fundo, que poderia ser muito melhor desenvolvida senão fosse a cansativa
introdução. O assunto não é recente, uma espécie de crítica à sociedade
alienada, pena que acaba sendo mais uma boa ideia perdida em um mar de
desinformação.
Na trama, acompanhamos a trajetória de um simpático e
querido administrador de uma peixaria chamado Luciano (Aniello Arena) que vive
com a família no subúrbio de Nápoles, na Itália. O trabalhador busca a cada dia
melhorar a situação de sua enorme família contrabandeando aparelhos eletrônicos.
Certo dia, após um insistente pedido de seus filhos, Luciano participa de um
processo seletivo para concorrer a uma vaga no programa Big Brother. A partir
daí entra em um surto psicológico quando pensa que será um dos selecionados da
próxima edição do reality show.
O público aguarda ansiosamente que o filme tenha algum
sentido. O arco introdutório é muito longo, por isso cinéfilos, paciência, o
filme ganha uma certa direção quando começa a ter um objetivo. Um dos fatores
que atrapalham é em relação aos personagens coadjuvantes que são arremessados
dentro da história sem qualquer razão, deixando o público precocemente confuso
sobre o porquê da existência deles para contar essa história.
A produção ganha possibilidade de aceitação se o público
conseguir fazer uma análise mais profunda sobre o comportamento fora dos
padrões do protagonista. É uma fábula sobre a sociedade alienada moderna. O
personagem, completamente descontrolado, começa a ter atitudes inconsequentes
quando cria a ilusão de que ganhará fama e reconhecimento. Abandona sua rotina
de trabalhador e começa a compor os elementos de seu cotidiano como forma de se
sentir ainda com esperanças de realizar o seu sonho.
O longa tem a proposta de ser profundo mas acaba sendo raso.
É arrastado, mais longo do que deveria ser. Acaba se tornando cansativo. Quando
chegamos ao desfecho, a sensação que passa é de que faltou alguma coisa. É o simples
caso de que nem toda boa ideia vira um bom roteiro.