Uma história de amor em meio a um rico material de um profissional exemplar que sempre colocou a cultura brasileira em suas pautas. Assim podemos começar uma análise sobre esse cativante projeto. Exibido em primeira mão na Mostra de Cinema de Gostoso 2024, Kubrusly – Mistérios Sempre há de pintar por aí reúne uma importante pesquisa, que junta materiais de arquivo aos detalhes do cotidiano, para registrar o começo, meio e as novas descobertas do viver de um homem diagnosticado com uma doença cruel que continua a escrever a sua própria história.
Diagnosticado com demência frontotemporal, o jornalista Maurício Kubrusly marcou a história do
rádio e da televisão brasileira. Desde a primeira matéria de repercussão – ainda
quando era estagiário – um furo de reportagem sobre a passagem da atriz
francesa Brigitte Bardot pelo Rio de
Janeiro décadas atrás, até as lendárias críticas musicais, passando também por
um quadro de sucesso no importante programa televisivo da Rede Globo,
Fantástico, que levou o olhar curioso de vários pontos do Brasil que poucos conheciam,
Kubrusly é um mestre na arte de como atrair a atenção dos espectadores -
inspiração para tantos outros profissionais da área.
Fugindo do convencional, o projeto vai do divertido ao
curioso, guiado por um olhar delicado, sensível, que navega pelo tempo sendo essa
uma variável com paralelos e trocas com a fabulosa carreira do personagem principal.
Com um rico material, em áudio e vídeo, ultrapassa os desafios dos arquivos
criando uma sintonia no discurso honesto e intimista que se propõe. Através de
retratos de uma história de amor, sua forte ligação com a esposa – que conheceu
anos atrás em um site de relacionamentos – logo chegamos na intimidade que
conversa com as lembranças e se juntam com a sua condição de hoje, na perda da
memória.
Sendo também importante para falar de uma condição de saúde (demência
frontotemporal (DFT) que invade tantos outros lares, que recentemente ganhou
holofotes por ser a mesma que passa o ator Bruce
Willis, Kubrusly – Mistérios Sempre
há de pintar por aí é um recorte também sobre os caminhos para lidar com
essa doença e pode servir de inspiração para tantas outras famílias que passam
pela questão com um alguém próximo.
Dirigido por Caio
Cavechini e Evelyn Kuriki esse
projeto que chega no início de dezembro na Globoplay se consolida como uma obra
atemporal, muito bem estruturada, comovente, que vai seguir como um importante
registro de um jornalista único, uma linda história de amor e a eterna arte de
novos olhares para o viver.