Como prever um futuro perfeito já que a trajetória para se
chegar até lá são repletas de surpresas e de individuais interpretações? Exibido
no aclamado Festival de Sundance e deixando ótimas resenhas por onde tem sido
exibido, Luce, baseado na peça
teatral assinada pelo também roteirista do filme J.C. Lee e dirigido pelo cineasta nigeriano Julius Onah (O Paradoxo
Cloverfield) é um poderoso drama com pitadas generosas de tensão onde somos
recheados de argumentos para nos posicionarmos quanto as importantes questões
que o filme aborda. Podemos afirmar que Luce
é um dos filmes que mais trazem debates para o lado de cá da telona dos últimos
anos, que absurdamente não foi exibido nos cinemas brasileiros.
Na trama, conhecemos Luce (Kelvin Harrison Jr. em ótima atuação), inteligente, atleta e aluno
preferido de sua escola que fora adotado por seus pais, Peter (Tim Roth) e Amy (Naomi Watts), aos sete anos quando o país em que morava era
caótico. Luce cresceu como americano, e se tornou brilhante. Mas tudo isso é
colocado em xeque quando Harriet (Octavia
Spencer) uma professora de história revela uma preocupação sobre uma
redação feita por Luce, o que leva a família perfeita a conflitos onde vamos
descobrindo aos poucos que nada acaba sendo perfeito.
Invasão de privacidade, trinca conflituosa entre
professores, pais e alunos, o reconhecimento de que os problemas existem em um
lar precisam ser resolvidos de alguma forma coerente. Luce preza pelo clima de
tensão ao mais alto nível, tudo é desconfiança nesse filme. Um caminho legal
para tentar entender tudo que é solto nas ações é enxergar pela ótica dos pais,
ponto central da trama. Com a desconfiança da professora na mesa, Amy e Peter
trocam nos papéis de defender ou buscar a verdade sobre seu perfeito filho. É
um retrato bastante introspectivo de uma família, com atuações excelentes. A
ótica da professora também é bastante impactante, a intimidação que é proposta
de maneira nua e crua. Afinal, Luce é inocente? Ou longe disso? Belo filme!