Depois do maravilhoso trabalho O Que Eu Mais Desejo, o
diretor japonês Hirokazu Koreeda volta a falar sobre a relação da família no
seu mais novo projeto, o cativante Pais e Filhos. Usando de uma
simplicidade e uma delicadeza impressionante, o filme é uma grande jornada
sentimental nas escolhas difíceis que pais e filhos se envolvem. O espectador é
alvo fácil de cada palavra, cada sentimento, contidos em todas as linhas desse
roteiro.
Na trama, acompanhamos Ryota Nonomiya (interpretado pelo
ótimo ator Masaharu Fukuyama), um homem bem resolvido na vida que vive com sua
mulher Midori Nonomiya (Machiko Ono) e seu único filho Keita. Muito
disciplinador e sempre se decepcionando com seu filho, Ryota faz de tudo para
que nada fuja mais do seu controle. Certo dia, o hospital onde Keita nasceu
surpreende essa família com a notícia de que o menino não é o filho biológico
deles. A partir disso, escolhas difíceis terão que ser tomadas se unindo num
mar de razão e emoção complicado de navegar.
O que mais deixa o público envolvido com a história é a
construção belíssima do personagem Ryota. Um Workaholic assumido, deixa sua
família em segundo plano, assim como seu pai no passado fizera com ele. Perdido
em meio ao caos emocional estabelecido pela trágica notícia, Ryoto, a cada
passo que tenta dar pra frente se esquece dos pequenos detalhes afetivos e
comete uma série de ignorâncias, fruto de sua frieza característica. Quando a
mudança se torna eminente, o filme ganha contornos tão emocionantes que fica
impossível os olhos não se encherem de água.
A cultura e a disciplina, própria dos orientais, são muito
bem exploradas pelas lentes certeiras do diretor. As diferenças no modo em
educar uma criança, o paradigma entre o rico e o pobre, as diferenças entre o
ser feliz com pouco e o ser infeliz ganhando muito são também algumas das
profundidades das ações dos personagens. Pais e Filhos é um filme que de
superficial não tem nada. Todas as situações são bem desenvolvidas, o que
justifica os deliciosos 120 minutos que o espectador fica refém.
Se você já teve uma relação difícil com seus pais, esse
filme chegará como um cometa colorido que vai atingir a superfície de seu
coração. O poder dessa história, juntamente com a mágica do cinema, é enorme e
pode fazer você querer mudar certas situações, quem sabe até mesmo perdoar. As
lições são inúmeras, esteja de coração aberto para receber esse lindo trabalho.
Sábio, é o pai que conhece o seu próprio filho. E vice-versa. Não perca esse
filme.