A decadência da fama, as fortunas ganhas, o status que cada
vez mais se torna transparente e uma eterna ponte para realização pessoal de
alguns artistas. Como se estivesse com uma poderosa marreta nas mãos, o
cineasta canadense David Cronenberg derruba a porta da mesmice e realiza um
projeto que foge de qualquer conceito de normalidade. Contando com um ótimo
elenco, com destaques para os ótimos Julianne Moore e John Cusack, o famoso
diretor realiza uma crítica afiada e cheia de verdades sobre a atual indústria
cinematográfica hollywoodiana.
Na trama, conhecemos diversos personagens que por conta de
um destino extremamente fictício, em meio ao modelo de família hollywoodiana,
se interligam de maneira extrema. Tem a atriz jogada para escanteio pela indústria
cinematográfica, um psicólogo que fez fortuna com livros de auto ajuda, um jovem
astro infantil que adora se meter em uma polêmica e uma jovem com sérios
problemas que acaba de ser liberada de um sanatório. Tem de tudo nesse filme:
Dramas familiares, obsessões de todos os tipos, surtos psicóticos.
A construção de grande parte dos personagens é interessante.
Dissimulados, excêntricos, desesperados, alucinados, tem de tudo um pouco. O
elo de interseção de todas essas figuras cênicas é o intrigante mundo das
celebridades. Esse projeto, às vezes, dá a impressão de ser um thriller
sobrenatural psicótico, tamanha as cenas esquisitas que somos testemunhas. Os diálogos também merecem uma pequena
referência: São sarcásticos e impressionam pela transparência de cada verdade
mencionada e jogada no colo do espectador.
Julianne Moore interpreta de forma fantástica sua complexa
personagem Havana Segrand. Cheia de problemas de auto estima e inseguranças
diversas, uma das protagonistas é uma das maiores criações de Moore nos últimos
anos. Merecidamente, essa excelente atriz já levou neste ano o prêmio de melhor
atriz no Festival de Cannes e já se coloca com grandes possibilidades de
concorrer a uma vaga no próximo Oscar. O ponto negativo vem para Mia Wasikowska
com sua Agatha Weiss e para Robert Pattinson e seu Jerome Fontana, ambos totalmente
perdidos em algumas cenas. Parece que não conseguiram encontrar seus
personagens dentro desse mapa para as estrelas.
Com muitas citações a artistas conhecidos do grande público
e algumas situações que de fato aconteceram na realidade, Cronenberg utiliza a
troca de perspectivas, entendemos os fatos relatados através dos olhos de
vários personagens, o que resulta em um filme um tanto quanto complexo. É como
se olhássemos pelo buraquinho da fechadura e enxergássemos um mundo
nebulosamente fora de qualquer realidade conhecida onde todos buscam a sua
própria liberdade.