Viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas
apenas existe. Em seu quinto longa-metragem, o cineasta francês Martin Provost
resolve contar uma história real, forte e cheia de detalhes que impactaram o
modo de pensar francês durante todo o século passado. Com um grande desfile de
astros da literatura e filosofia, um roteiro primoroso e a dupla Emmanuelle
Devos e Sandrine Kiberlain inspiradas, Violette
se transforma ao longo dos 139 minutos de fita um retrato contundente sobre uma
figura ímpar em uma sociedade careta que recebe um tapa em cada linha de seus
polêmicos textos.
Na história, roteirizada pelo próprio diretor, conhecemos
mais profundamente a vida da escritora Violette Leduc, uma mulher guerreira que
encontrou a salvação através da escrita. Sua amizade e sua paixão por Simone de
Beauvoir também é meticulosamente bem mostrada. Se sentindo em um deserto que monologa,
desafiando o convencional da época, quebrando tabus, sendo admirada por ilustres
escritores do século XX, a protagonista é muito poderosa. Emmanuelle Devos
embute uma energia vigorosa que é fundamental para que tenhamos empatia por
Violette. Uma grande atuação dessa excelente atriz, talvez, pouco conhecida
aqui no Brasil.
Ao longo da ótima trama, vemos um despertar da sexualidade,
uma liberdade profunda em expressar e sentir suas emoções. As asfixias da vida
geram uma força em Violette para que a mesma escreva sobre sua ardente e
sofrida vida. Na verdade, Violette se punia a cada passo sem êxito, a cada
chance desperdiçada, chegava ao limite da razão e emoção facilmente, fruto de
sua vida sofrida e os traumas do passado que sempre voltavam como fantasmas sem
solução. Sua amizade com Beauvoir ajuda a encontrar o caminho e a ganhar um
pouco de razão em busca de seu destino.
O roteiro concentra-se no período pós segunda guerra até o
lançamento de seu famoso livro, A
Bastarda, em meados da década de 60. Assim, contornamos uma sociedade
francesa que se remodela após uma das grandes tragédias mundiais. O sofrimento
de Violette é um pouco o reflexo de uma sociedade que precisa lutar por sua
existência, nesse ponto Violette absorve uma obsessão pela escrita, sonhando
que o escrever lhe trará tudo que a vida lhe tirou.
Depressiva, pobre, despretensiosa de grande beleza, Violette
é um personagem fascinante que nas telonas do cinema transbordará emoções a
cada instante. Não percam esta bela fita francesa.