Não é preciso que a bondade se mostre; mas sim é preciso que se deixe ver. Em seu primeiro trabalho como diretora de longas metragens, a atriz, roteirista e cineasta Baya Kasmi traz para o público uma história repleta de reviravoltas que começa com uma trama peculiar que gira em torno de uma bondade excessiva em fazer as pessoas se sentirem bem. Je Suis a Vous Tout de Suíte é também um complexo retrato familiar que contorna temas como a religião, o preconceito e as inúmeras maneiras que temos de enxergar as coisas mais simples da vida.
Na trama, conhecemos a bela Hanna Belkacem (Vimala Pons), uma
assistente de recursos humanos de uma empresa de vinhos que mora na França onde
vive um cotidiano repleto de situações inusitadas, muitas dessas por conta de
sua vontade de fazer os outros se sentirem bem. Sua família, de descendência
argelina, sempre foi bastante parecida. Seu pai (Ramzy Bedia) é um comerciante
que não consegue dizer não as pessoas, sua mãe Simone (Agnès Jaoui) é uma
pseudoterapeuta que vive tentando fazer sua família viver feliz não importa os
acontecimentos conturbados do cotidiano. Já com seu irmão Donnadieu (Mehdi
Djaadi), a relação de Hanna era de muita proximidade na infância mas aos poucos
foi se afatando a partir de diversas divergências na maioria de enxergarem o
mundo ao redor. Assim, com altas doses de feedbacks explicativos, o filme vai
mostrando aos poucos as novas possibilidades para a protagonista, regada por
muito amor de sua família.
Je Suis a Vous Tout
de Suíte começa um pouco confuso, talvez por tamanha peculiaridade das
cenas iniciais, talvez por não conseguir realmente mostrar nos primeiros minutos
sobre o que seria a trama. Quem consegue aguentar chegar ao segundo ato, se
surpreende com a virada na trama, que adota flashbacks para explicar o porquê
das escolhas de todos nas suas respectivas trajetórias mas sempre focando em
sua protagonista. Podemos dizer que é uma comédia nonsense, repleta de diálogos
confusos mas que de alguma forma conseguem envolver o espectador. A subtrama
mais interessante é a do irmão da personagem principal e sua curiosa escolha em
se converter a religião muçulmana e adotar hábitos da mesma, talvez a sua maior
complicação na relação com a irmã.
Comédia ou drama? O filme navega nessas duas trajetórias e
tenta uma fórmula mágica de interação com o espectador que funciona mais do
meio para frente. Je Suis a Vous Tout de
Suíte foi lançado há dois anos atrás na Europa e não tem previsão de
desembarcar aqui no Brasil. Poderia fazer um bom sucesso no circuito das salas
de arte.