Você já deve ter
escutado a frase: 'Família é a base de tudo'. Mesmo o
relacionamento sendo conturbado muitas vezes, nossos parentes são,
teoricamente, os nossos alicerces em momentos de dor e incertezas. O
mundo do cinema, ano após ano, projeta na telona excelentes filmes
que abordam de várias óticas o relacionamento familiar, seja um
contexto geral de toda a família, seja um retrato de pais e filhos,
seja um casamento com ambos pontos de vista. Pensando nisso, e
tentando fugir o máximo do óbvio, buscamos filmes que exemplificam
todo esse contexto. Tirando um ou outro, é provável que você não
conheça todos esses, mas vale muito a pena procurarem.
Other
People (2016) (EUA) – de Chris Kelly
Não precisamos ser
perfeitos o tempo todo para que nossas famílias nos amem. Debutante
em longas metragens, o cineasta Chris Kelly, dirige e assina o
roteiro deste belíssimo filme que explora com muita simpatia
assuntos tabus de uma família de classe média norte americana.
Other People é um grande aulão sobre os muitos lados das
emoções, um filme rico em conteúdo, corajoso que faz questão de
expor as polêmicas como forma de refletirmos sobre os temas
abordados. O projeto conta com uma atuação espetacular da veterana
atriz Molly Shannon que nos emociona do início ao fim com sua
impactante personagem.
Na trama, conhecemos o
roteirista, sem grande sucesso, David (Jesse Plemons), um
jovem que mora em nova Iorque e precisa voltar para a cidade que
nasceu, em Sacramento, por conta de uma grave doença de sua mãe
Joanne (Molly Shannon). Tendo que voltar a morar na casa onde
foi criado, e tendo que enfrentar suas diferenças com seu pai, David
passará meses tentando se redescobrir e renovando seu amor por sua
família. Ao longo dos 97 minutos de projeção somos testemunhas de
uma pequena grande história sobre as formas de demonstrar o amor
familiar.
Indicado em quatro
categorias do Independent Spirit Awards 2017, Other People é
aquela surpresa que todos nós cinéfilos gostamos de encontrar.
Atualmente no ótimo catálogo da Netflix, o filme explora com muita
sabedoria as principais características de seus personagens que
ficam envolvidos em uma situação de muita tristeza com a doença da
mãe. Como cada um deles lida com isso (com um foco gigante na visão
de David), o filme nos envolve com embates via diálogos primorosos e
lições de vida que levamos para nossas próprias vidas. A atuação
de Molly Shannon, que faz a mãe, é deslumbrante, uma das
mais impactantes.
Other People
concorreu ao Grande Prêmio do Júri no importante Festival de
Sundance 2016. Se você tiver a chance de assistir a esse belo
trabalho, não deixe de conferir. O amor transborda em forma de
perdão e esperança.
Muzi v
nadeji (2011) – (Repúblic Tcheca) – de Jirí Vejdelek
As sutilezas do amor.
Escrito e dirigido pelo cineasta tcheco Jirí Vejdelek, Muzi
v nadeji (2011) é um filme despretensioso, que se camufla em
comédia pastelão mas aos poucos vai cativando nossos corações.
Fala muito sobre o amor a quatro paredes, de maneiras um tanto quanto
inusitadas, representado por um quarteto de atores inspirados que
conquistam o público a cada cena. Uma pequena obra prima européia,
perdida, provavelmente nunca vista mas que merece os olhos de todos
que amam cinema.
Na trama, conhecemos o
ex-contador e agora garçom do restaurante da família Ondrej (Jirí
Machácek), um homem de fala mansa que vive graves problemas em
seu casamento com Alice (Petra Hrebícková). Certo dia, em
uma das inúmeras saidinhas do seu sogro Rudolf (Bolek Polívka),
das quais Ondrej sempre acaba virando cúmplice, a dupla vai parar em
um snooker bar onde encontram a belíssima Sarlota (Vica Kerekes),
conhecida do traidor compulsivo Rudolf. Só que dessa vez, a provável
conquista acaba ficando encantada com Ondrej que começa a conhecer
melhor Sarlota. Assim, posta a confusão, o quarteto enfrentará
situações inusitadas em busca da tão sonhada felicidade.
Alimentado por desejos
quase compulsivos as ações acontecem a partir das revelações de
Rudolf, que trai a mulher faz anos e com diversas damas diferentes.
Ele se sente bem com isso, e acredita que assim consegue manter a
chama acesa com sua esposa até os dias de hoje. Ondrej, muito
próximo do sogro, afinal são vizinhos, acaba embarcando nessa onda,
só que sem a experiência de Rudolf, se mete no inusitado caso extra
conjugal com Sarlota, o que de fato faz melhorar seu relacionamento
com Alice mas a todo instante ele não sabe como lidar com isso.
Muitas cenas hilárias dão luz a essa verdade, os diálogos entre
Rudolf e Ondrej são ótimos e repletos de simpatia.
A princípio, pensamos
que Muzi v nadeji é uma comédia bobinha, com recheio sexy
sem muitas pretensões. Mas o que impressiona no roteiro, escrito
também pelo diretor, é a forma que acontecem as viradas na
história, uma melhor que a outra, e com todos os personagens
envolvidos, deixando o público se abastecer de risadas deliciosas e
momentos cativantes que muito mostram as verdades de diversos
relacionamentos.
Tempestade
(2015) (França) – de Samuel Collardey
Temos o destino que
merecemos. O nosso destino está de acordo com os nossos méritos.
Vencedor de dois prêmios no aclamado Festival Internacional de
Cinema de Veneza em 2015, Tempête, no original, dirigido pelo
francês Samuel Collardey, é uma daquelas pérolas sensíveis,
raras, que explora a ausência até seu último suspiro. Dúvidas e
escolhas são bastante explorados pelos personagens, repletos de
indagações e sonhos, quase análogos à incerteza quando estamos
passando por uma fase adolescente para a fase adulta. Um recorte
maduro sobre a paternidade e a busca por melhores condições para
uma família.
Na trama, conhecemos o
pescador Dom (Dominique Leborne), um homem perto dos quarenta
anos que trabalha em alto mar ficando pouco tempo por mês em terra.
Ele recentemente se divorciou e conseguiu a guarda de seus dois
filhos, Mailys (Mailys Leborne) e Matteo (Matteo Leborne)
que escolheram ficar com ele por terem problemas com a mãe. Mesmo
ausente, Dom sempre preenche a casa onde vive com os filhos de amor e
carinho, mesmo com algumas irresponsabilidades. Quando a filha fica
grávida aos dezesseis anos, Dom precisará encarar escolhas que
mudarão para sempre os rumos dessa família.
A ausência é um tema
importante, explorado com leveza, também acompanha toda a história,
os caminhos da maturidade até a responsabilidade, grande dilema do
protagonista. Há um certo descontrole quando se vê cheio de
tempestades em sua vida, com a eminência da perda da guarda de seus
filhos e a decisão de pensar em um trabalho remunerado que o deixe
mais presente, em terra, perto deles. Movido pelo amor que tem pelos
filhos, o protagonista embarca em uma transformação em sua vida
pessoal e profissional, se apegando em seus sonhos para escrever um
horizonte cheio de esperança e estabilidade.
Um pai ausente mas
amoroso, irresponsável com detalhes da vida mas que ajuda quando
está por perto. Dom, personagem marcante, é um retrato de parte da
sociedade que na busca pro melhores condições para a família acaba
abdicando de momentos importantes na formação dos filhos.
Tempestade é um recorte que exala humanidade, duro, transformador
quando estamos em um limite de nossas forças e de como todos os dias
podemos aprender mais sobre nosso mundo.
A
Garota Ocidental (2016) (Paquistão) - de Stephan Streker
Você é livre para
fazer suas escolhas, mas, às vezes, prisioneiro das consequências.
Abordando um grande conflito familiar envolvendo uma jovem maior de
idade que possui um pensamento diferente de seu pai e mãe sobre com
quem deve se casar, A Garota Ocidental apresenta argumentos a
esse conflito imposto e um pouco da visão de todos que estão ao
redor dessa família paquistanesa. A protagonista, interpretada pela
ótima atriz francesa Lina El Arabi, é uma mulher de espírito
livre que luta pelo que entende ser o certo em um pedaço de ocidente
repleto de imigrantes com pensamentos de seus países de origem.
Na trama, conhecemos a
jovem Zahira (Lina El Arabi) uma imigrante paquistanesa que
mora na França e está totalmente adaptada ao seu estilo de vida
nessa cidade. Quando chega aos 18 anos e seu pai e mãe impõem um
casamento arranjado, onde ela deve escolher entre três pretendentes,
a jovem com bastante coragem se diz contrária a decisão e acaba
provocando um grande abalo na família. O subtítulo do filme no
Brasil, entre o coração e a tradição é exatamente o conflito que
a protagonista percorre durante intensos 98 minutos de projeção.
O conflito das
aparências e costumes contra o lado da razão e emoção. Toda a
trama se envolve em escolhas. A trajetória da protagonista é cheia
de obstáculos provocados pelas imposições de sua família que
deseja que ela se case com algum dos três pretendentes paquistaneses
que pré definiram, além de passar por uma gravidez, fruto de um
relacionamento com um alguém que ela achava que a amava. O irmão de
Zahira, Amir (Sébastien Houbani), é peça chave nesse
tabuleiro sentimental, se vê em grande conflito em como ajudar a
resolver a situação. Os preenchimentos das lacunas emocionais e
suas consequências são feitos de maneira cirúrgica pelas lentes do
cineasta belga Stephan Streker (em seu terceiro longa metragem na
carreira) que dirige e escreve o roteiro desse profundo drama exibido
no Festival Internacional de Toronto, Rotterdam e Istambul deste ano.
A Garota Ocidental
é um recorte sobre o mundo das tradições. Um filme que chega
também como uma crítica social, seus limites emocionais a flor da
pele e as saídas muitas vezes não encontradas pelos envolvidos. Com
grandes atuações e um desfecho arrebatador, esse é um daqueles
filmes que você não pode perder.
Her
Love Boils Bathwater (2016) (Japão) – de Ryôta Nakano
A mãe compreende até
o que os filhos não dizem. Chega do Japão um dos filmes mais
sensíveis e emocionantes da temporada, uma mescla de comédia
delicada com drama intenso que entra em nossos corações como uma
flecha recheada de sentimentos bons. Her Love Boils Bathwater,
ou no original, Yu wo wakasuhodo no atsui ai, é o indicado ao Oscar
do Japão para a próxima cerimônia do Oscar e possui boas chances
de conseguir uma vaguinha na lista final. Escrito e dirigido pelo
cineasta Ryôta Nakano o filme apresenta a jornada de uma
inesquecível personagem em busca do preenchimento de lacunas
esquecidas em seu passado depois que descobre uma terrível doença.
A sensibilidade que o filme preenche suas emoções é algo raro e
transforma esse trabalho em um dos mais bonitos desses últimos
meses.
Na trama, conhecemos a
super querida Futaba (Rie Miyazawa, em uma atuação
absolutamente fantástica) que mora sozinha com sua filha Azumi em
uma casa humilde no delicioso Japão. Certo dia, Futaba descobre que
tem uma doença terminal e quase paralelamente descobre onde seu
ex-marido, que a abandonara, está morando. Vendo que precisa ter o
ex-marido por perto, deixa ele voltar para a sua vida, sendo que o
mesmo traz junto uma outra criança fruto de um caso que ele teve.
Assim, os quatro embarcarão em uma jornada repleta de segredos para
ajudar Futuba a realizar seus últimos desejos em vida.
O roteiro possui uma
sensibilidade gigante. O primeiro arco, meio morno, na verdade é a
construção inicial com inserções de detalhes que serão
descobertos apenas com o passar do pouco mais de duas horas de
projeção. Após a descoberta da terrível doença, Futaba começa a
abrir seus segredos mais escondidos e o filme ganha contornos
emocionantes (preparem desde já os lenços). Impressiona a qualidade
dessa história que além de emocionar, tem um poder de surpreender o
espectador.
O papel da mãe é algo
abordado no filme nas óticas dos coadjuvantes em relação a
protagonista. Mãe de muitos, mesmo sendo de poucos, Futaba é o
reflexo de todo o amor que pode ter uma família quando tem uma
figura carinhosa, forte, corajosa, para combater e proteger todos ao
seu redor. A relação que a personagem principal tem com todos que a
preenchem com amor é algo grandioso, sublime. Transborda na tela as
razões de todo seu amor e o público se sente próximo a personagem
em todo momento. A inesquecível atuação de Rie Miyazawa
ajuda a deixar essa personagem na prateleira do imaginário cinéfilo
como sendo um dos mais belos do cinema oriental contemporâneo.
Capitão
Fantástico (2016) (EUA) – de Matt Ross
Viver
é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas apenas existe.
Escrito e dirigido pelo pouco conhecido ator e também cineasta Matt
Ross, Capitão Fantástico é um daqueles filmes que
deixam nosso coração na boca, faz nosso raciocínio brilhar e mexe
intensamente com nosso modo de ver e viver tudo que aprendemos até
hoje em nossas vidas. Exibido no Festival do Rio deste ano e com uma
atuação brilhante do grande ator nova iorquino Viggo Mortensen, o
longa metragem de objetivos 118 minutos é, sem dúvidas, um dos
melhores filmes sobre o tema dos últimos anos.
Na
trama, conhecemos Ben (Viggo Mortensen) e sua família para lá
de diferente. Ben e sua esposa resolveram criar os seus seis filhos
em um lugar muito bonito e longe da sociedade, deixando eles
distantes de qualquer contato com as novidades e besteiras do mundo e
sua globalização. Quando sua esposa, que precisou ser hospitalizada
por conta de uma doença terrível, falece, Ben resolve ir até o
encontro dela e leva junto seus filhos. Após o choque natural da
criançada com o mundo da maioria das pessoas que os cercam mais que
nunca tiveram contato, o capitão fantástico desta turma terá que
fazer escolhas difíceis e confrontar pessoas que consideram seu modo
de vida prejudicial aos seus filhos.
A
educação exige os maiores cuidados, porque influi sobre toda a
vida. Pensador desse lema, o protagonista criou seus filhos com
rigidez e muita disciplina. Livros complexos são passados como dever
de casa para todas as crianças, não importa a idade. As verdades
são uma só e vários tabus de outras casas, para Ben, são apenas
verdades que precisam ser ditas da única maneira que existe. O
ambiente é de total harmonia, músicas (a cena da família cantando
‘Sweet Child o’Mine’ é emocionante e arrepia), brincadeiras
mas também alguns excessos como exercícios físicos que não
respeitam idade e que podem machucar. O personagem principal é
intenso em seus princípios, a ideia de ter uma família vivendo
longe dos vícios e futilidades, além dos alimentos que só
prejudicam, é vivida intensamente mas falta equilíbrio, no fundo,
Ben sabe disso.
No
terceiro arco em diante, a mudança começa a acontecer. Ben,
personagem complicado, de bom coração, interpretado com maestria
por Mortensen se vê cercado de situações que o fazem repensar
alguns de seus conceitos. Seus filhos, sua única riqueza nesse
mundo, percebem rapidamente e o ajudam nesse momento de transição,
transformando uma linda história em uma história inesquecível.
Capitão Fantástico é algo assim, único, um presente para
quem gosta de se emocionar com filmes que mexem com nosso coração.
A grande lição que aprendemos com essa fita é que Capitão
Fantástico é qualquer um que acredita que uma boa ideia pode mudar
um pouquinho nosso mundo, ou mesmo que um filme inesquecível faz com
que reflitamos sobre nossa própria existência. Seja o Capitão da
sua vida, viva fantasticamente.
Bacalaureat
(2016) (Romênia) – de Cristian Mungiu
Ética é a concepção dos princípios que escolhemos, moral é a
sua prática. Depois de encantar o mundo cinéfilos com filmes como 4
Meses, 3 Semanas e 2 Dias, o renomado cineasta romeno Cristian
Mungiu volta ao universo cinematográfico, após um hiato de
quatro anos, com o profundo longa metragem Bacalaureat, que
lhe rendeu nada mais nada menos que o prêmio de melhor diretor no
último e badalado Festival de Cannes. Explorando os caminhos
tumultuados que um pai precisa tomar para que sua filha tenha uma
vida distante dos problemas de onde vivem, Mungiu acaba fazendo uma
grande exploração bastante Kantiana traçando um paralelo
emblemático entre escolhas e consequências no mundo atual.
Na trama, conhecemos o médico Romeo (Adrian Titieni), um
homem de idade mediana que mora com sua mulher Magda (Lia Bugnar)
e sua filha Eliza (Maria-Victoria Dragus) em um bairro de
classe média de uma cidade da Romênia. Romeo possui uma amante,
Sandra (Malina Manovici), por quem possui um carinho enorme.
Quando sua filha Eliza sofre uma violência a caminho da escola e
isso a impede de completar a tempo questões de uma prova importante
para o futuro dela, Romeu precisará caminhar por uma estrada onde
uma linha tênue divide as posições da ética e da moral.
Um dos fatores mais interessantes do fantástico roteiro, escrito
pelo próprio diretor do filme, é que as ações e consequências
que vemos ao longo dos 122 minutos de projeção parecem um grande
debate filosófico, pisando em linhas éticas e morais, passando pelo
tráfego de influência e manipulação em um sistema de ensino
rígido. Todas as peças contribuem para o debate, Romeo é apenas
nossos olhos nesse tabuleiro de escolhas, um homem comum, com seus
princípios, talvez nada diferente de mim ou de você.
As ações das pessoas influenciam o comportamento do indivíduo. Sem
uma mancha no currículo e com uma reputação irreparável, Romeo em
poucos dias ultrapassa todos os limites éticos possíveis fazendo
com que sua personalidade mude e que as emoções fiquem à flor da
pele. As variáveis do protagonista são muito bem exploradas pelas
lentes inteligentes de Mungiu, percebemos o constrangimento e a
decepção caminharem lado a lado, Romeo fica completamente esgotado.
Os embates e diálogos com sua filha são as cerejas no bolo,
definindo também uma necessidade de Eliza em trilhar seus próprios
pensamentos, se distanciando da proximidade de seu pai e tomando as
atitudes que melhor achar.
Discutir sobre a maneira de se comportar regulada pelo uso (moral) e
os costumes (ética), é um prato cheio para nós cinéfilos que
gostamos de traçar paralelos com nossa realidade. Esse filme tem
muito de muitos lugares.
Como
Nossos Pais (2017) (Brasil) – de Laís Bodanzky
Minha dor é perceber
que apesar de termos feito tudo o que fizemos ainda somos os mesmos.
Falando sobre a dura rotina impossibilitada do sonhar de uma mulher
perto dos quarenta anos que descobre segredos de família e precisa
lidar com um casamento em declínio, Como Nossos Pais, novo
trabalho da excelente cineasta Laís Bodanzky (Bicho de
Sete Cabeças), é um filme que emociona e gera reflexões,
aliada a uma impactante atuação da atriz Maria Ribeiro que consegue
prender a atenção do público do início ao fim. A Rosa de Laís
Bodanzky é tão ou mais forte que a Clara de Kleber Mendonça
Filho. É lindo ver dois dos grandes filmes nacionais dos últimos
anos terem protagonistas femininas tão marcantes, inesquecíveis.
Na trama, conhecemos
Rosa (Maria Ribeiro) uma mulher guerreira que está em crise
no casamento com seu marido Dado (Paulo Vilhena), infeliz no
emprego que tem e ainda é pega de surpresa com uma notícia
atordoante de sua mãe Clarisse (Clarisse Abujamra) que seu
pai Homero (Jorge Mautner) na verdade não é seu pai. Essa
notícia mexe bastante com a protagonista que passa por uma grande
transformação ao longo de todos os 102 minutos de projeção.
Uma super heroína dos
nossos tempos, Rosa, precisa conciliar seu tempo com a educação de
suas filhas pequenas, tentar ajustes em seu casamento recheado de
desconfiança e crise financeira, e uma perturbação inquieta para
tentar se encontrar com seu verdadeiro pai que possui um alto cargo
do governo. Rosa é o reflexo da força feminina nos dias de hoje.
Como para todo ser humano as atitudes, chegam em forma de
inconsequência, como a aproximação com o pai de um dos alunos da
escola de suas filhas e as explosões em diálogos emocionantes e
marcantes com sua mãe. Em uma atuação irrepreensível, Maria
Ribeiro dá não só vida a personagem, a torna muito real e, assim,
em nossas lembranças mais curtas podemos encontrar uma Rosa em cada
esquina.
Na parede da memória,
a lembrança é o quadro que dói mais. Epicentro, estopim, da virada
na história e quando acontece a virada da personagem, a dúvida de
ir ou não atrás do pai biológico chega ao mesmo tempo que memórias
com seu pai de criação, o maluco beleza Homero (Jorge Mautner)
afloram em seus pensamentos mesmo que entrando em conflito com as
atitudes irresponsáveis dele na vida.
Recentemente estreou
Mulher-Maravilha nos cinemas. Mas a história muito mais marcante,
talvez a verdadeira Mulher-Maravilha, a da vida real, que troca a
luta com super poderes por tentativas diárias de conseguir esticar
as 24 horas do relógio e ser feliz está nesse ótimo filme e você
simplesmente não pode perder.
Fortunata
(2017) (Itália) – de Sergio Castellitto
Exibido no último Festival de Cannes, na mostra Um Certo Olhar, o
drama Fortunata é mais uma grata surpresa europeia que
infelizmente ainda não tem data de estreia no cirucito exibidor
brasileiro. O projeto, dirigido pelo ator e diretor italiano Sergio
Castellitto, ganhador de alguns prêmios internacionais, dá luz
ao papel da mãe em um mundo repleto de desafios, tendo que superar
obstáculos do passado para seguir em frente, não desistir dos seus
sonhos e dar o máximo de amor para sua herdeira. O elenco, grande
força desse belo trabalho, é encabeçado pela apaixonante e
talentosa Jasmine Trinco (nova musa de Cannes) que realmente
eleva a qualidade desse pequeno bom filme.
Na trama, ambientada nos dias atuais no subúrbio de Roma, conhecemos
Fortunata, uma bela cabeleireira delivery de meia idade que possui um
sonho de ter seu próprio empreendimento, um salão de beleza no
centro da cidade onde mora. A protagonista tem uma filha, sua maior
paixão do mundo, mas com quem tem um relacionamento complicado,
provocado, muito, pelo seu afastamento do ex-marido, figura que
sempre a rodeia. Certo dia, Fortunata resolve levar a filha para ver
um psicólogo/psiquiatra, por quem a protagonista acaba vivendo um
intenso romance.
A personagem principal é uma mulher incrível, uma personagem
marcante. Uma mescla de beleza e ingenuidade, camuflada de grande
leoa que faz de tudo para dar para sua filha uma vida confortável e
repleta de amor e carinho. Suas batalhas diárias com o ex-marido,
esse que não aceita a separação de jeito nenhum, a busca do sonho
em ter seu próprio salão de beleza, preenchem a tela com cenas
emocionantes que dizem muito sobre a personalidade da carismática
protagonista. Vale o destaque para a atriz italiana Jasmine Trinco
(Um Novo Dueto, Maravilhoso Boccaccio), que cumpre com louvor
um papel complexo e cheio de contextos emocionais.
A vida de Fortunata ganha novos contornos com a entrada do
psicólogo/psiquiatra em sua vida. Antes, receosa quanto levar sua
filha para ser consultado pelo médico, depois acaba se consultando
com ele e se apaixonando, o que deixa mais tumultuado sua relação
com a filha e com outros personagens que contornam o longa. A
surpreendente trilha sonora ganha muito destaque, sempre nos
fechamento de arcos e acompanha a poderosa protagonista em busca do
seu passaporte para a felicidade nesse projeto que merece ser
conferido por todos que amam cinema.
Min så
kallade pappa (2014) (Suécia) – de Ulf Malmros
A força da maternidade
é maior que as leis da natureza. Lançado na Suécia em setembro de
2014, o longa-metragem Min så kallade pappa (ainda sem
tradução para o Brasil) é um daqueles belos filmes que
infelizmente quase certo de eu nunca veremos por aqui. O projeto
conta com o grande ator sueco Michael Nyqvist e é dirigido
pelo experiente diretor Ulf Malmros. Utilizando bem a
realidade e os pés nos chão para contar uma história que tinha
tudo para ser um filminho de sessão da tarde, Min så kallade
pappa é um filme que você precisa conferir.
Na trama, conhecemos a
futura mamãe e professora do jardim de infância Malin (Vera
Vitali), uma mulher com garra e atitude que está passando por um
momento de separação com o futuro pai de seu primeiro filho.
Definida a tomar atitudes corajosas sobre seu futuro, resolve ir em
busca do pai que nunca conhecemos, Martin (Michael Nyqvist),
um veterano ator de teatro que nunca fez questão de procurar
notícias de sua única filha. Durante o inusitado encontro, Martin
sofre uma espécie de derrame e perde parte da memória. Assim, é a
grande oportunidade de Malin se aproximar de seu desconhecido pai.
O fato que mais chama
a atenção nesta fita sueca é a forma realista que o diretor
apresenta os fatos e segue as linhas dos diálogos neste forte drama.
Martin e sua personalidade forte, parece lutar contra seu passado a
todo instante, até quando perde a memória. Malin vive todos os atos
do filme atormentada por um passado que se mistura com o presente,
sentindo que o futuro filho vai sofrer da mesma forma como sofreu
quando seu pai a rejeitou quando criança. A linha de raciocínio
para entendermos melhor a profundidade das características de cada
personagem é feita de maneira brilhante.
Min så kallade
pappa é para corações fortes, se aproxima um poucos das duras
realidades mostrada por Susanne Bier e um pouco da poesia melancólica
dos trabalhos de Isabel Coixet. Ao longo das cerca de duas
horas de projeção o público se emociona e torce pela sofrida
personagem a todo instante. Min så kallade pappa é um belo
filme que mescla uma realidade quase que infinita e uma linda poesia
quase que melancólica.
Que Mal
Fiz a Deus? (2014) (França) – de Philippe de Chauveron
O segredo da felicidade é escolher a comédia e largar o drama.
Dirigido pelo desconhecido francês Philippe de Chauveron,
chegou aos cinemas brasileiros no dia 06 de agosto de 2014 uma das
mais engraçadas comédias francesas dos últimos anos, Que Mal
Fiz a Deus? Contando com uma atuação para lá de inspirada do
veterano ator Christian Clavier, o filme se sustenta nas
irritações hilárias do personagem principal que entra em total
desespero quando sabe dos pretendentes das suas quatro filhas.
Na trama, conhecemos o tradicional Claude Verneuil (Christian
Clavier), um homem com uma vida boa que vive seu final de vida ao
lado da esposa com quem tem quatro filhas. A pacata vida deste
orgulhoso cidadão francês é completamente abalada quando é
apresentado aos pretendentes de suas filhas, cada um dos noivos tem
uma religião diferente e o tradicional Claude entra em total loucura
quando sabe desta informação. Sua esperança era a última filha
que vai casar mas surpresas o aguardam.
O roteiro é simples, nada que não tenhamos já visto em outros
filmes europeus, mas a qualidade na direção e atuações fazem a
diferença para tornar esta fita diferente. Faz leves críticas a
assuntos muitas vezes tratados com demasiado drama, isso é a forma
inteligente do filme mostrar que o bom senso existe. A mensagem é
passada e todos saem satisfeitos com o resultado. É o tipo de filme
que o público ama mas os críticos as vezes não gostam,
principalmente quando pensamos sobre os clichês que acabam sendo
cerejas nesse bolo cinematográfico francês.
Que Mal Fiz a Deus? É um dos filmes que você vai rir do
início ao fim. O roteiro apresenta suas imperfeições
principalmente nos arcos finais mas nada que atrapalhe tamanha
simpatia dos atores em cena. É, sem dúvidas, uma das melhores
comédias francesas dos últimos anos.
Os
Cowboys (2016) (França) – de Thomas Bidegain
Até onde devemos ir por quem amamos mas não querem estar perto com
nossa presença? Um dos filmes mais fortes do Festival Varilux de
Cinema Francês 2016, sem dúvidas nenhuma, foi o espetacular drama
Os Cowboys, protagonizado pelo ótimo ator François
Damiens e com uma atuação digna de Oscar do ator britânico
Finnegan Oldfield. Ao longo dos tensos 105 minutos de projeção,
onde não conseguimos desgrudar os olhos da tela, vamos sendo
apresentados a personagem movidos pela angústia e uma série de
consequentes ações desesperadas em prol de único objetivo que
acaba consumindo e destruindo uma família de classe média francesa.
Em seu primeiro longa-metragem como diretor, o cineasta francês
Thomas Bidegain brinda o público com uma trama muito bem
dirigida e com atuações bem acima da média.
Na trama, conhecemos brevemente toda a família de Alain (François
Damiens), um trabalhador de classe média que mora com sua mulher
e os dois filhos no leste francês. Alain é um amante da cultura
country e sempre vai com sua família a um famoso encontro onde
confraterniza com outros amigos. Certo dia, num desses encontros, sua
filha Kelly desaparece misteriosamente, levando Alain a uma
desesperada busca por informações sobre a jovem. Os anos se passam
e somente seu filho Kid (Finnegan Oldfield), que praticamente
sacrifica sua adolescência, acredita e ajuda seu pai a tentar
encontrar Kelly.
O clima é tenso desde o início. A trilha sonora composta por Moritz
Reich (Fique Comigo, 2015) encaixa como uma luva e
consegue deixar o público em total sinal de atenção as sequências
fortes. François Damiens, na pele de Alain está possuído,
embarca em um caminho sem rumo desesperado em busca de sua filha. A
angústia é constante e impressionante. Isso obviamente destrói seu
relacionamento com o restante de sua família. Essa estrada sem fim é
acompanhada de perto por seu filho Kid que é o único que também
ainda acredita que eles possam encontrá-la. Os Cowboys é um filme
sobre família mas também sobre até onde o ser humano pode ir para
defender suas convicções.
O longa é recheado de reviravoltas. Uma delas é que Kelly não é
sequestrada. O porquê do sumiço dela (que não vou contar aqui) é
um dos grandes trunfos do filme que explora muito bem a reação da
família ao saber o que aconteceu com ela. Uma segunda surpresa é a
surpreendente troca de protagonismo já entre o segundo e o terceiro
ato, com o mesmo objetivo só que com um olhar um pouco diferente sob
a situação a trama cresce demais nos últimos 30 minutos de
projeção.
Apenas
entre Nós (2010) (Eslovênia) – de Rajko Grlic
Falando sobre relacionamentos, família e infidelidades à flor da
pele, o diretor croata Rajko Grlic, que dirigiu o ótimo
Karaula (2006), apresenta ao público uma fábula moderna
sobre o amor e o desejo, situada em uma europa fria mas com impulsos
ardentes incansáveis. A câmera de Grlic merece destaque pois
consegue encontrar os caminhos para traduzir ao público cada detalhe
das ações, muitas impensadas, pelos personagens.
Para o personagem principal, interpretado brilhantemente pelo Tony
Ramos da Croácia, Miki Manojlovic, só existem duas
religiões: O amor e as outras. Assim, os curtos 88 minutos de
projeção, vão se moldando a partir de situações e descobertas de
um quarteto familiar que não encontra o ponto de equilíbrio na
maturidade que regem suas vidas. Cada personagem, cada um mais
interessante do que o outro, vão dando um certo ritmo à fita
vencedora de alguns prêmios no leste europeu no ano de seu
lançamento, 2011.
Há a questão cultural, diferente da que vemos por aqui (ou nem
tanto), sobre a maturidade no amor. Uma das coisas mais interessantes
neste longa-metragem é exatamente descobrir ou tentar entender
melhor como são os conflitos amorosos aos olhos dos filhos da região
que comportava a ex-união soviética. Mas o filme é longe de ser
somente um retrato de uma comunidade, é amplo em tentar apresentar
argumentos para as teorias dos relacionamentos modernos e todo o
impulso, não só sexual, que envolve muitas relações.
Com certo atraso, Apenas Entre Nós finalmente chegou aos
cinemas brasileiros há dois anos atrás. Esse é um filme que Nelson
Rodrigues abriria um sorriso e faria rapidamente analogias certeiras
com muitas de suas eternas histórias.
A
Família Belier (2014) (França) – de Eric Lartigau
O que é uma família
senão o mais admirável dos governos? O novo trabalho do cineasta
francês Eric Lartigau (do questionado Os Infiéis) é
uma comédia ao melhor estilo sessão da tarde mas com elementos tão
sensíveis que elevam a qualidade da trama a cada frame. Só mesmo um
cinema como o francês, que exala qualidade em muitos de seus
títulos, para falar com tamanha sutileza sobre os problemas que
ocorrem dentro de uma casa.
Na trama, conhecemos os
fazendeiros simpáticos que fazem parte da Família Bélier. A
história gira em torno da jovem Paula (interpretada pela
ex-concorrente do The Voice francês Louane Emera), uma
estudante que ao entrar por acaso em uma aula de canto do colégio,
percebe que tem o dom de cantar. Paula vive com sua família, onde
todos são surdos e mudos exceto ela, e se dedica diariamente as
afazeres familiares e as inúmeras traduções que precisa fazer para
ajudar os membros de sua família a terem uma vida mais tranquila.
Tudo isso muda quando Paula resolve tentar a sorte em uma seleção
para uma escola de canto em Paris. Essa decisão irá mudar de vez o
cotidiano de todos na família.
O filme se destaca
quando, em meio aos clichês do gênero, consegue ser original pela
força dos seus personagens. O entrosamento entre os ótimos François
Damiens e Karin Viard (que somando suas carreiras possuem mais de
100 trabalhos no cinema) é de dar água na boca, pintam e bordam
fazendo todos os espectadores gostarem desse inusitado casal. A
cereja no bolo é a fofíssima Louane Emera, querida artista
na França por ter participado de um reality show de sucesso, que
consegue desempenhar muito bem seu papel mesmo debutando no cinema
neste filme.
Não percam essa
deliciosa comédia que, entre outras coisas, fará você levitar de
alegria com as lindas canções que ouvimos ao longo da fita, grudam
que nem chiclete ou que nem aquela música da Simone em véspera de
natal. Como dizia o pensador russo Tolstoi: “A verdadeira
felicidade está na própria casa, entre as alegrias da família.”!
Wish I
Was Here (2014) (EUA) – de Zach Braff
A adversidade é um trampolim para a maturidade. Em seu terceiro
longa-metragem do currículo, o norte-americano Zach Braff,
que você já deve ter ouvido falar por conta do seriado Scrubs,
volta a falar sobre dramas familiares e personagens complexos no
intrigante e cheio de metáforas Wish I Was Here. O filme é
um drama comovente sobre a arte do crescer e saber a hora certa de
adicionar componentes de maturidade nas suas escolhas de vida.
Na trama, conhecemos um ator desempregado chamado Aidan (Zach
Braff), pai de dois filhos, que vive às custas de sua mulher
Sarah (Kate Hudson) que é extremamente infeliz no casamento.
Para piorar, seu pai Gabe (Mandy Patinkin) está com câncer
terminal e sua vida começa a desabar ao seu redor. Assim, o
protagonista embarcará em uma jornada em busca de um novo sentido
para seu destino.
Wish I Was Here é uma história madura sobre as verdades do
mundo lá fora. O protagonista vive em busca de seu sonho mas acaba
esquecendo das coisas básicas como por exemplo sustentar sua
família. O roteiro de Zach Braff brilha nesse momento.
Acomodado pelo sustento de sua mulher e pela ajuda considerável que
seu pai lhe dava, o personagem entra em parafuso quando precisa
aprender a caminhar sozinho, mesmo que forçadamente. Esse
longa-metragem é uma história totalmente possível em nossa
realidade, principalmente quando pensamos naquele amigo que sempre
foi mimado por sua família, talvez por isso que a história chegue
com um certo impacto para cada um de nós cinéfilos.
O termômetro da trama é a esposa do protagonista, Sarah,
interpretada de maneira muito competente por Kate Hudson. Há
uma sutileza, uma energia enlatada que vai saindo em cada cena.
Prestamos atenção atentamente a cada passo de Sarah, principalmente
porque quando aparece em cena brilha e nos trás respostas a lacunas
não preenchidas, resumindo, acaba sendo o ponto de intercessão de
toda a trama.
Como em todo filme de Braff, uma ótima trilha sonora se mistura
adequadamente às sequências. Falando no diretor, esse artista
completo, é um dos poucos que conseguem dirigir e atuar com muito
êxito em seus projeto. Quem não lembra do ótimo Hora de Voltar
com Natalie Portman? Se continuar nessa caminhada de sucesso,
a cada novo projeto que Braff assina, mais ansiedade vai gerar aos
amantes do bom cinema.
*Bônus*
Coração
Mudo (Dinamarca) (2014) – de Bille August
Depois de belíssimos trabalhos comandando filmes europeus de
qualidade, o diretor Bille August volta às telonas, dessa
vez, para dirigir um drama contundente, cheio de reviravoltas e
emoção. Coração Mudo é uma espécie de Festa em Família
com uma roupagem diferente mas com as mesmas surpresas e personagens
intrigantemente fascinantes.
Na trama, conhecemos Esther (Ghita Nørby), uma senhora de
idade avançada que em certo momento resolveu dar um fim à sua vida,
antes porém, resolve passar um último final de semana com sua
família (que está por completa ciente do eminente suicídio).
Quando chega o fatídico dia, ações e emoções descontroladas
começam a tomar conta da história, com muitos personagens mudando
de opinião a todo instante sobre a situação.
Conflitos, dor e sofrimento estão contidos em cada um dos numerosos
e árduos diálogos que contém a fita. Entendemos a situação
inusitada do suicídio/eutanásia pela ótica de cada um dos
personagens. Cada momento dramático é construído de maneira
inteligente e nunca o filme se torna maçante. É fácil se envolver
por essa história, o epicentro da trama é uma atitude corajosa e
bastante polêmica. Coração Mudo é o clássico filme onde as
atuações precisam ser muito convincentes para a fórmula do roteiro
dar certo. Felizmente, isso acontece do primeiro ao último minuto.
Paprika Steen esbanja competência mais uma vez com sua recatada,
descontrolada e emotiva Heidi.
Os detalhados momentos cômicos ficam à cargo do ótimo ator Pilou
Asbæk que dá vida ao confuso mais carismático Dennis. Mas quem
rouba a cena é a protagonista Esther, interpretada pela maravilhosa
Ghita Nørby (a Diane Keaton da Dinamarca). Em simples
diálogos ou em momentos de total força emotiva em cena, a
experiente artista dá um verdadeiro show. Grande filme, grandes
atuações! Bravo!