Como entender o
universo do preconceito com um contexto de amizade? Um dos grandes
indicados ao Oscar desse ano, Green Book, chegou aos cinemas
brasileiros na semana passada trazendo à luz o tema do preconceito
em uma road trip repleta de descobertas e validações de afirmações
em um Estados Unidos dominado pelas diferenças. Dirigido por Peter
Farrelly, o projeto não se aprofunda tanto no assunto quanto
deveria (e poderia), deixando soluções simples para criar um
contexto harmônico mas sem deixar de trazer à discussão suas
mensagens. A dupla de artistas principais dessa obra, Viggo
Mortensen e Mahershala Ali cumprem com louvor o objetivo
de seus personagens, enchendo a tela de carisma.
Na trama, conhecemos o
ítalo-americano Tony Lip (Viggo Mortensen), um ex-segurança
de boate que na busca por emprego acaba sendo selecionado para ser o
motorista da turnê de um famoso pianista negro, Don Shirley
(Mahershala Ali). Com um trajeto para lá de complicado, por
conta dos absurdos casos de preconceito que percorrem o Estados
Unidos, Tony é guiado por um guia, chamado Green Book, onde
mostra-se os lugares onde os negros poderiam acessar sem sofrer
nenhum tipo de restrição. Ao longo dessa viagem de meses, os dois
personagens irão ao confronto de suas dores, seus pensamentos em
busca de entendimentos sobre o sentido de suas vidas. Green Book
é uma história forte, com alta carga dramática rodeada por uma
crescente amizade.
De conclusões simples
para um tema tão complexo. Talvez, a maior crítica a esse projeto
seja a forma simplista que os arcos são fechados, sem tem um maior e
detalhado apanhado geral da real situação que o preconceito
dominava na época. Em busca de reconhecimento e tentando possuir seu
livre arbítrio, Don Shirley resolve escolher um caminho cheio de
obstáculos, nada simples, para sua nova turnê, tendo que passar por
situações constrangedoras ao longo da viagem. O personagem de
Mortensen caracteriza-se como a figura do preconceito inicial,
principalmente nas cenas de abertura do primeiro arco e acaba
passando por uma grande transformação até os créditos iniciais.
Pouco detalhado, o relacionamento forte e afetivo de Lip e sua
família, principalmente de sua esposa Dolores (interpretada pela
ótima Linda Cardellini) é um dos pontos importantes do
roteiro, abre e fecha os arcos dos extremos mas sem muita
profundidade.
Longe de ser um filme
emblemático sobre o tema, o longa se agarra em ótimas atuações e
uma direção correta. Relata o preconceito e a solidão de um homem
que se sentia sozinho no mundo, pela linha tênue que traçou entre a
genialidade/conquistas (o que o afasta de muitos outros negros da
época, sem oportunidades) e o preconceito (mesmo sendo um exímio
músico não consegue reconhecimento completo por conta de sua cor).