Nossa décima primeira entrevistada é jornalista, autora do
ótimo livro A Fantástica Fábrica de
Filmes - Como Hollywood se Tornou a Capital Mundial do Cinema, da Editora
Senac Rio, e atualmente escreve sobre cinema para o site https://www.srzd.com/. Ana
Carolina Garcia é carioca e figura presente nas cabines de cinema que ocorrem
na cidade sempre com sua simpatia e habilidade de argumentos falando sobre
cinema.
1) Na sua cidade,
qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da
escolha.
Não há, da minha parte, preferência em termos de programação
porque na maioria das vezes a oferta é a mesma, principalmente nas grandes
redes. Mas há, sim, preferência em termos de conforto e tecnologia. Neste caso,
fico com a IMAX, no UCI do New York City Center, na Barra da Tijuca.
2) Qual o primeiro
filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.
Vou ao cinema desde muito pequena, então não lembro qual
filme despertou interesse enquanto experiência cinematográfica.
3) Qual seu diretor
favorito e seu filme favorito dele?
Acho que posso relacionar esta resposta à anterior. Cresci
assistindo E.T. – O Extraterrestre e
Tubarão na Sessão da Tarde, na Rede
Globo. E A Lista de Schindler
demonstrou o quão rico é o leque de temas abordados pelo cinema, bem como a
genialidade de um de seus realizadores, Steven
Spielberg, que é o meu cineasta favorito.
4) Qual seu filme
nacional favorito e porquê?
Tenho dois, na verdade: Cidade
de Deus e Tropa de Elite, que
fazem um retrato dolorido do Rio. Não consigo decidir entre eles pelo conteúdo
e apuro técnico.
5) O que é ser
cinéfilo para você?
É se permitir relaxar por algumas horas – exceto quando
preciso analisar o filme para criticá-lo – e esquecer um pouco do estresse
cotidiano.
6) Você acredita que
a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por
pessoas que entendem de cinema?
Não. A maioria prioriza a questão comercial, algo até
compreensível porque as salas precisam gerar lucro suficiente para que possam
permanecer em funcionamento. O problema é que títulos independentes, menores,
não têm espaço. Às vezes, nem mesmo em cinemas que tradicionalmente priorizam
filmes pouco badalados comercialmente.
7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?
Não acredito nesta possibilidade porque as salas são, historicamente,
espaços de socialização. Mas acho que, face à ameaça do streaming e do VOD,
considerando a quebra da janela de exibição tradicional pela Universal Pictures em acordo com a AMC Theatres, nos Estados Unidos, as
salas terão de se adaptar para atrair o público, inclusive investindo em
conforto e tecnologia. Além disso, enfrentarão momentos de crise,
principalmente no período pós-pandemia.
8) Indique um filme
que você acha que muitos não viram mas é ótimo:
Expresso do Amanhã,
do Bong Joon-ho. Protagonizado por Chris Evans, é um filme de arte
travestido de blockbuster que trabalha com perspicácia os gêneros de
ficção-científica, ação e drama, tecendo crítica ao abismo entre classes
sociais distintas, representadas pelos vagões da locomotiva, que surgem como
fases de videogame.
9) Você acha que as
salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?
Não devem reabrir enquanto o risco de contágio for alto,
principalmente se observarmos a dificuldade de parte da população em respeitar
regras. Além disso, acho muito difícil, para não dizer impossível, as salas
colocarem máscara como acessório de uso obrigatório por causa da bomboniere.
10) Como você enxerga
a qualidade do cinema brasileiro atualmente?
Está melhorando a cada ano, basta observarmos a quantidade
de cineastas que tem se arriscado fora da zona de conforto proporcionada pelas
comédias de grande apelo comercial. Há, também, mais cuidado no que tange à
técnica, preocupação em se equiparar às produções estrangeiras até para que
possam participar de seleções de festivais e da temporada de premiações
americana, que termina com o Oscar.
11) Diga o artista
brasileiro que você não perde um filme.
Marco Ricca. É um
profissional talentoso e versátil que explode em cena, tendo em sua filmografia
dois trabalhos que considero os melhores de sua carreira: Chatô – O Rei do Brasil e Canastra
Suja.
12) Defina cinema com
uma frase:
Subestimado no passado, cinema é uma forma de arte em
constante transformação e que reflete seu tempo, utilizando a seu favor o fato
de ser um poderoso meio de comunicação de massa.
13) Conte uma
história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:
Sessões de blockbusters estrelados por super-heróis sempre
são barulhentas porque o público realmente interage com o que é mostrado na
tela. Em Vingadores: Ultimato havia
toda a comoção pelo encerramento de um ciclo no UCM, despedida de personagens
amados pelos fãs e defendidos por atores igualmente amados. Na sequência da
batalha final, que mostra a despedida de um deles, o silêncio tomou conta da
sala em sinal de respeito e devoção. Este é um exemplo de como o cinema pode
unir o público, independente da idade.