O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.
Nossa entrevistada de hoje é cinéfila, de Natal. Marcela Freire é publicitária de
formação e cinéfila de coração. Além de trabalhar na área de comunicação, ela é
pós-graduada em cinema pela UFRN e colabora desde 2016 no portal SetCenas (Instagram @setcenas). Também é membro da Associação de Críticos de Cinema do
Rio Grande do Norte (ACCiRN).
1) Na sua cidade,
qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da
escolha.
Aqui em Natal sempre foi difícil chegarem filmes
diversificados. Antes da pandemia, a única rede que oferecia alguns filmes
diferentes eram as salas do Cinépolis
(Natal Shopping). Mesmo assim, de forma bem limitada, com poucas sessões.
2) Qual o primeiro
filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.
A Condessa se Rende
(Diretores: Ernst Lubitsch, Otto
Preminger).
3) Qual seu diretor
favorito e seu filme favorito dele?
É muito difícil escolher um só! Eu diria que tiveram um
grande impacto sobre mim quando comecei a ver filmes: Billy Wilder (Se Meu
Apartamento Falasse), David Lynch
(Cidade dos Sonhos) e Wong Kar-Wai (Amor à flor da pele).
4) Qual seu filme
nacional favorito e porquê?
Hoje, provavelmente é Cabra
Marcado para Morrer, tanto pelo o que o filme captura em termos de história
do Brasil, como pela sensibilidade de Eduardo
Coutinho ao abordar os personagens do documentário e mostrar suas histórias.
5) O que é ser
cinéfilo para você?
Em essência, amar cinema. Acho que o cinéfilo é um
apaixonado por essa forma de arte, então ele quer conhecer, debater e
compartilhar tudo que tem a ver com filmes.
6) Você acredita que
a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por
pessoas que entendem de cinema?
Não me sinto confortável com a categorização "entender
de cinema". Para mim, cinema é, em primeiro lugar, algo para ser sentido,
é algo que lida com emoções e todo mundo têm sentimentos. Então, todos temos
capacidade de entender o cinema. O que ocorre é que muitas pessoas não estão
abertas a encarar filmes que examinam sentimentos desconfortáveis, elas querem
escapar um pouco disso, e existem filmes para isso também.
As pessoas que "entendem de cinema", ou seja, que
gostam e se interessam pelo cinema também como uma linguagem, uma forma de
arte, não só pelo escapismo, ficam mesmo com poucas opções na programação. Para
elas, é como se as redes de cinema só oferecessem feijão com arroz no cardápio.
7) Algum dia as salas
de cinema vão acabar?
Não me atrevo a prever o futuro, mas espero que não! Lembro
que o Spielberg previu um modelo com
filmes-evento e ingressos muito caros. Talvez o destino das salas de cinema
seja esse, diminuir em quantidade e oferecer uma experiência diferenciada por
um preço mais alto.
8) Indique um filme
que você acha que muitos não viram mas é ótimo.
Há pouco tempo assisti a Um Dia, Um Gato (1963), um filme de fantasia tcheco, é muito
interessante!
9) Você acha que as
salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?
Pelo que estou vendo já reabriram.
10) Como você enxerga
a qualidade do cinema brasileiro atualmente?
Desde a retomada nos anos 90 o cinema brasileiro só vinha
crescendo. Estava sendo lindo de ver! Um filme bom depois do outro, muitas
obras interessantes de todas as regiões do Brasil. Estou falando no passado
porque o governo atual é hostil com a cultura e a sensação é que essa boa fase
está terminando. Para mim, a qualidade do cinema nacional é excelente, mas é
visível o preconceito do próprio brasileiro com os filmes produzidos aqui.
11) Diga o artista
brasileiro que você não perde um filme.
Karim Aïnouz.
12) Defina cinema com
uma frase:
É uma terapia para a alma.
13) Conte uma
história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:
Uma vez um homem sentou ao meu lado antes do início da
sessão e começou uma conversa totalmente aleatória. O problema é que, quando o
filme começou, ele não parou de falar, e falava alto também. As outras pessoas
no cinema começaram a olhar para a gente e eu nem conhecia o cara! Tive que
pedir, por favor, várias vezes, para ele ficar em silêncio durante o filme.
Finalmente consegui que ele parasse de falar comigo, mas ele ainda ficou resmungando
algumas coisas para si mesmo durante a sessão. Tive que ignorar e saí correndo
quando o filme acabou.
14) Defina 'Cinderela
Baiana' em poucas palavras...
Infelizmente, não assisti ainda.
15) Muitos diretores
de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta
precisa ser cinéfilo?
Vejo que alguns diretores conhecem mais sobre filmes e
história do cinema que outros, mas pelo que observo todos gostam de cinema. Um
bom diretor domina a linguagem do cinema, se ele consegue fazer isso sem ser
cinéfilo, então não vejo problema.
16) Qual o pior filme
que você viu na vida?
A gente assiste a muitos filmes medíocres, né? Mas o
pior...? Vou dizer Joy porque foi o
primeiro que lembrei, mas com certeza tem piores.
17) Qual seu
documentário preferido?
Além de Cabra Marcado,
Verdades e Mentiras (F, for Fake de Orson Welles).
18) Você já bateu
palmas para um filme ao final de uma sessão?
Em festivais sim, em uma sessão comum não me lembro, mas
provavelmente sim. Quando ficamos impactados coletivamente com a obra é uma
reação bem espontânea, mesmo que não tenha ninguém que fez o filme ali para
receber os aplausos.
19) Qual o melhor
filme com Nicolas Cage que você viu?
Como uma boa fã de David
Lynch vou dizer Coração Selvagem.
20) Qual site de cinema
você mais lê pela internet?
setcenas.com.br