Os dilemas de uma aceitação. Exibido em Sundance e no Festival de Roterdã de 2019, Dirty God é um filme sobre se aceitar em novas condições depois de um trauma que envolve família, queimaduras e decepções. Navegando por todas as fases que a protagonista passa, do ocorrido, até o desespero, a inconsequência, a violência contra ela mulher, e a volta de um certo sentido na vida a cineasta holandesa Sacha Polak consegue captar muitas emoções contidas em uma história cheia de profundidade e problemas ligados à família de alguma forma. O tom melancólico persegue o longa-metragem que mesmo no seu tempo, envolvido em uma lentidão perceptiva, consegue enviar sua mensagem.
Na trama, conhecemos Jade (Vicky Knight), uma jovem, mãe, que mora com a sua, em um pequeno
apartamento. Jade sofreu um terrível ataque com ácido e teve parte do corpo,
parte do rosto inclusive, queimado. Vamos acompanhando a protagonista no
retorno dela a sua vida, nas novas condições, no trabalho, no relacionamento
conturbado com a mãe e tentando criar um sentido em sua vida inclusive para
tentar ser uma boa mãe para sua filha ainda bebê.
O longa-metragem é meio paradão mas esse tom em pausas é
necessário para um melhor entendimento da dor e sofrimento que a personagem principal
passa na nova maneira de lidar nas relações interpessoais, seja no trabalho,
com os amigos ou em casa com sua mãe. Se rejeitando a princípio, entra em uma
busca constante por cirurgias e mais cirurgias para uma tentativa de total
melhoria para suas terríveis queimaduras. Na questão de relacionamentos, suas
paixões e desejos entram em choque entre a realidade e o virtual, nesse
contraponto acaba encontrando no sexo virtual (onde não mostra o rosto) uma
maneira confortável de sentir desejo.
O filme se torna interessante quando pensamos que o cinema
tem o poder de nos mostrar várias realidades soltas por aí pelo mundo. Um olhar
para a pessoa que foi queimada é feito de maneira honesta e delicada mas sem
deixar de mostrar todos os dramas que a personagem carrega dentro de si.