21/03/2021

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #330 - Camila Henriques


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

 

Nossa entrevistada de hoje é cinéfila, de Manaus (Amazonas). Camila Henriques tem 32 anos, Jornalista amazonense que atualmente atua com assessoria de imprensa. Participa do podcast Biscoiteiras e da equipe do site Cine Set. Integra o coletivo Elviras, que reúne críticas de cinema de todo o país.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Em relação à programação, gosto do Cine Casarão, que é um cinema de rua no Centro. Lá, eles colocam filmes que fogem do que é preferência no circuito, além de exibirem clássicos em sessões especiais. Das redes maiores (que predominam na cidade), o Cinépolis Ponta Negra é o que tem mais filmes "diferentes" do circuito.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Titanic foi um filme que me impressionou muito quando assisti. Tinha nove anos, e lembro que quis acompanhar o Oscar (claro que não consegui) e tal. Mas acho que, se for pra escolher um filme importante no início da minha cinefilia, eu diria que Encontros e Desencontros, da Sofia Coppola, porque ele abriu portas pra outros títulos e me deu vontade de conhecer mais e mais.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Amo Billy Wilder. Sempre falo em Quanto Mais Quente Melhor, mas poderia citar também Se Meu Apartamento Falasse e Crepúsculo dos Deuses.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

É difícil escolher. Sempre mudo de ideia, mas acho que, nesse momento, o Terra Estrangeira do Walter Salles, por ser um filme que fala de (não) pertencimento e nas perdas que um sistema político falho podem causar.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Nossa, que difícil. "Cinefilia" é uma palavra que eu já falei com muita pretensão, mas que hoje eu entendo como a simples busca por entender e conhecer mais da sétima arte. Pra mim, não é simplesmente o ato de ver um filme, mas a pesquisa, a leitura, a discussão que essa obra causa depois.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Acho que há cinemas que têm essa curadoria mais direcionada, mas as grandes redes têm uma preocupação maior com lucro + demanda - e é por isso que temos 15 salas passando um mesmo filme da Marvel, enquanto uma produção nacional ou mesmo um filme norte-americano menos conhecido estreiam em horários ingratos.

 

7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Acredito e espero que não. O cinema é uma arte que se renova, e acredito que, no fim das contas, esse modelo híbrido que a pandemia basicamente forçou pode resultar em algo positivo. O cinema tem um histórico de se renovar perante os "rivais", como foi com a TV nos anos 1950, e a experiência da sala é algo que muita gente não vai querer perder.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Esse é difícil, mas vou indicar A Febre, da Maya Da-Rin, um filme recente que tá na Netflix, e que foi produzido na minha cidade.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Eu, pessoalmente, não iria, e acredito que é importante pensarmos em modelos alternativos (o drive-in, a disponibilização de filmes em plataformas on-line) para esse momento.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

É um dos melhores do mundo. Temos artistas brilhantes, que trabalham em condições (infelizmente) não muito favoráveis, principalmente neste momento de desmonte da cultura. Não podemos não exaltar um cinema que entrega coisas tão belas e diversas entre si como Eles Não Usam Black-Tie, Lavoura Arcaica, Limite, Edifício Master, Cabra Marcado Para Morrer, Central do Brasil, Que Horas Ela Volta?, Bacurau e Pixote, entre tantos outros.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Karium Ainouz.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Vou roubar uma frase alheia (em uma tradução livre), porque eu não falaria melhor: "O cinema é a memória do nosso tempo". Quem falou? Martin Scorsese.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Não sei se conta como inusitada, mas eu estava assistindo Um Olhar do Paraíso e, na hora que a irmã da Saoirse Ronan finalmente descobre o que aconteceu e entra na casa do personagem do Stanley Tucci, uma mulher entrou na sala do cinema em que eu estava pra avisar que o shopping estava pegando fogo. Foi aquela correria, claro, e eu só consegui descobrir o que acontecia no filme uma semana depois.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Como odiar um filme que nos apresentou a Lázaro Ramos?

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Não necessariamente precisa ser cinéfilo, mas faz diferença. Nem me empolgo tanto com o que a Lully chama de "bingo da referência", que é aquela coisa que muitos diretores têm de encher os filmes com easter eggs super óbvios e batidos. Ainda assim, é inegável que o peso do cinema no trabalho de cineastas como Martin Scorsese e Agnès Varda torna os filmes deles ainda mais especiais - mas aí também estamos falando de diretores que fazem filmes extremamente pessoais, e, talvez, no fim das contas, isso seja mais importante.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

Não consigo dizer um pior da vida, mas o pior que eu vi nos últimos tempos foi, sem dúvidas, Era Uma Vez Um Sonho, do Ron Howard.

 

17) Qual seu documentário preferido?

Jogo de Cena, do Coutinho.

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?

Bati palmas ironicamente pra Cats, hahaha. Mas, falando sério, adorava a experiência de ver Star Wars na pré-estreia com os outros fãs. A sessão de Os Últimos Jedi, em especial, foi bem inesquecível por conta das reações do público.

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu?

Ah, dá pra fazer um top 10 fácil! Eu escolheria Arizona Nunca Mais, mas posso citar Despedida em Las Vegas, Vivendo no Limite, Feitiço da Lua, Os Vigaristas, O Senhor das Armas...

 

20) Qual site de cinema você mais lê pela internet?

Escrevo pro www.cineset.com.br, então não posso deixar de citá-lo, assim como o The Film Experience, site pro qual também colaboro. Também acompanho sempre o que a Marina (@whosninab no twitter) escreve sobre distribuição e mercado audiovisual, no Cineplot e Cinem(ação). Adoro o trabalho do Cine Suffragette. Ultimamente, tenho consumido mais podcasts: Feito por Elas, Cinematório, e, claro, o Biscoiteiras, projeto que eu divido com a Carissa Vieira e com a Larissa Padron e focado na temporada de pre