11/05/2021

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #411 - Bia Amorim


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

 

Nossa entrevistada de hoje é cinéfila, de São Paulo. Bia Amorim tem 22 anos, está no último semestre do curso de cinema da FAAP, SP. Trabalha com edição de vídeos, mas seu coração é da direção de arte. Se você a encontrar de bobeira por aí, grandes chances dela estar falando sobre o Glauber Rocha ou o Ari Aster.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Gosto bastante das salas do Itaú Cultural, tanto Pompeia e Frei Caneca que oferecem uma programação mista de filmes independentes e blockbusters quanto o da Augusta que tem como foco principal o cinema independente. Por conta da proximidade da minha casa acabo frequentando mais o Cinemark do Pátio Higienópolis, que também oferece uma programação interessante com filmes legendados e não tantas salas com blockbusters.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Acredito que tenha sido Kill Bill, esse foi um filme que mudou completamente minha relação com cinema e naquele dia eu sabia que eu queria conhecer mais desse universo que oferece tantas possibilidades de expressão. Foi depois de assistir a esse filme que tomei a decisão de cursar a faculdade de cinema e até hoje ainda é um dos meus filmes favoritos.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Atualmente eu diria Ari Aster. Sempre gostei muito de filmes de terror e estou sempre em busca de bons filmes e diretores de terror, já que os blockbusters de terror insistem em uma fórmula que não funciona mais, roteiros previsíveis e técnicas muito gastas. Entretanto, Ari Aster mostrou que é possível inovar o terror, fazer terror contemporâneo e quebrar os moldes tradicionais de jumpscares, monstros, possessões e afins. Meu filme favorito dele, que é também o meu filme favorito no geral, é Midsommar, considero um dos melhores filmes já feitos.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Essa é sempre uma pergunta difícil, eu gosto muito de Vidas Secas de Nelson Pereira dos Santos e de Terra em Transe de Glauber Rocha, sou apaixonada em estudar o período do Cinema Novo. Mas eu diria que meu filme nacional favorito é a versão de 2011 de A Hora e a Vez de Augusto Matraga, que foi, junto com Kill Bill, um dos filmes que me deram o brilho nos olhos para fazer cinema. Guimarães Rosa era meu escritor favorito no período da escola e em especial o conto de Augusto Matraga, e quando vi aquela adaptação tão linda e que conseguiu trazer com tanta força a emoção do texto de Guimarães Rosa eu fiquei absolutamente encantada e queria poder fazer algo como aquilo.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Acho que ser cinéfilo é ter um interesse em cinema no geral. Acho que muitas vezes definimos o cinéfilo como aquele que assiste 3 filmes por dia todos os dias da semana, mas não acho que se limite a esse caso, principalmente nos dias de hoje em que muitas vezes é difícil encontrar um momento do dia, um tempo livre para sentar e assistir a um filme sem interrupções. Mas acredito que o cinéfilo seja essa pessoa que tem com o cinema uma relação especial, tanto num sentido afetivo mesmo, de usar o cinema como um momento de lazer, de descanso, de diversão enfim, como também uma relação de estudos, que é um pouco mais o meu caso. Querer pensar o cinema, escrever sobre cinema, ensinar sobre cinema, tudo isso faz parte de ser cinéfilo que vai além do somente assistir.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Bom, no caso do Itaú Cultural eu posso dizer com certeza que é programado por alguém que entende bastante de cinema, pois o programador Humberto Neiva é meu professor e coordenador. Agora, nos casos de redes maiores como a Cinemark e a Cinépolis, eu diria que eles entendem sim de cinema, mas o foco deles está mais em um estudo de público que vai lhes gerar maior renda do que de fato trazer filmes que estejam circulando em festivais, que sejam destaque em outros países. O objetivo é o lucro, é ter as salas cheias e para isso é necessário apostar em blockbusters.

 

7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Eu acredito, ou pelo menos gosto de acreditar, que não. É evidente que a pandemia e os streamings trazem uma onda de mudanças para todos os segmentos do audiovisual que é irreversível, essas plataformas oferecem uma comodidade que tem muitas vantagens em relação à sala de cinema, mas eu acredito que as salas de cinema conseguem competir com os streamings justamente por serem duas formas muito diferentes de se consumir o audiovisual. Os streamings têm uma significativa importância, mas acredito que as pessoas que tinham o costume de ir regularmente ao cinema não abandonarão esse hábito, principalmente em uma grande cidade como São Paulo, em que o cinema sempre foi uma das maiores formas de entretenimento.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

O filme Blanco de Verano (2020), filme mexicano dirigido por Rodrigo Ruiz Patterson que esteve na última mostra internacional de cinema.

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Não. Apesar do fechamento das salas impactarem em todo o cinema, mas principalmente nos setores de distribuição e exibição, acredito que as salas de cinema, fechadas, com ar-condicionado, onde ficamos sentados junto de outras pessoas geralmente por duas horas ou mais, pode ser um ambiente de contágio que não se enquadra nos serviços essenciais e que não deve ser visto como uma prioridade para reabrir. A situação da pandemia no Brasil é especialmente delicada e é preciso evitar ao máximo o contágio em ambientes não essenciais.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

O cinema brasileiro atual conta com muitos bons profissionais em todas as áreas e estão surgindo muitos cursos de formação, temos bons festivais também, mas infelizmente temos um governo que vai contra tudo isso. Acredito que com um governo que incentive a produção cultural o Brasil tem muito potencial para ter um dos melhores cinemas do mundo.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Apesar de ser uma resposta clichê, vou de Kleber Mendonça Filho, gosto muito de todos os seus filmes, principalmente Aquarius e Recife Frio e gosto muito do cinema nordestino como um todo, gosto muito de ver a forma como Kleber traz a representação do nordeste. O trabalho do som em seus filmes é sempre muito interessante.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Cinema é muito mais do que imagem em movimento.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Para ser bem sincera acho que nunca presenciei algo de muito extraordinário, mas vou comentar de quando fui assistir Jovens Titãs em ação. Eu gosto muito de animações e principalmente as animações atuais do Cartoon Network. Fui assistir Jovens Titãs em Ação em meus dois primos mais novos pois gostamos de desenhos parecidos, evidentemente que a sala estava lotada de crianças, o que me irrita um pouco, mas faz parte nesses casos. Fato é que ao longo de todo o filme eu era a única pessoa que estava dando risada naquela sala e eu fiquei muito decepcionada com o senso de humor das crianças atuais.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Não faço ideia do que seja, desculpa kkk

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Eu acho importante sim, acho que um bom diretor deve conhecer tanto o passado quanto o presente do cinema pois acredito que ajuda no processo criativo, na inovação ao definir a linguagem de um filme, como também para imitar, tentar recriar, afinal criar muitas vezes é imitar.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

Tem muito filme ruim nesse mundo, é até difícil escolher só um, mas o filme Deadly Illusions da Netflix que assisti recentemente foi um dos piores. Péssimo roteiro, cheio de lacunas e pontas soltas, tinha potencial para ser um bom filme, mas acaba se perdendo por completo e ainda aborda o transtorno de identidade dissociativa de maneira bastante problemática. Gostaria de pontuar uma menção honrosa aqui, que para mim é o pior filme que já vi, mas foi um curta-metragem universitário chamado Guarda Provisória.

 

17) Qual seu documentário preferido?

Santo Forte, Eduardo Coutinho.

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?  

Não que eu me lembre, mas talvez em Bacurau ou Parasita.

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu?

Sem dúvida alguma o filme Presságio (2009), coincidentemente, ou não, o ano em que a maioria dos melhores filmes foram feitos. Eu realmente acho esse filme genial e adoro o rumo esquisito que ele toma.

 

20) Qual site de cinema você mais lê pela internet?

Mnemocine, do qual faço parte.

 

21) Qual streaming disponível no Brasil você mais assiste filmes?

Netflix.