O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.
Nossa entrevistada de hoje é cinéfila, do Espírito Santo. Geralda Zanetti tem 55 anos, nasceu em
Colatina, cidade do interior do Espirito Santo, onde permaneceu até os 15 anos,
onde cursou o ensino primário e médio. Foi em Colatina mesmo que teve seu
primeiro contato com o cinema já na adolescência. Em 1986, muda-se para
Cariacica, cidade vizinha à Vitória, capital do Estado, para ingressar na
Escolta Técnica Federal no Estado do Espírito Santo, onde cursou Edificações. Sua
jornada na Escola, e sua grande afeição pelas artes, deu continuidade à
frequência constante pelos grandes e clássicos cinemas existente na cidade e
que até hoje fazem parte da memória de sua adolescência e juventude. Cine Paz,
Cine São Luiz, Cine Santa Cecília e Cine Glória, estes dois últimos com uma
arquitetura belíssima. A ida ao cinema era uma rotina. O lanterninha. O
pipoqueiro no término da escada. Tantas lembranças... a ida ao cinema de
uniforme...a chegada antecipada para não perder a sessão...aquela tela enorme e
aquele som, incomparável. Em 1987, uma vez já ingressada no serviço público,
optou por fazer Engenharia Civil na Universidade Federal do Espírito Santo. Formou-se
em 1992, mas embora da área de exatas nunca abandonou sua paixão pelo cinema,
pelas artes, pela música. Em 1996, casou-se, teve uma filha, e divorciou-se
posteriormente. Mudou-se para Vila Velha, onde mora até hoje junto com sua
filha. Dedicou 35 anos de sua vida ao Serviço Público prestando serviço na área
de engenharia de tráfego, hoje dedica-se aos estudos da fotografia, uma das
suas grandes paixões, dentre outras coisas, ligadas à área. O cinema sempre foi
sua paixão que a acompanha até hoje.
1) Na sua cidade,
qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da
escolha.
Cine Jardins, que
fica em Vitória, uns 8 km. A programação é sempre excelente com filmes mais
clássicos, cult, filmes que não passa em cinemas tradicionais de Shoppings.
Sempre temos o Festival Varilux e
outros. Adoro o Cinema Espanhol e o Francês e lá passa bastante filme neste
estilo.
2) Qual o primeiro
filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.
Ah eu me apaixonei pelo filme Amor Sem Fim, na minha adolescência, em 1981. Chorei até. Um filme
inesquecível de namoros escondidos, para assistir acompanhado, com uma trilha
sonora belíssima, que realmente só se vê em cinema, Apocalypse Now, um filme realista que parece que você está na
guerra, também com uma trilha sonora espetacular, e uma fotografia linda e HAIR, THE WALL. Nenhum áudio ou tela
que você coloque dentro de casa alcança a magia do que é transmitido dentro de
uma sala de cinema.
3) Qual seu diretor
favorito e seu filme favorito dele?
Vou ficar com Martin
Scorsese - Cabo do Medo.
4) Qual seu filme
nacional favorito e porquê?
A Hora da Estrela
- A inocência de Macabea aliada aos teus sonhos era encantador. A sua ausência
de beleza aliada à uma sociedade onde à aparência era tudo, e mesmo assim, ao
longo de todo filme ela mantém o seu lado sublime e encantador. O sonho de um
namorado, de um casamento, sonhos que aparentemente pequenos, era-lhe o que
preenchia sua vida. A atuação de Marcélia
Cartaxo é inesquecível.
5) O que é ser
cinéfilo para você?
É estar sempre em busca de algo que faz você sair da
realidade, mergulhar em um cenário, em uma história, em uma trama, e aquilo
ficar tatuado na sua vida, na sua linha do tempo. É você está sempre buscando
aquele filme que vai te acrescentar algo, seja um musical, um drama, um
documentário, mas que quando termina você se sente alimentado com a fotografia,
com a trilha sonora, com os personagens, com tudo. É uma terapia mas não no
sentido de sentar no divã e expor a sua história e sim, entender a história do
outro que se passa por trás da tela. É conseguir analisar o filme, debater
sobre ele, mesmo que não saiba todos os nomes dos participantes do elenco, mas
entender o que se passa com o personagem. É mergulhar no filme. Quando assisto
um filme bom, ele fica ressoando na minha mente, semanas, meses. É como se o
personagem fosse real. Me pergunto várias vezes, como o ator consegue se
desprender de tal personagem.
Ser cinéfilo é ser seletivo. É sempre tá com a pipoca na mão
querendo assistir um filme. Sempre quando tem uma brecha está falando sobre
filme. Gosto de todos os gêneros, mas tem que ter uma história que não me faça
desgrudar da tela.
6) Você acredita que
a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas
que entendem de cinema?
Não. A maioria dos filmes que hoje passam nos cinemas são filmes
que geram bilheteria. E os que não são poucos conseguem captar a essência dos
personagens, a complexidade da história, são tidos como filmes chatos.
7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?
Não. Não acredito que vão acabar. Lembro de Cinema Paradiso. O cinema é encantador.
Nada substitui uma tela de cinema, o áudio, o 3D de um cinema. Pode ser
reformulada, para melhor, mas não acredito. Assistir filme em casa não é a
mesma coisa. Estamos vivendo um período atípico e vai passar. Titanic em casa, Avatar, Apocalipse Now, Imensidão Azul, não é a mesma coisa.
8) Indique um filme
que você acha que muitos não viram mas é ótimo.
O BAILE, METRÓPOLIS
remasterizado com a trilha sonora do Queen,
KOYAANISQATSI, IMENSIDÃO AZUL, O CARTEIRO e o POETA.
9) Você acha que as
salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?
Sim. Da mesma forma que você vai a hospitais, médicos, onde
os assentos são espaçados dois a dois, e o seu tempo de permanência é até mais
de duas horas, com circulação de pessoas, e em ambiente de maior risco, não
vejo qual o impedimento dos cinemas funcionarem espaçados e atendendo às regras
de higienização.
10) Como você enxerga
a qualidade do cinema brasileiro atualmente?
O cinema brasileiro tem filmes excelentes, dignos de Oscar.
Me lembro do Homem da Capa Preta,
uma grande produção para a época. Os grandes filmes de José Dumond, Vera Fisher, Tarcísio Meira, Fernanda Torres, Débora
Bloch, Denise Dumond, dentre outros. Tivemos várias fases do cinema.
As interpretações brasileiras dos nossos célebres atores são
espetaculares. Glória Pires, em NISE e em FLORES RARAS, dá de dez em centenas que ganharam como melhor atriz,
melhor filme. Wagner Moura em NARCOS, Rodrigo Santoro em CARANDIRU, sem palavras. Fernanda Montenegro em CENTRAL DO BRASIL, Regina Casé, em QUE HORAS ELA VOLTA. Temos mega produções, histórias fascinantes.
11) Diga o artista
brasileiro que você não perde um filme.
Glória Pires - Adoro
a atuação dela em qualquer papel
12) Defina cinema com
uma frase:
Paixão.
13) Conte uma
história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:
Não tão inusitada. Nos cinemas de antigamente namorava-se
muito. E às vezes você presenciava cenas mais pesadas nas poltronas de trás. Só
tinha três sessões durante o dia, os cinemas lotavam, dependendo do filme, você
sentava na última fila. Os cinemas eram imensos, e diversas vezes se
presenciava cenas deste tipo. Alguns iam assistir o filme, outros namorar, e
outros...
14) Defina 'Cinderela
Baiana' em poucas palavras...
Sem Comentários. Tô ouvindo sobre ele agora e fui ver o
trailer. Trágico.
15) Muitos diretores
de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta
precisa ser cinéfilo?
Não. Ele precisa saber exatamente o que é dirigir um filme,
é necessário antes de tudo ter uma formação em uma escola de cinema ou de
comunicação, ou ter curso superior na área, em alguma universidade, e gostar e
entender do que faz.
16) Qual o pior filme
que você viu na vida?
EU - Filme
brasileiro com Tarcísio Meira.
17) Qual seu documentário
preferido?
Adoro documentários sobre pintores, músicos, artistas em
geral. Tem sempre uma história triste e bela ao mesmo tempo. Mas por outro lado
adoro filmes e documentários de Serial Killer. Fico então com CONVERSANDO COM UM SERIAL KILLER: TED BUNDY.
Assisti o filme e depois fui assistir o documentário.
18) Você já bateu
palmas para um filme ao final de uma sessão?
Já. Muitas vezes!!!
19) Qual o melhor
filme com Nicolas Cage que você viu?
O Vidente.
20) Qual site de cinema
você mais lê pela internet?
Adorocinema, Omelete.
21) Qual streaming
disponível no Brasil você mais assiste filmes?
Amazon Prime e Looke. Sou assinante da Netflix, mas os
filmes estão muito voltados para temáticas ultimamente.