01/06/2021

Crítica do filme: 'Cruella'


Mais traiçoeira do que uma cascavel. A reconstrução de uma das vilãs mais famosas do universo da Disney aliada a uma adição de cultura pop contemporânea, com dinamismo, reflexões sobre o poder da mídia, beirando as linhas tênues dentro de uma personalidade e uma afiada trilha sonora, são algumas boas definições do surpreendente live action Cruella. Dirigido pelo cineasta australiano Craig Gillespie (Eu, Tonya), o projeto que teve lançamento simultâneo nos cinemas e no streaming da Disney em forma especial (paga), possui um ritmo equilibrado em sua narrativa, ação e drama andam lado a lado com espaço para momentos cômicos. Um belíssimo trabalho que deve agradar a todos os públicos.


Na trama, conhecemos Estella (Emma Stone), uma jovem cheia de atitude que se mete em diversas confusões sendo inclusive expulsa de todos os colégios da região onde mora. Assim, ela parte com sua mãe para Londres, mas antes de chegar até o centro da cidade, a mãe faz uma parada num lugar chique e misterioso onde Estella sofre um grande trauma com a perda da mãe. Sem rumo na vida, acaba fugindo para o centro da cidade e lá conhece dois amigos que a ajudam. Ela cresce e sobrevive nessa vida precária por meio de falcatruas, roubos impossíveis, pequenos furtos. Até um dia ter a chance de trabalhar e conhecer a socialite e estilista de sucesso Baronesa (Emma Thompson), a quem descobre ter sido a responsável pelo assassinato da mãe. Isso a faz consumir em uma vingança sem regras, assumindo assim a alcunha de Cruella.


Tínhamos certeza que Cruella veio de um lugar que é bem cruel. Será? Baseado no personagem do livro 101 Dálmatas, escrito por Dodie Smith na década de 50, a personagem nesse ano de 2021 ganha contornos inovadores. Na ponta da inconsequência, quase sempre ser ter nada a perder, ela se transforma, se descontrói ao longo das mais de duas horas de projeção. O roteiro busca na psicologia as explicações para as atitudes e ações que fazem parte da trajetória da personagem, sua rebeldia acopla dentro de um cenário de caos que é instaurado após o desejo de vingança tomar conta das atitudes dela. Todo o lado vilanesco teve um início e essa construção da história é muito bem explicada.


Por conta de um descontrole próprio de uma psicologia arranhada, sua causa de vingança vira algo descontrolável, e assim se torna também algo mais geral, bagunçar o mundo com sua arte, utilizando sua aptidão como estilista mas sem deixar de lado o psicótico que muitas vezes a leva longe de seu lado mais doce sendo dominado assim por uma crueldade sem volta. Seu cabelo metade branco, metade preto é a personificação desses dois lados, representados assim desde a criação da personagem no original.


Com um leque de personagens carismáticos, uma trama empolgante, inúmeros pontos de reflexões sobre a psiquê de uma curiosa protagonista, uma direção de arte impecável e outros pontos positivos, Cruella se torna um dos grandes filmes de 2021.