A força dentro das surpresas e desilusões. O que você faria se fosse atormentado por uma tragédia em sua família? Se seu trabalho é questionado por todos ao seu redor? Se sua vida amorosa é um quebra cabeça complicado de se entender? Essas e outras questões estão dentro do contexto de pulsantes emoções da protagonista de Mare of Easttown, minissérie de sete capítulos da HBO que possui um roteiro afiado, repleto de mistérios e dramas profundos gerando inúmeras reflexões pelo caminho. No papel principal, uma das grandes atrizes do planeta cinema, Kate Winslet, em mais uma atuação nota 10. Impecável trabalho que merece ser visto por todos que gostam de boas histórias.
Na trama, criada por Brad
Ingelsby, conhecemos Mare (Kate Winslet),
uma detetive divorciada, e já avó, que é atormentada pelo suicídio do filho
anos atrás e no campo profissional é taxada de incompetente por não conseguir
solucionar o caso de uma desaparecimento de uma jovem moradora da região. Mora
com sua filha Siobhan (Angourie Rice),
a mãe Helen (Jean Smart, em atuação
fantástica) e seu neto em uma casa que é na frente da do ex-marido Frank (David Denman). Quando uma outra jovem é
assassinada, um leque de portas se abrem na linha de investigação e não é
descartada de ter alguma relação com o desaparecimento da outra jovem. Entre a
dedicação a essa importante investigação e o caos que se transforma sua vida
pessoal, muitas surpresas a aguardam em um desenrolar de fatos impactantes.
A congruência entre suspense e drama é feita de maneira
sublime. E esse poder de surpreender chega aliado a um raio-x completo da personalidade
de uma corajosa e amargurada protagonista, uma mulher que luta contra seus
medos a todo episódio, que precisa tomar atitudes duras que influenciam a sua e
outras famílias. Nas partes dramáticas as subtramas ganham rumos importantes e
bastante conclusivos, seja no arco que mostra as dúvidas e escolhas de Siobhan,
as dúvidas sobe o professor Frank e o envolvimento dele ou não em parte dos
mistérios da trama, o caótico estado amoroso de Mare mas que nutre uma certa
esperança na chegada do escritor Richard (Guy
Pearce), a relação de amizade com Lori (Julianne Nicholson, em atuação destacada), os conflitos com a mãe
de seu neto Carrie (Sosie Bacon) e
com a ex-amiga de jogos de basquete no colegial Dawn (Enid Graham).
O mais importante nisso tudo é que todas as portas abertas são
fechadas. Todos são suspeitos por um momento, Mare nos conecta nossos olhos e
sua forma de pensar, vemos as construções e desconstruções da complexa personagem,
vamos descobrindo cada vírgula, cada ponto fora da curva. Fica difícil até
saber se gostamos mais da parte dramática ou do suspense imposto, tudo é muito
bem feito. A cada conclusão de episódio bate aquele desespero de querermos
assistir ao próximo.
Blindado por um perfeccionismo nas atuações, dentro de um
roteiro primoroso, Mare of Easttown é
forte concorrente a todos os prêmios da televisão norte-americana. Baita minissérie.