06/06/2021

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #436 - Marcondes Jamacaru


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

 

Nosso entrevistado de hoje é cinéfilo, de Fortaleza (Ceará). Marcondes Jamacaru tem 53 anos, é professor de literatura, leitor e cinéfilo. Coleciona filmes ganhadores do Oscar Internacional e sua cinemateca possui cerca de 1.400 títulos nacionais e/ou estrangeiros. Gosta de música popular brasileira, dando ênfase ao cantor e compositor Chico Buarque. Publicou 5 livros de poesias. É cearense e atualmente vive na capital do Estado.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

O cinema do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura. A programação do cinema é totalmente voltada para os filmes europeus e/ou nacionais que dificilmente seriam exibidos no circuito comercial.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Alguns filmes me provocaram essa sensação, mas vou citar o excelente Blade Runner (1982), de Ridley Scott.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Poderia citar quatro ou cinco diretores geniais, mas vou me limitar ao mestre italiano Federico Fellini [1920 – 1993]. Quanto ao filme favorito do Fellini, sinto- me incapaz de escolher apenas um, então cito as obras-primas Oito e Meio [1963] e Amarcord [1973].

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Meu filme nacional favorito é a obra-prima do Cinema Novo Deus e o diabo na terra do sol, do genial diretor baiano Glauber Rocha [1939 – 1981]. É o meu filme nacional favorito porque sempre que eu o assisto, convenço-me de que o diretor conseguiu transportar para a tela uma história atemporal.

 

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

... deixar-se levar pela trilha sonora e/ou roteiro do filme e mergulhar nas águas tranquilas e muitas vezes inquietantes dessa experiência maravilhosa que só o cinema e a literatura podem nos proporcionar.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Acredito que não. A impressão que às vezes eu tenho é a de que essas pessoas visam apenas ao lucro. Muitas vezes são amadoras no que diz respeito aos filmes de arte.

 

7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Creio que não. Existe uma magia no ar quando assistimos a um filme na sala de cinema. Dificilmente teremos essa experiência na sala de nossos apartamentos e/ou casas.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Uma obra-prima da nouvelle vague tcheca Trens estreitamente vigiados [1966]. Recentemente vou lançado em versão inédita pela Versátil.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Sou contra essa ideia. Não me sentiria seguro em um ambiente fechado/com ar-condicionado e várias pessoas no local.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Vivenciamos épocas difíceis para o cinema nacional. Nosso mais bem-sucedido longa metragem foi Central do Brasil [1998]. Mas, felizmente, parece que iremos vivenciar uma nova retomada da cinematografia brasileira. Recentemente, o jovem diretor Kleber Mendonça Filho [1968] dirigiu os fabulosos O som ao redor [2012], Aquarius [2016] e Bacurau [2019].

 

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Pelos filmes citados anteriormente, diria que é Sônia Braga. Mas tenho que me render ao talento do ator Irandhir Santos [1978]. Para ilustrar minha fala, cito Viajo porque preciso, volto porque te amo [2009], A febre do rato [2011] e A história da eternidade [2014].

 

12) Defina cinema com uma frase:

... uma experiência catártica.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Assistia com amigos Clarisse ou alguma coisa sobre nós dois [2016], filme cearense de terror psicológico ganhador de vários prêmios em festivais, quando uma determinada cena chamou nossa atenção e passamos a comentá-la de forma negativa. Quando as luzes se acenderam, reconhecemos o diretor do filme sentado a apenas alguns metros de nós. Ele deve ter ouvido o que falamos. Foi inusitado e um tanto constrangedor.

 

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Um filme provavelmente fadado ao esquecimento.

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Não necessariamente. Mas vale ressaltar que grandes cineastas cinéfilos dirigiram verdadeiras obras-primas do cinema. Restringir-me-ei a citar quatro: Jean-Luc Godard [1930], François Truffaut [1932 – 1984], Andrei Tarkóvski [1932 – 1986] e Quentin Tarantino [1963].

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

O inclassificável Crepúsculo [2008]. Até hoje me pergunto como puderam produzir esse filme.

 

17) Qual seu documentário preferido?

Cabra marcado para morrer [1984], de Eduardo Coutinho [1933 – 2014].

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?  

Várias vezes. Recentemente, tive o privilégio de fazer isso ao final dos filmes Mad Max: estrada da fúria [2015], A Chegada [2016] e Blade Runner 2049 [2017].

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu?

Despedida em Las Vegas [1995]. Apesar de deprimente, um ótimo filme.

 

20) Qual site de cinema você mais lê pela internet?

Leio bastante o Plano Crítico.

 

21) Qual streaming disponível no Brasil você mais assiste filmes?

Sou assinante da Netflix. Gosto bastante do catálogo deles.