23/06/2021

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #452 - Naiara Rocha


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

 

Nossa entrevistada de hoje é cinéfila, de Cidade Ocidental (Goiás). Naiara Rocha tem 24 anos. É publicitária, designer gráfico, editora de vídeos e áudio e técnica de Produção de Áudio e Vídeo pelo Instituto Federal de Brasília, Campus Recantos das Emas. É cofundadora e diretora de comunicação do Coletivo de Cinema e Cineclubismo Cine Quebrada (Cidade Ocidental/GO, 2020), atuando na democratização e exibição de filmes brasileiros independentes nas periferias do entorno do Distrito Federal e em outras regiões. Pesquisa a história do Quilombo Mesquita como material de estudo para produção do curta metragem “Mesquita”. Participou dos projetos de cineclubes “Cine Quarentena” (IFB, 2020) e “Cine Quebrada” (Coletivo Cine Quebrada, 2020). Participou da primeira edição do “Festival Recanto do Cinema – Audiovisual da Periferia” (IFB, 2019) na equipe de comunicação e em sua segunda edição (IFB, 2020) como curadora e programadora da Mostra de Curtas-Metragens Brasileiros e também na Prática Profissionais – IFB (2020) no Rastro – Festival de Cinema Documentário. Participou da Exposição Magia Negra – Núcleo de Estudos Afro brasileiro e Indígena (NEABI/IFB, 2019) com o seu ensaio Fotográfico “Liberte-se Afro”, trabalho que também apresentou na Semana de Reflexões sobre Negritude, Gênero e Raça do IFB (SERNEGRA, 2019). Formada em Comunicação Social – Publicidade e Propaganda pelo Centro Universitário Euro-Americano (2018), trabalha também com publicidade, designer gráfico, direção de produção, assistente de direção de arte, roteiro e edição de vídeo e áudio. Foi coordenadora de comunicação do Coletivo de Mulheres de Cidade Ocidental (2019), fez direção de produção dos curtas-metragens “Mercado Sul Vive” (Dir. Lenilson Costa e Larissa Campos, 2019) e “Quimera” (Dir. Letícia Rocha e Gabriel Camargo, 2020).

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Na minha cidade não tem salas de cinema, ainda, mas eu junto com outros colegas do cinema idealizamos o cineclube Cine Quebrada que antes da pandemia era realizado no Espaço Sociocultural Nós por Nós, do coletivo de mesmo nome. Antes da pandemia realizamos sessões com programações especiais e debates sobre os filmes e o tema que o filme trazia em cena. Era maravilhoso, pois era o momento em que a juventude de Cidade Ocidental apaixonada por cinema e audiovisual se encontrava e trocava ideias. Hoje, o cineclube não acontece presencialmente por questões de segurança, mas atualmente o coletivo de cinema Cine Quebrada, o mesmo que participo, está em busca de alternativas para voltar com a programação, mas de forma virtual.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Cuscuz Peitinho Diretores: Julio Castro, Rodrigo Sena.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

É muito difícil para mim escolher um favorito, e olha que não sou libriana, mas eu curto muito as produções da Yasmin Thayná e o meu favorito é Kbela.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Eu curto muito o universo de Inferninho de Guto Parente, Pedro Diógenes. É um filme que marcou muito na minha vida, a história da Deusimar me atravessou mesmo eu sendo uma mulher cis. A fotografia do filme é linda e eu me apaixonei pela direção de arte que ficou impecável. O filme é uma mistura de teatro com fantasia e aborda questões de gênero.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Pra mim é complicado responder o que é ser. Eu só sei que eu sou por causa do Instituto Federal de Brasília, o campus Recanto das Emas que me banhou com o melhor e puro suco do cinema brasileiro independente. Pela Marcela Borela e Juliane Peixoto que me mostraram como o cinema e os filmes curam e fecham feridas mas que também abrem aquelas que estão se cicatrizando. Em como o filme A Parteira, de Catarina Doolan me mostraram o quanto parir é algo lindo e profundo mas que nós mulheres temos muitas subjetividades para além da maternidade. Acredito que ser cinéfilo é isso, assistir filmes observando o que as histórias vão construir em mim como pessoa política e humana. Muitas vezes ser cinéfilo não é entender sobre toda a construção de uma produção, mas sentir o que aquela produção quer dizer e ser atravessado.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Acredito que as salas de cinemas comerciais não. Mas as programações de Festivais de Cinema como Festival Moã, Festival de Taguatinga e Festival Recanto do Cinema sim, tem conhecimento de cinema, e de um cinema sensível e não hegemônico. 

 

7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Segundo, as pesquisas de streaming estão com risco, né?!  Mas acredito que não acaba não. Eu acredito que vai ter mais salas de cinemas como cineclubes onde a programação é cuidadosamente pensada para debater diversos assuntos, existe um levante jovem de cineastas, nas periferias, nas favelas, nas cidades pequenas. O eixo SP-RJ não é mais o único que está fazendo cinema e distribuindo cinema.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Perifericu das Diretoras: Rosa Caldeira, Nay Mendl, Stheffany Fernanda, Vita Pereira. É um curta maravilhoso que conta a história de garotas periféricas que estão em busca dos seus sonhos e existindo em meio à violência a seus corpos pretos.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Com certeza não! Antes de tudo precisamos pensar na saúde coletiva. E a internet está aí para democratizar o acesso a filmes e construções de narrativas para além do que vemos nas salas de cinema comerciais.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Acho que você já percebeu que eu sou da bandeira do cinema brasileiro rs. Eu amo o cinema brasileiro, mas quando falo isso não quero dizer Globo Filmes. Falo dos filmes independentes, falo do cinema de Marcela Borela, de Guto Parentes, de Thayna Yasmin e entre outros cineastas brasileiros. Estamos construindo narrativas e essa construção traz à cena histórias não hegemônicas, cis e branca. Existe um cuidado por trás disso tudo, um cuidado em como falar de assuntos delicados para alguns e espinhosos para outros.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Bruno Victor, ele fez Afronte que é um filme que me atravessou por inteira, eu mulher negra e bissexual que sabe como é está em corpo preto que muitas vezes não é escutado e muito violentado. Estou ansiosa para a sua nova produção, Pirenopolynda, foi rodado agora em Pirenópolis.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Político.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Não foi inusitado mas quando fui com a minha prima mais nova assistir O Bom Dinossauro uma animação da Disney; é uma história bem fofa e emocionante, mas eu não esperava que a minha prima choraria no final quando o Arlo volta para casa. Eu achei aquilo uma coisa tão genuína e amorosa.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

cringe...

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

 

Não acho, acredito que dirigir um filme está para além disso.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

Os Salafrários. Não é o pior, mas eu não conseguir fechar 30 minutos de filme.

 

17) Qual seu documentário preferido?

Eu tenho tantos preferidos, que é até difícil escolher rs. Taego Ãwa é um dos que gosto bastante, dos irmãos Marcela Borela e Henrique Borela.

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?  

Sim, demais! Quando eu assisti Visionários da Quebrada da Ana Carolina Martins. Acho que não foi só eu que levantei para bater palmas, toda a sala.

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu?

Puts... eu falaria nenhum (desculpa fãs de Nicolas Cage), mas eu curti a animação que ele dublou. The Croods.

 

20) Qual site de cinema você mais lê pela internet?

Verberenas!

 

21) Qual streaming disponível no Brasil você mais assiste filmes?

Quando quero assistir nacionais ou outros independentes assistindo no MUBI e quando eu quero vê algum besteirol americano e me alienar é a Netflix.