22/07/2021

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #482 - Victor Quintanilha


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

 

Nosso entrevistado de hoje é cinéfilo, de São Gonçalo. Victor Quintanilha tem 30 anos. Formado em Cinema pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2011); escreveu e dirigiu curtas como “El Sonido del Silencio”, 3º melhor documentário no Curta Criativo 2011 e “Condição”, Première Brasil Festival do Rio 2012. Graduado em Som pela Escuela Internacional de Cine y TV (EICTV, 2015), dirigiu o som do curta-metragem “Iceberg”, World Premiere no International Documentary Filmfestival Amsterdam 2015 e Prêmio de melhor curta-metragem no Fribourg International Film Festival 2016, além de outros curtas premiados em festivais internacionais. Desde 2015 trabalhou como editor de som em 30 longas, como os premiados “Aos Teus Olhos” de Carolina Jabor, “Gabriel e a Montanha” de Fellipe Barbosa, e “Bacurau” de Kléber Mendonça Filho, além de documentários e séries de TV. Em 2020 escreveu e dirigiu o curta-metragem de ficção “Portugal Pequeno” com financiamento através do 1º Edital de Fomento ao Audiovisual de Niterói. Atualmente em circuito por festivais, o filme teve sua estreia internacional no 2021 Clermont-Ferrand International Short Film Festival, onde recebeu Menção Especial do Júri Internacional. “Portugal Pequeno” também recebeu Prêmio Especial do Júri e Melhor Curta Júri Popular no XVI Panorama Internacional Coisa de Cinema.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Sou de São Gonçalo, mas moro no Rio de Janeiro desde 2016. Em São Gonçalo só existem cinemas de shopping, que exibem na sua maioria filmes de apelo comercial, geralmente norte-americanos. Eu não tenho muito costume de ir ao cinema, mas no Rio, geralmente encontro no grupo Estação os filmes não-comerciais que me interessam mais.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Tive que forçar bastante a memória, mas acho que foi Last Days, de Gus Van Sant.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Para mim é impossível ter um favorito acima de todos, são tantos diretores e diretoras incríveis nesse mundo... Mas sou muito fã de Michael Haneke e meu filme favorito dele é 71 Fragmentos de uma Cronologia do Acaso.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo. Por ser um filme aparentemente simples, mas de uma potência e beleza que emocionam.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Para ser sincero não me considero cinéfilo, tenho amigos que assistem muito mais filmes que eu, com uma frequência que eu não consigo ter. Por trabalhar principalmente como editor de som, passo a maior parte do tempo assistindo o mesmo filme repetidas vezes, então acho que por isso no meu tempo livre geralmente busco fazer qualquer outra coisa que não seja olhar para uma tela. A lista de filmes que quero ver é infinitamente maior que a lista de filmes que já vi, mas isso pode ser um sintoma de cinefilia também, não? (risos)

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Acredito que sim, "entender de cinema" pode ser um termo muito abrangente e fica complicado definir "quem entende e quem não entende". Acho que nos casos das grandes empresas exibidoras o entendimento do cinema reside numa abordagem mais comercial, numa ciência de saber programar os filmes que vendem mais, já que o objetivo principal é o lucro.

 

7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Acho improvável. Por mais que o consumo de material audiovisual tenha se transformado com o avanço da tecnologia e das plataformas de streaming, a sala de cinema continua sendo o templo do cinema, uma experiência sensorial e social impossível de ser reproduzida em um ambiente doméstico.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Aquele Querido Mês de Agosto, de Miguel Gomes.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Acho que muitas coisas deveriam estar fechadas ou com funcionamento (de fato) regulado, como bares, restaurantes e shoppings, mas isso é uma questão complexa com problemas muito mais profundos, sintomas diretos da péssima gestão do país.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

O cinema brasileiro atual vive um grande momento em nível de qualidade e diversidade. Graças às políticas públicas desenvolvidas nas últimas duas décadas, tivemos uma democratização do cinema, do acesso às ferramentas e ao lugar de autoria. Isso permitiu o aparecimento de muitos artistas periféricos, descentralizando as narrativas e ampliando os olhares.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Não perco um filme dos meninos da Filmes de Plástico.

 

12) Defina cinema com uma frase:

É a possibilidade de mergulhar profundo por alguns minutos em outros mundos.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Uma vez fui assistir um filme no Cine Joia em Copacabana e na sala havia apenas eu e mais uma pessoa. Num momento no meio do filme essa pessoa gritou o nome do projecionista "Fulano, o foco!" e dentro de uns instantes o projecionista, que talvez estivesse cochilando, ajeitou o foco do projetor. Achei muito curiosa essa relação de quase intimidade, apenas possível em pequenos cinemas de bairro como o Cine Joia.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Nunca assisti, apenas o trecho épico do final.

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Não acho que um cineasta precise ser cinéfilo. Eu mesmo escrevi e dirigi um curta, chamado Portugal Pequeno, e não me considero um cinéfilo. Acho importante ter uma base teórica e prática de cinema, mas não existe requisito obrigatório para ser diretor. O importante é querer muito contar uma história e buscar ser o mais sincero possível consigo mesmo.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

Foi um filme em que trabalhei como editor de som, então não posso falar. (risos)

 

17) Qual seu documentário preferido?

O filme que me fez ter certeza de que queria trabalhar com cinema foi um documentário. Sans Soleil de Chris Marker. Mas gostaria de aproveitar o espaço para citar dois documentários excelentes:

Baronesa, de Juliana Antunes.

Chão, de Camila Freitas.

O Reflexo do Lago de Fernando Segtowick.

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?  

Já fiz em sessão de filme em abertura de festival, mas nunca como algo espontâneo e sozinho.

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu?

Raising Arizona.

 

20) Qual site de cinema você mais lê pela internet?

Não tenho o costume de ler site de cinema.

 

21) Qual streaming disponível no Brasil você mais assiste filmes?

Assisto boas séries no HBO Go, algumas coisas na Netflix, mas gostaria mesmo era de ter condições de assinar o Mubi.