05/08/2021

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #500 - Lidiana de Almeida


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

 

Nossa entrevistada de hoje é cinéfila, de São José da Coroa Grande (Pernambuco). Lidiana de Almeida tem 41 anos. Graduada em Cinema pela Universidade Anhembi Morumbi. Atuou como assistente de finalização e coordenadora de pós-produção na empresa Cinecolor Digital, participando de projetos como Maria Luiza (Diazul - Marcelo Díaz), Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos (Embaúba Filmes - Renée Nader Messora e João Salaviza), A Primeira Morte de Joana (Crisol Filmes - Cristiane Oliveira), entre outros. Atualmente, trabalha com masterização de curtas e longas metragens e em desenvolvimento de roteiros para webséries e documentários.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Há 4 meses estou morando no litoral de Pernambuco, mas até março/21 eu morava no centro de São Paulo. Minha sala favorita era o Petra Belas Artes, tradicional cinema de rua na Paulista. Adorava a programação alternativa com filmes de artes, experimentais e nacionais. O noitão do Belas Artes era incrível – uma sexta por mês passávamos a madrugada vendo filmes. Cada mês era um tema diferente.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Desde muito criança sou apaixonada por filmes. Lembro do primeiro filme que assistimos quando meu pai comprou um videocassete (em 1989) – Papillon (Franklin James Schaffner, 1973) com Dustin Hoffman. Pra mim nunca foi só entretenimento, sempre foi algo mais.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

São vários! Amo Hitchcock, Almodóvar, Scorsese, Tarantino, Nolan, Coppola, a lista é grande e é bem difícil escolher um diretor, pra mim, as narrativas, os estilos e as estéticas são todas incríveis em suas construções e a maneira como cada um deles as expressam, as tornam únicas. Não consigo ter favoritos. Porém se tiver que escolher um diretor que atualmente assisto TUDO que ele faz, escolho o Christopher Nolan. Sou fã de ficção científica e a maneira como ele trabalha o tema em sua filmografia é sensacional. Na minha Nolan’s list, A Origem (2010) e Interestelar (2014) estão empatados em primeiro lugar.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

O Lobo atrás da Porta (Fernando Coimbra, 2013). A narrativa é tão bem construída e a atuação da Leandra Leal e do Milhem Cortaz é tão orgânica que é impossível não ser tocado por esse thriller, fiquei alguns dias repassando a história na minha cabeça. Na minha opinião, um filme cumpriu seu papel se conseguiu te tocar de alguma forma. Não podemos sair de diante da tela indiferentes ao que vimos.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Basicamente é ser apaixonado por filmes, do tipo que fica sentado no cinema até terminar os créditos! Que assiste um filme independente se ele é do gênero que mais gostamos ou não e que entende que um filme não é necessariamente ruim porque não atendeu às suas expectativas, mas que teve sucesso ao que ele se propõe vender.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Não. Tem salas para pessoas que buscam apenas entretenimento e tem salas para quem busca mais que isso.

 

7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Não, acredito apenas que vai mudar a forma de se consumir cinema. Nada se iguala a assistir um filme numa sala repleta de fãs, como acontece nas pré-estreias. A sala de cinema propõe uma experiência coletiva que nenhum streaming pode anular.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

GATTACA (Andrew Niccol, 1997).

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Acho que diante do contexto que vivemos no Brasil, que pessoas são obrigadas a pegar transportes públicos lotados para ir trabalhar, não acho moral exigirmos que essas mesmas pessoas deixem de frequentar locais para se divertir, afinal cultura e lazer são primordiais para a saúde mental. Acho necessário apelar sempre para o bom senso, manter as medidas de distanciamento e os protocolos de prevenção.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

O cinema nacional tem filme para todos os gostos. Desde entretenimentos rasos para quem quer apenas se desconectar da sua rotina, dramas e reconstituições históricas que são necessários para registrar “a vida” para a posteridade e filmes densos e sensíveis que tocam o mais profundo da alma. O triste é que essa riqueza de narrativa não alcança todo o público.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Matheus Nachtergaele.

 

12) Defina cinema com uma frase:

A arte imita a vida ou a vida imita a arte?

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Eu sempre gostei de frequentar as mostras de cinema em São Paulo. Uma delas era sobre os filmes de referência das obras de Tarantino e acontecia no Centro Cultural Vergueiros, que tinha duas salas minúsculas de cinema. Neste dia haveria a estreia de A Prova de Morte, um filme bem peculiar, o sexto da filmografia de Tarantino, que junto com Robert Rodriguez e seu Planet Terror compõe Grindhouse, uma experiência contemporânea que resgata a estética e os valores do filmes trash dos anos setenta. Assim que cheguei comprei os ingressos para as três sessões daquele dia, incluindo a da estreia e já me avisaram que a entrada, desse filme em especial, era mediante a lotação da sala.

Chegando o horário da estreia, eu ainda estava na sala ao lado. A sessão estava demorando mais do que eu imaginava e já comecei a ficar desesperada, com receio de não conseguir entrar na sala do A Prova de Morte. Finalmente o filme acabou e sai correndo escada a cima. As salas eram bem perto uma da outra e qual não foi minha tristeza quando o segurança me disse que a sala estava lotada. Bom, choraminguei e pedi com jeitinho: eu fico sentada no corredor... não vai atrapalhar. Junto comigo tinham mais algumas pessoas e nos unimos para comover o segurança que por fim nos deixou entrar. Essa sessão foi a mais incrível que participei na vida. Foi onde eu vivi a catarse que tanto Tarantino e Lars Von Trier usam como recurso em seus filmes. A sessão inteira gritava em cada cena de violência, comovida, revoltada, interagindo com o filme. Naquele momento, não éramos só espectadores e não tem sensação mais energizante que essa.

 

14) Defina ‘Cinderela Baiana’ em poucas palavras...

Um filme que poderia ter sido um videoclipe.

 

15) Muitos diretores de cinema  não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Não, mas precisa ter uma equipe que lhe dê todo o suporte. Cinema é uma arte coletiva.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

Os Vingadores (Jeremiah S. Chechik, 1998) – vi no cinema, com menos de 10 minutos de filme me estiquei nas poltronas e dormi. Desde então aprendi a não escolher filmes por causa do elenco.

 

17) Qual seu documentário preferido?

Margaret Mee e a Flor da Lua (Malu de Martino, 2012). Esse documentário é muito sensível e narra de maneira poética a busca da pintora inglesa pela rara flor da lua na Amazônia.

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão

Sempre, às vezes só tô eu lá batendo palmas bem baixinho.

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu?

A Outra Face (John Woo, 1997)

 

20) Qual site de cinema você mais lê pela internet?

IMDB para pesquisas gerais. Filme B e Revista Exibidores para saber sobre o mercado audiovisual.


21) Qual streaming disponível no Brasil você mais assiste filmes?

Netflix e HBOMax.