O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.
Nossa entrevistada de hoje é cinéfila, de São José da Coroa
Grande (Pernambuco). Lidiana de Almeida
tem 41 anos. Graduada em Cinema pela Universidade Anhembi Morumbi. Atuou como
assistente de finalização e coordenadora de pós-produção na empresa Cinecolor
Digital, participando de projetos como Maria Luiza (Diazul - Marcelo Díaz),
Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos (Embaúba Filmes - Renée Nader Messora e
João Salaviza), A Primeira Morte de Joana (Crisol Filmes - Cristiane Oliveira),
entre outros. Atualmente, trabalha com masterização de curtas e longas
metragens e em desenvolvimento de roteiros para webséries e documentários.
1) Na sua cidade,
qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da
escolha.
Há 4 meses estou morando no litoral de Pernambuco, mas até
março/21 eu morava no centro de São Paulo. Minha sala favorita era o Petra Belas Artes, tradicional cinema
de rua na Paulista. Adorava a programação alternativa com filmes de artes,
experimentais e nacionais. O noitão do Belas Artes era incrível – uma sexta por
mês passávamos a madrugada vendo filmes. Cada mês era um tema diferente.
2) Qual o primeiro
filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.
Desde muito criança sou apaixonada por filmes. Lembro do
primeiro filme que assistimos quando meu pai comprou um videocassete (em 1989)
– Papillon (Franklin James Schaffner, 1973) com Dustin Hoffman. Pra mim nunca foi só entretenimento, sempre foi
algo mais.
3) Qual seu diretor
favorito e seu filme favorito dele?
São vários! Amo Hitchcock,
Almodóvar, Scorsese, Tarantino, Nolan, Coppola, a lista é grande e é bem
difícil escolher um diretor, pra mim, as narrativas, os estilos e as estéticas
são todas incríveis em suas construções e a maneira como cada um deles as
expressam, as tornam únicas. Não consigo ter favoritos. Porém se tiver que
escolher um diretor que atualmente assisto TUDO que ele faz, escolho o Christopher Nolan. Sou fã de ficção
científica e a maneira como ele trabalha o tema em sua filmografia é
sensacional. Na minha Nolan’s list, A
Origem (2010) e Interestelar
(2014) estão empatados em primeiro lugar.
4) Qual seu filme
nacional favorito e porquê?
O Lobo atrás da Porta
(Fernando Coimbra, 2013). A
narrativa é tão bem construída e a atuação da Leandra Leal e do Milhem
Cortaz é tão orgânica que é impossível não ser tocado por esse thriller, fiquei
alguns dias repassando a história na minha cabeça. Na minha opinião, um filme
cumpriu seu papel se conseguiu te tocar de alguma forma. Não podemos sair de
diante da tela indiferentes ao que vimos.
5) O que é ser
cinéfilo para você?
Basicamente é ser apaixonado por filmes, do tipo que fica
sentado no cinema até terminar os créditos! Que assiste um filme independente
se ele é do gênero que mais gostamos ou não e que entende que um filme não é
necessariamente ruim porque não atendeu às suas expectativas, mas que teve
sucesso ao que ele se propõe vender.
6) Você acredita que
a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por
pessoas que entendem de cinema?
Não. Tem salas para pessoas que buscam apenas entretenimento
e tem salas para quem busca mais que isso.
7) Algum dia as
salas de cinema vão acabar?
Não, acredito apenas que vai mudar a forma de se consumir
cinema. Nada se iguala a assistir um filme numa sala repleta de fãs, como
acontece nas pré-estreias. A sala de cinema propõe uma experiência coletiva que
nenhum streaming pode anular.
8) Indique um filme
que você acha que muitos não viram mas é ótimo.
GATTACA (Andrew Niccol, 1997).
9) Você acha que as
salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?
Acho que diante do contexto que vivemos no Brasil, que
pessoas são obrigadas a pegar transportes públicos lotados para ir trabalhar,
não acho moral exigirmos que essas mesmas pessoas deixem de frequentar locais
para se divertir, afinal cultura e lazer são primordiais para a saúde mental.
Acho necessário apelar sempre para o bom senso, manter as medidas de distanciamento
e os protocolos de prevenção.
10) Como você enxerga
a qualidade do cinema brasileiro atualmente?
O cinema nacional tem filme para todos os gostos. Desde
entretenimentos rasos para quem quer apenas se desconectar da sua rotina,
dramas e reconstituições históricas que são necessários para registrar “a vida”
para a posteridade e filmes densos e sensíveis que tocam o mais profundo da
alma. O triste é que essa riqueza de narrativa não alcança todo o público.
11) Diga o artista
brasileiro que você não perde um filme.
Matheus Nachtergaele.
12) Defina cinema com
uma frase:
A arte imita a vida ou a vida imita a arte?
13) Conte uma
história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:
Eu sempre gostei de frequentar as mostras de cinema em São
Paulo. Uma delas era sobre os filmes de referência das obras de Tarantino e acontecia no Centro Cultural Vergueiros, que tinha duas
salas minúsculas de cinema. Neste dia haveria a estreia de A Prova de Morte, um filme bem peculiar, o sexto da filmografia de Tarantino,
que junto com Robert Rodriguez e
seu Planet Terror compõe Grindhouse,
uma experiência contemporânea que resgata a estética e os valores do
filmes trash dos anos setenta. Assim que cheguei comprei os ingressos
para as três sessões daquele dia, incluindo a da estreia e já me avisaram que a
entrada, desse filme em especial, era mediante a lotação da sala.
Chegando o horário da estreia, eu ainda estava na sala ao
lado. A sessão estava demorando mais do que eu imaginava e já comecei a ficar
desesperada, com receio de não conseguir entrar na sala do A Prova de Morte. Finalmente o filme acabou e sai correndo escada a
cima. As salas eram bem perto uma da outra e qual não foi minha tristeza quando
o segurança me disse que a sala estava lotada. Bom, choraminguei e pedi com
jeitinho: eu fico sentada no corredor... não vai atrapalhar. Junto comigo
tinham mais algumas pessoas e nos unimos para comover o segurança que por fim
nos deixou entrar. Essa sessão foi a mais incrível que participei na vida. Foi
onde eu vivi a catarse que tanto Tarantino
e Lars Von Trier usam como recurso
em seus filmes. A sessão inteira gritava em cada cena de violência, comovida,
revoltada, interagindo com o filme. Naquele momento, não éramos só espectadores
e não tem sensação mais energizante que essa.
14) Defina ‘Cinderela
Baiana’ em poucas palavras...
Um filme que poderia ter sido um videoclipe.
15) Muitos diretores
de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um
cineasta precisa ser cinéfilo?
Não, mas precisa ter uma equipe que lhe dê todo o suporte.
Cinema é uma arte coletiva.
16) Qual o pior filme
que você viu na vida?
Os Vingadores (Jeremiah S. Chechik, 1998) – vi no
cinema, com menos de 10 minutos de filme me estiquei nas poltronas e dormi.
Desde então aprendi a não escolher filmes por causa do elenco.
17) Qual seu
documentário preferido?
Margaret Mee e a Flor da Lua (Malu de Martino, 2012). Esse
documentário é muito sensível e narra de maneira poética a busca da pintora
inglesa pela rara flor da lua na Amazônia.
18) Você já bateu
palmas para um filme ao final de uma sessão
Sempre, às vezes só tô eu lá batendo palmas bem baixinho.
19) Qual o melhor
filme com Nicolas Cage que você viu?
A Outra Face (John Woo, 1997)
20) Qual site de
cinema você mais lê pela internet?
IMDB para pesquisas gerais. Filme B e Revista Exibidores
para saber sobre o mercado audiovisual.
21) Qual streaming
disponível no Brasil você mais assiste filmes?
Netflix e HBOMax.