07/09/2021

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #512 - Babita Mendonça


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

 

Nossa entrevistada de hoje é cinéfila, do Rio de Janeiro. Babita Mendonça tem 70 anos. É estilista que virou figurinista ao pisar num set de filmagem e perceber que vestir personagens poderia ser muito mais divertido que fazer moda. Aconteceu assim, paixão pela profissão á primeira vista. Desde a década de 80 trabalhando em produções audiovisuais: publicidade, televisão, institucionais, séries, mas gostando de fazer cinema acima de tudo. Desde o ano 2000 ministrando cursos e oficinas de Metodologia em Figurinos para audiovisual na Aictv, Senai, Estácio de Sá, Escola de Cinema Darcy Ribeiro.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Essa não dá para dizer apenas 1 sala. Moro no Rio e as 3 que cito são em Botafogo, perto da minha casa: Espaço Itaú de Cinema, Estação Net Botafogo e Estação Net Rio. Todas tem uma programação atraente, são confortáveis e tem boa projeção e áudio com exceção das salas menores do Estação Net Rio que às vezes cai a qualidade da projeção.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Melodia Imortal. Aos 5 anos, com meu pai num cinema em São Paulo, onde morávamos. Nunca esqueci da magia da narrativa, nos sentimentos de amor e tristeza narrados na história.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Difícil. Vão valer os primeiros que me vierem à cabeça e vou ter que dizer três no mínimo:

 

1- Federico Fellini, filme Amarcord, 1973

2- Bernardo Bertolucci , filme 1900, 1976

3- FrançoisTruffaut, filme Beijos Proibidos, 1968

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Mesma coisa, vou dizer os primeiros que me surgem à cabeça:

 

1-Eles Não Usam Black Tie, 1981, Leon Hirzman. Pelo roteiro maravilhosos, pelas interpretações de Fernanda Montenegro, Guarnieri e do restante do elenco, pela fotografia do Lauro Escorel, pelo figurino da Yurika Yamazaki.

 

2- Os Cafajestes, Ruy Guerra. Pelo roteiro, pela fotografia, pelo ineditismo do tema e por ser o primeiro nu frontal do cinema brasileiro, considero um dos grandes filmes do Cinema Novo com as devidas influências da Nouvelle Vague.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

É esperar a quinta feira com os lançamentos, frequentar cinematecas e cineclubes, estudar e conversar sobre cinema, rever filmes já vistos, ter um DVD player em casa em caso de necessidade, considerar cinema o programa mais gostoso para se fazer mesmo sozinho, ler sobre filmes e conhecer os trabalhos dos diretores, ter interesse por filmes fora do mainstream, de países com cinematografia menos conhecida. E entrar num cinema às 14 horas de um domingo de sol, na contra-mão da galera da praia.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feita por pessoas que entendem de cinema?

Sim, acredito em curadoria e critérios na programação. Saudosismo à parte sou da geração Paissandu, Cinema Um, Cine Alvorada e sempre frequentei a Cinemateca do MAM e do MIS por preferir programações diferenciadas. Nos dias de hoje, a programação da maioria das salas procura seguir a pegada comercial, lançamentos blockbuster e afins. Mas para nossa sorte surgiu o Estação Botafogo e mais recente o Espaço Itaú, Net Rio, Laura Alvim além das cinematecas tipo Moreira Salles e CCBB e MAM. e Caixa Econômica Cultural. O cinema Jóia que frequento desde sempre (lembro de ver lá "Matou a Família e Foi ao Cinema," de 1969, do Bressane) foi uma coisa fora da curva na nossa vida. Depois fechou e desde sua reabertura ficou muito boa a programação. Agora, não se sabe o que será. Moro perto e diariamente rezo pela sua volta. De kodo geral acredito principalmente que a cabeça do público começa a aceitar filmes menos palatáveis como "Parasita". O cinema está mudando, os diretores coreanos, dinamarqueses, chineses, indianos, marroquinos também encontrando visibilidade e isso obriga a programação e programadores seguirem esse fluxo.

 

 7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Não acredito. É infinitamente mais lúdico e poético, as pessoas gostam e tem tudo a ver com o cinema.  Além de todos os aspectos para a humanidade e para o mundo, foi péssimo o efeito da pandemia para as salas de cinema e teatro. Mas tenho fé e esperança que as coisas boas retornem.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Enquanto Somos Jovens, do Noah Baumbach, de 2014. Conta a história da amizade entre um casal de quarentão (Ben Stiller e Naomi Watts) e outro mais jovem (Adam Driver e Amanda Seyfried) e embora surjam situações clichês é uma comédia muito divertida que propõe reflexão o significado do que é ser "jovem e descolado" e ser "maduro e estabilizado", que pode levar a um desejo de inversão de papéis.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Não, de jeito algum. Essa doença é misteriosa e traiçoeira e não livrou a cara de nenhum lugar do mundo, que ficou unido querendo ou não por esse episódio. Mas agora, com o passaporte das vacinas sendo obrigatoriedade para a entrada em lugares, acho que estamos perto do final dessa privação de não ver filmes no telão. Só tive coragem de ir 3 vezes nesses quase 2 anos, por crise de abstinência, mas acabo me recolhendo. Rezando para essa medida óbvia de mostrar comprovante de vacinação se concretizar.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Muito boa. Acho que temos muita qualidade desde sempre e muito sangue novo nas produções, uma resistência está se fazendo necessária mas vemos muita garra e boa qualidade. Destaco Doutor Gama, de Jeferson De, Os Últimos Dias de Gilda, de Gustavo Pizzi,  Homem Onça, de Vinícius Reis alguns bons exemplos. Tenho gostado de algumas séries brasileiras também que aquecem o mercado de trabalho. Gosto da diversidade que vem sendo mostrada, gosto cada vez mais de temas, povos e lugares brasileiros sendo trazidos para a tela. Não concorde com algumas políticas de algumas produções que gastam muito em viagens para fazer filmes fora do Brasil tipo Miami, Portugal, Itália. Quero dizer que esse custo com translado, estadia e alimentação para mim não se justifica e não acrescenta nada, e não traz nada nosso.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Fernanda Montenegro, Zé Carlos Machado, Camila Pitanga, são muitos os que eu sou fã. Selton Mello, Lázaro.

 

12) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Eu tenho uma reação de não olhar nem prestar atenção naquilo que sei que não vai me agradar. Isso me aconteceu com Cinderela Baiana e outras coisas. É até ruim isso porque às vezes nem tenho certeza se não vou gostar porque não vi.....mas é mais forte do que eu

 

13) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Não necessariamente cinéfilo chiita, senão nem dá tempo de filmar. Mas tem que gostar de ver filmes e conhecer trabalhos de cineastas. Admiro muito Woody Allen (fui das que não o cancelou) e adoro a coisa dele com Bergman, de levar seu fotógrafo Sven Nykvist para seus filmes. A Outra, Contos de Nova York, Crimes e Pecados e Celebridades. Também amo o livro de conversas entre Truffaut e Hitchcock. Acho que se consolida uma espécie de confraria gerando muitas homenagens em obras dos admiradores aos admirados. Vemos isso o tempo todo e acho que é um processo natural.

 

14) Qual o pior filme que você viu na vida?

Rapaz, com muita tristeza detestei Os Belos Dias de Aranjuez, de Wim Wenders cineasta que gosto demais. Acho que não entendi sei lá .....também detestei Mãe, do Aronofsky. 

 

15) Qual seu documentário preferido?

Todos que vi do Coutinho mas vou dizer Edifício Master.

 

16) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?  

Sim. Muitas vezes.

 

17) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu?

Coração Selvagem de David Lynch. Não vejo nada dele desde o princípio dos anos 2000.

 

18) Qual site de cinema você mais lê pela internet?

Adoro Cinema. Amo o Belas Artes à La Carte mas não assino porque não dá tempo de ver mais nada.

 

19) Qual streaming disponível no Brasil você mais assiste filmes?

Amazon Prime, Netflix, Globoplay