As escolhas, a maternidade e o passado. Chegou ao catálogo da Netflix, depois de uma passagem relâmpago por algumas salas de cinema de todo o Brasil, o novo filme do aclamado diretor espanhol Pedro Almodóvar, Mães Paralelas. Indicado a dois Oscars em 2022, o projeto mostra recortes na vida de duas mulheres unidas pela maternidade e uma situação que une ainda mais essas duas almas. Mas engana-se quem pensa que o filme só aborda isso, com uma profunda crítica aos tempos do ditador Franco, em uma história que corre em paralelo, além de aprofundar a questão sobre a maternidade, Almodóvar enche a tela de saudade, amor, conflitos e toda a força que um ser humano precisa ter para enfrentar os obstáculos da vida.
Na trama, conhecemos Janis (Penélope Cruz, indicada ao Oscar por essa atuação), uma renomada
fotógrafa que acaba se envolvendo com Arturo (Israel Elejalde), o responsável de uma operação para encontrar os
corpos de pessoas que lutaram contra a ditadura de Franco anos atrás e nunca
foram achados. Janis engravida mas de comum acordo com Arturo resolve ser mãe
solteira. Chegando perto do nascimento da criança, a protagonista fica no mesmo
quarto que a jovem Ana (Milena Smit)
e ambas tem suas respectivas filhas no mesmo dia. O tempo passa e Janis começa
a perceber que talvez algo estranho possa ter acontecido na maternidade, em
paralelo a isso se aproxima ainda mais de Ana que precisa amadurecer muito
rápido por conta de alguns acontecimentos.
O paralelo entre mães que Almodóvar traça é muito profundo e
nem precisa ser lido pelas entrelinhas. Com um roteiro muito objetivo, com
pitadas marcantes de sensualidade, na admiração pelas força feminina, o filme
nos leva a reflexões. Há a questão existencial que se encontra Janis, que
resolve ter a filha sozinha, embarca na jornada de precisar trabalhar pra se
sustentar, ainda pensando em um amor não correspondido (Arturo) e ao mesmo
tempo recebe uma notícia que muda seu rumo. O outro arco paralelo é Ana, uma jovem que
fica grávida a partir de um abuso e toda a transformação que sua filha faz na
sua vida que era muito ligada a da mãe Teresa (Aitana Sánchez-Gijón), essa última que também se vê nos conflitos
entre a carreira no teatro e a dedicação em uma fase importante da vida da
filha.
O longa-metragem, que abriu o Festival do RJ no ano passado,
é um filme sobre fortes figuras femininas que podemos identificar na questão da
maternidade e também da saudade nas figuras das mulheres que perderam seus
parentes de forma covarde durante uma ditadura que nunca será esquecida por
todos que sofreram na Espanha. Em relação a esse último ponto, Almodóvar faz
refletir sobre política dentro de todos os dramas pessoais.
Ao longo de pouco mais de duas horas de projeção a emoção
toma conta, fruto da escolhas que precisam ser tomadas, das verdades que
aparecem. Afinal, o paralelo que existe no mundo é que todos nós, da nossa
forma, no nosso tempo, para buscar algo próximo da felicidade, precisamos enfrentar
os obstáculos da vida.