Os paralelos com a realidade e as entrelinhas de uma distopia. Em um clima bastante misterioso que deixa poucas informações ao público, Caranguejo Negro, produção sueca disponível na Netflix, acaba sendo muito objetivo, navega pelas turbulentas estradas geladas de uma distopia sem definições de heróis ou vilões mas batendo a todo instante na tecla do egoísmo humano. Dirigido pelo cineasta Adam Berg, em seu primeiro longa-metragem como diretor, conseguimos enxergar um profundo exercício de reflexão sobre os momentos onde a humanidade de alguma forma percebe que está em seu limite.
Na trama, conhecemos Caroline Edh (Noomi Rapace) uma mulher que fora separada abruptamente de sua filha
adolescente durante os desenrolares de um mundo pós-apocalíptico. O tempo passa
e Edh parece apenas buscar sobreviver indo de um lado ao outro, até que é
selecionada para uma missão suicida que consiste em atravessar patinando
quilômetros de uma região que virou gelo e que se tornou paralela aonde os
inimigos estão. Para tal façanha, dão a ela a esperança que alcançando o
objetivo ela consegue encontrar a filha que estaria nesse mesmo lugar.
A esperança como resgate para cumprir objetivos. A questão
da força da relação entre mães e filhos é aqui colocada como flecha de
esperança, dentro de um contexto de perda e eterno luto. A protagonista se vê
com as chamas novamente acesas, talvez o último impulso de um corpo e mente
cansadas pela loucura que se tornou viver em um mundo de guerra a cada metro
que anda. Nesse pensar do confronto, a obviedade é atravessada pois mesmo nos
finais do tempos o homem só pensa em destruir. Se agarrando no egoísmo que
beira inúmeros lares, infelizmente, pelo mundo a fora, o roteiro explora os
limites do refletir em personagens que são diferentes no modo de pensar.
O filme levanta as saídas, os argumentos do pensar em relação a contestação de ordens dentro de grupos militarizados. A questão da ordem
e os porquês dela acabam se localizando nas ações de um dos personagens em um
lugar de pensamento como um todo dentro de um esgotado estado emocional
provocado pelo caos, pelo medo, pela falta de esperança. O básico sinal de que cumpre ordens que não entende, o indivíduo escolhe a sua verdade.
Caranguejo Negro é
um profundo drama com pitadas generosas de ação. Dá pra se refletir muito, um
recorte bem amplo de uma sociedade (não muito diferente a da realidade) que vê
a união e harmonia bem na fronteira do caos e do confronto.