As maneiras de abraçar o mundo quando esse não quer deixar ser abraçado. Selecionado para o Festival de Roterdã em 2021, A Felicidade das Coisas, longa-metragem brasileiro de estreia da cineasta Thaís Fuginaga, em menos de 90 minutos nos mostra alguns conflitos que aparecem na frente da forte protagonista, gerando reflexões constantes do seu mundo ao redor. Há um choque de gerações quando pensamos na questão da educação. Pelos diálogos e assuntos não resolvidos, com pitadas de mágoas de ambos os lados, percebemos uma constante crise na relação entre Paula e sua mãe. Essa última, inclusive, rouba a cena em muitos momentos, figura emblemática dentro dessa história.
Exibido na Mostra de Tiradentes e também na Mostra de Cinema
de São Paulo, ambas no ano passado, o projeto segue a trajetória de Paula (Patrícia Saravy), uma mulher na casa
dos 40 anos que está à espera do seu terceiro filho. Durante as férias de seus
outros dois filhos, ela resolve chamar a mãe e viajar com todos eles para a
casa de praia da família onde está sendo construída um grande sonho das
crianças: uma piscina. Só que o tempo passa e algumas dificuldades financeiras
inesperadas atrasam a obra, deixando esse sonho em segundo plano. Assim, a
protagonista enfrentará conflitos que vão desde os embates com sua mãe, o
descaso do marido que está em São Paulo, os pensamentos sobre o futuro para seu
próximo filho, até as dificuldades de se entender com seu filho mais velho.
O roteiro encaixa uma situação para entendermos um todo. A
partir das dificuldades na compra do material da nova piscina, vamos caminhando
pelos conflitos que se seguem, esses na verdade chegam por meio de reflexões sobre
a vida e as dificuldades ligadas à responsabilidade. Mãe, mulher, grávida e muitas
vezes se sentindo sozinha, Paula se vê em dúvidas sobre como reagir a tudo que
passa como um nuvem carregada nesse momento de sua vida. Há um processo de
transformação da personagem como se a partir de tudo que está vivendo um forte
tom reflexivo se envolve nela definindo, talvez, até mesmo seus próximos passos
na maneira de lidar com sua vida.
Há um reflexo, que podemos enxergar como um paralelo a todo
o panorama político e econômico que se encontra o Brasil de hoje repleto de
crises sem fim que são despejados na população onde muitos sonhos ficam somente
na teoria.