14/05/2022

Crítica do filme: 'A Felicidade das Coisas'


As maneiras de abraçar o mundo quando esse não quer deixar ser abraçado. Selecionado para o Festival de Roterdã em 2021, A Felicidade das Coisas, longa-metragem brasileiro de estreia da cineasta Thaís Fuginaga, em menos de 90 minutos nos mostra alguns conflitos que aparecem na frente da forte protagonista, gerando reflexões constantes do seu mundo ao redor. Há um choque de gerações quando pensamos na questão da educação. Pelos diálogos e assuntos não resolvidos, com pitadas de mágoas de ambos os lados, percebemos uma constante crise na relação entre Paula e sua mãe. Essa última, inclusive, rouba a cena em muitos momentos, figura emblemática dentro dessa história.


Exibido na Mostra de Tiradentes e também na Mostra de Cinema de São Paulo, ambas no ano passado, o projeto segue a trajetória de Paula (Patrícia Saravy), uma mulher na casa dos 40 anos que está à espera do seu terceiro filho. Durante as férias de seus outros dois filhos, ela resolve chamar a mãe e viajar com todos eles para a casa de praia da família onde está sendo construída um grande sonho das crianças: uma piscina. Só que o tempo passa e algumas dificuldades financeiras inesperadas atrasam a obra, deixando esse sonho em segundo plano. Assim, a protagonista enfrentará conflitos que vão desde os embates com sua mãe, o descaso do marido que está em São Paulo, os pensamentos sobre o futuro para seu próximo filho, até as dificuldades de se entender com seu filho mais velho.


O roteiro encaixa uma situação para entendermos um todo. A partir das dificuldades na compra do material da nova piscina, vamos caminhando pelos conflitos que se seguem, esses na verdade chegam por meio de reflexões sobre a vida e as dificuldades ligadas à responsabilidade. Mãe, mulher, grávida e muitas vezes se sentindo sozinha, Paula se vê em dúvidas sobre como reagir a tudo que passa como um nuvem carregada nesse momento de sua vida. Há um processo de transformação da personagem como se a partir de tudo que está vivendo um forte tom reflexivo se envolve nela definindo, talvez, até mesmo seus próximos passos na maneira de lidar com sua vida.


Há um reflexo, que podemos enxergar como um paralelo a todo o panorama político e econômico que se encontra o Brasil de hoje repleto de crises sem fim que são despejados na população onde muitos sonhos ficam somente na teoria.