Escrito e dirigido por Ron Shelton, cerca de 30 anos atrás chegava aos cinemas de todo o mundo a história de dois jogadores de basquete de rua, um homem negro e um homem branco, que buscam suas respectivas sobrevivências em malandragens combinadas onde as ações e consequências preenchem com brilhantismo uma narrativa empolgante. Tendo o basquete como plano central, o mais interessante é o que está nas entrelinhas: da amizade ao preconceito, das desilusões aos sonhos perdidos, das frustrações aos lapsos de felicidade. Reza a lenda que Stanley Kubrick tinha esse filme como um dos favoritos a vida.
Na trama, conhecemos Sidney (Wesley Snipes) e Billy (Woody
Harrelson), o primeiro um homem casado que divide seu cotidiano como agente
imobiliário e jogador de basquete de rua se jogando impulsivamente em apostas
diárias. O segundo é um atrapalhado jovem que praticamente vira um nômade,
levando sempre consigo um violão e uma bola de um dos esportes mais populares
dos Estados Unidos, ao lado da namorada Gloria (Rosie Perez), pois está devendo dinheiro para mafiosos locais, em
busca de algum trocado tenta a sorte pelas quadras se fazendo de péssimo
jogador mas acertando a cesta a todo instante. Ambos vão aos poucos descobrindo
uma improvável amizade e bolam planos de golpes juntos pelas quadras de Venice
beach, na Califórnia.
Quando a maturidade bate à porta, as opções se tornam mais
evidentes. Pegando o gancho de interações e visões de um dos esportes mais
populares da América, a narrativa se aprofunda em dramas pessoais e pelo
contexto das entrelinhas busca um recorte social impactante flertando a todo
instante ao conceito de ‘terra das oportunidades’. O olhar de cada um dos
protagonistas sobre o que seria um futuro ideal acaba sendo uma variável
flutuante, dinâmica, muito difícil de se enxergar mas com pistas dos caminhos
que não pode se deixar levar caso queira atingir seus objetivos. O vai e vem da
esperança é associado aqui a uma imaturidade, o que de fato nos leva para uma
jornada de desconstrução dos personagens.
Um dos trunfos para o filme se tornar marcante é a química
entre os dois protagonistas em cena. Woody
Harrelson e Wesley Snipes participaram juntos de alguns filmes, antes e
depois desse projeto. Um fato curioso dessa amizade que foi crescendo ao longo
do tempo, é que ambos estrearam nos cinemas no mesmo filme: Uma Gatinha Boa de Bola (Wildcats). Em uma outra curiosidade, o
projeto contou com um consultor sobre o esporte que gira a trama, o ex-pivô do
Detroit Pistons, Bob Lanier.
Com uma trilha sonora maravilhosa, personagens carismáticos,
um roteiro primoroso que faz o espectador refletir sobre a sociedade
norte-americana nos anos 90, Homens
Brancos não Sabem Enterrar aos poucos foi se tornando um clássico quando
pensamos em filmes sobre esportes. Mas esse projeto é muito mais que isso, é um
poderoso retrato sobre os caminhos que aparecem entre os sonhos e as
frustrações.