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08/03/2024

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Crítica do filme: 'Sintonia de Amor' *Revisão*


O significado de milhões de pequenas coisas. Chegava aos cinemas três décadas atrás um filme apaixonante que navega do luto ao recomeço pelas linhas intensas e imprevisíveis do amor. Indicado para dois Oscars, Sintonia de Amor contorna a melancolia com a esperança trazendo carismáticos personagens que são levados para um encontro às cegas num tempo onde o Tinder nem pensava em existir. Dirigido pela cineasta Nora Ephron, esse é um dos três filmes estrelados pela dupla Tom Hanks e Meg Ryan. O mais rentável de todos eles.

Na trama, conhecemos Sam (Tom Hanks), um arquiteto de luto que se muda para Seattle com o filho em busca de um novo recomeço após a morte da esposa. Um ano e meio depois e sem avançar muito no luto ainda intenso, numa noite de natal seu filho resolve enviar uma mensagem para um programa de uma rádio pedindo ajuda para o pai arranjar uma nova esposa. A mensagem toca os corações de muitos, inclusive da jornalista Anne (Meg Ryan) que embarca em uma viagem para conhecer essa família de dois.

Inspirado no clássico da década de 50, Tarde Demais para Esquecer, a narrativa segue em paralelo as vidas de Sam e Anne tendo como interseção a possibilidade do amar. Assim, vemos um possível encontro entre um homem abalado pelo trauma que perdeu um pouco da esperança de amar intensamente e de uma mulher sonhadora que percebe aos poucos que o seu presente não é da forma como queria. A construção dos personagens, seus dramas e conflitos, são vistas de formas separadas.

O sentido de família aqui é muito bem explorado pelo roteiro. Do luto ao recomeço, há um enorme espaço onde o desenvolvimento dos personagens acontecer através dos olhares para os conflitos, não só dos protagonistas mas dos coadjuvantes que os cercam, que se seguem mesmo tendo o exagero, as licenças poéticas em muitas linhas. Aqui o impossível é aproximado ao inusitado, ou ao ar de sabedoria do destino, fato esse que aproxima os corações sonhadores do lado de cá da telona.

Um ingrediente é fundamental por aqui! A trilha sonora é marcante, com lindas versões de clássicos da música. Nat King Cole, Louis Armstrong, Céline Dion, Joe Cocker são algumas das vozes que ouvimos em canções fabulosas, como: As Time Goes By, When I Fall In Love, A Kiss To Build A Dream On.

Duas curiosidades sobre o filme. A primeira é que Tom Hanks e Meg Ryan só tiveram cerca de dois minutos de tempo de tela juntos em cena. A segunda, é que durante a sua folga, Tom Hanks começava a gravar a dublagem do primeiro Toy Story.

Sintonia de Amor é um sucesso dos anos 90, um filme para todos os românticos continuarem suas caminhadas na esperança de que o grande amor da vida existe e pode te encontrar em qualquer lugar.



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05/01/2024

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Crítica do filme: 'Showgirls' (Revisão)


Um absurdo ou uma sátira escancarada do American Dream? Nascido de um rabisco em um guardanapo durante as férias do roteirista húngaro Joe Eszterhas, que recebeu quase quatro milhões de dólares pelo roteiro, um dos filmes mais polêmicos dos últimos 50 anos, Showgirls até hoje gera ótimos debates. Orçado em cerca de 45 milhões de dólares, um valor bem elevado para os filmes daquela época, o projeto busca de algumas formas explícitas, exageradas, com algumas cenas realmente chocantes, mostrar as desilusões e a ambição abraçadas na inconsequência tendo como pano de fundo a exploração de strippers em uma Las Vegas dos anos 90 aos olhos de uma conturbada protagonista.

Na trama, conhecemos Nomi (Elizabeth Berkley), uma jovem com um passado misterioso que parece ter se metido em muitas encrencas mas sempre tendo o sonho de ser uma dançarina profissional. Ela então resolve ir para uma cidade de oportunidades de vida noturna pulsante, mas seu início já se apresenta com o pé esquerdo. Mal chega à Las Vegas, de carona, é roubada mas esse acontecimento a faz encontrar Molly (Gina Ravera), uma figurinista do show mais badalado da cidade que nunca dorme. Assim, Nomi começa a buscar entender essa cidade e fica fascinada com as oportunidades que vai conseguindo até chegar ao desejo de ser a estrela principal do mais badalado show do lugar.

O ano de 1995 ficaria marcado na carreira do cineasta holandês Paul Verhoeven, responsável pela direção dessa obra. Se unindo ao já mencionado roteirista Joe Eszterhas, que escreveu os sucessos Flashdance e Instinto Selvagem, tinha a missão de transformar em imagens e movimentos uma crítica social tendo como elementos um recorte do caos emocional e o brilho de um sonhar sob a ótica de uma mulher sem muitas escolhas na vida. O caminho adotado, gera interpretações diversas e marcou para sempre a trajetória profissional da atriz Elizabeth Berkley.

Existe uma certa obviedade que o filme busca, através de uma crítica social, refletir sobre o caos da junção entre ambição e oportunidade em um mundo desigual, onde o entretenimento está aliado ao poder. Mas é super compreensivo que o chocar dentro da narrativa além das cenas constantes de nudez podem atrapalhar um pouco os olhares nessa direção. Mas a questão que pode mais deixar em total confusão o olhar do espectador é em relação a trajetória de conflitos de sua principal personagem, seu arco dramático é embolado limitando as reflexões para as chamativas cores pulsantes usadas em grande parte das cenas que denotam intensidade mas que não se completam com o caminho da misteriosa protagonista. 

A piada sensual, pode virar sensacional depende de como você enxerga. Impopular e em alguns casos até ridicularizado por muito tempo, Showgirls foi um enorme fracasso de bilheteria, inclusive indicado ao famoso ‘Framboesa de Ouro’, na sua décima sexta edição, onde levou muitos prêmios. Um fato curioso foi que o diretor Paul Verhoeven compareceu pessoalmente para receber aos prêmios, se tornando o primeiro cineasta a ir buscá-los numa cerimônia. Mas as críticas negativas daquela época não apagaram outros olhares futuros para a obra, logo se tornando um clássico cult.

Além de tudo, essa é uma produção repleta de curiosidades fora do set de filmagem. O papel principal foi disputado por nomes famosos como: Angelina Jolie, Denise Richards (que trabalhou com Verhoeven mais tarde no ótimo Tropas Estelares) e Charlize Theron. Imagina algumas dessas atrizes nesse papel? Outro fator curioso é que o filme foi banido na Irlanda sendo exibido por lá somente nos anos 2000. E não podemos esquecer do sucesso que foi a venda de home vídeos (vhs, Dvd, bluray) desse filme que beirou a casa dos 100 milhões em vendas!

Em resumo, essa produção seguirá sendo debatida ao longo dos próximos anos. É um daqueles casos de amo ou odeio! 

 

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14/12/2023

Crítica do filme: 'Vampiros de John Carpenter'


Quando pensamos em filmes de vampiros é impossível não citarmos Vampiros de John Carpenter como um dos mais famosos sobre essas temidas criaturas da noite, lançado 25 anos. Depois de uma série de fracassos em sequência, o cineasta e roteirista John Carpenter conseguiu emplacar enfim esse enorme sucesso que só na semana de estreia faturou quase 10 milhões de dólares. Vagamente baseado na obra Vampire$ de John Steakley, essa obra-prima do terror com pitadas de faroeste tem um elenco fabuloso, com personagens na corda bamba da inconsequência, fugindo de questões filosóficas ou até mesmo de qualquer pilar da moral.


Na trama, acompanhamos a jornada sangrenta e bastante perigosa do caçador de vampiros Jack Crow (James Woods), um homem que passa seus dias caçando perigosas criaturas da noite respondendo apenas a igreja por meio de um bispo. Quando em uma de suas missões, um perigoso mestre vampiros chamado Jan Valek (Thomas Ian Griffith) aniquila quase toda sua equipe, em uma emboscada inesperada, Jack embarcará em uma estrada de vingança e destruição em busca de um artefato católico ao lado do amigo Anthony (Daniel Baldwin) e o padre Adam (Tim Guinee).


Com filmagens realizadas no Novo México, o filme nos mostra vampiros que tem puro objetivo destruir o próximo para continuarem vivos, nada de linha de pensamento sobre suas próprias existências nem atalhos para reflexões sobre a solidão. Tudo é muito objetivo, com a selvageria se tornando uma marca dos antagonistas. Tanto Jack como Valek possuem semelhanças mesmo dentro de uma imposição hollywoodiana na quase sempre vista necessidade do esteriótipo do herói e vilão. Essa realidade mais assustadora do elemento vampiro, diferencia esse filme de outros tantos tendo esses personagens.


A narrativa é empolgante com cenas impactantes. Os dilemas circulam os conflitos do personagens de forma dinâmica. O melhor exemplo disso é a subtrama em que se envolvem Anthony e Katrina, um elo se constrói dessa peculiar relação, ela recém mordida, ele se jogando num possível amor mesmo com a iminência da tragédia sendo muito bem entendida pelas partes. A forma como eles lidam com tudo isso acaba sendo um combustível para dar ritmo ao filme se tonando uma peça chave na conclusão.


Uma das chaves do sucesso dessa obra é a composição de seu elenco. James Woods foi uma escolha certeira para o papel do protagonista. Ele, que nunca havia sido um herói de filme de ação e brindou o público com diálogos memoráveis e cenas de ação de tirar o fôlego, dando uma carga emocional conflitante para seu selvagem personagem. Sheryl Lee foi escolhida para o papel da prostituta que vira vampira após sua participação no lendário seriado de David Lynch, Twin Peaks. Daniel Baldwin ganhou seu papel após o personagem que interpretou ser oferecido ao seu irmão Alec, que o indicou. Thomas Ian Griffith consegue se tornar um dos maiores vilões de um filme dos anos 90 dando vida a Jan Valek mesmo com apenas 18 falas em todo o roteiro!


A dubiedade do gênero cinematográfico acaba sendo uma das questões que mais chama a atenção quando pensamos nessa produção. O terror é evidente mas o faroeste se mostra fortemente presente, uma fórmula que dá muito certo. O sucesso foi tanto que a produção ganhou duas continuações: Vampires: Los Muertos e Vampires: The Turning.


Para quem quiser conferir, Vampiros de John Carpenter está disponível para aluguel no youtube por um precinho camarada!



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Crítica do filme: 'Cidade dos Anjos'


Um clássico revisitado sob as linhas do melodrama. Duas décadas e meia atrás o cineasta Brad Silberling recebeu a tarefa de recriar a essência de uma história marcada pelo cineasta Wim Wenders num clássico da década de 80 adaptando para os moldes do cinema hollywoodiano onde a filosofia marcante da obra original é quase jogada pra escanteio e onde o melodrama domina as ações. Como protagonistas, dois rostos conhecidos de uma década de 90 vitoriosa do cinema norte-americano e seus filmes de romance: Nicolas Cage e Meg Ryan. Mas o grande destaque de Cidade dos Anjos é sua trilha sonora, indicada ao Grammy no ano de 1999.


Na trama, conhecemos um anjo chamado Seth (Nicolas Cage), uma alma imortal que tem a missão de olhar pelas pessoas em aflição em uma Los Angeles da atualidade. Quando ele começa a se aproximar da história da médica Maggie (Meg Ryan), uma intensa paixão logo toma conta dele fazendo com que o mesmo opte pela mortalidade mesmo sabendo os riscos desse desejo.


Esse enlatado norte-americano não envelhece tão mal quando revemos. A história original, vista em Asas do Desejo, é algo muito mais profundo, ligando pontos de filosofia e metáforas dentro de um contexto de uma Berlim ainda com o famoso muro intacto. O refletir sobre a existência era algo rico em caminhos para nosso refletir. Nessa adaptação norte-americana, as estradas são moldadas pelas resoluções simples de uma história de amor que flerta com a tragédia dentro de uma iminência nada feliz.


Não consigo ver você. Mas sei que você está aí. A narrativa desse remake leva o espectador rapidamente ao clímax do discurso proposto gerando perguntas implícitas nas ações dos personagens: o que você faria no lugar do anjo Seth? Se jogaria na imortalidade, mesmo sabendo de todos os problemas de nós meros mortais? Se apaixonar é mesmo uma razão de existência, nada fica 100% completo sem o amor? A condução disso em forma de narrativa escorrega nos clichês mas tem lá sua importância através do existencialismo, uma característica muito forte dessa história.


A trilha sonora é o ponto mais impactante dentro da narrativa. Realmente uma seleção que vale a pena ter no seu player musical, indicada ao Grammy e ao Globo de Ouro. Nomes como: Alanis Morissete, Jimi Hendrix, Eric Clapton, Goo Goo Dolls e U2 brindam o espectador com canções maravilhosas. Sobre esse fato duas curiosidades:


A primeira é que a banda Goo Goo Dolls conseguiu chegar ao estrelato com a canção ‘Iris’, um dos maiores sucessos dos anos 90 e até hoje muito associada ao filme. A segunda curiosidade gira em torno do U2, única banda que esteve presente na trilha do filme que é a continuação da versão original (Tão Longe, Tão Perto), com a canção ‘Stay Faraway, So Close!’. Em Cidade dos Anjos eles entregam a belíssima ‘If God Will Send His Angels’.


Com direito a uma aparição surpresa como ator do cineasta Michael Mann em uma das cenas, Cidade dos Anjos é um daqueles filmes que a maioria dos cinéfilos para pra ver quando está passando. Foi um dos grandes sucessos da carreira de Nicolas Cage e Meg Ryan, conseguindo alcançar a poderosa marca de 200 milhões de dólares em bilheterias de todo o mundo e somente no Brasil levou mais de 1 milhão de pessoas as cinemas (num ano que teve sucessos como Titanic e Armageddon).


Para quem quiser conferir, o filme está disponível na HBO Max.



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Crítica do filme: 'Morte no Nilo' (1978)


O poder e o amor. Em uma das primeiras adaptações para as telonas de um dos maiores clássicos de Agatha Christie tendo o brilhante detetive belga Hercule Poirot como protagonista, Morte no Nilo lançado em 1978 é um daqueles mistérios mirabolantes que são difíceis de saírem de nossas memórias. Navegando na águas conturbadas entre o poder e o amor, em uma análise fria e objetiva do ser humano e seu egoísmo descarado, vamos acompanhando intrigantes personagens e seus atos inconsequentes. Na pele do protagonista, o Cavaleiro da Ordem do Império Britânico Peter Ustinov.


Na trama, encontramos Hercule Poirot (Peter Ustinov), lendário detetive, que curte suas férias no Egito mas logo se vê envolvido em um caso misterioso. Durante um passeio de barco pelo rio Nilo, uma milionária chamada Linnet Ridgeway (Lois Chiles), odiada por muitos presentes nesse local, é assassinada a sangue frio enquanto dormia. Com muitos suspeitos e subtramas ligadas a ganância e amores perdidos, Poirot enfrentará um verdadeiro quebra-cabeça para resolver o caso.


Primeira aparição como Hercule Poirot do ator britânico Peter Ustinov, que voltou a representar esse glorioso papel mais cinco vezes, três em filmes lançados nos cinemas, outros três em filmes lançados diretamente para televisão, Morte no Nilo e suas intensas duas horas e dez de projeção consegue ambientar o espectador ao universo das emoções em conflitos, beirando à inconsequência.


A ganância é um dos pilares da história. O assassinato de uma herdeira, odiada, que roubou o namorado da melhor amiga, prejudicou uma de suas empregadas e se viu envolvida por atos duvidosos de seus familiares ao longo do tempo viram munição para uma narrativa que busca a aflição, o passo em falso, onde o detalhe captado em uma cena será de grande valor nas revelações finais.


O diretor do filme, o britânico John Guillermin, consegue colocar o espectador como uma espécie de mais um personagem. O clima de tensão é constante, é o tipo de filme onde o espectador também consegue brincar de detetive, tentando montar as peças desse tabuleiro tenebroso onde um assassino está presente. Quem já leu o livro vai logo se identificar com a riqueza que é vista nos detalhes, inclusive a direção de arte é impecável.


O elenco é poderoso! Jane Birkin, Lois Chiles, Bette Davis, Mia Farrow, Angela Lansbury, David Niven, Maggie Smith e Jack Warden brindam o público com ótimas atuações. O somatório de indicações ao Oscar dos artistas (por outros trabalhos) é 28, com oito vitórias! E essas filmagens foram realizadas no Egito, em meio a um sol escaldante com temperaturas na casa dos 50 graus celsius!


Lançado 41 anos após a primeira edição do livro de Agatha Christie e vencedor do Oscar de Melhor Figurino, o filme tem uma curiosidade bem legal: algumas cenas foram filmadas no Old Cataract Hotel, em Assuã, no Egito, onde Agatha Christie se inspirou para escrever essa história, durante férias que tirou no final da década de 30.


Para quem quiser conferir, o filme está disponível no catálogo da Prime Video.



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Crítica do filme: 'Jerry Maguire - A Grande Virada'


O amor e o poder na era da ganância. O concorrido, midiático e rentável universo dos esportes americanos vira pano de fundo para uma história de amor e dedicação aos olhos de um workholic que precisa redesenhar seus objetivos passando por aprender a dar valor aos que o cercam na vida pessoal. Assim, podemos rapidamente definir Jerry Maguire - A Grande Virada, um dos melhores filmes dos anos 90 escrito e dirigido pelo cineasta californiano Cameron Crowe, inspirado na vida do agente esportivo Leigh Steinberg.


Na trama, conhecemos Jerry Maguire (Tom Cruise), um badalado empresário de esportistas que vai do céu ao inferno quando, no auge da carreira, é demitido da empresa onde trabalha. Buscando um recomeço no mercado competitivo que está, vai em busca de firmar parceria com um jogador de futebol americano chamado Rod (Cuba Gooding Jr.) que é puro coração. Nessa jornada, Jerry contará com a ajuda da ex-secretária Dorothy (Renée Zellweger) com quem viverá um grande amor.


Quinto filme consecutivo de Tom Cruise com mais de 100 milhões de dólares em faturamento de bilheteria (algo que se repetiria mais pra frente na sua vitoriosa carreira), Jerry Maguire navega pelo olhar crítico ao capitalismo, onde o dinheiro e o poder se tornam obsessão de muitos deixando para trás laços importantes. As redescobertas do protagonista, numa óbvia relação a uma jornada de redenção se mesclam com uma história de amor água com açúcar mas mesmo assim carismática. Nessa última parte vale o destaque para a atriz Renée Zellweger que na época estava em baixa na carreira.


A narrativa percorre conflitos emocionais ligados a uma era de obsessões, uma frenética corrida por posição social. As linhas do roteiro surgem cheias de críticas sociais, uma forma bastante madura de refletir um eterno estado de aflição. O panorama midiático é muito bem estabelecido pelas lentes do ex-repórter da Revista Rolling Stones Cameron Crowe, um cineasta brilhante, com um olhar cirúrgico para os epicentros de um discurso.


Na trilha sonora, outra área que Crowe conhece como poucos, a produção teve permissão de ninguém mais ninguém menos que Paul McCartney para usar duas partes instrumentais das canções ‘Singalong Junk’ e ‘Momma Miss America’ que estiveram no álbum McCartney lançado pelo eterno beatle no início da década de 70.


Indicado para cinco Oscar, venceu na categoria Melhor Ator Coadjuvante (Cuba Gooding Jr.), e com um orçamento na casa dos 50 milhões de dólares, o filme faturou quase 300 milhões em bilheterias em todo o mundo, se tornando um enorme sucesso. Pra quem se interessar, o filme está disponível na Paramount Plus, Prime Video e HBO Max.



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Crítica do filme: 'A Casa do Lago'


O inusitado relacionamento em pontos separados do tempo. Buscando um amplo olhar para as linhas conturbadas da solidão, mesmo em uma parábola absurda, um encontro improvável, de duas almas complementares dentro de uma confusa história, A Casa do Lago consegue levar os espectadores para um jogo pelas emoções e conflitos familiares. Remake do longa-metragem sul-coreano Siworae, escrito por Ji-na Yeo e Eun-Jeong Kim, essa fita norte-americana dirigida pelo cineasta argentino Alejandro Agresti flerta com a fantasia para mostrar a realidade de muitos corações a espera de um grande amor.


Na trama, conhecemos Alex (Keanu Reeves) um arquiteto solitário que tempos atrás teve problemas sérios com o pai, o famoso arquiteto Simon (Christopher Plummer), e acaba voltando para a cidade onde nasceu buscando uma reaproximação com a família. Paralelo a isso também conhecemos a médica Kate (Sandra Bullock), uma mulher também solitária que sofre com as perdas em seu intenso trabalho. Esses dois personagens, Alex e Kate viveram em tempo diferentes na mesma casa num lago e surpreendentemente começam a trocar cartas mesmo não estando no mesmo ano.


A confusão na linha temporal, e todos os absurdos que a compõe, não estraga uma experiência que aborda conflitos emocionais aos montes. O primeiro ponto é a solidão como um alicerce de personalidade importante, talvez o maior dos elos que envolve os protagonistas. Por esse olhar percebemos melhor os conflitos e algumas escolhas que se seguem ao longo do tempo. A melancolia é outro ponto notório, parece que o destino se torna algo sempre muito doloroso para as escolhas que fixam os protagonistas em suas vidas.  O despertar para mudanças acaba vindo do inusitado, do mágico e mesmo a forma confusa como isso é representado em forma de narrativa não atrapalhe a ponte para reflexões.


O roteiro muitas vezes nos faz pensar no que faríamos se fossemos os personagens. Quem nunca esperou um grande amor brotar bem na sua frente em algum momento da vida? Você embarcaria numa história de amor além do tempo? E se você pudesse mudar o destino? As perguntas são inúmeras e chegam como verdadeiras flechas que acoplam em nosso pensar. A sensibilidade para tratar o amor por aqui não deixa de se vincular das duras verdades que a vida pode colocar no nosso caminho.


E em falar em amor, esse sentimento contagiante, explosivo, que chega poucas vezes em nossas trajetórias é uma mola propulsora para o arriscar dos personagens envoltos também em crises familiares profundas ligadas as dores da perda. Os contornos e o desabrochar desse sentimento acaba sendo a fortaleza em meio a incongruências graves no seguimento dessa história que encontra sua lógica quando esquecemos da absurda linha temporal.  


Com um orçamento na casa dos 40 milhões de dólares e com um faturamento ultrapassando os 100 milhões em bilheterias em todo o mundo, esse reencontro entre Keanu Reeves e Sandra Bullock nas telonas (após o clássico de ação Velocidade Máxima) não deixa de ser um caso de sucesso na concorrida indústria cinematográfica.


Para quem se interessar em assistir a esse filme, a produção está disponível no catálogo da HBO Max.



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01/11/2023

Crítica do filme: 'Férias Frustradas' (1983)


Quando o trajeto faz parte da diversão. O que mais desejamos quando estamos atolado de trabalho e sem tempo para nossa família? Férias! Pegando essa deixa que mora no imaginário de todos nós trabalhadores, em 1983, chegava aos cinemas a hilária comédia Férias Frustradas que nos mostra a saga de uma família de classe média norte-americana em uma mirabolante viagem de carro de Chicago até a Califórnia. O roteiro é do craque John Hughes, baseado em uma crônica dele mesmo sobre uma viagem que fez à Disneyland quando criança, escrita na revista norte-americana National Lampoon.


Na trama, dirigida por Harold Ramis, conhecemos a família Griswold. No leme, o atrapalhado Clark (Chevy Chase), um pai de família já cinquentão que organiza uma viagem de carro durante as férias até um famoso parque de diversões cerca de 4.000 quilômetros longe da casa deles. Com ele, embarcam nessa viagem a esposa Ellen (Beverly D'Angelo) e os dois filhos do casal. Só que nada será muito fácil para eles completarem o objetivo uma série de imprevistos que começam logo na troca do carro da família e se segue estrada a dentro.


Batendo na tecla dos conflitos familiares, a comédia não se aprofunda nas relações deixando um enorme espaço para a ação e consequência através de um protagonista atrapalhado que diante de um egocentrismo próprio faz de tudo para conseguir chegar no seu objetivo. Passando por Missouri, Colorado, Arizona até chegar na Califórnia, o filme logo se torna um road movie com o contexto de um Estados Unidos dos anos 80. A deixa para o forte tom cômico que se instaura de maneira desenfreada chega através dos desastrosos momentos que acontecem um atrás do outro.


Faturando mais de 60 milhões somente nas bilheterias norte-americanas, Férias Frustradas se tornou uma das comédias mais famosas da década de 80 sendo lembrada até hoje pelas gerações seguintes. Inclusive ganhou um remake em 2015 protagonizado por Ed Helms e Christina Applegate.



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Crítica do filme: 'Os Embalos de Sábado à Noite'


Muito mais do que um filme dançante, Os Embalos de Sábado à Noite joga na tela o machismo descarado fruto de uma juventude repleta de rebeldia, inconsequente, aos olhos de um impactante protagonista que embarca em uma tentativa de desconstrução quando percebe o que o futuro pode lhe reservar se continuar naquela rotina. Dirigido pelo britânico John Badham, e com o roteiro baseado em um artigo de Nick Cohn para o jornal The New York Times, o filme ficou marcado pela sua incrível trilha sonora, com muitas canções famosas (Night Fever, How Deep is your Love?, Stayin' Alive) assinadas pela banda australiana Bee Gees.


Na trama, conhecemos Tony Manero (John Travolta), um jovem perto dos 20 anos, morador de uma Nova Iorque no final dos anos 70, sem sonhos de estudos no futuro, perdido na ilusão de sua rotina de farra com os amigos. Ele trabalha numa loja de construção e faz parte de uma família conservadora, descendentes de italianos, religiosa, inclusive com o irmão padre. Suas discussões em casa são frequentes, parecem não se entenderem, principalmente com o pai que está desempregado. Quando chega à noite, Tony ajeita o topete, pega sua melhor roupa e vai com os amigos arruaceiros para a pista de dança de uma badalada boate local onde arrasa nas pistas de dança. Um dia conhece Stephanie (Karen Lynn Gorney) com quem treinará para participar de um concurso de dança, uma mulher que vai fazê-lo aos poucos refletir sobre a vida que leva.


Ambientado em uma Brooklyn (um dos mais famosos bairros de Nova Iorque) pulsante dos anos 70, Embalos de Sábado à Noite é um forte drama existencial que camuflado de uma narrativa que dá ênfase as cenas de dança que marcaram a trajetória do filme no imaginário dos espectadores, busca refletir sobre os sonhos, oportunidades e os conflitos de um cotidiano limitado a uma bolha criada pelo próprio caminho até ali. Tony Manero busca a desconstrução quando sua bolha é furada por uma pessoa que o faz enxergar novas direções. 


Aqui no Brasil mais de 6 milhões de pessoas foram aos cinemas conferir o filme. O álbum musical com a trilha sonora do filme foi um recordista de vendas, com mais de 20 milhões de exemplares vendidos. O longa-metragem também rendeu a primeira indicação ao Oscar pra John Travolta (na categoria Melhor Ator). Pra quem quiser assistir, o filme está disponível no catálogo do Telecine.

 


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Crítica do filme: 'Cegos, Surdos e Loucos'


A força da amizade em mundo que parece nunca ser encaixar na sua trajetória. Dirigido pelo cineasta canadense Arthur Hiller, Cegos, Surdos e Loucos é uma hilária jornada de dois homens que mal se conhecem, um deficiente visual e um deficiente auditivo que gira em torno do não aceitar suas condições. Terceiro trabalho juntos da dupla de comediantes Richard Pryor e Gene Wilder o filme se consolidou como uma das grandes comédias dos anos 80.


Na trama, conhecemos Wally (Richard Pryor) e Dave (Gene Wilder), o primeiro um mal-humorado deficiente visual, que perdeu a visão após um acidente segue em sua busca por um emprego. O segundo, ex-ator que perdeu a audição aos 8 anos e virou dono de uma lojinha num edifício comercial que insiste aos próximos não ser surdo. Quando o destino une essas duas almas, após Wally ir trabalhar pra Dave, ambos são envolvidos em uma investigação de assassinato. Para tentar limpar o nome deles, já que são acusados pela polícia mesmo não sendo os responsáveis, enfrentarão diversas situações pra lá de inusitadas em busca dos verdadeiros culpados.


O roteiro se molda em relação aos conflitos que se seguem no modo como os protagonistas se relacionam com suas condições. Ambos andam em negação por conta de suas deficiências, aqui um ponto de reflexão importante. A pitada generosa de comédia é fundamental para o ritmo dinâmico que a narrativa se estabelece, provocando risos constante para todos os lados oriundos de situações inusitadas que a dupla se mete. Pryor e Wilder, dois craques do humor, entregam seu talento para os protagonistas.


Cegos, Surdos e Loucos foi lançado no Brasil no final da década de 80 e pode ser considerado um humor caricato por alguns mas a maneira como os personagens refletem e seguem em frente sobre as próprias deficiências fazem desse trabalho um marco importante trazendo dois deficientes como protagonistas de um filme hollywoodiano. Infelizmente o filme não se encontra em nenhum streaming disponível no Brasil. Se você tiver a chance de assistir algum dia, veja!



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31/10/2023

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Crítica do filme: 'Incêndios'


A morte nunca é o fim de uma história. Um dos filmes mais devastadores dos últimos tempos, com um desfecho inesperadamente surpreendente, Incêndios é até hoje a obra-prima do badalado cineasta canadense Denis Villeneuve.  Baseado na peça teatral Incendies, de Wajdi Mouawad, e também, parcialmente baseado na vida da ativista libanesa Souha Béchara, o projeto nos leva de forma impactante para uma história que tem o amor em várias esferas, constante, mesmo esse encontrando uma terra de incansáveis conflitos que se preenchem por verdades nunca ditas. Esse é um daqueles filmes que ficamos pensando durante dias e nunca mais esquecemos.


Na trama, conhecemos os irmãos gêmeos Jeanne (Mélissa Désormeaux-Poulin) e Simon (Maxim Gaudette) que chegam para a leitura do testamento que a mãe lhes deixou. Após serem surpreendidos com a possibilidade nada remota do pai estar vivo e a descoberta que eles tem um irmão, primeiro Jeanne e depois Simon embarcam para o Oriente Médio para descobrir as verdades escondidas de sua própria família tendo como epicentro a quase inacreditável história da mãe deles, Nawal (Lubna Azabal).


Indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, Incêndios nos mostra as verdadeiras vítimas de um conflito, a ruptura de uma criação, o despedaçar de um coração materno em sua constante luta por um reencontro. Somado a isso, a narrativa de maneira muito habilidosa nos transporta pra o presente na visão de dois irmãos que se conectam a essa história cada qual no seu tempo. A matemática Jeanne dá os primeiros passos atrás dos desejos da mãe, sendo surpreendida a todo instante e precisa da sua outra metade para completar o restante de ciclo que escondia as verdades sobre a trajetória da própria mãe. Todas as peças são captadas de forma cirúrgica pelas lentes de Villeneuve que mostra um total domínio sobre a história que quer contar.


As ideias só existem se alguém as defende. Filmado na Jordânia e em Montreal, a ambientação da história não é declarada, sabemos apenas que se passa no Oriente Médio, mas entendemos alguns conflitos provocados por adeptos de milícias cristãs direitistas e seus autodeclarados inimigos. O choque entre o passado e o presente se torna uma enorme aula de geopolítica e essa contextualização é um elemento importante, mais um personagem, um ponto fixo que rodeia a saga da protagonista brilhantemente interpretada pela atriz belga Lubna Azabal.


Como dito no início, a morte nunca é o fim de uma história, e por aqui essa verdade transparece até o último minuto. Incêndios possui um final avassalador, que mexe com nossas emoções. Um filme forte, impactante que nunca esqueceremos. Essa obra-prima está disponível no catálogo do Reserva Imovision. Imperdível.



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Crítica do filme: 'Quero ser Grande'


Quando a imaturidade salta abruptamente ao encontro da maturidade. Partindo de uma inacreditável história de um garoto que se transforma num adulto após um pedido, um dos filmes mais lembrados da década de 80, Quero Ser Grande, nos mostra um confronto entre a imaturidade e as diferentes formas de entender a vida. Lançado no final da década de 80, dirigido pelo atriz e cineasta nova iorquina Penny Marshall, o projeto foi indicado a dois Oscars, inclusive marcando a primeira indicação ao prêmio mais famoso do cinema do astro Tom Hanks.


Na trama, conhecemos Josh (David Moscow/Tom Hanks), um jovem garoto de 12 anos que vive seus dias de aventuras e descobertas ao lado do inseparável amigo Billy (Jared Rushton). Um dia, durante uma ida ao parque de diversões e uma tentativa frustrada de se aproximar de uma garota que adora, acha uma máquina de pedidos num lugar isolado do parque, e logo ele pede pra ser mais velho. No dia seguinte, Josh acorda mais velho e logo se meterá em muitas confusões tentando viver uma vida de adulto, inclusive conseguindo um emprego numa empresa de brinquedos, conhecendo assim Susan (Elizabeth Perkins).


A narrativa leve e divertida não esconde as reflexões na linha existencialista, nas diferentes formas de entender o momento, onde a imaturidade ganha um salto desproporcional para a maturidade da vida adulta. A grande sacada do roteiro, de envolver uma empresa de brinquedos na nova vida do protagonista, se torna um alicerce para pontos profundos sobre os conflitos emocionais que os personagens passam, não só o personagem principal.


Quero ser Grande é uma comédia com ar de fantasia que traça seus paralelos com o mundo real de forma emocionante, desde as descobertas do amor, da importância do trabalho, até mesmo a fundamental estrada de se passar por conflitos e as maneiras como o entendimento de suas ações tornam a vida com um maior sentido.  



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Crítica do filme: 'Tropas Estelares'


A reflexão por trás do militarismo. Uma das incríveis contribuições cinematográficas da carreira do excelente cineasta holandês Paul Verhoeven foi sem dúvidas Tropas Estelares, longa-metragem de ficção científica que adota em sua narrativa, muitas vezes debochada, satírica, a violência como ponto de conexão ao refletir através de uma premissa que nos leva a um futuro onde a humanidade está à beira da extinção. O roteiro é assinado por Edward Neumeier, baseado a partir de um romance escrito pelo engenheiro aeronáutico Robert A. Heinlein publicado na famosa revista The Magazine of Fantasy & Science Fiction.


Na trama, conhecemos Johnny Rico (Casper Van Dien), um jovem estudante que por conta de seu amor por Carmen (Denise Richards) resolve se alistar ao serviço militar quase ao mesmo tempo da explosão de uma intensa batalha entre a humanidade e enormes insetos. Acontece que Rico e Carmen acabam indo para lados opostos nas forças militares, ela para a força aérea ele para a infantaria. Seguindo caminhos opostos em uma guerra sem precedentes, Rico aos poucos vai se tornando o líder de batalhões de combate e se aproximando da ex-amiga de escola Dizzy Flores (Dina Meyer).  


Um dos pontos que mais chama a atenção nesse projeto, que completou 27 anos em 2023, é a crítica feroz ao militarismo, algo que chega de forma muitas vezes por ironias seja nas chamadas da mídia ao serviço militar, seja na maneira de alguns personagens enxergarem o epicentro de uma guerra planetária. Os paralelos com a realidade se amontoam aos montes, acompanhamos os acontecimentos na visão de um jovem, longe de defender utopias, completamente influenciado por uma ideologia perigosa que defende a doutrina militar. Já vimos isso na realidade, não só nos Estados Unidos, não é mesmo?


Insetos gigantescos enviando meteoros de seu planeta Klendathu, cenas empolgantes de ação, lutas de naves em várias órbitas espaciais, o projeto não esquecer do entreter, aqui guiados por uma narrativa que usa do chocar para chamar atenção para as entrelinhas. Indicado ao Oscar de Melhor Efeitos Especiais, esse brilhante trabalho de Verhoeven está disponível na Star Plus. Um filme atemporal que precisa ser visto por todos.

 


 

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Crítica do filme: 'Cantando na Chuva'


Os holofotes aos anos 20, do mudo ao falado, na raiz da essência de uma Hollywood pulsante. Quando pensamos em musicais é impossível não lembrarmos, ou pelo menos não ter ouvido falar, em uma das grandes obras de uma das mais clássicas eras de Hollywood. Cantando na Chuva se veste como uma história de amor para entrar em uma contextualização glamourosa sobre uma transição complicada para artistas na iminência da extinção do cinema mudo e os novos tempos com o cinema falado. Dirigido por Stanley Donen e o próprio Gene Kelly, protagonista do filme, esse é um daqueles clássicos do cinema que você precisa conferir pelo menos uma vez na vida.


Na trama, conhecemos a trajetória do simpático Don (Gene Kelly), já no final da década de 20, antes num início meteórico como dublê, depois ao lado de Lina (Jean Hagen) formam o casal mais badalado no universo das artes, em uma Hollywood repleta de glamour. Certo dia, Don conhece a atriz Kathy (Debbie Reynolds), e logo se apaixona perdidamente, ao mesmo tempo em que o mundo do cinema passa por uma enorme transformação: os filmes mudos parariam de existir e o cinema falado ocuparia todo o espaço. Nessa transição difícil para os artistas da época, acompanhamos Don ao lado de Debbie e do amigo de longa data Cosmo (Donald O'Connor) em busca de se manterem na cena artista norte-americana.


Abrindo as cortinas dos bastidores, na visão dos artistas, de uma Hollywood na transição do cinema mudo para o falado, Cantando na Chuva e seus números musicais contagiantes, pulsantes, estrutura sua narrativa com muita simpatia e carisma através de um romance e a busca pelo estrelato para ir a fundo em uma contextualização que ficou marcada os anos 20 com a chegada do emblemático filme O Cantor de Jazz, onde os espectadores puderam pela primeira vez ouvir as vozes e logo foi percebida a importância e contribuição do som para uma obra cinematográfica. A guerra de egos nos bastidores também é mencionada, com a mídia sensacionalista sempre por perto, além das dúvidas que os mandas-chuvas dos estúdios tinham em relação à já falada transição.


Sem deixar de conseguir se conectar a essência da magia do cinema, que está em todo lugar ao longo dos prazerosos 103 minutos de projeção, e muito mais do que um inesquecível musical, Cantando na Chuva é uma declaração harmoniosa e histórica de uma mudança de paradigmas na mais impactante indústria cinematográfica no mundo.


Pra quem se interessar em assistir pela primeira vez, ou mesmo rever, o filme está disponível no catálogo da HBO Max.



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Crítica do filme: 'Rastro de Ódio'


A saga de transformação de um homem em meio a um borbulhante contexto histórico. Um dos filmes de faroeste mais lembrados da história do cinema, Rastros de Ódio, nos leva para alguns anos depois da maior guerra civil da história dos Estados Unidos, onde acompanhamos a saga de um homem amargurado pelo tempo em busca do paradeiro de sua sobrinha raptada por um grupo de indígenas. Dirigido por um dos mais lendários cineastas de Hollywood, o californiano John Ford, baseado na obra The Searchers, escrita no início da década de 50 pelo romancista norte-americano Alan Le May, Rastros de Ódio é muito mais do que um filme sobre vingança, marcou a cinematográfica mundial e fugiu de uma obviedade com um protagonista em enormes e aparentes conflitos mostrando verdades da época.


Na trama, conhecemos Ethan (John Wayne) um ex-soldado confederado (da parte que lutou pelos estados do Sul na Guerra Civil norte-americana) que visita a casa de seu irmão, no Texas, após alguns anos do término da guerra. Pouco tempo depois, a casa de seu irmão é atacada por um grupo da tribo indígena dos comanches que sequestra Debbie (Natalie Wood) a sobrinha de Ethan e mata o restante da família. Assim, ao lado do filho adotivo do irmão, Martin (Jeffrey Hunter), de quem o protagonista não conhece como sendo família por sua ascendência indígena, Ethan enfrentará diversos conflitos e obstáculos embarcando em uma jornada de longos anos atrás da sobrinha raptada.


Os conflitos emocionais de um protagonista em sua abrupta forma de se encontrar na solidão permanente, também alterando amor e ódio na relação de amizade com o sobrinho, formam a base de construções profundas de personagens amargurados pelo contexto histórico muito ligado à Guerra Civil Americana (também conhecida como Guerra da Recessão). Essa sangrenta batalha entre milícias do sul e norte dos estados unidos, com vitória da segunda região mencionada, afetou demais os estados sulistas que entraram em processo de reconstrução e reintegração aos Estados Unidos. Esse contexto histórico, muito bem explicado na trama, é uma ponta da origem do estado emocional dos personagens.


As filmagens, que ocorreram em regiões americanas com altas temperaturas, acima dos 40 graus muitas vezes, ajudam a narrativa na proximidade de um realismo constante de como eram naqueles tempos. John Ford, diretor de outros excelentes filmes, ficou marcado por esse. A violência abraçada à vingança, um elo que persegue os conflituosos momentos de uma tentativa de resgate, se torna um elemento chave para uma narrativa empolgante que marcou a história do cinema.



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Crítica do filme: 'Labirinto - A Magia do Tempo'


A força dos feitiços e das amizades. Lançado 37 anos atrás nos cinemas de todo o mundo, e depois quase eternizado aqui no Brasil em muitas sessões da tarde, 'Labirinto – A Magia do Tempo' nos leva para um mundo de faz de conta, da fantasia, num lugar onde as coisas nem sempre são o que aparentam ser. A partir da jornada de uma jovem heroína na sua descoberta aos valores morais, com uma narrativa que transforma o roteiro em um criativo percurso com pitadas de veia lúdica, paralelos com as emoções e a realidade são vistos por todos os lados.  


Na trama, conhecemos a jovem Sarah (Jennifer Connelly), uma adolescente que adora histórias de fantasia, principalmente a escrita pelo escritor briânico Sir Thomas Malory, Rei Arthur e os cavaleiros da Távola Redonda. Constantemente irritada, se vendo em frequentes conflitos com a madrasta e se sentindo abandonada em sua família, certo dia após seu pai e sua madrasta saírem e a deixarem sozinha com o meio-irmão, o temível Jareth (David Bowie) sequestra esse último e propõe um desafio para Sarah: ela tem 13 horas para chegar por meio de um complicado labirinto em um castelo para conseguir salvá-lo. Percorrendo esse lugar cheio de figuras mágicas, ela terá a ajuda de seres fantásticos.


Bebendo um pouco da fonte do clássico A História sem Fim, lançado dois anos antes, a fantasia proposta aqui envolve reflexões, para todas as idades, principalmente sobre os valores morais. Não é preciso de uma lupa gigante para se chegar a conclusões com os paralelos do lado de cá da telona. Fadas, duendes, minhocas falantes, são elementos místicos camuflados de um despertar para a maturidade. A amizade chega em várias formas, assim como os conflitos que a vida traz, esse último na pele de um vilão, a personificação total de obstáculos que precisamos vencer atrás do que acreditamos.


Produzida por George Lucas, a aventura com performances musicais marcou gerações de cinéfilos. O projeto conta com cinco canções compostas por David Bowie, intérprete também do conflituoso Jareth. Para quem se interessar em assistir, ou até mesmo rever, o filme está disponível para aluguel no Youtube.



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Crítica do filme: 'Um Tira da Pesada'


A boa e velha malandragem sob a ótica da lei. Pega um roteiro explosivo que segue a estrada de um principal conflito que envolve seu protagonista, chama um dos artistas mais carismáticos da década que é lembrado até hoje, a soma disso é Um Tira da Pesada, longa-metragem que se tornou em pouco tempo um dos filmes de ação de maior sucesso nos anos 80. Dirigido pelo cineasta nova iorquino Martin Brest (que temos mais tardes dirigiria Perfume de Mulher e Encontro Marcado) e indicado ao Oscar de Melhor Roteiro Original no ano de seu lançamento, o projeto busca seu alicerce na dose certa entre ação e comédia.


Na trama, conhecemos o investigador da polícia Axel Foley (Eddie Murphy), um impulsivo homem da lei que investiga da sua maneira os crimes na cidade de Detroit quase sempre causando a fúria de seus superiores. Após um de seus melhores amigos ser assassinado quando o visitava, Axel parte para Beverly Hills em busca de explicações e na caça do principal suspeito. Nesse caminho, seu destino se cruza com os policiais Rosewood (Judge Reinhold) e Taggart (John Ashton).


Filme de maior bilheteria dos cinemas norte-americanos no ano de 1984, na semana de estreia estava em mais de 1.500 salas por todo o Estados Unidos, Um Tira da Pesada consegue em sua narrativa um dinamismo constante que envolve o espectador através do foco em cima de um protagonista malandro, impulsivo, que através de um enorme conflito caminha para o choque de realidade entre forças policiais de lugares diferentes. Sua confiança nunca se abala, um herói que tem seu antagonista bem definido mas sem deixar de trazer reflexões sobre questões que envolvem a sociedade, como o preconceito, os privilégios e as relações entre policiais.


O sucesso foi tamanho que logo vieram o segundo filme em 1987 e o terceiro em 1994. Quase quatro décadas de pois, o quarto filme da franquia sairá nos próximos anos com o retorno de grande parte do elenco original, incluindo o astro Eddie Murphy. Pra quem quiser conferir esse primeiro filme dessa franquia de sucesso, está disponível no catálogo da Paramount Plus.



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Crítica do filme: 'As Pontes de Madison'


Velhos sonhos são bom sonhos, se a realização não vier, foi bom tê-los. Emocionando a todos os corações desde 1995, data de seu lançamento mundial nos cinemas, o longa-metragem dirigido por Clint Eastwood (também um dos protagonistas) As Pontes de Madison pode ser definido de muitas formas, uma delas: O encontro perfeito de duas almas solitárias mas que sentem essa tal da solidão de formas diferentes. Baseado no romance homônimo do escritor norte-americano Robert James Waller, o projeto também reflete sobre o legado que um grande amor pode deixar nas nossas vidas e também nas possibilidades de virar inspiração para tantos outros.


Na trama, dois irmãos vão saber sobre os documentos e testamento deixados por sua mãe recém falecida. Assim, a história volta para meados da década de 60, onde conhecemos a história de Francesca (Meryl Streep), uma descendente de italianos, moradora do interior de Iowa, casada, mãe de dois filhos, que um dia tem seu destino cruzado com o de Robert (Clint Eastwood), um fotógrafo que trabalha para a Revista National Geographic e está fazendo um trabalho sobre as pontes da região. Passando alguns poucos dias juntos, após a família de Francesca sair para um evento em outra cidade, Francesca e Robert viverão momentos que nunca mais irão esquecer.


Prezando por diálogos envolventes, profundos, que desabafam os segredos mais íntimos de dois personagens que se completam formidavelmente em cena, a narrativa nos leva para uma ordenação de um discurso muito bem definido, uma conflituosa e romântica história de amor, mais pela visão de Francesca. As delicadezas do amar, o afeto, o valor do momento, são captadas por imagens lindas, muito bem associadas ao fato de um dos personagens ser um fotógrafo, onde o contemplar vira uma peça nesse tabuleiro repleto de emoções. Tudo funciona com perfeição, orquestrado pela maestria de Eastwood.


Um amor que deixa legado. A reflexão daqueles momentos que viveu ao lado de Robert, chegam forte aos filhos de Francesca que passam a entender a importância das escolhas nos momentos mais difíceis. Uma das lições que o filme passa é a de que um amor verdadeiro pode e deve inspirar. Os sonhos se desfazendo, na equação de equilíbrio entre querer e poder também é visto, aqui o paralelo com a realidade é constante, já que nossos sonhos são fortalezas para nossa felicidade mesmo que muitos deles não irão se realizar. Não é toa que o filme bate forte em nossos corações, os paralelos com a realidade estão presentes, o amor, o sofrimento, os dilemas, os conflitos, são parte do cotidiano de todos nós.


Para você que gostaria de assistir, ou mesmo rever, o filme está disponível no catálogo da HBO Max.

 


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29/10/2023

Crítica do filme: 'O Campeão'


Primeiro longa-metragem do cineasta italiano Franco Zeffirelli na principal indústria cinematográfica do planeta, O Campeão é a terceira e mais impactante versão de uma história que já esteve por Hollywood na década de 30 e na década de 50. Abordando o alcoolismo, a depressão, o abandono, as segundas chances, sob os pontos de vistas de um pai problemático e seu filho pequeno o projeto é também sobre corações partidos, sobre uma infância repleta de inconstâncias no que deveria ser um lar doce lar. Hollywood já produziu muitos filmes tristes, dolorosos de assistir, mas poucos são iguais a O Campeão.


Na trama, conhecemos Billy (Jon Voight), ex-boxeador, perto dos 40 anos, que despencou no auge da carreira, consumido pelos seus conflitos emocionais, dominado pelos vícios em jogos e bebida. Ele é pai do pequeno T.J (Ricky Schroder), um garoto super inteligente de oito anos que busca a atenção de seu pai e o ajuda em todos os momentos. Quando Annie (Faye Dunaway), a mãe do garoto, reaparece na vida dos dois, quase uma década sem entrar em contato, novos conflitos surgem em paralelo a uma nova oportunidade para Billy numa luta que poderá trazer seus dias de glórias de volta.


As diferentes formas de se amar alguém. Indicado ao Oscar na categoria Melhor Trilha sonora, o filme navega pela quebra de paradigmas quando pensamos em família, sobre a tão sonhada perfeição, colocando na mesa situações conflituosas, com personagens amargurados em busca de novos recomeços constantes. A narrativa se torna angustiante, com cenas fortes, dolorosas, mas que encosta na realidade de muitos lares. Um pai que é um péssimo exemplo mesmo nunca tendo-o abandonado, uma mãe que sumiu e depois de se estabelecer na carreira que tanto queria volta buscando o tempo perdido, um jovem carismático que mesmo com o mundo desabando não deixa de abrir um sorriso e acreditar em redenções do seu maior ídolo. Esses três personagens farão qualquer coração refletir sobre família.


O alcoolismo, a depressão e as segundas chances também são elementos marcantes no roteiro dessa versão que é baseada em grande parte na primeira versão, a original do ano de 1931, dirigido por King Vidor, na época com roteiro assinado por Wanda Tuchock e Don Marquis.   


Para quem quiser assistir, O Campeão tem para aluguel na Apple Tv.



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Crítica do filme: 'O Senhor das Armas'


Escrito e dirigido pelo cineasta neozelandês Andrew Niccol, com um orçamento de cerca de 40 milhões de dólares, conseguindo quase dobrar esse número somente em bilheteria, O Senhor das Armas é um verdadeiro soco no estômago que já começa mostrar a que veio na sua abertura, uma das mais chocantes das últimas décadas, nos levando para o assustador mundo, infelizmente o mesmo em que vivemos, que tem uma arma para cada doze pessoas no planeta. Seguindo os passos de um traficante de armas, personagem esse baseado em partes na vida do comerciante russo de armas Viktor Bout, desde os anos 80 até os dias atuais, O Senhor das Armas é uma chocante e muito bem construída crítica à indústria bélica.


Na trama, conhecemos Yuri Orlov (Nicolas Cage), um descendente de ucranianos que chegou na América com a família se passando por judeus e criado no Brooklyn. Durante um momento de sua vida percebe uma oportunidade em um universo que não conhecia, o de traficar armas e logo se torna um alguém influente nesse meio. Correndo para o encontro com a violência, levando seu irmão Vitaly (Jared Leto) para os negócios e sem um pingo de dó na consciência ao longo de tempo ele começa a ser perseguido pela interpool aqui centralizado na figura do agente Valentine (Ethan Hawke).


Qual é a sua guerra? Por meio de um protagonista narrador, um recurso muito interessante que segue a narrativa, vamos sendo guiados para os bastidores de uma poderosa indústria, repleta de vilões, pessoas insensíveis. Sem passar a mão nem humanizar seu inconsequente e sem coração personagem principal o projeto caminha a passos detalhados onde joga o público de frente para a reflexão. A direção de Niccol é fascinante, apresenta por meio do chocar os conflitos e até mesmo dilemas que se seguem na vida de Yuri. Esse último, um intrigante personagem, que blindado por seu egocentrismo não consegue chegar nem perto de alguma dor na consciência. Um brilhante trabalho de Nicolas Cage.


Com armas espalhadas em diversas zonas de guerra, passando por momentos marcantes que remodelaram a geopolítica mundial, como o fim da União Soviética, e também a ascensão de ditadores impiedosos na África, Yuri parece, a cada novo lugar que vai, nos levar para verdades escondidas, momentos que precisamos refletir pois o espelho de muito do que vemos ao longo de quase duas horas de projeção não é muito diferente do que acontece em diversos lugares do mundo nesse mesmo instante.


Esse ano, foi confirmada uma continuação, com Nicolas Cage reprisando seu emblemático personagem quase duas décadas após o primeiro filme. Pra quem quer assistir o primeiro filme, está disponível no catálogo da Prime Video.


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