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10/02/2021

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10 filmes sobre Irmãos - Parte II


Chegando na segunda parte desse especial, acompanhamos histórias diversas, algumas muito profundas sobre o tema, outras embutidas em subtramas poderosas onde aprendizados sempre chegam como reflexão. Tem filme da Jordânia, francês, canadense, dinamarquês, suíço, polonês, dos Eua, etc. Segue abaixo, 10 filmes sobre Irmãos - Parte II

 

Minha Irmã (Suíça)

A força do amor entre irmãos e as superações da vida que precisam enfrentar. A vida não é fácil, é uma estrada complicada, repleta de obstáculos. Indicado da Suíça ao Oscar 2021, Minha Irmã é um impacto recorte na vida de uma forte mulher que aos poucos vê a solidez de alguns de seus pilares desmoronarem incontrolavelmente, desde o estado complicado de saúde de seu irmão gêmeo até uma crise intensa e amargurada em seu casamento. Escrito e dirigido pela dupla de cineastas Stéphanie Chuat e Véronique Reymond. Destaque para a atuação emocionante da atriz alemã Nina Hoss.

 

Na trama, conhecemos os irmãos gêmeos Sven (Lars Eidinger) e Lisa (Nina Hoss). O primeiro está com um sério problema de saúde e passa por uma não bem sucedida transplante de medula óssea. A segunda é uma escritora de peças de teatro que está com um vendaval de situações importantes acontecendo ao mesmo tempo em sua vida e precisa ainda ser a principal cuidadora do irmão o que gera nela terríveis dramas e uma iminente decadência em seu casamento com o marido Martin.

 

O foco é na irmã, uma mulher que precisa se virar para poder conciliar a terrível doença do irmão, a educação de suas filhas, idas e vindas do seu país de origem até onde seu marido trabalha, as complicadas decisões do futuro de sua família com a oportunidade que chega ao seu marido. Os desenrolares das escolhas dessa forte protagonista acabam sendo uma jornada bem bonita de encarar os obstáculos mesmo que para isso precisem ser tomadas decisões solitárias.

 

Minha Irmã é um longa-metragem repleto de amor e de solidão do afeto. Há contrapontos que se unem em momentos de reflexão, como o fato de uma certa distância da mãe sobre tudo que acontece com o filho. Nem sempre na vida teremos finais felizes mas precisamos converter nossas escolhas em soluções vindas de escolhas que vem do coração. Schwesterlein, no original, nos faz refletir bastante sobre a vida. Belo filme.

 

Jungleland (EUA)

O que você escolhe, medo ou esperança? Falando sobre força de dois Irmãos e seus distantes sonhos em uma realidade cruel lutando contra a falta de dias melhores, Jungleland, dirigido por Max Winkler (em seu terceiro longa-metragem) e produzido por Ridley Scott é um filme forte que mostra a dureza de duas almas nômades sem foco no mundo, caminhando por uma melancolia diária, que resolvem apostar todas suas fichas em um torneio de visibilidade no circuito amador de boxe sem luvas, além de serem obrigados a embarcar em uma missão misteriosa para conseguir pagar uma dívida. Exibido no Festival de Toronto, o projeto é estrelado por Charlie HunnamJack O'Connell e Jessica Barden.

 

Na trama, conhecemos os irmãos Stanley (Charlie Hunnam) e Walter 'Lion' (Jack O'Connell), que vagam pelas ruas de uma cidade norte-americana em busca do sonho de serem famosos dentro do universo do boxe amador. Quando se veem encurralados por uma dívida, são obrigados a levar Sky (Jessica Barden), que eles não fazem a mínima de ideia de quem seja, até uma pessoa em San Francisco, em troca disso tem a dívida perdoada e conseguem a inscrição em um torneio de boxe de alta visibilidade em San Francisco. Assim, os três entram em uma jornada sem muito foco que passa por abalos emocionais enormes.

 

Explorando o Looping em eternos recomeços, Jungleland, mostra todo o sofrimento emocional de dois irmãos com poucos pontos de interseção mas que de alguma forma apresentam uma grande lealdade mútua mesmo que isso implique em confusões e caminhos que ambos não pensam iguais. Há um foco marcante na questão da desestrutura familiar, nessa ótica nos apresentam esporádicos momentos de profundidade sobre o passado dos irmãos e dentro de uma subtrama pouco explicada que é a trajetória de Sky. As lacunas preenchidas das consequências dos atos transformam o desfecho aberto em algo compreendido de quem conseguir ler nas entrelinhas das atitudes de cada personagem em suas trajetórias. Jungleland é forte, duro e mostra uma realidade quase dentro de um universo paralelo para muitos que não conhecem ou não viveram dificuldades na vida.

 

 

Meu Verão em Provença (França)

A verdadeira felicidade está na própria casa, entre as alegrias da família. Depois do ótimo Amor é Ódio no já distante ano de 2010, a cineasta Rose Bosch volta a direção, dessa vez em um filme muito bonito que mostra todas as fases de uma família contada de uma maneira deliciosa. Somando-se a isso, conta com uma atuação maravilhosa do excelente ator francês Jean Reno.

 

Na trama, conhecemos três irmãos de personalidades diferentes, entre eles um jovenzinho com deficiência auditiva, que partem, forçadamente, de férias para a bela cidade de Florença, na Itália, logo depois de um abalo na estrutura familiar que estavam acostumados. Meio sem saber o que será do destino deles, chegam à casa de Paul (Jean Reno) e Irene (Anna Galiena), seus avós que não viam a muito tempo. Por conta de brigas familiares, não conheciam direito seu avô, um semi-idoso rabugento que vai aprender com a juventude a sorrir novamente.

 

A primeira vista, parece que Meu Verão na Provença não passa de um filme bobinho, aguinha com açúcar, que avançará por clichês durante todos os 105 minutos de duração. Bem, o filme é muito mais profundo do que isso. O entrosamento dos atores em cena é um dos pontos de sustentações da história, que contém uma premissa bem simples, um conflituoso choque de gerações oriundos, em partes, de escolhas do passado. O desenvolvimento desses personagens ao longo do filme é delicado e só realmente percebemos o quanto que a história é cativante no arco final. Alguns podem até achar alguns diálogos bobinhos mas garanto a vocês, de bobinho esse filme não tem nada.

 

 

O foco da trama gira em torno do personagem de Jean Reno, Paul, um quase velhinho amargurado, rabugento, que na verdade sofre internamente com saudades de seu passado underground onde passava dias e dias viajando numa levada Hippie. Como em time de futebol, no cinema acontece a mesma coisa, quando você tem um super talento na sua equipe você joga a bola para ele que o mesmo resolve. Jean Reno, com muita habilidade em cena consegue agarrar o espectador do primeiro ao último minuto e o melhor de tudo: não decepciona! Sem dúvidas, uma das melhores atuações deste grande astro do cinema mundial.

 

 

Jak Pies Z Kotem

Temos de aprender a viver todos como irmãos ou morreremos todos como loucos. Dirigido pelo cineasta nascido no Cazaquistão Janusz KondratiukJak Pies Z Kotem (sem tradução para o português) é um projeto que fala sobre as fábulas da vida em paralelo a uma realidade cheias de razões para não mais se acreditar. Uma relação conflituosa entre irmãos se transforma em uma jornada de descobertas, onde o brilho dos personagens está contido em cada cena.

 

Na trama, conhecemos os irmãos cineastas Andrzej (Olgierd Lukaszewicz) e Janusz (Robert Wieckiewicz) que ao longo do tempo nutriram uma relação repleta de altos e baixos. Agora já na etapa final de vida, Andrzej sobre um acidente que o impossibilita de ser sozinho e como não há mais ninguém para ajudar , seu irmão Janusz e sua esposa decidem cuidar dele.

 

A relação de entre os irmãos navega pela tristeza e nos conflitos emotivos. Janusz guiou sua vida através dos sonhos do irmão e sentiu demais uma longa distância entre os dois que acontece já na chegada do terço final da vida de ambos. Andrzej , mente muito criativa talvez pelo fato de trabalhar com arte, após seu derrame só lhe sobra o ato de sonhar e imaginar situações para tudo que está vivendo e o pouco caminho que ainda precisa percorrer antes de falecer.

 

Misturando um drama profundo com pitadas de comédia, esse longa polonês se destaca pela alma de seus personagens e pelo ótimo roteiro que nos faz navegar junto a tudo de emocional que aparece na trama. Sem previsão de estreia no Brasil, o filme é quase uma relíquia em torno de tantos lançamentos aos longos dos anos.

 

 

Nefta Football Club (França, Tunísia, Argélia)

 

Nas linhas da ingenuidade, propósito e razão nunca desaparecem. Um dos indicados ao Oscar de Melhor Curta desse ano, Nefta Football Club usa da criatividade de um assunto comum com a fragilidade do olhar ingênuo. Sacada bastante interessante do cineasta Yves Piat que entre outros pontos incorpora à sua história a essência do futebol pelo olhar das crianças.

 

Ao longo dos quase 17 minutos de projeção, conhecemos rapidamente dois irmãos que estão sozinhos andando de moto por uma estrada deserta da Tunísia (próximo à fronteira com a Argélia) até que eu deles precisa urinar e acaba avistando um burro com o headphone e uma carga curiosa: um pó branco que, no modo deles enxergarem, parece sabão em pó. Tentando descobrir ao certo o que é aquele produto, o mais velho bola um plano para tentar negociar aquilo, enquanto o mais novo acaba tendo outros planos.

 

Todo curta bom precisa ser impactante em algum momento, pois são poucos minutos para se fazer o público se interessar pelo que acontece em tela. Nefta Football Club consegue reunir elementos que juntos constroem um desfecho com mensagem positiva, pra lá de emblemática, onde a pureza e a ingenuidade vencem qualquer tipo de caminho.

 

 

Je Suis a Vous Tout de Suíte (França)

 

Não é preciso que a bondade se mostre; mas sim é preciso que se deixe ver. Em seu primeiro trabalho como diretora de longas metragens, a atriz, roteirista e cineasta Baya Kasmi traz para o público uma história repleta de reviravoltas que começa com uma trama peculiar que gira em torno de uma bondade excessiva em fazer as pessoas se sentirem bem. Je Suis a Vous Tout de Suíte é também um complexo retrato familiar que contorna temas como a religião, o preconceito e as inúmeras maneiras que temos de enxergar as coisas mais simples da vida.

 

Na trama, conhecemos a bela Hanna Belkacem (Vimala Pons), uma assistente de recursos humanos de uma empresa de vinhos que mora na França onde vive um cotidiano repleto de situações inusitadas, muitas dessas por conta de sua vontade de fazer os outros se sentirem bem. Sua família, de descendência argelina, sempre foi bastante parecida. Seu pai (Ramzy Bedia) é um comerciante que não consegue dizer não as pessoas, sua mãe Simone (Agnès Jaoui) é uma pseudoterapeuta que vive tentando fazer sua família viver feliz não importa os acontecimentos conturbados do cotidiano. Já com seu irmão Donnadieu (Mehdi Djaadi), a relação de Hanna era de muita proximidade na infância mas aos poucos foi se afatando a partir de diversas divergências na maioria de enxergarem o mundo ao redor. Assim, com altas doses de feedbacks explicativos, o filme vai mostrando aos poucos as novas possibilidades para a protagonista, regada por muito amor de sua família.

 

Je Suis a Vous Tout de Suíte começa um pouco confuso, talvez por tamanha peculiaridade das cenas iniciais, talvez por não conseguir realmente mostrar nos primeiros minutos sobre o que seria a trama. Quem consegue aguentar chegar ao segundo ato, se surpreende com a virada na trama, que adota flashbacks para explicar o porquê das escolhas de todos nas suas respectivas trajetórias mas sempre focando em sua protagonista. Podemos dizer que é uma comédia nonsense, repleta de diálogos confusos mas que de alguma forma conseguem envolver o espectador. A subtrama mais interessante é a do irmão da personagem principal e sua curiosa escolha em se converter a religião muçulmana e adotar hábitos da mesma, talvez a sua maior complicação na relação com a irmã.

 

Comédia ou drama? O filme navega nessas duas trajetórias e tenta uma fórmula mágica de interação com o espectador que funciona mais do meio para frente. 

 

 

O Lobo do Deserto (Jordânia)

A guerra é feita para que os mais fortes vivam, e os mais fracos lutem pela sobrevivência. Indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro pela Jordânia, O Lobo do Deserto é um filme com uma fotografia belíssima, uma direção determinada e atuações concentradas. A sutileza envolta de situações extremas é a assinatura de Naji Abu Nowar que marca sua estreia na direção de longa-metragem. Mas, mesmo com ótimas qualidades técnicas, é necessário dizer que é um filme deveras difícil e para alguns será facilmente esquecido. 

 

Na trama, ambientada em parte do período da primeira guerra mundial, conhecemos o jovem Theeb (Jacir Eid Al-Hwietat) um menino, muito apegado com seu irmão, que vive com sua família na província otomana de Hijaz. Certo dia, um soldado do exército britânico aparece buscando ajudando para encontrar um lugar. Assim, em meio a um deserto cheio de perigos, Theeb e seu irmão vão ajudar o soldado e acabam encontrando uma aventura que fará Theeb amadurecer bem mais rápido que qualquer outro menino de sua idade.

 

Com diálogos amadurecidos, personagens convincentes e excelente tecnicamente, O Lobo de Deserto, instiga no espectador uma profundidade ampla sobre o contexto para definir as ações e reações da trama. A descoberta de várias coisas ao mesmo tempo, um precoce amadurecimento evidente e um espírito indomável do jovem protagonista são algumas das marcas desta história forte sobre o cotidiano de uma região em tempos de guerra. O filme não veste o rótulo de comercial, longe disso, prefere detalhar sua ambientação e conta muito com a força dos poucos personagens que vemos em cena. 

 

Vencedor do prêmio de Melhor Diretor na conceituada mostra Horizontes do Festival de Veneza 2014, Naji Abu Nowar brinda o público com uma aula de como fazer cinema em alto nível usando muita habilidade para contextualizar complexas situações ambientadas em um passado conturbado de uma região muitas vezes esquecida por todos nós.

 

 

Brothers (Dinamarca)

Na fita, um militar exemplar, pai de dois filhos, é mandando pela ONU para uma missão no Afeganistão. Seu irmão mais novo acaba de sair da cadeia e vai morar um tempo na casa dele um pouco antes desse viajar. Chegando ao local da missão, o helicóptero em que está, é abatido, e o mesmo é dado como morto. Em contra partida, seu irmão (um ex-presidiário) começa a ter relação mais tênue com a mulher do militar desaparecido. Será que o militar morreu? E se ele voltar para casa e perceber que as coisas estão muito diferentes?

 

Assim, conheci Bier (que mais tarde viraria uma de minhas diretoras favoritas) que desde Depois do Casamento, mexeu comigo com sua narrativa e modo de filmar bastante interessante que marca pelo enredo envolvente e a sempre espera pelo desfecho. No longa, mostra-se a dor impensável de um homem, onde tem que lutar contra muitas coisas que podem até serem banais comparados à guerra, mas não são.

 

O trio Ulrich Thomsen, Nikolaj Lie Kaas e Connie Nielsen atua de maneira impecável, dando um verdadeiro show em cima da tentativa americana de regravação do mesmo. Lembrando aquela velha máxima cinéfila: Nada é melhor que o original, salvo raras exceções.

 

 

Jo de Jonathan (Canadá)

Esse filme canadense é uma espécie de cinema para instituições ou feito mesmo para campanhas de direção perigosa. O garoto, personagem principal, faz de tudo para ferrar com sua vida: dirige sem habilitação, pratica muitos assaltos relâmpagos tudo isso somado à muitas abdominais (cenas que volta e meia aparecem nas sequências). Aos poucos, vamos vendo a decadência da juventude através das conseqüências dos atos impulsivos do protagonista.

 

O jovem que dá nome à produção vive basicamente à sombra do irmão. Um apaixonado por carros, não consegue tirar a licença para dirigir legalmente e volta e meia entra em pegas pela cidade onde mora. Quando entra em dívida por conta de uma aposta não paga, se une ao seu irmão para um racha que pode quitar essa situação. Mais os acontecimentos dessa corrida não saem conforme o planejado.

 

A câmera estacionada em alguns momentos da trama faz o imaginário cinéfilo trabalhar na eminência das conseqüências das ações. Modo muito interessante usado pelo diretor  Maxime Giroux (que também assina o roteiro ao lado de Alexandre Laferrière). O recurso é uma maneira de fazer o espectador refletir.

 

Uma “auto-punição” aflora em Jonathan, interpretado pelo meu xará Raphaël Lacaille. Levando a história para um mar de estranhas cenas dramáticas.

 

O longa lembra um pouco o filme ‘Paranoid Park’, do genial Gus Van Sant. Esses personagens que estão em ebulição em seus conflitos internos é o paralelo dessas produções.

 

Por conta da conscientização, mesmo tendo que ter um pouco da paciência de Jó, recomendo!

 

 

Tudo por Justiça (EUA)

Até onde vai o controle emocional de uma boa pessoa quando percebe que seu mundo desabara ao seu redor? Contando uma história para lá de comovente e sofrida, o diretor Scott Cooper (Coração Louco) consegue em um único trabalho criar um clima de vingança e tensão poucas vezes visto nos últimos filmes norte-americanos do gênero ação. Cada sofrimento que acerta em cheio o protagonista tem uma razão, uma argumentação consistente para existir e a forma que o protagonista lida com isso é tocante e extremamente violenta, não deixando o público tirar os olhos da telona num por um segundo.

 

O foco central do filme é Russell (Christian Bale), o filho boa praça do paizão Rodney Baze (Bingo O'Malley). Um homem muito querido pela comunidade onde mora e que leva uma vida pacata trabalhando onde seu pai trabalhou e sonhando em construir uma família ao lado de sua namorada Lena (Zoe Saldana). Porém, tudo muda em sua vida quando, após pagar uma dívida de um integrante de sua família, se envolve em um terrível acidente de carro e vai parar na prisão. Após anos na cadeia, consegue sair em condicional e logo precisa enfrentar sérios problemas com a nova realidade que o aguarda, principalmente as enrascadas que seu irmão mais novo (Casey Affleck) provoca.

 

Após quatro anos longe das câmeras, quando rodou seu primeiro longa metragem Coração Louco (que deu a Jeff Bridges seu primeiro Oscar), o bom diretor Scott Cooper reaparece no cenário hollywoodiano trazendo de volta a melancolia e a ótima captura do drama de seus personagens.  Com um orçamento de U$$ 22 Milhões, o cineasta apostou no material humano que tinha nas mãos e criou uma atmosfera de dor deixando seus atores, com muita naturalidade, executarem ao extremo cada personagem.  

 

O elenco é admirável. O polivalente Woody Harrelson na pele do terrível bandido Harlan De Groat, Willem Dafoe interpretando o canastrão de bom coração John Petty e o excelente irmão de Ben Affleck, Casey, contribuem e muito para a ótima interação do público com todos os acontecimentos que se desenrolam na trama. Mas quem rouba a cena, mais uma vez, é o protagonista, Christian Bale. O ganhador do Oscar e o melhor intérprete do Batman de todos os tempos, dá mais um show de interpretação. O sofrimento de seu personagem é nítido em cada gesto, cada palavra de Bale. Só por isso, já vale o ingresso do filme.

 

Uma ótima canção executada pela peculiar voz de Eddie Vedder, logo no início do filme, já era um sinal que os cinéfilos estariam diante de uma bela obra. Tudo por Justiça pode ser visto por alguns como apenas um filme de vingança. Mas garanto, é mais do que isso. A transformação súbita que passa seu protagonista é eletrizante, se vingar é apenas umas das armadilhas que a vida coloca em sua frente. Não deixem de conferir esse belo trabalho que possui muitos ingredientes para conquistar o público.  

 

Continue lendo... 10 filmes sobre Irmãos - Parte II

02/12/2020

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10 filmes sobre Irmãos - Parte I


Nem todo mundo nessa vida pode dizer que tem um irmão ou uma irmã. Dentro desse universo, dos que estão contidos nele, uma série de situações e memórias buscamos rapidamente quando lembramos neles. Nem sempre os relacionamentos são fáceis, as vezes complicados, com hiatos, brigas, desentendimentos mas sempre com uma pontinha de esperança de que no final tudo fique bem novamente. O universo cinematográfico todos os anos aborda recortes as vezes superficiais, as vezes profundos que tem essa temática ‘relacionamento entre irmãos’ envolvida no roteiro. Pensando nisso, resolvemos criar uma lista sobre o tema e reunimos aqui 10 filmes que nos mostram um pouquinho de recortes dessas relações tão diferentes de família para família.

 

Irmã (China)

As memórias que não existiram mas que também nunca se foram. Usando a técnica de stop-motion, a animação chinesa dirigida pela cineasta Siqi Song, transforma uma frustração em uma grande carta poética em forma de animação. Irmã, em seus curtos minutos, fala muito sobre o sentimento das famílias chinesas que viveram dentro dos 30 anos da política de apenas um filho. Selecionado pelo Festival de Sundance ano passado e um dos 5 indicados ao Oscar na categoria melhor curta de animação desse ano, o filme é um relato importante sobre um fato que afetou milhares de pessoas no país mais populoso do planeta.

 

Em 08 minutinhos, ambientado na década de 90, somos envolvidos em um pequeno retrato que vai do imaginário a realidade. Conhecemos um jovem que relata sua convivência com sua irmãzinha, muitas situações que acontecem com a chegada da nova integrante da família, só que descobrimos que essa irmã nunca existiu pois a família do protagonista não poderia ter mais de um filho por conta de uma política de 30 anos das autoridades chinesas.

 

Lançada pelo governo chinês no fim da década de 1970, essa lei que é pano de fundo dessa história, consistia numa lei segundo a qual ficava proibido, a qualquer casal, ter mais de um filho (em outubro de 2013, o governo chinês aboliu essa lei). Fato esse que deixou vários filhos únicos sem a possibilidade de dividir sua vida com um irmão ou irmã. O curta navega nessa vertente e usa a imaginação do pensar como forma de homenagem a todos que não puderam ter um irmãozinho durante todo esse período na China. O cinema é isso, uma maneira de refletir sobre nossas épocas: passado, presente ou futuro.

 

 

Warrior (EUA)

O universo do MMA mais uma vez vira pauta de um longa. Para nos guiar por essa história foram escalados dois atores que tiveram, com certeza, que passar por uma série de treinamento específico para compor seus personagens. Tom Hardy e Joel Edgerton interpretam os irmãos que lutam (literalmente falando) por objetivos diferentes. Os bastidores do evento, os estilos de luta... parece que estamos ligados naquele famoso canal de Tv a Cabo, ao vivo, vendo uma transmissão desse esporte que virou febre no mundo todo. Warrior é eletrizante do primeiro ao último minuto.

 

Na trama, conhecemos a história de uma família que tem na sua essência a alma da luta. Aos poucos vamos vendo o presente de cada um dos membros: um dos filhos é professor de física (do ensino médio americano) com sérias dificuldades financeiras, o outro filho é um ex-fuzileiro naval que sofrera um trauma com sua unidade durante uma de suas missões no Iraque. Ambos, ao decorrer da fita, vão sendo jogados de volta ao octagon (cenário onde ocorrem as lutas dessa modalidade esportiva). Um deles guiado pelos conselhos profissionais do pai, que antes fora um grande treinador de luta olímpica, o outro busca forças na sua esposa que o apoia mesmo não gostando que ele lute.

 

O grande destaque do longa, dirigido por Gavin O'Connor, é o veteraníssimo ator americano Nick Nolte. Com seu personagem, Paddy Conlon, um ex-dependente alcoólico que tem muitos problemas na relação com sua família no passado, consegue explorar todos os aspectos que rondam esse intenso papel. Sempre bom ver experientes artistas representando bem seus personagens.

 

 

Blood Ties (EUA)

A verdadeira felicidade está na própria casa, entre as alegrias da família. Depois de dar uma pausa nas atuações e se dedicar às direções, o francês Guillaume Canet no ano de 2014 assinou a direção desse filme de ação que possui uma excelente construção, fruto do bom trabalho do roteiro de James Gray, onde os ótimos Clive Owen e Billy Crudup se revezam como protagonistas da história. Blood Ties possui subtramas envolventes mas que só funcionam de fato por conta das ótimas atuações do elenco. Cada qual com sua personagem, ajudam a contar essa explosiva e envolvente história.

 

Na trama, acompanhamos a história de dois irmãos que estão em lados opostos da lei. Após a saída da prisão, Chris (Clive Owen) insiste em ser feliz longe do crime, procurando ser um cara mais correto. Já Frank (Billy Crudup), é um policial esquentado que abandonou um grande amor no passado e não tem um bom relacionamento com seu irmão mais velho. A vida de ambos muda radicalmente quando, no mesmo período, um dos irmãos volta a ser um bandido perigoso e o outro é caçado por um outro ex-prisioneiro.

 

O roteiro não é nada muito diferente do que já vimos em outros filmes do gênero. Um fato que se diferencia das outras fitas é a direção detalhista de Canet. O cineasta, marido da atriz Marion Cotillard (que também está no filme), é inteligente, principalmente sob o ponto de vista das relações familiares que contornam as histórias. Assim, consegue captar toda a essência e sentimentos fervorosos da trama sob as ações dos personagens.

 

O filme entra em um ritmo acelerado do meio para frente. Essa, é uma daquelas fitas que o cinéfilo precisa ter certa paciência pois a apresentação lenta dos personagens se torna extremamente necessária para entendermos certas ações dos mesmos ao longo do longa-metragem. Os personagens principais chegam ao mesmo tempo no clímax das conseqüências das ações cometidas. Nesse momento, fica mais evidente que a história na verdade é sobre o relacionamento de toda uma família marcada por traumas violentos e terríveis.

 

Lembram dos tiroteios e cenas tensas de violência à sangue frio do filme francês Inimigo Público Nº 1 – Instinto de Morte (protagonizado pelo sempre excelente Vincent Cassell)? A construção da maioria das cenas de ação de Blood Ties são nesses moldes. É uma junção de Os Donos da Noite com pitadas pequenas de Fogo contra Fogo. Claro, guardadas suas devidas comparações. Pra quem curte filmes de ação, é um prato cheio!

 

 

Xingu (Brasil)

Livremente baseado em histórias reais e com uma beleza impressionante nas imagens (muito bem aproveitadas pela ótima condução do diretor), “Xingu, trabalho do diretor Cao Hamburger, transforma a saga dos irmãos Villas-Bôas em uma grande aventura.

 

O filme conta a trajetória corajosa de Claudio, Orlando e Leonardo. O irmãos, que estudaram em bons colégios, tinham bons empregos e resolveram largar tudo pela vida na mata. Desde os primeiros passos e os começos de contato com as tribos indígenas, “Xingu”, detalha esse encontro que mudou a vida deles para sempre. Descansando em redes improvisadas, fazendo fogueira, caçando animais, eles lutaram pela primeira terra indígena homologada pelo governo federal. Fato que ocorreu, em 1961, e que completa 50 anos em 2011. Até hoje, irmãos Villas-Bôas são considerados os grandes defensores dos índios no Brasil.

 

Para dar vida aos protagonistas, foram escolhidos três bons nomes do nosso cinema. Claudio Villas Bôas é interpretado por João Miguel, personagem intenso que muitas vezes age mais pelo coração do que pela razão, mais uma ótima atuação desse ótimo ator. Orlando Villas Bôas é o mais político dos três irmãos, volta e meia frequentando as salas arrumadas do governo (tentando sempre algum tipo de benefício para os índios) tem papel importante para o desfecho positivo da história. Felipe Camargo faz muito bem esse papel.  Leonardo Villas Bôas é o personagem de Caio Blat, o mais jovem do trio, um dos mais inconsequentes também, deixou a história cedo, sendo expulso pelos irmãos por engravidar uma índia durante a trajetória. Blat, sempre que em cena com seu personagem, ajuda muito bem a guiar a história.

 

A relação com os índios, desde o primeiro momento é uma mescla de surpresa e descoberta, na maioria das vezes bastante amistosa. Entre um cigarro e outro, os carismáticos irmãos entram mata à dentro tentando se aproximar de muitas tribos indígenas nunca antes contactadas. Enfrentam muitas dificuldades e orquestram uma batalha nas terras e foras delas para consolidar a reserva indígena prometida. Os índios nunca tiveram fronteiras, mas naquele momento era o melhor que podiam ter. Com o governo de olho na Amazônia, os irmãos Villas-Bôas tinham que correr contra o tempo para consolidar o plano de proteger as tribos indígenas.

 

Com boas atuações, uma direção muito segura e imagens maravilhosas, Xingu, é uma ótima pedida! Vá acompanhar essa aventura dos irmãos que foram indicados ao prêmio Nobel e fizeram um trabalho excepcional que muitas vezes fora esquecido pela memória brasileira.

 

 

White Irish Drinkers (EUA)

 

Um filme muito interessante que surpreende pela carga emocional envolvida nessa história de dois irmãos que moram no mesmo lugar mas vivem uma realidade completamente diferente uma da outra. Escrito e dirigido por John Gray (que já dirigiu alguns episódios do seriado Ghost Whisperer), é uma grata surpresa.

 

Na trama, que acontece no Brooklyn em meados da década de 70, dois irmãos buscam uma maneira de sair do bairro em que vivem e ser alguém na vida. Danny (Geoffrey Wigdor) é um impulsivo marginal que vive de pequenos delitos, já Brian (Nick Thurston) é um sonhador que tem na arte do desenho sua válvula de escape para a violência que enfrenta em casa nas mãos do pai. Quando ficam sabendo de uma apresentação dos Rolling Stones num teatro local resolvem fazer um pacto para roubar o local na noite de um concerto.

 

O longa analisa a situação de uma complexa família no Brooklyn em algumas décadas atrás. O sofrimento dos filhos, a incapacidade de ação da mãe (muito bem interpretada pela atriz Karen Allen), o genioso e nada amoroso pai, as dificuldades de morar em um lugar sem grandes oportunidades, a luta pelo primeiro amor, a busca de chances em outro lugar. Cada personagem contribui bastante para que o filme ganhe contornos dramáticos já em seu final.

 

As menções à uma época passada (quando os irmãos eram menores) ajuda a entender todo aquele sentimento que às vezes parece se perder nas atitudes de uma dessas partes. É uma daquelas fitas ideais para que gosta do gênero drama. Não há muitas surpresas ao longo da trajetória dos protagonistas, fica um pouco eminente o desfecho por conta do caminho seguido pelos personagens ao longo da história. Gosta de emoção e personagens envolventes? Dê uma chance a esse filme!

 

 

Tirez la langue, mademoiselle (França)

As lições do coração. Escrito e dirigido por Axelle RopertTirez la langue, mademoiselle tem uma pegada meio ‘sessão da tarde’ mas ao longo dos 102 minutos de projeção vamos vendo desabrochar de maneira delicada e objetiva a mesmice na vida de dois irmãos que trabalham em um mesmo consultório em uma Paris nos dias atuais. A personagem da talentosa artista francesa Louise Bourgoin é a terceira ponta no triângulo amoroso instaurado. O projeto, entre outras coisas, fala sobre as linhas de interpretações do que é o amor em nossas vidas.

 

Na trama, conhecemos os irmãos, quase inseparáveis, Boris (Cédric Kahn) e Dimitri (Laurent Stocker) que vivem uma rotina de mesmice, dividindo um mesmo consultório em uma clínica geral onde também atendem em domicílio. Certo dia, após uma ligação, conhecem a mãe solteira Judith (Louise Bourgoin) por quem rapidamente se apaixonam, provocando uma grande quebra na rotina e relação dos dois irmãos.

 

É difícil tratar o sentimento de amor como uma coisa nova na vida de quarentões mas é exatamente em cima dessa ideia que a trama desse belo trabalho francês se solidifica. Os irmãos doutores são de diferentes maneiras de pensar, Dimitri até certo ponto bastante carente e luta constantemente contra o alcoolismo, já Boris é o que podemos dizer de solitário, rígido e um pouco carrancudo. A vida dos dois muda radicalmente com a descoberta do amor, pela mesma mulher. A partir disso, cada um busca sua felicidade à sua maneira, definindo novos rumos não só na maneira de pensar a vida mas no ganho de uma liberdade que eles nunca tinham observado.

 

Já Judith, mãe de uma pré adolescente, solteira que trabalha como barwoman pelas noites e Paris abre sua personalidade aos poucos. Conforme vamos conhecendo melhor essa intrigante personagem, percebemos os conflitos que se desenvolvem no futuro, principalmente as questões mal resolvidas com o ex-marido, pai de sua filha. 

 

 

Tirez la langue, mademoiselle é uma fita delicada, com o ritmo certo para apresentações dos personagens. Também muito realista, mostrando os conflitos emocionais que podem ser provocados quando o coração bate mais forte por alguém.

 

 

A Gloria e a Graça (Brasil)

Melhor do que todos os presentes por baixo da árvore de natal é a presença de uma família feliz. Dirigido pelo experiente Flávio Ramos Tambellini, que volta a direção de um longa após seis anos, seu último trabalho foi o delicado Malu de Bicicleta (2010)A Glória e a Graça, entre muitas coisas, é um resgate na relação de dois irmãos que por circunstâncias do destino acabaram se separando durante boa parte de suas vidas. O entrosamento em cena de Carolina Ferraz e Sandra Corveloni, protagonistas do filme, é fundamental para que os diálogos ganhem contornos emocionantes e de aproximação com o público. Grande atuação das duas atrizes.

 

Na trama, acompanhamos a trajetória de Graça (Sandra Corveloni) uma mãe solteira que tem dois filhos e acaba descobrindo em uma eventual visita ao médico que possui um aneurisma inoperável na cabeça. Sem ter muito para onde fugir, nem com quem contar, Graça resolve entrar em contato com seu irmão que não vê a muitos anos. Chegando no encontro, Graça descobre que seu irmão agora virou travesti, e agora chama-se Gloria (Carolina Ferraz), dona de restaurante, poliglota, bem resolvida e bem sucedida. Após o surpreendente encontro com o irmão, Graça embarcará em uma viagem de reaproximação com seu único parente vivo.

 

O filme tinha tudo para cair num senso melo dramático mas se veste com uma maturidade impressionante para falar com seriedade de subtramas complicadas que vão do campo jurídico até o campo emocional. A relação da tia com os filhos de Graça é adorável, aprendizagem e muito experiência em uma troca para lá de emocionante, em quebra de tabus que ficam como lições para toda a vida. As surpresas que vemos pelo caminho, principalmente a causa da separação das duas irmãs, preenchem lacunas importantes para entendermos ao longo dos quase 90 minutos de projeção a formação da personalidade dos personagens. Os embates, em diálogos recheados de emoção, entre as duas protagonistas é intenso e conseguem ir além de muito mais que uma superfície, há uma profundidade aliada com humanidade.


A Glória e a Graça é um drama comovente com atuações que são a cereja do bolo. Prestigie o cinema brasileiro.


Neve Negra (Argentina)

O passado não reconhece o seu lugar, está sempre presente. Depois de dez anos de seu último longa-metragem (O Sinal, 2007), o cineasta argentino Martin Hodara volta a tela grande em um ótimo suspense com atmosfera tensa. O roteiro é sublime, nos faz ficar atento até o último segundo. O elenco é de primeira, tendo como cereja do bolo o maior ator da atualidade, o argentino Ricardo DarinNeve Negra é um, sem dúvidas, um dos bons suspenses argentinos dos últimos anos.

 

Na trama, conhecemos o casal Laura (Laia Costa) e Marcos (Leonardo Sbaraglia) que viajam da Espanha, onde moram, para uma cidade gelada na Argentina para resolver questões burocráticas e a herança do pai de Marcos que falecera recentemente. Chegando no lugar, Marcos confrontará uma tragédia no passado de sua família principalmente quando precisa convencer o irmão Salvador (Ricardo Darin) a vender a casa onde vive. Laura aos poucos vai entendendo o jogo quase que psicológico que os dois irmãos mantém reunindo peças de uma quebra cabeça cheio de amargura, solidão e tristeza.

 

Os segredos pertencentes a família começam a cair por terra quando um iminente confronto dos irmãos é imposto por uma futura, possível e rentável venda do terreno onde viveram toda uma vida. As revelações chegam aos poucos, o que deixa o clima cheio de tensão. A esposa de Marcos tem papel importante nesse quebra cabeça, ela segue como os olhos do público a cada peça encontrada para esclarecimento do que realmente aconteceu ali no passado que essa família jamais esqueceu. A reunião de todas as peças culmina em um final chocante, arrebatador.

 

Um dos focos da trama, a amargura de Salvador é nítida, tido como o vilão de sempre por um pai pouco piedoso que descarregou toda sua frustração com o ocorrido no colo do irmão mais velho. A composição de Darin para sua personagem é algo estrondoso, consegue preencher as cenas com poucas falas mas uma expressão que fala muito deixando o público atento para qualquer revelação que chegue em algum instante.

 

Neve Negra foi um estrondoso sucesso na Argentina logo na semana de estreia. Realmente é um filme que mexe com nossas emoções, angustiante até a última gota de sofrimento que chegam em forma de revelações bombásticas de um passado inesquecível de uma família que guardava segredos polêmicos. Fora o excelente roteiro, a brilhante direção e atuações acima da média, um filme com Ricardo Darín no elenco sempre precisa ser visto.

 

Os Infratores (EUA)

Na época de Al Capone e de muitos outros nomes famosos do crime conhecemos uma história de irmandade e muito sangue de uma família, estamos falando do excelente “Os Infratores”. Dirigido pelo australiano John Hillcoat (que comandou o ótimo “A Estrada”) somos guiados até o início da década de 30, entre uma dose e outra, há muita ação e aventura, baseada na obra de Matt Bondurant.

 

Na trama, conhecemos a história dos irmãos Bondurant (Jack, Forrest e Howard) que vivem do contrabando de bebidas, nos primórdios da década de 30. Os negócios iam bem até que um novo chefe local coloca um assistente nos pés dessa corajosa família. Na terra dos valentões e à bordo de um carro que bebe muito álcool essa família irá enfrentar um grande desafio para manter os negócios. Em meio a tiros e muito sangue jorrando na tela temos algumas histórias de amor, uma bastante carnal, outra romântica (com ar jovial). A animada trilha sonora preenche com louvor todas as lacunas que precisam ser completadas. A contextualização é fácil e direta, levando o público facilmente para dentro daquele universo, méritos do roteiro (adaptado) de Nick Cave.

 

Cada um dos ótimos atores efetivamente dá sua contribuição à fita. Guy Pearce consegue ser um ótimo vilão com seu personagem sem sobrancelha, o trejeito estranho e a ironia são muito bem evidenciados pelo ator inglês. Gary Oldman e suas aparições relâmpagos ajudam a dar certa continuidade à trama. Tom Hardy está espetacular na pele do homem que acreditava na própria lenda, acertou em cheio na composição de seu personagem, nome certo no próximo Oscar. No papel do irmão mais novo (aquele que faz muitas besteiras durante toda a fita) poderiam ter sido escolhidos muitos atores, o selecionado foi o Shia LeBeouf, que faz o famoso feijão com arroz e não compromete no papel.

 

Dá pra rir, se emocionar e torcer muito para os personagens que exalam simpatia. Com todos esses ingredientes é uma grande infração cinéfila você não conferir esse filme.

 

 

Shame (EUA)

 

O que fazer para se curar de um vício que está deteriorando gradativamente a sua vida? O novo trabalho do diretor inglês Steve McQueen (Hunger) nos conta o drama de um homem e sua compulsão. A ótima trilha sonora assinada por Harry Escott (que fez também a trilha de Meninama.com) ajuda a narrar esse que é um dos grandes filmes do ano de 2012.

 

Na trama, um compulsivo sexual ao extremo (com uma promissora carreira profissional) vive dias de desespero após a chegada de sua irmã ao apartamento onde mora. Seus dias eram preenchidos com visitas a sites pornográficos, coleção de revistas com tema adulto, masturbações nas pausas do trabalho (no banheiro da empresa) e vários encontros com desconhecidas, sempre terminando em sexo ou ações desse tipo. Quando sua irmã entra na história, sua rotina é abruptamente afetada e isso gera um descontrole intenso.

 

Na apresentação do personagem principal já temos uma ideia do vício que ele possui, com cenas muito verdadeiras (nua e crua em alguns momentos), vamos conhecendo melhor o protagonista.

 

Impressiona a atuação de Michael Fassbender, passa muita tristeza nos olhos por conta desse vício que sofre. Seu personagem Brandon Sullivan é um ninfomaníaco bastante consumido por seus impulsos. O ator alemão comove e se entrega em cenas bem complexas. Infelizmente foi esquecido pela Academia (Oscar). Carey Mulligan está fabulosa no papel de Sissy Sullivan, tem um carisma único e contagia o espectador. Quando aparece cantando um clássico do Sinatra e com uma roupa bem ao estilo Marylin Monroe, vira um dos melhores momentos, simplesmente espetacular.

 

Os irmãos possuem ao longo da trama diálogos intensos (às vezes violento). Um tenta ajudar ao outro mas as barreiras colocadas por cada um deles são muito difíceis de serem superadas. Há muito carinho nessa relação, muitas cenas mostram isso, porém, por conta da tentativa de ajuda de ambos os lados não serem feitas com êxito a eminência de uma tragédia para uma das partes se torna concreto. O final é bem aberto, deixando o público tirar suas próprias conclusões.

 

 

Os Meninos Que Enganavam Nazistas (França, Canadá, República Tcheca)

 

Nas grandes batalhas da vida, o primeiro passo para a vitória é o desejo de vencer. Dirigido pelo experiente cineasta canadense Christian Duguay, Os Meninos Que Enganavam Nazistas é mais um recorte da grande guerra. Mostra um lado do conflito que dizimou populações de vários países. Aos olhos de dois carismáticos irmãos somos testemunhas dos absurdos que os nazistas faziam, uma perseguição em massa contra os judeus em uma França dividida na década de 40. O roteiro é baseado em fatos reais e na obra Un Sac de Billes – também o nome original desse longa – escrito por Joseph Joffo, um dos protagonistas da história.

 

Na trama, conhecemos a família Joffo, judeus que vivem na França em uma época onde os nazistas ocuparam algumas regiões desse país, tornando a vida de esforçados trabalhadores em um inferno doloroso. Assim, Joseph (Dorian Le Clech) e Maurice (Batyste Fleurial) precisam fugir, seguindo um plano mirabolante feito por seu pai, o barbeiro Roman (Patrick Bruel) para uma região neutra e assim a família poder ser reunida novamente. Passando várias situações de risco e contando com a ajuda de surpreendentes personagens que aparecem na trajetória dos irmãos, os dois precisam unir forças e juntos enfrentar todos os inúmeros obstáculos que vão ter pela frente.

 

Um dos focos da trama é o valor da amizade entre os irmãos. Ambos enfrentam situações extremas na luta pela sobrevivência, em uma França repleta de soldados nazistas. Mostra-se também todo o sofrimento da família e as escolhas difíceis que precisam tomar para proteger a todos. A figura do pai é emblemática aos olhos dos irmãos, barbeiro e trabalhador, vê seu mundo desabar com as ameaças que recebe mas jamais perde a ternura e o carinho pelos seus filhos. Uma bela atuação do ótimo ator argelino Patrick Bruel.

 

O longa mostra o amadurecimento precoce dos jovens e uma vivência que levaram para o resto da vida. Como filme, Os Meninos Que Enganavam Nazistas, não acrescenta muito sobre fatos e relatos já vistos, lidos sobre os conflitos históricos da década de 40 na Europa. Há uma delicadeza na direção em algumas sequências, tenta mostrar todo um sofrimento de maneira até certo ponto superficial.

 

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