O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte
tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para
emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo
através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que
ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações
engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através
da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de
que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo
cinema.
Nossa entrevistada de hoje é cinéfila, de Cidade Ocidental
(Goiás). Naiara Rocha tem 24 anos. É
publicitária, designer gráfico, editora de vídeos e áudio e técnica de Produção
de Áudio e Vídeo pelo Instituto Federal de Brasília, Campus Recantos das Emas.
É cofundadora e diretora de comunicação do Coletivo de Cinema e Cineclubismo
Cine Quebrada (Cidade Ocidental/GO, 2020), atuando na democratização e exibição
de filmes brasileiros independentes nas periferias do entorno do Distrito
Federal e em outras regiões. Pesquisa a história do Quilombo Mesquita como
material de estudo para produção do curta metragem “Mesquita”. Participou dos
projetos de cineclubes “Cine Quarentena” (IFB, 2020) e “Cine Quebrada”
(Coletivo Cine Quebrada, 2020). Participou da primeira edição do “Festival
Recanto do Cinema – Audiovisual da Periferia” (IFB, 2019) na equipe de
comunicação e em sua segunda edição (IFB, 2020) como curadora e programadora da
Mostra de Curtas-Metragens Brasileiros e também na Prática Profissionais – IFB
(2020) no Rastro – Festival de Cinema Documentário. Participou da Exposição Magia
Negra – Núcleo de Estudos Afro brasileiro e Indígena (NEABI/IFB, 2019) com o
seu ensaio Fotográfico “Liberte-se Afro”, trabalho que também apresentou na
Semana de Reflexões sobre Negritude, Gênero e Raça do IFB (SERNEGRA, 2019).
Formada em Comunicação Social – Publicidade e Propaganda pelo Centro
Universitário Euro-Americano (2018), trabalha também com publicidade, designer
gráfico, direção de produção, assistente de direção de arte, roteiro e edição
de vídeo e áudio. Foi coordenadora de comunicação do Coletivo de Mulheres de
Cidade Ocidental (2019), fez direção de produção dos curtas-metragens “Mercado
Sul Vive” (Dir. Lenilson Costa e Larissa Campos, 2019) e “Quimera” (Dir.
Letícia Rocha e Gabriel Camargo, 2020).
1) Na sua cidade,
qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da
escolha.
Na minha cidade não tem salas de cinema, ainda, mas eu junto
com outros colegas do cinema idealizamos o cineclube Cine Quebrada que antes da
pandemia era realizado no Espaço Sociocultural Nós por Nós, do coletivo de
mesmo nome. Antes da pandemia realizamos sessões com programações especiais e
debates sobre os filmes e o tema que o filme trazia em cena. Era maravilhoso,
pois era o momento em que a juventude de Cidade Ocidental apaixonada por cinema
e audiovisual se encontrava e trocava ideias. Hoje, o cineclube não acontece
presencialmente por questões de segurança, mas atualmente o coletivo de cinema
Cine Quebrada, o mesmo que participo, está em busca de alternativas para voltar
com a programação, mas de forma virtual.
2) Qual o primeiro
filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.
Cuscuz Peitinho
Diretores: Julio Castro, Rodrigo Sena.
3) Qual seu diretor
favorito e seu filme favorito dele?
É muito difícil para mim escolher um favorito, e olha que
não sou libriana, mas eu curto muito as produções da Yasmin Thayná e o meu favorito é Kbela.
4) Qual seu filme
nacional favorito e porquê?
Eu curto muito o universo de Inferninho de Guto Parente,
Pedro Diógenes. É um filme que marcou muito na minha vida, a história da
Deusimar me atravessou mesmo eu sendo uma mulher cis. A fotografia do filme é
linda e eu me apaixonei pela direção de arte que ficou impecável. O filme é uma
mistura de teatro com fantasia e aborda questões de gênero.
5) O que é ser
cinéfilo para você?
Pra mim é complicado responder o que é ser. Eu só sei que eu
sou por causa do Instituto Federal de Brasília, o campus Recanto das Emas que
me banhou com o melhor e puro suco do cinema brasileiro independente. Pela Marcela Borela e Juliane Peixoto que me mostraram como o cinema e os filmes curam e
fecham feridas mas que também abrem aquelas que estão se cicatrizando. Em como
o filme A Parteira, de Catarina Doolan me mostraram o quanto
parir é algo lindo e profundo mas que nós mulheres temos muitas subjetividades
para além da maternidade. Acredito que ser cinéfilo é isso, assistir filmes
observando o que as histórias vão construir em mim como pessoa política e
humana. Muitas vezes ser cinéfilo não é entender sobre toda a construção de uma
produção, mas sentir o que aquela produção quer dizer e ser atravessado.
6) Você acredita que
a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas
que entendem de cinema?
Acredito que as salas de cinemas comerciais não. Mas as
programações de Festivais de Cinema como Festival
Moã, Festival de Taguatinga e Festival
Recanto do Cinema sim, tem conhecimento de cinema, e de um cinema sensível
e não hegemônico.
7) Algum dia as salas
de cinema vão acabar?
Segundo, as pesquisas de streaming estão com risco,
né?! Mas acredito que não acaba não. Eu
acredito que vai ter mais salas de cinemas como cineclubes onde a programação é
cuidadosamente pensada para debater diversos assuntos, existe um levante jovem
de cineastas, nas periferias, nas favelas, nas cidades pequenas. O eixo SP-RJ
não é mais o único que está fazendo cinema e distribuindo cinema.
8) Indique um filme
que você acha que muitos não viram mas é ótimo.
Perifericu das
Diretoras: Rosa Caldeira, Nay Mendl,
Stheffany Fernanda, Vita Pereira. É um curta maravilhoso que conta a
história de garotas periféricas que estão em busca dos seus sonhos e existindo
em meio à violência a seus corpos pretos.
9) Você acha que as
salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?
Com certeza não! Antes de tudo precisamos pensar na saúde
coletiva. E a internet está aí para democratizar o acesso a filmes e
construções de narrativas para além do que vemos nas salas de cinema
comerciais.
10) Como você enxerga
a qualidade do cinema brasileiro atualmente?
Acho que você já percebeu que eu sou da bandeira do cinema
brasileiro rs. Eu amo o cinema brasileiro, mas quando falo isso não quero dizer
Globo Filmes. Falo dos filmes
independentes, falo do cinema de Marcela
Borela, de Guto Parentes, de Thayna Yasmin e entre outros cineastas
brasileiros. Estamos construindo narrativas e essa construção traz à cena
histórias não hegemônicas, cis e branca. Existe um cuidado por trás disso tudo,
um cuidado em como falar de assuntos delicados para alguns e espinhosos para
outros.
11) Diga o artista
brasileiro que você não perde um filme.
Bruno Victor, ele
fez Afronte que é um filme que me
atravessou por inteira, eu mulher negra e bissexual que sabe como é está em
corpo preto que muitas vezes não é escutado e muito violentado. Estou ansiosa
para a sua nova produção, Pirenopolynda, foi rodado agora em Pirenópolis.
12) Defina cinema com
uma frase:
Político.
13) Conte uma
história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:
Não foi inusitado mas quando fui com a minha prima mais nova
assistir O Bom Dinossauro uma
animação da Disney; é uma história bem fofa e emocionante, mas eu não esperava
que a minha prima choraria no final quando o Arlo volta para casa. Eu achei
aquilo uma coisa tão genuína e amorosa.
14) Defina 'Cinderela
Baiana' em poucas palavras...
cringe...
15) Muitos diretores
de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta
precisa ser cinéfilo?
Não acho, acredito que dirigir um filme está para além
disso.
16) Qual o pior filme
que você viu na vida?
Os Salafrários.
Não é o pior, mas eu não conseguir fechar 30 minutos de filme.
17) Qual seu
documentário preferido?
Eu tenho tantos preferidos, que é até difícil escolher rs. Taego Ãwa é um dos que gosto bastante,
dos irmãos Marcela Borela e Henrique Borela.
18) Você já bateu
palmas para um filme ao final de uma sessão?
Sim, demais! Quando eu assisti Visionários da Quebrada da Ana
Carolina Martins. Acho que não foi só eu que levantei para bater palmas,
toda a sala.
19) Qual o melhor
filme com Nicolas Cage que você viu?
Puts... eu falaria nenhum (desculpa fãs de Nicolas Cage), mas eu curti a animação
que ele dublou. The Croods.
20) Qual site de cinema
você mais lê pela internet?
Verberenas!
21) Qual streaming
disponível no Brasil você mais assiste filmes?
Quando quero assistir nacionais ou outros independentes
assistindo no MUBI e quando eu quero
vê algum besteirol americano e me alienar é a Netflix.