Nos anos 1960 e 1970, o produtor húngaro-brasileiro Thomaz Farkas reuniu realizadores de várias partes do Brasil para registrar modos de vida de diferentes lugares, em especial do nordeste brasileiro. O Nordeste sob a Caravana Farkas, longa-metragem exibido na mostra Sob o Céu Nordestino do Fest Arunda 2025, joga luz para essa jornada, dividida em alguns episódios que percorrem histórias de vaqueiros, as melodias de improviso de artistas repentistas, o conturbado cangaço e a o trabalho artesanal com o barro.
Dirigido pela dupla Arthur
Lins e André Moura Lopes, esse
projeto paraibano reúne uma importante pesquisa sobre esse tour, provocando uma
valorização profunda de personagens e suas histórias. Do resgate das tradições
à transmissão intergeracional e à afirmação identitária, passando pelas
manifestações culturais de muitos lugares desconhecidos por grande parte dos
brasileiros, vamos percorrendo o concreto da realidade com tentativas de
paralelos com o tempo.
Uma característica que chama a atenção na narrativa é a
maneira espaçada com que os subtópicos do tema são apresentados. Não há
deslizes estéticos nem criações mirabolantes em relação a linguagem; porém, ao
contar a história da forma proposta – mesmo com o fio condutor estabelecido desde
a legenda inicial -, as pontes necessárias para maior fluidez se desmancham. O
filme acaba não provocando, apenas encantando. O que é contado é super válido
como registro, mas a maneira como se desenvolve a narrativa pode ser tornar
maçante ao espectador.
Mesmo com esses poréns, o projeto consegue um certo
equilíbrio para atingir um dos seus principais objetivos: mostrar o antes e
depois, as amarras do que é histórico e o reflexo do contemporâneo nordestino.
É preciso paciência aos longo dos extensos 107 minutos de projeção ao embarcar
nessa viagem, tendo como ponto de partida a importância do registro - que logo se
amplia para resistências, preservação de identidade atingindo, novos olhares e considerações.
