17/02/2019

Crítica do filme: 'Maus Momentos no Hotel Royale'


A insanidade em busca de uma certa redenção. Existe filmes que conseguem provocar uma grande atmosfera, um clima tenso mesmo que seu roteiro passe longe da perfeição. Com enigmáticos personagens praticamente escondidos em um hotel peculiar no meio do nada, Maus Momentos no Hotel Royale é um suspense insano, repleto de figuras complexas, cada qual com seu objetivo. Ao longo das quase duas horas e meia de projeção, somos testemunhas de atos violentos, peças que vão se juntando aos poucos em um tabuleiro macabro de ganância e egoísmo.

Na trama, ambientada décadas atrás, conhecemos sete figuras desconhecidas que acabam indo parar no mesmo hotel em um certo dia. Cada um deles tem muita coisa a esconder e acaba parando nesse lugar, alguns por acaso e outros com a direção correta, para ir atrás do seus respectivos objetivos. Mas, por armadilha do destino, esses complicados personagens acabam invadindo os objetivos uns dos outros, transformando uma noite em uma batalha pela sobrevivência, onde não existe o bem nem o mal.

Segundo longa dirigido pelo cineasta Drew Goddard, o primeiro foi O Segredo da Cabana, Bad Times at the El Royale, no original, é um thriller instigante mesmo que seu roteiro se prolongue em alguns atos e deixando apenas migalhas na compreensão de alguns dos objetivos de seus enigmáticos visitantes do hotel royale. A direção é extremamente competente, elegante, mostra a violência nua e crua através dos atos de seus personagens, que possui a interseção de não terem nada a perder. Jeff Bridges, Dakota Johnson, Jon Hamm, Chris Hemsworth e até mesmo o genial menino prodígio da direção Xavier Dolan estão no ótimo elenco. Mesmo com esses bons nomes do atual cinema mundial, quem se destaca é a atriz britânica Cynthia Erivo (que você pode assistir no ótimo Viúvas), sua personagem rouba a cena em muitos momentos.

Mesmo com muitos pontos positivos, mas após ter uma recepção fraca nas bilheterias norte-americanas, Maus Momentos no Hotel Royale, teve sua estreia nos cinemas, primeiro adiada, depois cancelada no Brasil. Para um filme chegar no concorrido circuito exibidor brasileiro, concorrido porque temos pouquíssimas salas pelo tamanho de nosso imenso país, algumas distribuidoras fazem grandes análises para saber se vale a pena entrar ou não com o filme no circuito. Uma pena, esse filme merecia pelo menos uma chance.

Continue lendo... Crítica do filme: 'Maus Momentos no Hotel Royale'
,

Crítica do filme: 'Querido Menino'


Depois de devastar nossos corações cinéfilos com o drama Alabama Monroe, o cineasta belga Felix van Groeningen volta a atingir em cheio nossas emoções com seu novo trabalho, Querido Menino. Baseado nos livros Querido Menino, de David Sheff, e Tweak: Growing up on Methamphetamines, de Nic Sheff, o filme preenche a maioria das lacunas sobre o sentimento de um pai em busca de uma solução para os problemas de drogas do filho. Em atuações cativantes e dignas de Oscar, Timothée Chalamet e Steve Carell formam filho e pai nesse projeto importante também para mostrar essa realidade, para alguns distante para outros nem tanto, do desespero emocional que passa não só a pessoa que possui problema com drogas mas também todos que estão ao seu redor.

Na trama, conhecemos David Sheff (Steve Carell), um homem de meia idade, bem sucedido em sua profissão pai amoroso que vive em uma casa confortável com sua atual esposa Karen (Maura Tierney). David é pai de Nick (Timothée Chalamet) um jovem que com o passar do tempo começa a ter sérios problemas com as mais diversas drogas que existem. Ao longo de uma passagem de tempo, vamos acompanhando David, suas lembranças, e principalmente sua busca em encontrar alguma solução para esse problema complicado que o filho passa.

O roteiro, baseado nos livros de pai e filho que são os personagens principais da trama, é um grande vai e vem entre recordações, solidão, desespero, medo e muitos outros sentimentos conflituosos que chegam como uma flecha principalmente para David. Ao longo de um pouco mais de duas horas de duração, conseguimos enxergar a situação de Nick através não só dos olhos de seu pai, mas também de sua madrasta (mãe de seus outros dois irmãos pequenos), e de sua mãe que mora em outra cidade. Em busca de alternativas para curar esse sofrimento que paira sobre a família, principalmente David embarca em uma jornada de redescobertas, estudo e desabafo mesmo quando suas forças para lutar estão limitadas.

Há uma carga de emoção muito grande em tudo que vemos nesse filme, Van Groeningen já mostrou que sabe como nos atingir desse lado daqui da tela, sua maneira de filmar te embarca para dentro daqueles cenários, aquelas conversas, que mais difícil que possam parecer, tem o poder também de conscientizar. Querido Menino não é um filme fácil, toca bem forte nossos corações. É um forte e marcante filme. Uma grata surpresa desse ano que está começando. Inacreditavelmente não ganhou uma mera indicação ao Oscar nas principais categorias desse ano mas de que importa? Sabemos que Oscar é uma grande politicagem. Não deixem de conferir esse belo trabalho.  

Continue lendo... Crítica do filme: 'Querido Menino'

Crítica do filme: 'Se a Rua Beale Falasse'


Um olhar vale mais que mil palavras. Baseado no livro homônimo, de James Baldwin, publicado no início da década de 70, Se a Rua Beale Falasse, novo trabalho de Barry Jenkins mesmo diretor e roteirista de Moonlight - Sob a Luz do Luar, que conquistou Oscar de Melhor Filme e Melhor Roteiro Adaptado em 2017, possui arcos bem definidos (mesmo que alguns um pouco cansativos), sugere idas e vindas em torno do problema em que um dos personagens centrais é colocado. Mas o roteiro é muito mais sobre uma prisão feita de maneira equivocada, é sobre a importância do amor e também sobre todo um contexto social que reflete em um país que não conseguiu se desprender por completo do ódio racial.


Na trama, conhecemos uma carinhoso e carismático homem chamado Fonny (Stephan James), um artesão que vive sua vida para sua namorada e eterna amiga Trish (KiKi Layne). Certo dia, após ser confundido pela polícia, é acusado de um crime terrível e acaba parando na prisão. Sem medir esforços, Trish e sua família, correm desesperadamente para provar sua inocência. O tempo passa e muitos obstáculos pelo caminho o casal enfrenta. A belíssima trilha sonora dita o ritmo desse história forte e profunda.
 

Indicado ao Oscar desse ano nas categorias de Melhor Roteiro Adaptado (Barry Jenkins), Melhor Atriz Coadjuvante (Regina King) e Melhor Trilha Sonora, Se a Rua Beale Falasse é repleto de críticas a sociedade norte americana, a obra se torna atemporal tamanha a força nos argumentos e nos emblemáticos diálogos repletos de emoção. O modo como foi filmado é belo, enquadramentos no rosto dos personagens, a busca pelos detalhes nas expressões, fazem o espectador se conectar com toda a narrativa que se segue. Destaque na atuação vai para a sempre excelente Regina King que rouba todas as atenções sempre que em cena.


A questão da fé e suas nuâncias caminham com os personagens a todo instante do início ao fim. O mais impactante é o contexto aos olhos da mãe de Fonny, uma mulher perturbada que não apoia a relação do filho com Tish. Em uma das sequências mais marcantes do filme, logo em seu primeiro arco, na reunião familiar entre as duas famílias para contar uma novidade, somos surpreendidos por pensamentos repleto de rancor e tristeza feitas por essa personagem. Colocar na mão de Deus as batalhas que temos que travar aqui na Terra em busca de justiça é no mínimo uma linha tênue entre o aceitar e o lutar.


Há um ar de desilusão, medo, indignação. Quando o momento ruim acabará? Porque o medo corrói nossos pensamentos? O filme navega de maneira lenta e repleta de detalhes por dentro dos sentimentos de todos ao redor do casal. O amor deles ganha lindas cenas, sendo apresentado desde seu início, preenchendo os minutos de projeção como se fossem o background de todo o problema que Fonny e Trish passam após a prisão do primeiro.


Para assistir a esse belo trabalho, que foi um dos filmes exibidos no Festival do Rio do ano passado, nos cinemas, você pode ter alguma dificuldade. Uma pena a distribuidora do filme no Brasil lançar esse projeto em tão poucas salas e tão poucas cópias, é um filme importante que merecia um circuito mais amplo.


Continue lendo... Crítica do filme: 'Se a Rua Beale Falasse'

16/02/2019

Crítica do filme: 'Vice'


As verdades dos bastidores. Indicado em algumas categorias ao Oscar desse ano, Vice, dirigido pelo ótimo cineasta Adam McKay (A Grande Aposta) é caricato, debochado, sem limites ou linhas tênue, tudo que reflete ao personagem principal podemos dizer é um grande espelho de adjetivos ao próprio filme. Grande parte do tempo narrado por uma voz misteriosa (que descobrimos ao longo do filme de quem é), o projeto apresenta argumentos, baseados em fatos reais, de todas as decisões polêmicas tomadas pelo vice presidente dos Estados Unidos no governo George W. Bush, Dick Cheney.

Orçado em cerca de 40 Milhões de Dólares, conhecemos mais detalhadamente a trajetória profissional política de Dick Cheney (Christian Bale). De problemas com a bebida e um casamento por um fio até sua jornada pelos corredores mais poderosos dos Estados Unidos, vamos acompanhando as transformações que passa não só Dick mas toda a família Cheney, que possui em Lynne Chaney (Amy Adams) seu porto seguro. Com sua chegada ao alto escalão do governo e sua visão maquiavélica sobre o poder, Cheney fica marcado pelas polêmicas ações feitas por ele após a maior tragédia terrorista em solo norte americano.

Metade da sala quer ser nós e metade da sala nos teme. Vice não foca somente em Dick, sua péssima oratória, e suas atitudes sem limites impondo seu poder através do presidente fantoche que se estabeleceu nos Estados Unidos durante sua passagem como vice-presidente norte americano, abre arcos importantes para o papel de sua esposa Lynne, interpretada de maneira impactante pelo atriz Amy Adams. Lynne Chaney, uma verdadeira obstinada pelo poder, é o complemento que Cheney sempre precisava. Não havia mulher mais perfeita para ele na face da terra.

O desenvolvimento físico e expressivo de Christian Bale no papel principal é fantástico, um dos grandes atores de sua geração, interpreta herói (Batman) à vilão (Dick) de maneira dedicada. Dick, a princípio um soldado de infantaria dos intensos jogos de poder de Washington, se torna a partir de suas artimanhas, a teoria executiva unitária entre outras jogadas, uma poderosa peça no tabuleiro norte americano, se tornando O vice presidente que mais mandou em um governo. Em resumo, Vice é uma junção de grandes atuações desmascarando um grande teatro imposto bastidores de um dos períodos de governos mais polêmicos.

Continue lendo... Crítica do filme: 'Vice'

11/02/2019

,

Crítica do filme: 'Todos já Sabem'

Segredos que todos sabem, não é mais segredo. Dirigido pelo excelente cineasta iraniano Asghar Farhadi, ganhador de dois Oscar (A Separação e O Apartamento), Todos já Sabem, todo falado em espanhol, é um misterioso quebra cabeça onde as peças vão sendo mostradas ao público de maneira lenta e com muito detalhes, além da superfície. Um suspense com veias dramáticas que explora os mais profundos dramas dos envolvidos e nos mostram até a onde somos capazes de agir em momentos extremos.

Na trama, conhecemos a espanhola Laura (Penélope Cruz) que embarca em uma viagem com seus dois filhos (sem o marido Alejandro - Ricardo Darin) para visitar sua família e acompanhar o casamento de uma das irmãs num lugar onde viveu grande parte da vida. Aos poucos, o que parecia ser um dia de comemoração, acaba virando uma noite terrível e uma situação trágica acontece, levando toda a família a abrirem feridas do passado em busca de alguma solução para o caso.

Não sei se é uma regra universal mas segredos de família sempre são revelados em dias apoteóticos e os desenrolarem são complexos, seja no cinema ou na vida real. Um amor do passado em conflito com o amor do presente, o roteiro navega em segredos que os personagens vão deixando rastro aos poucos. Nossos olhos são os de Laura e Paco (Javier Bardem), antigos namorados mas que hoje vivem cada um para sua família. Conforme a tragédia se anuncia, tudo que estava debaixo do tapete vem a tona, transformando não só a ótica de toda uma família mas de toda uma região.

O roteiro possui arcos bem definidos, profundos e com alta carga de drama. A direção é competente mesmo sendo um filme não tão redondo como os em que Farhadi ganhou seus dois Oscars. Todos Já Sabem estreia no dia 21 de fevereiro no circuito brasileiro de exibição.

Continue lendo... Crítica do filme: 'Todos já Sabem'

05/02/2019

Crítica do filme: 'Fúria em Alto Mar'


Passando que nem uma flecha pelo circuito exibidor esse ano, a ação recheada de clichês Fúria em Alto Mar é o que podemos dizer de mais do mesmo da indústria hollywoodiana. Baseado no livro Firing Point, de Don Keith e George Wallace, o projeto, repleto de nomes conhecidos do grande público, leva para a tela situações absurdas de um eminente conflito a partir de um sequestro do mais alto comando russo. Ao longo dos sonolentos 120 minutos de projeção, consumimos uma grande falta de criatividade narrativa e atuações dignas de framboesas de ouro.

Na trama, acompanhamos uma inusitada situação envolvendo Rússia e Estados Unidos, submarinos e decisões críticas que serão tomadas. Em um determinado dia, a Rússia sofre um duro golpe militar e seu presidente é sequestrado pelos próprios russos. O problema é que poucos sabem a verdade sobre o ocorrido, deixando os ânimos entre as duas potências a beira de um início de Terceira Guerra Mundial. Correndo contra o tempo, os integrantes de um submarino norte americano, liderado pelo recém-promovido a capitão Joe Glass (Gerard Butler) tenta descobrir as verdades e evitar um eventual conflito.

Os furos do roteiro são peças importantes que nos conduzem a uma série de confusões sobre a narrativa. As peças demoram para se juntar, desde o primeiro arco de apresentação dos principais personagens, passando pelas nuâncias do provável conflito e o arco de desfecho louvando um respeito militar entre capitães. O foco do projeto é o lado norte americano, e as faltas de informações sobre os principais pontos do ocorrido. Indo apenas na superfície para detalhar o outro lado do conflito, o roteiro desliza em seus desfechos, não conseguindo atingir o clímax necessário para conseguir a atenção dos olhos cinéfilos.

Gostando de filmes de ação, pode ser até que agrade. Sendo assim, esqueçam as aulas de história, todos os livros sobre os principais conflitos que o mundo já teve, o que interessa é comer pipoca e viajar em uma trama para lá de incongruente.

Continue lendo... Crítica do filme: 'Fúria em Alto Mar'

29/01/2019

Crítica do filme: 'Green Book'


Como entender o universo do preconceito com um contexto de amizade? Um dos grandes indicados ao Oscar desse ano, Green Book, chegou aos cinemas brasileiros na semana passada trazendo à luz o tema do preconceito em uma road trip repleta de descobertas e validações de afirmações em um Estados Unidos dominado pelas diferenças. Dirigido por Peter Farrelly, o projeto não se aprofunda tanto no assunto quanto deveria (e poderia), deixando soluções simples para criar um contexto harmônico mas sem deixar de trazer à discussão suas mensagens. A dupla de artistas principais dessa obra, Viggo Mortensen e Mahershala Ali cumprem com louvor o objetivo de seus personagens, enchendo a tela de carisma.

Na trama, conhecemos o ítalo-americano Tony Lip (Viggo Mortensen), um ex-segurança de boate que na busca por emprego acaba sendo selecionado para ser o motorista da turnê de um famoso pianista negro, Don Shirley (Mahershala Ali). Com um trajeto para lá de complicado, por conta dos absurdos casos de preconceito que percorrem o Estados Unidos, Tony é guiado por um guia, chamado Green Book, onde mostra-se os lugares onde os negros poderiam acessar sem sofrer nenhum tipo de restrição. Ao longo dessa viagem de meses, os dois personagens irão ao confronto de suas dores, seus pensamentos em busca de entendimentos sobre o sentido de suas vidas. Green Book é uma história forte, com alta carga dramática rodeada por uma crescente amizade.

De conclusões simples para um tema tão complexo. Talvez, a maior crítica a esse projeto seja a forma simplista que os arcos são fechados, sem tem um maior e detalhado apanhado geral da real situação que o preconceito dominava na época. Em busca de reconhecimento e tentando possuir seu livre arbítrio, Don Shirley resolve escolher um caminho cheio de obstáculos, nada simples, para sua nova turnê, tendo que passar por situações constrangedoras ao longo da viagem. O personagem de Mortensen caracteriza-se como a figura do preconceito inicial, principalmente nas cenas de abertura do primeiro arco e acaba passando por uma grande transformação até os créditos iniciais. Pouco detalhado, o relacionamento forte e afetivo de Lip e sua família, principalmente de sua esposa Dolores (interpretada pela ótima Linda Cardellini) é um dos pontos importantes do roteiro, abre e fecha os arcos dos extremos mas sem muita profundidade.

Longe de ser um filme emblemático sobre o tema, o longa se agarra em ótimas atuações e uma direção correta. Relata o preconceito e a solidão de um homem que se sentia sozinho no mundo, pela linha tênue que traçou entre a genialidade/conquistas (o que o afasta de muitos outros negros da época, sem oportunidades) e o preconceito (mesmo sendo um exímio músico não consegue reconhecimento completo por conta de sua cor).

Continue lendo... Crítica do filme: 'Green Book'

27/01/2019

Crítica do filme: 'Aquaman'


O herói dos 7 mares. Tentando vencer a batalha com a Marvel, A DC aposta mais fichas no seu tabuleiro de super heróis contando dessa vez mais sobre a trajetória de um meio humano, meio ser do mar, o conhecido Aquaman. Dirigido pelo cineasta malaio James Wan, comandante do primeiro Jogos Mortais, o longa é visualmente impactante, reúne nomes conhecidos da atual e da velha indústria hollywoodiana, e um roteiro que tenta cumprir seu objetivo de divertir em pouco mais de duas horas de duração.

Na trama, conhecemos o jovem Arthur (Jason Momoa), um poderoso ser de dois mundos que tem o pai humano e a mãe rainha do Reino de Atlântida (Nicole Kidman). Desde pequeno soube que tem poderes de comunicação com seres aquáticos e uma força sobrenatural quando em terra. Treinado pelo guerreiro Vulko (Willem Dafoe) para um dia assumir o trono de Atlântida, Arthur passa anos se culpando pela morte de sua mãe. Quando seu meio irmão, Orm (Patrick Wilson) resolve proclamar uma guerra contra os seres da superfície, Arthur, com a ajuda da guerreira Mera (Amber Heard) precisará lutará para ser reconhecido como o rei de todos os mares.

Antes da amizade com a Mulher Maravilha, Batman e Superman, Arthur precisou se provar para um dos seus povos como um merecedor do artefato poderoso das águas, um tridente de um antigo rei. Em sua jornada, contada de forma acelerada e com foco em cenas intensas de ação, entendemos seus medos e receios em assumir o trono. Interpretado com muito carisma por Momoa, Aquaman é um simpático personagem dos quadrinhos que tenta chegar a superfície do reconhecimento também pelo público. No paralelo entre superfície e profundidade do alto mar, podemos dizer que a aventura não foca na profundidade de seus assuntos, até mesmo nas causas que fazem o reino do mar comandado pelo irmão em atacar a superfície por conta dos lixos diários e falta de carinho com a natureza marítima. Uma pena, era uma boa oportunidade em um filme mega popular explorar assuntos importantes de nossa civilização as vezes tão sem noção.

Estimado em 160 milhões de dólares, o projeto entra na galeria dos filmes ligados ao universo de super heróis, os maiores arrecadadores de bilheteria dos cinemas mundiais. O universo geek, é um mercado extremamente forte, passa de geração a geração, e preenchem, principalmente nas primeiras semanas, mais de 70 % das salas brasileiras, deixando espaço para pouquíssimos outros filmes ganharem a chance de aparecerem nas telonas.

Continue lendo... Crítica do filme: 'Aquaman'

01/12/2018

Crítica do filme: 'Whitney'


Doces amargas lembranças. Dirigido pelo ótimo cineasta escocês Kevin Macdonald (O Último Rei da Escócia) mais um documentário sobre, talvez, a mais marcante de todas as vozes das últimas décadas é apresentado ao público, dessa vez sem medo de apresentar as feridas, sendo construído em busca de respostas que nunca teremos mas argumentos que nos ajudam a compreender o porquê de tanta tristeza, em um fim tão trágico de uma voz que nunca vamos esquecer. Assim, percorremos partes da trajetória de Whitney Houston, desde seus tempos iniciais, como uma voz marcante na igreja, passando pelo seu primeiro contrato, até chegar ao estrelato.

Compartilhe da minha vida. Me aceite pelo que eu sou. Em grande parte desse belo e importante documentário, talvez o definitivo sobre Whitney, vilões são apresentados, um grande conjunto de pessoas que quando poderiam ajudar, acabaram levando a inesquecível cantora para uma ladeira rumo ao fundo do poço. A grande personagem do filme, uma protagonista de toda uma geração de fãs, era um ser fragilizado por tudo o que se tornou e como fora consumida por muitos que aproveitaram de sua fama e estavam muito por perto. Sem querer tender a nenhum dos argumentos apresentados, Macdonald vai atrás da família de Whitney e assim apresenta fatos e questões, através de depoimentos de muitos dos que ficavam ao seu redor.

Totalmente contrário à apollo 13, do triunfo ao desastre, no caso, vamos acompanhando passo a passo a decadência de uma voz por conta de seu vício pelas drogas, fator que desencadeia uma série de tristezas pelos anos que se seguiam totalmente fora de controle, culminando num esgotamento de relação mãe e filha. Em um dos momentos mais tristes, Whitney tenta dar a volta por cima mas realiza um show com plateia lotada de fãs onde sua voz simplesmente não existe mais, frustrando a todos que compraram ingresso, algo inimaginável para alguém que tinha tanto talento e presença de palco.

Não me faça fechar mais uma porta, não quero machucar mais. Fique em meus braços se você se atrever, ou devo imaginar você ali? Não vá para longe de mim, não tenho nada, nada, nada se eu não tiver você. Se eu ficasse, só te atrapalharia, então eu vou embora. Essas partes de duas das mais inesquecíveis canções imortalizadas na voz de Whitney, dizem muito sobre a vida dessa grande e frágil mulher que deixou saudades.

Continue lendo... Crítica do filme: 'Whitney'

Crítica do filme: 'O Ódio que você Semeia'


É difícil definir com apenas uma palavra essa pequena grande obra prima que fora exibido no Festival do Rio desse ano e que chega ao circuito brasileiro de exibição já na próxima semana (pena que provavelmente em pouquíssimas salas pelo Brasil). O Ódio que Você Semeia é envolvente do seu início até o seu fim. Um filme corajoso, um ótimo roteiro adaptado primoroso, diálogos que ficarão em nossas memórias durante muito tempo, atuações impactantes. São muitas as qualidades desse projeto que pode ser considerado um dos mais marcantes filmes de 2018.

Dirigido por George Tillman Jr. e com roteiro adaptado da obra homônima de Angie Thomas, O Ódio que Você Semeia conta a história de Starr (Amandla Stenberg, em grande atuação), uma jovem que vive com sua mãe Lisa (Regina Hall) e seu pai Maverick (Russell Hornsby , com atuação digna de Oscar), um ex-traficante de drogas, e seus dois irmãos em um bairro violento de uma cidade norte americana. Para fugir um pouco da violência, Lisa matricula Starr em um colégio privado em um outro bairro, bem mais nobre, da cidade. Assim, Starr vive seus dias como se fosse duas pessoas diferentes. Certo dia, após uma confusão em uma festa que estava no bairro onde mora, se vê presa em uma situação que mudaria sua vida para sempre, quando vira testemunha de um assassinato. A partir desse fato, uma grande transformação acontece na vida da jovem e onde mudará sua maneira de se impor num mundo cheio de problemas.

É uma das funções do cinema, mostrar de maneira nua e crua o que acontece na nossa realidade. O Ódio que Você Semeia vai além e apresenta argumentos detalhados para mostrar as fraquezas de uma sociedade marcada por ódio, intolerância e sem grandes suspiros para mudar radicalmente. Através de uma nova geração e seus engajamentos, suas lutas a favor do que acreditam, os personagens se encaixam nesse cenário absurdamente real e absurdamente impactante. Umas das lindas mensagens que deixa, do descontruir e construir novamente na figura do pai e suas novas crenças de mudanças pensando sempre no melhor para sua família. Esse é um daqueles tipos de filme para comprar o dvd e guardar para se mostrar para todas as novas gerações.

Continue lendo... Crítica do filme: 'O Ódio que você Semeia'

24/11/2018

Crítica do filme: 'A Rota Selvagem'


Quando a solidão parece um castigo. Baseado na obra do autor britânico Willy Vlautin, A Rota Selvagem traz à tona uma dura realidade presente de um jovem que não tem mãe e acaba de perder seu pai, e por arranjos do destino acaba embarcando em uma jornada ao lado de um cavalo completamente sem rumo. Andrew Haigh (45 Anos), diretor britânico do longa é cirúrgico em sua direção, com uma bela fotografia, buscando a essência do seu impactante personagem principal. É o tipo de história que precisava ser contada por mais duro que seja acompanhar todo o sofrimento do personagem.

Na trama, exibida no Festival de Toronto de 2017 e no Festival do Rio desse ano, acompanhamos a história de Charley (Charlie Plummer), um adolescente de 15 anos que mora com o pai solteiro em Portland. O jovem vive em uma casa humilde e acaba conseguindo trabalho, uma espécie de emprego de verão, como treinador (ou ajudante) de cavalos. Aos poucos vai gostando muito desse trabalho e fica próximo de um dos cavalos de corrida chamado Pete. Quando Pete acaba sendo enviado para ser sacrificado no México, Charley, em um impulso inconsequente resolve fugir com o cavalo.

O projeto, em partes, é uma reunião de monólogos sobre desabafos e reflexões em relação a vida em torno de todo o curto passado que passou até as dificuldades de seu presente. É um retrato delicado e bastante profundo sobre a solidão e o abandono. Privado de ter contato com o resto de sua família por conta de um pai super protetor e deveras inconsequente, Charlie se vê completamente sozinho quando o perde. Viajando rumo a Wyoming, acaba passando um pouco pela recente história norte americana e até encontra com soldados que acabaram de voltar de algumas das guerras que os Norte americanos se meteram. A acomodação por não ter onde ir também chega até as linhas do roteiro fazendo um contraponto a toda liberdade desenfreada que Charlie se encontra.

A Rota Selvagem estreou no circuito dias atrás ao lado de vários concorrentes fortes. Completamente mal lançado, com pouca divulgação, infelizmente será um filme que muitos descobrirão depois.

Continue lendo... Crítica do filme: 'A Rota Selvagem'

22/11/2018

'Maria Callas – Em Suas Próprias Palavras' ganha sessões especiais com a presença do cineasta Tom Volf

Fonte: Fonds de Dotation Maria Callas

Maria Callas é considerada a diva da música lírica. Sua voz com muita delicadeza e timbre único, a tornou a maior soprano da história da música clássica.

Ela nasceu no dia 02 de dezembro de 1923, em Nova Iorque, nos Estados Unidos. E será nos dias 02 e 03 de dezembro que os Reserva Cultural São Paulo e Niterói decidiram homenagear a grande artista com as PRÉ-ESTRÉIAS do filme Maria Callas – Em Suas Próprias Palavras e para celebrar o nascimento desse longa esplendoroso, Tom Volf – diretor do longa participará dos eventos.

Tom virá de Paris ao Brasil apenas para essas duas sessões exclusivas e falará sobre o desafio de montar um filme baseado na vida da cantora lírica e também, dos três anos que ficou imerso em um material rico em detalhes e conteúdo inédito da vida íntima de Callas. O material transformou-se em livro e logo em documentário narrado pela própria cantora e também pela atriz francesa Fanny Ardant.

O trabalho contou com a  estreita colaboração de Nadia Stancioff, amiga íntima de Maria Callas, que nunca esqueceu o pedido da cantora: “Se eu tiver que morrer antes de você, quero que conte às pessoas quem eu realmente era.”

O documentário é narrado inteiro em primeira pessoa. Você verá Callas como nunca foi vista antes – como uma memória póstuma - de coração e alma abertos, a cantora encanta assim como sempre fez nos palcos – agora com as palavras – despindo sua intimidade para que todos começam Maria.

Tom usou arquivos de imagem. No filme, você poderá ver de perto o início da carreira de Maria Callas que teve início na década de 40, como protagonista da ópera “Norma” de Bellini, além de dramas da vida pessoal – como o polêmico casamento com Aristóteles Onassis, incógnitas na trajetória musical – tudo o que você nunca imaginou, ali, bem na sua frente – na tela do cinema.

Pré-estreia Maria Callas – Em Suas Próprias Palavras:

Reserva Cultural São Paulo: dia 02 de dezembro, às 21 horas
Valor: R$ 35 (inteira) R$17,50 (meia)
Endereço: Av. Paulista, 900 – SP
Sessão seguida de debate e drink.

Reserva Cultural Niterói: dia 03 de dezembro, às 20h30 horas
Valor: R$ 31 (inteira) R$15,50 (meia)
Endereço: Avenida Visconde do Rio branco 880 – São Domingos – Niterói
Sessão seguida de debate e drink.


Continue lendo... 'Maria Callas – Em Suas Próprias Palavras' ganha sessões especiais com a presença do cineasta Tom Volf

19/11/2018

Crítica do filme: 'O Protetor 2'


O dom de proteger a todos e a tudo em busca de uma redenção. Desde décadas atrás o mundo do cinema acabou ficando carente de fortes filmes de ação, que levavam muito público ao cinema. A franquia O Protetor não preenche completamente essa lacuna por mais que o seu personagem símbolo seja repleto de habilidades e excentricidades além de contar sempre com a boa atuação do veterano Denzel Washington.  Em O Protetor 2, com uma história que começa muito morna, com situações parecidas com as quais nos deparamos no primeiro filme da franquia, acaba engatando uma quinta marcha após um acontecimento chave na trama dirigida novamente por Antoine Fuqua.

Na trama, acompanhamos novamente o ex-agente da CIA Robert McCall (Denzel Washington) que deixou a famosa agência faz anos para viver escondido/desaparecido tentando levar uma vida normal após a morte da esposa mas sempre ajudando a todos que precisam ou cruzam seu caminho. Tentando ajudar um jovem a voltar para o caminho certo e esquecer o mundo das drogas, McCall recebe um telefonema que muda novamente seu rumo quando uma pessoa muito querida e especial para ele é brutalmente assassinada em outro país. Seguindo a trilha dos assassinos da amiga, o protetor precisará enfrentar fantasmas do passado que surgem misteriosamente em seu presente.

Até a metade do filme, era tudo muito mais do mesmo (não que depois não continuemos com esse pensamento) mas algumas manobras do roteiro deixam a fita no mínimo mais interessante pois o motivo da mudança de rumo do personagem faz com que McCall volte a ficar atormentado, deixando sua marcante organização de lado. Há quem vai dizer que nesse segundo filme foi gasta muita munição que poderiam ser incrementos de futuros outros filmes da franquia, baseada em uma série de sucesso dos anos 80 criado por Michael Sloan, mas sabemos que no mundo do cinema há uma criatividade sem medida e muitos outros elos podem ser criados.

Passando que nem uma flecha pelo circuito brasileiro, nem de longe o mesmo sucesso do primeiro filme, O Protetor 2 é um daqueles filmes que estarão na Tela Quente, e daqui alguns anos na sessão da tarde, muito em breve.

Continue lendo... Crítica do filme: 'O Protetor 2'

Crítica do filme: 'Nasce uma Estrela'


Um dos fenômenos em bilheteria no Brasil e no mundo esse ano, Nasce uma Estrela é um comovente remake que empolga em muitos momentos mas deixa a desejar em alguns detalhes. A direção surpreendente de Bradley Cooper é um dos pontos altos desse trabalho que conta com a cantora Lady Gaga como uma das protagonistas. Misturando música, aflições, dramas pessoais, embarcamos em uma história de conquistas e perdas sob um pano de fundo de altos solos de guitarra, interpretações musicais marcantes com um desfecho que ficará na memórias de muitos por muito tempo.

Na trama, conhecemos a esforçada Ally (Lady Gaga) uma sonhadora que vive de trabalhos pingados mas não deixa de se apresentar como cantora em uma boate na cidade onde mora. Certo dia, em mais uma dessas apresentações acaba sendo avistada pelo famoso músico  Jackson Maine (Bradley Cooper) que fica encantado pela jovem. A partir desse encontro, os dois ficam cada vez mais próximos, apaixonados, e Jackson não medirá forças para conseguir a chance de sucesso que Ally buscava. Mas como tudo na vida tem um preço, o sucesso de Ally acaba afetando demais o relacionamento próximo dos dois.

Refilmagem do homônimo Nasce uma Estrela de 1937, que teve outros dois remakes, lançados em 1954 e 1976, essa produção de 2018 consegue manter a essência de todos os outros filmes do passado, adaptando uma sonoridade empolgante além de uma direção bastante elogiável de Cooper, que também protagoniza o filme. Existem muitos momentos marcantes, outros um pouco mornos. Gaga cantando é uma força da natureza, usa e abusa dessa proteção, deixando a desejar em algumas partes mais emotivas, onde não está com o microfone ou perto do piano. Mas não deixa de ser um trabalho correto da famosa cantora. Sua personagem é um dos epicentros do ótima crítica à indústria da música que navega pelo filme na ascensão da carreira de Ally.

O filme cresce em intensidade quando fica mais gritante a descida de ladeira de Maine. Alcoolatra tentando se curar, busca soluções para problemas de seu conturbado passado e principalmente sua relação com o irmão mais velho Bobby (Sam Elliott em atuação digna de Oscar). Aliás, o diálogo entre os dois perto do final do filme com uma forte revelação de Maine é um dos momentos mais belos exibidos em uma tela de cinema esse ano.

Forte concorrente ao próximo Oscar, em diversas categorias, Nasce uma Estrela é um filme/trilha com muita potência, com solos de guitarra de arrepiar e uma dedicação importante de todos os envolvidos no projeto, é muito forte se ouvindo quase tão forte se vendo.

Continue lendo... Crítica do filme: 'Nasce uma Estrela'

18/11/2018

,

Crítica do filme: 'Culpa'


Depois de dirigir um curta e dois episódios do seriado dinamarquês Bedrag, o cineasta sueco Gustav Möller chega ao mundo dos longas metragens de maneira impactante, com o surpreendente thriller Culpa. Exibido no Festival de Sundance e na Mostra de São Paulo desse ano, o projeto nos leva para dentro de uma sala de ligações de emergências da polícia da Dinamarca onde uma ligação misteriosa revela surpresas que se confundem sobre a vida pessoal do protagonista, interpretado com brilhantismo pelo ator sueco radicado na Dinamarca Jakob Cedergren (Submarino).

Na trama, conhecemos Asger Holm (Jakob Cedergren) um policial com um passado recente conturbado e que será julgado por suas ações em um episódio não esclarecido que contou com a cobertura de amigos que estavam no local. Designado para atender ligações de emergência da polícia Dinamarquesa, possui um comportamento apreensivo e repleto de tensão, principalmente após receber uma ligação de uma mulher desesperada dando a entender que fora sequestrada por seu marido. A partir dessa informação e entre ligações e cortes de sinal, Asger tenta solucionar essa misteriosa situação e ajudar a quem realmente é a vítima dessa história.

Parecido em alguns pontos com o ótimo Locke (filme estrelado por Tom Hardy que absurdamente nunca estreou no circuito brasileiro de exibição), principalmente no fato de ter apenas (ou quase) fisicamente um protagonista sempre em cena, Den Skyldige , no original, se desenrola de maneira alucinante, rompendo a barreira da mesmice ou superfície, repleto de plot twists de surpreender os olhos mais atentos. Quando cava fundo na vida recente de Asger, somos surpreendidos com a composição de sua personalidade e entendemos melhor toda a tensão e reflexão que o personagem passa por conta dessa ligação intrigante. A culpa é um filme de tirar o fôlego, todas as peças se encaixam aos poucos e torcemos para chegar as conclusões dessa misteriosa trama.

Programado para estrear no circuito de exibição brasileiro no dia 20 de dezembro ainda desse ano, com menos de 90 minutos de projeção, Culpa é um dos ótimos thrillers que serão lançados nas próximas semanas.

Continue lendo... Crítica do filme: 'Culpa'