19/05/2019

Crítica do filme: 'O Bom Sam'


Há riqueza bastante no mundo para as necessidades do homem, mas não para a sua ambição. Um dos novos filmes na grade da Netflix, O Bom Sam traça o paralelo, mesmo que de maneira bem superficial, entre a ambição e o fazer o bem, nesse simpático filme que ao menos deixa uma mensagem importante para quem quiser ler nas entrelinhas. Baseado na obra de Dete Meserve, e com direção de Kate Melville (em sua segunda experiência em longas metragens), o projeto conta com um elenco competente e desconhecido do grande público brasileiro.

Na trama, conhecemos a corajosa e persistente repórter Kate (Tiya Sircar), que busca a todo dia a melhor matéria para subir na sua concorrida carreira. Filha de um senador norte americano, não desiste da luta em sair dos holofotes com matérias sobre tragédias que beiram ao sensacionalismo. Sua grande chance chega de maneira inusitada, quando fontes da emissora onde trabalha descobre um caso inicial de uma pessoa que recebeu 100 mil dólares e ninguém sabe o paradeiro de quem deu essa bolada de maneira gratuita. Assim, reunindo toda sua experiência e seu faro para notícia, Kate embarca em uma jornada de descobertas que vai além de uma matéria para a televisão.

Nada vem de graça, ou algumas coisas vem? A ambição toma conta da maioria dos caminhos que navega o roteiro, o contraponto chega já em seu clímax, buscando dar novos argumentos e em paralelos com ações simples do dia a dia. A questão básica do acreditar no ser humano é colocada em cheque a cada minuto, e as descobertas das verdades são feitas de maneira como vimos em outros filmes, optando pelo bom e velho ‘água com açúcar’, oriundo e marca preponderante de filmes da boa, velha e inesquecível sessão da tarde.

Fazer o bem é para poucos, investigar as verdades da vida é uma missão para todos nós. O Bom Sam pode ter altas análises ou ficar na pura e simples experiência de querer assistir a um filme e só.

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17/03/2019

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Crítica do filme: 'Um Banho de Vida'


Nunca despreze as pessoas deprimidas. Dirigido pelo ator e também diretor francês Gilles Lellouche, o profundo drama camuflado de comédia Um Banho de Vida, fala sobre um grande mal dos últimos tempos de maneira leve e com uma mensagem muito bonita de como podemos resistir as dores que nos assolam. Usando uma modalidade esportiva como pano de fundo, uma ótima sacada da equipe de roteiristas, o filme reúne grandes nomes do cinema francês como: Mathieu Amalric, Guillaume Canet, Benoît Poelvoorde,Virginie Efira e Jean-Hugues Anglade.

Na trama, conhecemos o desempregado Bertrand (Mathieu Amalric), um homem de idade já quase avançada que não trabalha faz dois anos e vive desiludido e sem rumo sendo sustentado por sua esposa. Certo dia, após ver um anúncio no quadro de avisos da piscina onde frequenta resolve se cadastrar na equipe de nado sincronizado masculina do local e lá acaba descobrindo outros homens desiludidos e perdidos na vida, cada um com sua história, mas aos poucos o protagonista percebe que aquela é uma chance de um certo recomeço não só para ele mas para todos seus novos amigos.

Falar sobre os conflitos internos não é tarefa fácil para nenhum roteiro. Como há várias portas para se abrirem, o projeto da seu jeito de falar um pouco na superfície (de maneira geral) mas focado mais a fundo no seu protagonista. Os diálogos são ótimos e aos poucos, mesmo com não muitas informações, vamos descobrindo os porquês dos personagens que são iluminados pelo carisma de tantos bons artistas franceses reunidos. Um dos recortes mais profundos mas que fica um pouco de lado na história, é o da treinadora dessa equipe de tristes almas, Delphina, interpretada pelo ótima Virginie Efira. Dentro desse 'consultório aquático', sem dúvidas, você vai rir em algumas cenas mas os momentos de reflexão são maiores, transformando esse singelo filme em uma pequena caixinhas de surpresas que fala sobre o poder que existe quando descobrimos novas razões para nosso viver.

O filme, que estreia no Brasil na próxima 5ª (21.03), foi um sucesso de bilheteria na França, ultrapassando a marca de 4 milhões de bilhetes vendidos, além de 10 indicações ao prêmio César (o Oscar Francês) e também participou do Festival de Cannes de 2018. É uma boa oportunidade para você leitor conferir uma constelação de talentos e um filme que possui uma mensagem bastante importante, principalmente para almas em conflito do lado de cá da telona.

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Crítica do filme: 'O Retorno de Ben'


Mãe é mãe em qualquer tipo de situação, extrema ou não. Chega aos cinemas brasileiros na próxima 5ª (21.03), o mais novo trabalho do cineasta Peter Hedges (A Estranha Vida de Timothy Green), O Retorno de Ben. Tendo a curiosidade de dirigir o próprio filho em um dos papéis principais e ao mesmo tempo uma das mais conhecidas e competentes atrizes do mundo, Julia Roberts, Hedges, que também assina o roteiro, faz um recorte muito doloroso de uma família que luta para encontrar as respostas certa para a volta para casa, após estar em reabilitação, de um dos seus membros, o filho mais velho, Ben.

Exibido no prestigiado festival de Toronto no ano passado, O Retorno de Ben conta a luta de uma mãe, Holly (Julia Roberts), que é surpreendida com a volta do filho Ben (Lucas Hedges) para casa antes do tempo que ele tinha para cumprir em uma clínica de reabilitação. A partir da chegada do jovem, uma série de situações caem como consequência, mudando completamente a rotina de toda a família. Holly então parte numa busca desesperada para fazer de tudo para que o filho tenha, de certa forma, uma segunda chance com todos que o rodeia.

O filme começa com aquele simbólico e nostálgico sorriso de Roberts (uma expressão marcante da atriz de 51 anos), mas parece que aquela fração de segundo é o único motivo de sorrir da sofrida personagem. O roteiro foca na relação mãe e filho, detalhando a fé que a personagem de Roberts possui, e os confrontos que ambos travam, entendemos que fora por experiências ruins anteriores de retornos de Ben que não deram certo. Um dos méritos desse poderoso longa é conseguir ir além da superfície na composição dos personagens, além do mais, Julia Roberts e Lucas Hedges possuem um entrosamento que fortalece tudo que é narrado. Ainda sobre a eterna linda mulher, é sem dúvidas uma de suas melhores atuações no cinema, nos sentimos conectados com sua personagem a todo instante.

Um grande paralelo traçamos entre esse e um outro bom filme sobre o tema, Querido Menino onde o foco é mais na relação pai e filho mas com o mesmo problema em tema. São dois filmes que falam sobre o tema importante das drogas, e todo o sofrimento que os personagens passam por ver os filhos sofrerem e também por não saber direito como poder ajudá-los. O cinema tem esse poder de ser conscientizador , de trazer para debate temas importantes de toda nossa sociedade, que, na vida real ou na tela grande, nem sempre tem final feliz.

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04/03/2019

Crítica do filme: 'Seu Filho'


Sábio é o pai que conhece o seu próprio filho. Com uma interpretação de tirar o fôlego do veterano e excelente ator espanhol Jose Coronado (do ótimo Não Haverá Paz Para os Malvados), está disponível no catálogo da Netflix Brasil o suspense Seu Filho, uma grata surpresa em meio a tantos títulos interessantes nesse streaming. Com um roteiro composto por um cirúrgico plot twist, vamos acompanhando a saga de um pai que pensa ter a família perfeita e sua busca sobre as verdades do seu único filho homem. A força dos personagens é um dos pontos fortes desse intenso filme.

Na trama, conhecemos o dedicado cirurgião Jaime (Jose Coronado), um homem já no terço final de sua vida que costuma ter uma relação muito amistosa com seu filho Marcos (Pol Monen) e um pouco distante com a filha Sara (Asia Ortega). Em uma certa noite, durante um de seus plantões, Jaime descobre que seu filho chegou de ambulância completamente ferido após uma briga em uma boate bastante frequentada no centro da cidade onde moram. O acontecimento mexe demais com o protagonista que começa uma investigação por conta própria o que o leva a limite mental e emocional que desdobrarão consequências para ele e o restante de sua família.

O thriller camuflado de drama vem com aquela pegada de todo bom filme espanhol dos últimos tempos. Intenso, impactante, sem previsões ou achismos de como termina as consequências em que se metem os personagens. Há um mistério correndo envolta de Jaime, isso o atormenta, entra em conflito com tudo e todos e busca de sua própria verdade, ou pelo menos a interpretação que deseja para o que aconteceu. Nem tudo é o que parece ao longo dos 103 minutos de fita. A atuação de Jose Coronado é o alicerce, um ponto cheio de clímax e repleto de intensidade, nossos olhos não conseguem desgrudar em descobrir pela ótica do protagonista o que realmente aconteceu naquela noite.

Os arcos são bem definidos, mesmo que aja um aceleramento descompassado no último, talvez fruto de uma história cheio de detalhes que precisa ser contada em menos de duas horas. O roteiro consegue extrair dos personagens toda a força que é preciso para nunca se perder o ritmo dessa reflexiva história que fala sobre o amor de pais e filhos e até onde é a linha tênue entre a razão e a emoção do argumentar ao favor de quem é próximo de nós.

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Crítica do filme: 'Creed 2'


Uma vez Rocky, sempre emoção. Tentando dar seguimento a uma espécie de reboot à clássica história do saudoso e inesquecível garanhão italiano, personagem emblemático de Sylvester Stallone nas telonas, Creed 2 ainda com fios de laços com a história de Rocky, foca na família e nas escolhas do passado para entendermos melhor o protagonista, filho do eterno Apollo Creed. Reunindo um competente elenco, um ou outro vacilo no andamento do roteiro mas tentando manter a força dramática dos outros filmes do qual é oriundo, o cineasta Steven Caple Jr, que assina a direção (esse é apenas o segundo longa dirigido por ele) faz o básico e busca manter a força dos personagens mas sem o carisma de outrora.

Na trama, voltamos a encontrar o jovem lutador de boxe profissional Adonis Creed (Michael B. Jordan) que por anos se manteve distante da história de sua família para tentar trilhar uma carreira de sucesso sem comparações. Mas tudo isso fica em cheque quando um polêmico organizador de lutas vai até a mídia e faz pressão para Adonis lutar contra o filho do lutador que matou seu pai Apollo, o boxeador russo Ivan Drago (Dolph Lundgren). Assim, tentando driblar a força do destino e com a ajuda de seu mentor, treinador e amigo Rocky Balboa (Sylvester Stallone), o protagonista deverá enfrentar mais esse complicado desafio.

A vantagem de ter tido tantos filmes sobre Rocky se mostra claramente na elaboração de novas ideias e caminhos para que essa chama nunca se apague. Com uma veia dramática forte e diversas portas a se abrirem, Creed 2 cresce nas telas como um paralelo a nostalgia, tentando a cada linha de roteiro ter uma personalidade própria. Mas mesmo com todo esforço, assim que aparece Rocky e suas lembranças bem distantes é onde o filme cresce e milhões de espectadores aguardam ansiosamente pela música clássica dos outros longas. A narrativa é progressiva, as cenas de lutas são ótimas, os atores muito competentes. Os arcos familiares são bons e se tornam o novo pilar dessa grande antiga nova saga.

Estimado em cerca de 50 milhões de dólares, o filme deve arrecadar muito mais que o dobro nas bilheterias mundiais. Mesmo não conseguindo se desvincular de uma sessão nostalgia mesmo buscando novos arcos com os novos personagens, Creed 2 vale a pena. Uma vez Rocky, sempre emoção.

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17/02/2019

Crítica do filme: 'Vida Selvagem'


De repente do riso fez-se o pranto. Marcando a estreia do ator Paul Dano como roteirista e diretor, Vida Selvagem é um retrato meticuloso e detalhista sobre uma família que conhece o início, o meio e o fim de uma relação e de que forma o único filho de um casal reage a todas essas mudanças. Filme de abertura da Semana da Crítica do Festival de Cannes em 2018, o projeto é baseado no livro Wildlife, de Richard Ford.

Na trama conhecemos Jerry (Jake Gyllenhaal) e sua esposa Jeanette (Carey Mulligan), um casal de classe média baixa que mora em uma cidadezinha de Montana em meados dos anos 60. O Casal possui um único filho, Joe (Ed Oxenbould), e muito pela ótica desse personagem que vamos acompanhando o casamento dos pais ir do céu ao inferno, culminando em uma separação dolorosa onde mudanças acontecerão para marcar a vida de todos os envolvidos.

O raio-x do casal é a chave para entendermos tudo que se desenrola e as escolhas que são tomadas ao longo da projeção. Jerry é um ajudante em um campo de golf, deveras acomodado, que após ser demitido entra em uma espécie de depressão egoísta não lutando por um novo emprego e resolvendo se juntar a uma brigada de homens que estão tentando apagar um incêndio florestal, abandonando por um período sua família. Jeanette, interpretada pela ótima Carey Mulligan, é uma dona de casa amorosa que faz e tudo para entender as decisões de seu fracassado marido, quando desperta para a vida bate a decepção e tristeza, descobre tentações, e luta de todas as formas de conseguir se manter sem precisar de ninguém, mesmo que para isso tenha que abdicar de todos ao seu redor.

Vida Selvagem, participante também do Toronto International Film Festival em 2018 e do Festival do Rio do ano passado, é um filme reflexivo sobre o despertar para vida e sobre escolhas. As decisões que precisamos tomar para um bem coletivo as vezes fere nossos ‘quereres’ individuais. O filme, ainda sem previsão de estreia no Brasil, é um saga pelo caminho da melancolia, até um porto seguro de satisfação. Tudo isso ao olhos do filho que também luta para que seus dias sejam mais felizes. Belo trabalho, não percam!



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Crítica do filme: 'Maus Momentos no Hotel Royale'


A insanidade em busca de uma certa redenção. Existe filmes que conseguem provocar uma grande atmosfera, um clima tenso mesmo que seu roteiro passe longe da perfeição. Com enigmáticos personagens praticamente escondidos em um hotel peculiar no meio do nada, Maus Momentos no Hotel Royale é um suspense insano, repleto de figuras complexas, cada qual com seu objetivo. Ao longo das quase duas horas e meia de projeção, somos testemunhas de atos violentos, peças que vão se juntando aos poucos em um tabuleiro macabro de ganância e egoísmo.

Na trama, ambientada décadas atrás, conhecemos sete figuras desconhecidas que acabam indo parar no mesmo hotel em um certo dia. Cada um deles tem muita coisa a esconder e acaba parando nesse lugar, alguns por acaso e outros com a direção correta, para ir atrás do seus respectivos objetivos. Mas, por armadilha do destino, esses complicados personagens acabam invadindo os objetivos uns dos outros, transformando uma noite em uma batalha pela sobrevivência, onde não existe o bem nem o mal.

Segundo longa dirigido pelo cineasta Drew Goddard, o primeiro foi O Segredo da Cabana, Bad Times at the El Royale, no original, é um thriller instigante mesmo que seu roteiro se prolongue em alguns atos e deixando apenas migalhas na compreensão de alguns dos objetivos de seus enigmáticos visitantes do hotel royale. A direção é extremamente competente, elegante, mostra a violência nua e crua através dos atos de seus personagens, que possui a interseção de não terem nada a perder. Jeff Bridges, Dakota Johnson, Jon Hamm, Chris Hemsworth e até mesmo o genial menino prodígio da direção Xavier Dolan estão no ótimo elenco. Mesmo com esses bons nomes do atual cinema mundial, quem se destaca é a atriz britânica Cynthia Erivo (que você pode assistir no ótimo Viúvas), sua personagem rouba a cena em muitos momentos.

Mesmo com muitos pontos positivos, mas após ter uma recepção fraca nas bilheterias norte-americanas, Maus Momentos no Hotel Royale, teve sua estreia nos cinemas, primeiro adiada, depois cancelada no Brasil. Para um filme chegar no concorrido circuito exibidor brasileiro, concorrido porque temos pouquíssimas salas pelo tamanho de nosso imenso país, algumas distribuidoras fazem grandes análises para saber se vale a pena entrar ou não com o filme no circuito. Uma pena, esse filme merecia pelo menos uma chance.

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Crítica do filme: 'Querido Menino'


Depois de devastar nossos corações cinéfilos com o drama Alabama Monroe, o cineasta belga Felix van Groeningen volta a atingir em cheio nossas emoções com seu novo trabalho, Querido Menino. Baseado nos livros Querido Menino, de David Sheff, e Tweak: Growing up on Methamphetamines, de Nic Sheff, o filme preenche a maioria das lacunas sobre o sentimento de um pai em busca de uma solução para os problemas de drogas do filho. Em atuações cativantes e dignas de Oscar, Timothée Chalamet e Steve Carell formam filho e pai nesse projeto importante também para mostrar essa realidade, para alguns distante para outros nem tanto, do desespero emocional que passa não só a pessoa que possui problema com drogas mas também todos que estão ao seu redor.

Na trama, conhecemos David Sheff (Steve Carell), um homem de meia idade, bem sucedido em sua profissão pai amoroso que vive em uma casa confortável com sua atual esposa Karen (Maura Tierney). David é pai de Nick (Timothée Chalamet) um jovem que com o passar do tempo começa a ter sérios problemas com as mais diversas drogas que existem. Ao longo de uma passagem de tempo, vamos acompanhando David, suas lembranças, e principalmente sua busca em encontrar alguma solução para esse problema complicado que o filho passa.

O roteiro, baseado nos livros de pai e filho que são os personagens principais da trama, é um grande vai e vem entre recordações, solidão, desespero, medo e muitos outros sentimentos conflituosos que chegam como uma flecha principalmente para David. Ao longo de um pouco mais de duas horas de duração, conseguimos enxergar a situação de Nick através não só dos olhos de seu pai, mas também de sua madrasta (mãe de seus outros dois irmãos pequenos), e de sua mãe que mora em outra cidade. Em busca de alternativas para curar esse sofrimento que paira sobre a família, principalmente David embarca em uma jornada de redescobertas, estudo e desabafo mesmo quando suas forças para lutar estão limitadas.

Há uma carga de emoção muito grande em tudo que vemos nesse filme, Van Groeningen já mostrou que sabe como nos atingir desse lado daqui da tela, sua maneira de filmar te embarca para dentro daqueles cenários, aquelas conversas, que mais difícil que possam parecer, tem o poder também de conscientizar. Querido Menino não é um filme fácil, toca bem forte nossos corações. É um forte e marcante filme. Uma grata surpresa desse ano que está começando. Inacreditavelmente não ganhou uma mera indicação ao Oscar nas principais categorias desse ano mas de que importa? Sabemos que Oscar é uma grande politicagem. Não deixem de conferir esse belo trabalho.  

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Crítica do filme: 'Se a Rua Beale Falasse'


Um olhar vale mais que mil palavras. Baseado no livro homônimo, de James Baldwin, publicado no início da década de 70, Se a Rua Beale Falasse, novo trabalho de Barry Jenkins mesmo diretor e roteirista de Moonlight - Sob a Luz do Luar, que conquistou Oscar de Melhor Filme e Melhor Roteiro Adaptado em 2017, possui arcos bem definidos (mesmo que alguns um pouco cansativos), sugere idas e vindas em torno do problema em que um dos personagens centrais é colocado. Mas o roteiro é muito mais sobre uma prisão feita de maneira equivocada, é sobre a importância do amor e também sobre todo um contexto social que reflete em um país que não conseguiu se desprender por completo do ódio racial.


Na trama, conhecemos uma carinhoso e carismático homem chamado Fonny (Stephan James), um artesão que vive sua vida para sua namorada e eterna amiga Trish (KiKi Layne). Certo dia, após ser confundido pela polícia, é acusado de um crime terrível e acaba parando na prisão. Sem medir esforços, Trish e sua família, correm desesperadamente para provar sua inocência. O tempo passa e muitos obstáculos pelo caminho o casal enfrenta. A belíssima trilha sonora dita o ritmo desse história forte e profunda.
 

Indicado ao Oscar desse ano nas categorias de Melhor Roteiro Adaptado (Barry Jenkins), Melhor Atriz Coadjuvante (Regina King) e Melhor Trilha Sonora, Se a Rua Beale Falasse é repleto de críticas a sociedade norte americana, a obra se torna atemporal tamanha a força nos argumentos e nos emblemáticos diálogos repletos de emoção. O modo como foi filmado é belo, enquadramentos no rosto dos personagens, a busca pelos detalhes nas expressões, fazem o espectador se conectar com toda a narrativa que se segue. Destaque na atuação vai para a sempre excelente Regina King que rouba todas as atenções sempre que em cena.


A questão da fé e suas nuâncias caminham com os personagens a todo instante do início ao fim. O mais impactante é o contexto aos olhos da mãe de Fonny, uma mulher perturbada que não apoia a relação do filho com Tish. Em uma das sequências mais marcantes do filme, logo em seu primeiro arco, na reunião familiar entre as duas famílias para contar uma novidade, somos surpreendidos por pensamentos repleto de rancor e tristeza feitas por essa personagem. Colocar na mão de Deus as batalhas que temos que travar aqui na Terra em busca de justiça é no mínimo uma linha tênue entre o aceitar e o lutar.


Há um ar de desilusão, medo, indignação. Quando o momento ruim acabará? Porque o medo corrói nossos pensamentos? O filme navega de maneira lenta e repleta de detalhes por dentro dos sentimentos de todos ao redor do casal. O amor deles ganha lindas cenas, sendo apresentado desde seu início, preenchendo os minutos de projeção como se fossem o background de todo o problema que Fonny e Trish passam após a prisão do primeiro.


Para assistir a esse belo trabalho, que foi um dos filmes exibidos no Festival do Rio do ano passado, nos cinemas, você pode ter alguma dificuldade. Uma pena a distribuidora do filme no Brasil lançar esse projeto em tão poucas salas e tão poucas cópias, é um filme importante que merecia um circuito mais amplo.


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16/02/2019

Crítica do filme: 'Vice'


As verdades dos bastidores. Indicado em algumas categorias ao Oscar desse ano, Vice, dirigido pelo ótimo cineasta Adam McKay (A Grande Aposta) é caricato, debochado, sem limites ou linhas tênue, tudo que reflete ao personagem principal podemos dizer é um grande espelho de adjetivos ao próprio filme. Grande parte do tempo narrado por uma voz misteriosa (que descobrimos ao longo do filme de quem é), o projeto apresenta argumentos, baseados em fatos reais, de todas as decisões polêmicas tomadas pelo vice presidente dos Estados Unidos no governo George W. Bush, Dick Cheney.

Orçado em cerca de 40 Milhões de Dólares, conhecemos mais detalhadamente a trajetória profissional política de Dick Cheney (Christian Bale). De problemas com a bebida e um casamento por um fio até sua jornada pelos corredores mais poderosos dos Estados Unidos, vamos acompanhando as transformações que passa não só Dick mas toda a família Cheney, que possui em Lynne Chaney (Amy Adams) seu porto seguro. Com sua chegada ao alto escalão do governo e sua visão maquiavélica sobre o poder, Cheney fica marcado pelas polêmicas ações feitas por ele após a maior tragédia terrorista em solo norte americano.

Metade da sala quer ser nós e metade da sala nos teme. Vice não foca somente em Dick, sua péssima oratória, e suas atitudes sem limites impondo seu poder através do presidente fantoche que se estabeleceu nos Estados Unidos durante sua passagem como vice-presidente norte americano, abre arcos importantes para o papel de sua esposa Lynne, interpretada de maneira impactante pelo atriz Amy Adams. Lynne Chaney, uma verdadeira obstinada pelo poder, é o complemento que Cheney sempre precisava. Não havia mulher mais perfeita para ele na face da terra.

O desenvolvimento físico e expressivo de Christian Bale no papel principal é fantástico, um dos grandes atores de sua geração, interpreta herói (Batman) à vilão (Dick) de maneira dedicada. Dick, a princípio um soldado de infantaria dos intensos jogos de poder de Washington, se torna a partir de suas artimanhas, a teoria executiva unitária entre outras jogadas, uma poderosa peça no tabuleiro norte americano, se tornando O vice presidente que mais mandou em um governo. Em resumo, Vice é uma junção de grandes atuações desmascarando um grande teatro imposto bastidores de um dos períodos de governos mais polêmicos.

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11/02/2019

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Crítica do filme: 'Todos já Sabem'

Segredos que todos sabem, não é mais segredo. Dirigido pelo excelente cineasta iraniano Asghar Farhadi, ganhador de dois Oscar (A Separação e O Apartamento), Todos já Sabem, todo falado em espanhol, é um misterioso quebra cabeça onde as peças vão sendo mostradas ao público de maneira lenta e com muito detalhes, além da superfície. Um suspense com veias dramáticas que explora os mais profundos dramas dos envolvidos e nos mostram até a onde somos capazes de agir em momentos extremos.

Na trama, conhecemos a espanhola Laura (Penélope Cruz) que embarca em uma viagem com seus dois filhos (sem o marido Alejandro - Ricardo Darin) para visitar sua família e acompanhar o casamento de uma das irmãs num lugar onde viveu grande parte da vida. Aos poucos, o que parecia ser um dia de comemoração, acaba virando uma noite terrível e uma situação trágica acontece, levando toda a família a abrirem feridas do passado em busca de alguma solução para o caso.

Não sei se é uma regra universal mas segredos de família sempre são revelados em dias apoteóticos e os desenrolarem são complexos, seja no cinema ou na vida real. Um amor do passado em conflito com o amor do presente, o roteiro navega em segredos que os personagens vão deixando rastro aos poucos. Nossos olhos são os de Laura e Paco (Javier Bardem), antigos namorados mas que hoje vivem cada um para sua família. Conforme a tragédia se anuncia, tudo que estava debaixo do tapete vem a tona, transformando não só a ótica de toda uma família mas de toda uma região.

O roteiro possui arcos bem definidos, profundos e com alta carga de drama. A direção é competente mesmo sendo um filme não tão redondo como os em que Farhadi ganhou seus dois Oscars. Todos Já Sabem estreia no dia 21 de fevereiro no circuito brasileiro de exibição.

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05/02/2019

Crítica do filme: 'Fúria em Alto Mar'


Passando que nem uma flecha pelo circuito exibidor esse ano, a ação recheada de clichês Fúria em Alto Mar é o que podemos dizer de mais do mesmo da indústria hollywoodiana. Baseado no livro Firing Point, de Don Keith e George Wallace, o projeto, repleto de nomes conhecidos do grande público, leva para a tela situações absurdas de um eminente conflito a partir de um sequestro do mais alto comando russo. Ao longo dos sonolentos 120 minutos de projeção, consumimos uma grande falta de criatividade narrativa e atuações dignas de framboesas de ouro.

Na trama, acompanhamos uma inusitada situação envolvendo Rússia e Estados Unidos, submarinos e decisões críticas que serão tomadas. Em um determinado dia, a Rússia sofre um duro golpe militar e seu presidente é sequestrado pelos próprios russos. O problema é que poucos sabem a verdade sobre o ocorrido, deixando os ânimos entre as duas potências a beira de um início de Terceira Guerra Mundial. Correndo contra o tempo, os integrantes de um submarino norte americano, liderado pelo recém-promovido a capitão Joe Glass (Gerard Butler) tenta descobrir as verdades e evitar um eventual conflito.

Os furos do roteiro são peças importantes que nos conduzem a uma série de confusões sobre a narrativa. As peças demoram para se juntar, desde o primeiro arco de apresentação dos principais personagens, passando pelas nuâncias do provável conflito e o arco de desfecho louvando um respeito militar entre capitães. O foco do projeto é o lado norte americano, e as faltas de informações sobre os principais pontos do ocorrido. Indo apenas na superfície para detalhar o outro lado do conflito, o roteiro desliza em seus desfechos, não conseguindo atingir o clímax necessário para conseguir a atenção dos olhos cinéfilos.

Gostando de filmes de ação, pode ser até que agrade. Sendo assim, esqueçam as aulas de história, todos os livros sobre os principais conflitos que o mundo já teve, o que interessa é comer pipoca e viajar em uma trama para lá de incongruente.

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29/01/2019

Crítica do filme: 'Green Book'


Como entender o universo do preconceito com um contexto de amizade? Um dos grandes indicados ao Oscar desse ano, Green Book, chegou aos cinemas brasileiros na semana passada trazendo à luz o tema do preconceito em uma road trip repleta de descobertas e validações de afirmações em um Estados Unidos dominado pelas diferenças. Dirigido por Peter Farrelly, o projeto não se aprofunda tanto no assunto quanto deveria (e poderia), deixando soluções simples para criar um contexto harmônico mas sem deixar de trazer à discussão suas mensagens. A dupla de artistas principais dessa obra, Viggo Mortensen e Mahershala Ali cumprem com louvor o objetivo de seus personagens, enchendo a tela de carisma.

Na trama, conhecemos o ítalo-americano Tony Lip (Viggo Mortensen), um ex-segurança de boate que na busca por emprego acaba sendo selecionado para ser o motorista da turnê de um famoso pianista negro, Don Shirley (Mahershala Ali). Com um trajeto para lá de complicado, por conta dos absurdos casos de preconceito que percorrem o Estados Unidos, Tony é guiado por um guia, chamado Green Book, onde mostra-se os lugares onde os negros poderiam acessar sem sofrer nenhum tipo de restrição. Ao longo dessa viagem de meses, os dois personagens irão ao confronto de suas dores, seus pensamentos em busca de entendimentos sobre o sentido de suas vidas. Green Book é uma história forte, com alta carga dramática rodeada por uma crescente amizade.

De conclusões simples para um tema tão complexo. Talvez, a maior crítica a esse projeto seja a forma simplista que os arcos são fechados, sem tem um maior e detalhado apanhado geral da real situação que o preconceito dominava na época. Em busca de reconhecimento e tentando possuir seu livre arbítrio, Don Shirley resolve escolher um caminho cheio de obstáculos, nada simples, para sua nova turnê, tendo que passar por situações constrangedoras ao longo da viagem. O personagem de Mortensen caracteriza-se como a figura do preconceito inicial, principalmente nas cenas de abertura do primeiro arco e acaba passando por uma grande transformação até os créditos iniciais. Pouco detalhado, o relacionamento forte e afetivo de Lip e sua família, principalmente de sua esposa Dolores (interpretada pela ótima Linda Cardellini) é um dos pontos importantes do roteiro, abre e fecha os arcos dos extremos mas sem muita profundidade.

Longe de ser um filme emblemático sobre o tema, o longa se agarra em ótimas atuações e uma direção correta. Relata o preconceito e a solidão de um homem que se sentia sozinho no mundo, pela linha tênue que traçou entre a genialidade/conquistas (o que o afasta de muitos outros negros da época, sem oportunidades) e o preconceito (mesmo sendo um exímio músico não consegue reconhecimento completo por conta de sua cor).

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27/01/2019

Crítica do filme: 'Aquaman'


O herói dos 7 mares. Tentando vencer a batalha com a Marvel, A DC aposta mais fichas no seu tabuleiro de super heróis contando dessa vez mais sobre a trajetória de um meio humano, meio ser do mar, o conhecido Aquaman. Dirigido pelo cineasta malaio James Wan, comandante do primeiro Jogos Mortais, o longa é visualmente impactante, reúne nomes conhecidos da atual e da velha indústria hollywoodiana, e um roteiro que tenta cumprir seu objetivo de divertir em pouco mais de duas horas de duração.

Na trama, conhecemos o jovem Arthur (Jason Momoa), um poderoso ser de dois mundos que tem o pai humano e a mãe rainha do Reino de Atlântida (Nicole Kidman). Desde pequeno soube que tem poderes de comunicação com seres aquáticos e uma força sobrenatural quando em terra. Treinado pelo guerreiro Vulko (Willem Dafoe) para um dia assumir o trono de Atlântida, Arthur passa anos se culpando pela morte de sua mãe. Quando seu meio irmão, Orm (Patrick Wilson) resolve proclamar uma guerra contra os seres da superfície, Arthur, com a ajuda da guerreira Mera (Amber Heard) precisará lutará para ser reconhecido como o rei de todos os mares.

Antes da amizade com a Mulher Maravilha, Batman e Superman, Arthur precisou se provar para um dos seus povos como um merecedor do artefato poderoso das águas, um tridente de um antigo rei. Em sua jornada, contada de forma acelerada e com foco em cenas intensas de ação, entendemos seus medos e receios em assumir o trono. Interpretado com muito carisma por Momoa, Aquaman é um simpático personagem dos quadrinhos que tenta chegar a superfície do reconhecimento também pelo público. No paralelo entre superfície e profundidade do alto mar, podemos dizer que a aventura não foca na profundidade de seus assuntos, até mesmo nas causas que fazem o reino do mar comandado pelo irmão em atacar a superfície por conta dos lixos diários e falta de carinho com a natureza marítima. Uma pena, era uma boa oportunidade em um filme mega popular explorar assuntos importantes de nossa civilização as vezes tão sem noção.

Estimado em 160 milhões de dólares, o projeto entra na galeria dos filmes ligados ao universo de super heróis, os maiores arrecadadores de bilheteria dos cinemas mundiais. O universo geek, é um mercado extremamente forte, passa de geração a geração, e preenchem, principalmente nas primeiras semanas, mais de 70 % das salas brasileiras, deixando espaço para pouquíssimos outros filmes ganharem a chance de aparecerem nas telonas.

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01/12/2018

Crítica do filme: 'Whitney'


Doces amargas lembranças. Dirigido pelo ótimo cineasta escocês Kevin Macdonald (O Último Rei da Escócia) mais um documentário sobre, talvez, a mais marcante de todas as vozes das últimas décadas é apresentado ao público, dessa vez sem medo de apresentar as feridas, sendo construído em busca de respostas que nunca teremos mas argumentos que nos ajudam a compreender o porquê de tanta tristeza, em um fim tão trágico de uma voz que nunca vamos esquecer. Assim, percorremos partes da trajetória de Whitney Houston, desde seus tempos iniciais, como uma voz marcante na igreja, passando pelo seu primeiro contrato, até chegar ao estrelato.

Compartilhe da minha vida. Me aceite pelo que eu sou. Em grande parte desse belo e importante documentário, talvez o definitivo sobre Whitney, vilões são apresentados, um grande conjunto de pessoas que quando poderiam ajudar, acabaram levando a inesquecível cantora para uma ladeira rumo ao fundo do poço. A grande personagem do filme, uma protagonista de toda uma geração de fãs, era um ser fragilizado por tudo o que se tornou e como fora consumida por muitos que aproveitaram de sua fama e estavam muito por perto. Sem querer tender a nenhum dos argumentos apresentados, Macdonald vai atrás da família de Whitney e assim apresenta fatos e questões, através de depoimentos de muitos dos que ficavam ao seu redor.

Totalmente contrário à apollo 13, do triunfo ao desastre, no caso, vamos acompanhando passo a passo a decadência de uma voz por conta de seu vício pelas drogas, fator que desencadeia uma série de tristezas pelos anos que se seguiam totalmente fora de controle, culminando num esgotamento de relação mãe e filha. Em um dos momentos mais tristes, Whitney tenta dar a volta por cima mas realiza um show com plateia lotada de fãs onde sua voz simplesmente não existe mais, frustrando a todos que compraram ingresso, algo inimaginável para alguém que tinha tanto talento e presença de palco.

Não me faça fechar mais uma porta, não quero machucar mais. Fique em meus braços se você se atrever, ou devo imaginar você ali? Não vá para longe de mim, não tenho nada, nada, nada se eu não tiver você. Se eu ficasse, só te atrapalharia, então eu vou embora. Essas partes de duas das mais inesquecíveis canções imortalizadas na voz de Whitney, dizem muito sobre a vida dessa grande e frágil mulher que deixou saudades.

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