14/02/2020

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Crítica do filme: 'O Caso Richard Jewell'



O poder das palavras vs o poder da ingenuidade. Lançado no Brasil na primeira cine semana de 2020, O Caso Richard Jewell traz à tona um famoso caso de grande repercussão nos Estados Unidos na década de 90 que envolveu terrorismo, a força da mídia, e um homem inocente que foi tratado como culpado. Dirigido pela lenda Clint Eastwood, o filme conta com ótimas atuações (inclusive uma indicação ao Oscar para Kathy Bates na categoria de Melhor Atriz Coadjuvante) e algumas polêmicas após seu lançamento por conta de uma contestação de veracidade de familiares da jornalista responsável pela exposição de Richard Jewell na lista de suspeitos.

Na trama, conhecemos a vida do ingênuo e trabalhador boa praça Richard Jewell (Paul Walter Hauser), um homem que consegue depois de muito tempo realizar seu sonho de trabalhar como agente de segurança. Anos se passam e ele está trabalhando em um evento, dentro das olímpiadas de Atlanta em 1996, quando acha suspeito uma mochila e dispara a notícia de emergência para os demais agentes, só que minutos depois a mochila com uma bomba explode. Mesmo com algumas poucas mortes, Jewell num primeiro momento é tratado como herói nacional. Só que dias depois, agentes federais pressionados por não encontrarem suspeitos, resolvem investigar Richard Jewell e a informação vaza para a repórter Kathy Scruggs (Olivia Wilde) que com seu artigo consegue transformar o herói em um vilão aos olhos da mídia. Completamente perdido, Richard só pode contar com sua carinhosa mãe Bobi Jewell (Kathy Bates) e um velho amigo e ótimo advogado Watson Bryant (Sam Rockwell) para provar sua inocência.

Entre verdades e ficção, o filme navega na linha investigativa, tendo bons trechos de profundidade sobre a personalidade acanhada do protagonista e sua relação com sua parente mais próxima e seus poucos amigos. O circo que é montado pela mídia talvez seja o retrato mais impactante desse trabalho que se junta a outros na galeria de Eastwood em mostrar histórias de norte americanos e seus dramas, nos últimos anos. Um dos pontos de vistas é bem claro, a mídia como vilão causou repercussão em seu lançamento, principalmente da maneira como fora conseguida a informação pela repórter (verdade ou ficção?).  

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31/01/2020

Crítica do filme: 'Adoráveis Mulheres'


Bonitinho e chatinho, uma grande montanha russa de emoções. Uma das obras mais adaptadas para tv, teatro e cinema (há um filme em 1994), o clássico livro de Louisa May Alcott, Little Women ganha mais uma adaptação, agora na visão da ótima atriz, diretora e roteirista Greta Gerwig. Adoráveis Mulheres conta a saga de uma família repleta de mulheres inteligentes, corajosas que são mostradas ao público em paralelos de tempo, indo e voltando, sobre amores, desejos, sonhos e as escritas do futuro que as reservam. Com momentos excelentes como as ótimas cenas da protagonista Jo March (Saoirse Ronan) e sua luta em publicar seus textos, e outros terrivelmente chatos e desinteressantes, o projeto é uma grande gangorra de emoções onde no fim, para saber se gostou do filme, você precisa pesar as duas balanças e ver com qual fica.

Na trama, conhecemos a adorável família March. Jo (Saoirse Ronan), Meg (Emma Watson), Amy (Florence Pugh, ótima no papel e indicada ao Oscar), Beth (Eliza Scanlen) e a mãezona Marmee (Laure Dern) vivem juntas em uma casa aconchegante no passado e esperam ansiosamente notícias de seu pai que fora para guerra, além de conhecerem mais de perto o peculiar vizinho Laurie (Timothée Chalamet) que acaba virando um grande amigo da família. Já no futuro, as meninas cresceram e suas vidas mudam de rumo conforme vários acontecimentos viram fatos e vamos descobrindo aos poucos os porquês de determinadas conclusões.

O fato da estrutura do roteiro ir pra frente e pra trás na linha do tempo deixa o espectador um pouco confuso da maneira como é feita nessa adaptação mas abre um leque de possibilidades onde o meio é a grande chave na conclusão.  Existem arcos ótimos e outros sonolentos. O brilho de algumas atrizes são mais fortes que de outras. Saoirse Ronan e Florence Pugh colocam o filme no bolso, excelentes atuações. Timothée Chalamet e seu excêntrico personagem brilham em alguns momentos sendo um elo condutor de parte da trama.

Destacando a força da mulher, a amizade, a família e como toda e qualquer escolhas que fazemos impactam não só nossas vidas como também a de todos que estão ao nosso redor, se você conseguir ler nas entrelinhas e chegar na conclusão da razão x emoção, Adoráveis Mulheres pode ser uma experiência interessante. Caso contrário, uma gangorra de emoções.

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30/01/2020

Crítica do filme: 'O Escândalo'


A força das mulheres contra a imbecilidade de homens sem caráter. Baseado em fatos reais e com orçamento de 35 milhões de dólares, O Escândalo é um filme que se aprofunda no tema do assédio contra a mulher tendo como ponto principal o escândalo envolvendo um dos homens da Tv Norte-americana mais poderosos do mundo. Indicado a três Oscars o filme busca, sem muito brilho, em seus corretos arcos, passar o máximo de detalhe sobre todo o ocorrido mas acaba devendo pois não consegue amarrar as pontas de interseção de maneira mais profunda. Vale a mensagem do filme que pode servir como força para muitas mulheres denunciarem caso sofram ou tenham sofrido abusos no trabalho ou em qualquer lugar.

Na trama, conhecemos três histórias que ocorrem no mesmo ambiente de trabalho mas em situações diferentes. Gretchen Carlson (Nicole Kidman) é um experiente apresentadora que está há 14 anos na Fox News e decide por conta de acontecimentos do passado e do presente denunciar o assédio contra um chefão do alto setor do comando da emissora que trabalha,  Roger Ailes (John Lithgow). Paralelo a isso, acompanhamos também a novata Kayla Pospisil (Margot Robbie) que sofre um terrível assédio na sala de Roger e após conseguir tomar coragem se une ao grupo de mulheres que também sofreram assédio de Ailes. E no foco principal disso tudo Megyn Kelly (Charlize Theron) a apresentadora mais famosa da emissora resolve liderar e reunir as denúncias contra Ailes.

Por mais que tenham pontas soltas no roteiro, as três artistas principais estão muito bem em cena. Inclusive, Margot e Charlize concorrem ao Oscar desse ano por seus respectivos papéis nesse projeto. O preenchimento de pano de fundo e os argumentos colocados em tela para denunciar o ambiente de trabalho tóxico vivido pelas personagens chegam em boas doses aplicados ao talento em tela já comentado. Mas podia ter sido mais impactante, o roteiro de Charles Randolph (A Grande Aposta) teve perto de ser muito bom mas acaba fracassando nas linhas de interseção entre os arcos.

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27/01/2020

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Crítica do filme: 'Um Lindo dia na Vizinhança'


A mudança do mundo destruído pelas palavras. Um cotidiano das emoções em forma de declamações, um livro contado sobre a arte das emoções. Baseado em fatos reais, mais precisamente do artigo de Tom Junod, Can You Say ... Hero, Um Lindo dia na Vizinhança, que estreou faz poucos dias no concorrido (por termos muito poucas salas) circuito brasileiro de exibição, navega pelos sentimentos de forma bastante simples que dão a entender algo parecido a original, as declamações de pensamentos nos levam ao instantâneo ato de pensar sobre aquilo buscando referências em nossas próprias vidas. No papel principal o ator Matthews Rhys, em atuação apenas ok. No papel coadjuvante, nosso eterno Forrest. Tom Hanks é um ator diferenciado, sempre em busca dos mais complexos personagens e sempre com maestria para nos contar suas histórias. Somos sortudos por ser da mesma geração desse gênio da arte de interpretar. A direção é da cineasta californiana Marielle Heller (do elogiado Poderia Me Perdoar?).

Na trama, conhecemos um rabugento jornalista Lloyd Vogel (Matthew Rhys, do ótimo seriado The Americans) que após uma ordem de sua chefe, precisa fazer um texto de 400 palavras sobre o famoso apresentador de público infantil, Fred Rogers (Tom Hanks). Conforme vai conhecendo mais a fundo seu entrevistado, o protagonista começa a passar por mudanças profundas na sua forma de pensar e expressar seus sentimentos, principalmente com o recém aparecido pai.

Um Lindo dia na Vizinhança é um projeto peculiar que você precisa ser convencido que ele pode ser uma boa experiência. Não deixa de ter também quebra de certos paradigmas como o olhar para a câmera. A tal da inteligência emocional, a partir da inspiração. Um Lindo dia na Vizinhança é um filme que você precisa ser convencido que ele pode ser uma boa experiência, isso pode acontecer. A paciência é um fator importante. Nas imperfeições, a subtrama do protagonista e sua saga em reconciliar com seu pai seja pouco profunda, quando Hanks sai de cena o filme dá umas despencadas, mesmo Chris Cooper estando ótimo no papel do pai do protagonista.

Onde ir onde quando a alma está ferida? Um fator interessante é que há uma conversa franca com o espectador. Uma grande sessão de terapia que ultrapassa as barreiras da telona. Muitos podem se identificar demais com a história contada, sobre pais e filhos. Psicólogos, psicanalistas, psiquiatras precisam assistir a esse filme. Gera um bom debate.

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Crítica do filme: 'Judy - Muito Além do Arco-Íris'


O que atinge o coração dos outros podem servir de aconchego para a fonte da emoção. Buscando retratar com bastante delicadeza um pequeno recorte, já na parte final da vida, da famosa atriz Judy Garland, o cineasta britânico Rupert Goold contorna com muita emoção as linhas do roteiro baseado na obra de Peter Quilter. No papel principal, a veterana atriz Renée Zellweger que consegue sua grande atuação na carreira, por esse papel já ganhadora dos prêmios de Melhor Atriz em Filme de Drama no Globo de Ouro 2020 e a estatueta de Melhor Atriz no Critics' Choice Awards, se tornando praticamente eminente sua estatueta do Oscar desse ano. Judy, se encaixa entre outros, quando a atuação supera o filme.

Na trama, conhecemos os últimos meses de vida da impactante atriz Judy Garland (Renée Zellweger) eternizada pelo seu papel como Dorothy em O Mágico de Oz (1939), em sua temporada de shows em Londres onde tentava recuperar a carreira, ou pelo menos se sustentar já que passava por uma crise emocional e financeira fruto de uma vida cheia de controle que culminou em suas viagens pelo mundo do excesso de substâncias que fazem mal.

Delicado e com ritmo lento, Judy é um retrato de muitos artistas famosos que acabam nos deixando por conta do descontrole em não conseguir achar seu caminho nesse mundo tão rígido e implacável. Indo e voltando com pequenos flashs da época que conseguiu seu primeiro (e o grande) trabalho de sua extensa carreira, aos poucos vamos tentando entender a personalidade forte da atriz, mãe de três filhos, inclusive Liza Minelli. A questão da guarda dos filhos e as brigas com o ex-marido Syd (Rufus Sewell) também contornam a trama dando uma pitada na questões sobre a saudade e a necessidade de conseguir se estabelecer como artista.

Mas o grande destaque é mesmo a atuação de Renée Zellweger que aplica uma dose de ternura e um gestual impressionante na sua Judy. Nesse ano com boas atuações femininas em ótimos filmes, vai levar o Oscar pois caminhou pela emoção, cantando e expressando muito pelo olhar.

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Crítica do filme: 'Parasita'


Indicado na principal categoria do Oscar 2020 (melhor filme), e em mais outras cinco, o filme sensação do universo cinéfilo dos últimos meses Parasita merece realmente todos os elogios por sua trama impactante que não deixa de ser interessante um só segundo. Além de abordar temas importantes da nossa sociedade, como o desemprego, o projeto vai rumo ao brilhantismo ao mostrar as linhas psicológicas mais complexas do ser humano e todo seu poder de conseguir o novo e destruir. Escrito e dirigido pelo cineasta sul-coreano Bong Joon Ho (dos excelentes O Expresso do Amanhã e Mother - A Busca Pela Verdade), essa obra-prima asiática é um filme inesquecível, muito por conta de muitas de suas cenas impactantes que vão demorar a sair de nossa memória cinéfila.

Vencedor do prêmio de Melhor Filme de Língua Estrangeira no Globo de Ouro desse ano, Parasita conta a saga de Kim Ki-woo (Woo-sik Choi) e sua família toda desempregada. Passando os dias olhando pela janela da casa no subsolo onde vivem, Kim Ki-woo consegue através de uma amigo que vai viajar uma oportunidade única: ser professor de inglês de uma jovem milionária. Assim, usando todas as suas facetas de um grande cara de pau aos poucos vai instalando na família da jovem empregos para toda sua família. Quando determinadas situações acontecem, a família trambiqueira precisará realizar escolhas que mudarão os rumos de toda essa impactante história.

Foco principal na trama, a questão da ascensão familiar é o grande background para ações e consequências eletrizantes. Sem o mínimo de pudor, a família consegue aos poucos ganhar a confiança de quase todos nesse novo universo que lhes é proposto. Mas as reviravoltas da trama evoluem a história e deixam cenas marcantes na nossa memória. Reflexivo e até certo ponto aterrorizador, os limites do ser humano são colocados em cheque fruto de um deslumbramento sem pilares de resistência culminando numa impressionante jornada de queda.

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25/01/2020

Crítica do filme: 'Atlantique'


Em seu primeiro trabalho como diretora, a cineasta francesa Mati Diop consegue reunir elementos físicos e sobrenaturais para nos contar uma história de amor pouco convencional que acontece em Dakar, no Senegal. Em meio a uma paisagem e arcos que remetem ao grande oceano que banha a parte da cidade onde se passa a trama, Diop e suas lentes conseguem uma incrível conexão com quem assiste do lado de cá da telona. Disponível no catálogo da Netflix, o filme levou o grande prêmio do Júri em 2019 no prestigiado Festival de Cannes.

Na trama, conhecemos a jovem Ada (Mame Bineta Sane), uma mulher que vive seus dias atuais na expectativa do casamento arranjado por um homem que não ama. Ada, esconde outra paixão, se encontra escondida com seu grande amor Souleiman (Ibrahima Traoré) sempre que possível. Quando Souleiman resolve, sem avisá-la, partir pelo oceano atrás de uma vida melhor, a vida de Ada ganha novas e curiosas passagens.

Abordar o sobrenatural de maneira interessante é um trabalho para poucos, e esse fato é a grande reviravolta do filme que caminha lentamente pelos detalhes do ambiente deixando surpresas como migalhas em uma trilha até o seu clímax. Dentro do contexto desse bom projeto, o amor é visto de uma ótica bonita através do sentimento, das afinidades, além claro de ótimas pitadas de críticas sobre a condição social da região, costumes e crenças.

Atlantique é um trabalho para ser apreciado. Um pequeno tesouro perdido nos milhares de lançamentos dos streamings. É um filme que cinéfilo tende a gostar, os contornos narrativos transbordam emoções puras que viram paralelos à nossa realidade.

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24/01/2020

Crítica do filme: 'Entre Facas e Segredos'


Escrito e dirigido pelo ótimo cineasta norte-americano Rian Johnson (Looper: Assassinos do Futuro), Entre Facas e Segredos beira ao brilhantismo ao demonstrar a psicologia por trás da ganância e egoísmo de uma família da alta sociedade americana. Um ótimo elenco em personagens cheios de complexos e segredos. O projeto, que fora lançado nos cinemas brasileiros semanas atrás, mais que um filme básico de suspense para procurarmos o assassino, ou as verdades por trás de mentiras, costura com bastante maestria as facetas dos limites do ser humano e nos leva a lugares surpreendentes de um suspense repleto de argumentos interessantes.

Na trama, conhecemos o milionário escritor de suspenses Harlan Thrombey (Christopher Plummer) na noite do seu aniversário de 85 anos. Toda a família reunida e também Marta (Ana de Armas) uma jovem enfermeira, imigrante, que cuida das medicações e do bem estar do dono da casa. O tabuleiro narrativo se transforma em um grande quebra-cabeça com inimigos virando amigos, uniões improváveis, após o assassinato de Harlan. Para tentar descobrir o que houve no fim daquela noite, um detetive ao melhor estilo Agatha Christie aparece em cena, Benoit Blanc (Daniel Craig) e não medirá esforços e excentricidades para conseguir chegar a conclusão desse complicado caso.

Durante os arcos, atentos olhos cinéfilos buscam explicações e tentam desvendar futuros mistérios sobre as personalidades e possíveis motivos de todos os personagens, cada um mais excêntrico que o outro. A dobradinha entre a imigrante e o peculiar detetive ditam o tom de boa parte da curiosa narrativa. A primeira, a protagonista, ouve tudo sobre a investigação e busca seus objetivos na mesma. O segundo, caricato e interpretado de maneira contagiante pelo 007 Daniel Craig aparece nas horas mais incomuns em busca de chegar aos seus argumentos finais com êxito.

O circo pega fogo, as discussões em família são hilárias, sarcásticas e com grande tom de ressentimento uns pelos outros. A cena da leitura do testamento é escancarada e cheio de tons sarcásticos mostrando as facetas ocultas de algumas personalidades que navegam pela trama. Jamie Lee Curtis, Toni Collette, Michael Shannon, Don Johnson, Chris Evans desfilam em seus personagens como um grande abre alas de um desfile, observamos e tentamos ler tudo. Tudo encaixa dentro do tabuleiro culminando em um forte clímax para o gran finale.

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23/01/2020

Crítica do filme: 'Take It or Leave It (A Escolha)'


A aceleração da maturidade. Indicado ao Oscar pela Estônia, Take It or Leave It, ou,Võta või jäta, no original, é um drama profundo sobre a maternidade/paternidade. Somos testemunhas de momentos de descobertas e alguns angustiantes de irresponsabilidades. Escrito e dirigido pela cineasta Liina Trishkina é um grande tesouro em meio aos centenas de filmes europeus lançados a cada ano pelo mundo. Com um ótimo roteiro e um final arrebatador, Take It or Leave It é um dos grandes filmes europeus dos últimos anos. Um filme corajoso, um retrato emocionante sobre como o amor nos leva a patamares que nunca imaginamos estar.

O protagonista é um jovem de cerca de 30 anos, de origem e família na Estônia, que não sabe direito o que fazer da vida profissional e trabalha em obras na Finlândia. Completamente confuso e sem saber o que fazer após a notícia de que é pai, embarca em uma jornada de assumir a paternidade e os cuidados da recém nascida sozinho já que a mãe não a quis assumir naquele momento. Completamente sem jeito, talvez pela rebeldia que o persegue faz anos e que fica claro desde o primeiro arco do roteiro, Erik (Reimo Sagor) aos poucos vai se descobrindo como pai, navegando pelas responsabilidades e derrapando nas irresponsabilidades.

As dúvidas pairam a cabeça dos jovens. Desde o básico sobre o que fazer quando a criança recém nascida começa a chorar até sobre se devem ficar com a criança ou leva-la para adoção. É um recorte muito interessante bastante próximo da realidade, afinal com toda certeza histórias parecidas acontecem diariamente em todo o planeta.

O filme aborda muito bem o impacto da notícia do novo papai acaba mexendo com toda uma família.  O relacionamento com seu pai e mãe (principalmente a segunda, que domina as cenas em vários momentos) também sofre uma reviravolta e ele precisa enfrentar julgamentos por conta da ajuda que recebe, além do irmão que sofre com sua esposa por não conseguir ter um filho.

As técnicas de filmagens são ótimas, há muito silêncio que diz muito em bons e preenchedores planos. Já na reta final um eminente desenrolar jurídico acontece e a cereja do bolo, já no arco final, vale o ingresso. Um filme corajoso, um retrato emocionante sobre como o amor nos leva a patamares que nunca imaginamos estar.

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Crítica do filme: '1917'


Quando a lealdade se encontra com a humanidade. Indicado aos principais prêmios do cinema nessa última temporada, além de ser forte concorrente ao próximo Oscar na categoria principal da grande noite, o novo projeto do ótimo diretor britânico Sam Mendes (Beleza Americana) é um show de técnicas de cinema, uma trama empolgante e deliciosamente constante aos nossos olhos, é difícil até parar para respirar ao longo dos 120 minutos de projeção. Rodeado de nomes famosos no elenco, em papéis bastante secundários, vale o destaque para o jovem George MacKay. Um grande filme de guerra, de um grande diretor.

Na trama, somos jogados novamente para os horrores da Primeira Guerra Mundial, mais precisamente para o ano de 1917 e no início do mês de abril (exatamente no dia em que os Estados Unidos declararam guerra à Alemanha e seus aliados), onde dois jovens soldados britânicos recebem ordens claras e objetivas para atravessarem um enorme território, inclusive passar próximo das linhas inimigas, tudo isso para entregar uma mensagem importante que pode salvar todo um batalhão com mais de 1.500 britânicos. Assim, reunindo forças de onde podem os jovens enfrentarão obstáculos complicados para chegarem até seu objetivo.

Estimado em 100 milhões de dólares, e sendo o primeiro indicado ao Oscar tendo um título totalmente numérico, 1917 é uma reunião de talentos e mais talentos na frente e atrás da câmera, porque, para conseguir realizar o filme e dessa maneira como fora filmado um trabalhão fora feito. Só para o ensaio dos atores foram 6 meses de treinamento, mais de 1.5 Km de trincheiras foram cavadas para o filme, fora inúmeros outros detalhes. O espetáculo de fotografia é assinada pelo já setentão e sempre nota 10, Roger Deakins. A trilha sonora sublime é assinado pelo californiano e indicado 15 vezes ao Oscar Thomas Newman. Sam Mendes constrói através de sua ótica (o filme é dedicado ao avô de Sam Mendes, que foi soldado das tropas da rainha durante a Grande Guerra) um empolgante entretenimento que fala muito sobre lealdade. Vale a pena conferir!

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21/01/2020

Crítica do filme: 'Ted Bundy: A Irresistível Face do Mal'


As facetas do mal. Lançado nos cinemas brasileiros em meados do ano passado, Ted Bundy: A Irresistível Face do Mal é um recorte da vida do famoso serial killer que aterrorizou os Estados Unidos décadas atrás, Ted Bundy. No papel principal, o surpreendente Zac Efron se dedica bastante ao papel nesse suspense psicológico onde tentamos decifrar a mente conturbada do assassino. A narrativa é feita sob a ótica da mulher que Ted teve um extenso relacionamento, Liz Kendall (Lily Collins). O roteiro é repartido em arcos bem definidos mas não alcança a profundidade em suas subtramas. É um filme apenas Ok, que está disponível no catálogo da Netflix.  

Na trama, conhecemos Liz (Lily Collins) uma jovem e esforçada trabalhadora, mãe solteira, que durante a ida a um bar na cidade que recém chegara acaba conhecendo Ted (Zac Efron), um homem charmoso com quem logo tem um intenso relacionamento. Mas tudo vai por água abaixo quando Ted é acusado de assassinar dezenas de mulheres pelas cidades que passou. Sem saber em quem acreditar, Liz entra em um estado de depressão mas sempre em busca de encontrar a verdade sobre o homem que ama.

Tudo que envolve Ted Bundy é cruel e sanguinário. Um psicopata dos mais perigosos que os Estados Unidos já ouviu falar. No longa-metragem, a abordagem mais branda chega por conta da ótica de terceiros sobre tudo que Ted fazia naquela época tão nebulosa. Envolvida pelo amor que sente, Liz e outras centenas de mulheres caíram no golpe do charme de Ted, deixando sempre em dúvida e alegando inocência a cada audiência. A parte do julgamento final do protagonista, na Flórida, com John Malcovich no papel do juiz é muito bem feita e mostra um pouco do circo midiático que foi esse julgamento.

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Crítica do filme: 'El Pepe, uma Vida Suprema'


A beleza da simplicidade. Dirigido pelo premiado cineasta sérvio Emir Kusturica, El Pepe, uma Vida Suprema navega pela intensa vida do ex-presidente uruguaio Pepe Mujica, um homem adorado por seu povo que conseguiu mudar o Uruguai de patamar no cenário latino-americano e porque não dizer também mundial. Ao longo dos quase 80 minutos de projeção, conhecemos as manias, as famosas histórias sempre em pano de fundo os últimos dias de presidência da celebridade sul americana.

Já disponível no catálogo da Netflix, o documentário que teve estreia no famoso Festival de Veneza no ano de 2018 apresenta um pouco profundo raio-x da vida de militância do uruguaio, seu grande amor da vida que também era militante, e toda força que conquistou através do silêncio por ter ficado preso por mais de uma década rodando de prisão em prisão durante a ditadura uruguaia. Vivendo uma vida simples, mesmo quando era o chefão de seu país, sempre a bordo de seu famoso fusquinha, vemos uma homem e um objetivo: melhorar em todas as áreas o país que tanto ama. Amante da agricultura, passa horas do seu dia ao lado de seu plantio e também ensina aos que querem aprender.

Surpreendente em alguns relatos, Pepe e suas histórias deixam um grande plano de interação com Kusturica, deixando o filme bastante informal e natural. Usando um ponto eletrônico, a tradução simultânea, o diretor se diverte com muitos dos pensamentos de Mujica. Nem vemos o tempo passar e ainda da gostinho de quero mais. Que vida, que história. Que bom pra América do Sul!

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Crítica do filme: 'Quem com Ferro Fere'


Até aonde pode ser movido pela vingança? Feridas do passado que não cicatrizam, tem solução? Disponível no catálogo da Netflix, o thriller espanhol Quem com Ferro Fere é composto de uma roteiro com arcos detalhistas que busca compor as diferentes personalidades que navegam em uma trama com mistérios, violência e uma sede incontrolável de vingança. No papel principal, o excelente Luis Tosar (dos excelentes Enquanto Você Dorme, Cela 211 e Segunda-Feira ao Sol) que mais uma vez brinda os cinéfilos com uma atuação intensa e explosiva. Dirigido por Paco Plaza (do sucesso [Rec]), Quem com Ferro Fere é mais um ótimo trabalho espanhol no mundo da sétima arte.


Na trama, conhecemos o enfermeiro Mario (Luis Tosar), um homem atencioso e carinhoso, adorado por todos na clínica de idosos onde trabalha. Sua vida anda às mil maravilhas, é um ótimo profissional e sua esposa está a beira de dar a luz ao primeiro filho do casal. Tudo muda radicalmente quando chega até a clínica um novo paciente, Antonio Padin (Xan Cejudo), um homem conhecido por toda a comunidade como um perigoso bandido chefe de um clã ligado a morte e tráfico de drogas. Só que Mario tem um passado que o liga a Padin e dessa interseção uma série de acontecimentos transformam de vez o destino do enfermeiro.


A abordagem psicológica do protagonista é o grande guia de navegação dessa misteriosa trama que vai mostrando suas facetas aos poucos. Luis Tosar, que já vivera no cinema personagens com muita complexidade psicológica mais uma vez se entrega ao máximo. Com subtramas rasas mas que apresentam um peça para compor o tabuleiro final, o roteiro costura com bastante calma, segurando o ritmo, suas reviravoltas. O nosso guia, ou melhor dizendo, a maneira que interagimos com a primeira ótica quando olhamos para a telona são os passos controlados, os medos e a aflição desse imprevisível protagonista. O filme guarda para seu arco final um desfecho impactante para o seu clímax que navega pela fita assim que descobrimos qual a conexão entre enfermeiro e paciente. Vale a pena conferir.

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Crítica do filme: 'Zumbilândia 2 – Atire Duas Vezes'



Há necessidade de uma continuação para determinados filmes? É questão de ganhar dinheiro ou vontade de ampliar o universo do enredo de maneira criativa? Chegando quase desapercebido no intenso, apertado e muitas vezes mal programado circuito exibidor brasileiro no ano que passou, a continuação da divertida fábula pós apocalipse zumbi Zumbilândia volta mantendo o ritmo do primeiro filme adicionando à trama novas situações no gigante universo de exploração que está embutido. Reunindo o quarteto original de protagonistas, Zumbilândia continua divertido mas podia voltar como seriado seria mais interessante. Alô Netflix!

Na trama, após anos do final do primeiro filme, agora já mais velhos, o quarteto Tallahassee (Woody Harrelson), Columbus (Jesse Eisenberg), Wichita (Emma Stone) e Little Rock (Abigail Breslin) agora precisam enfrentar um avanço na mutação dos zumbis que os cercam. Mais rápido e mais indestrutíveis, colocam em xeque todas as maneiras de matar que o grupo de amigos tinha já estabelecido. Paralelo a isso, Little rock completa 18 anos e acaba encontrando um jovem de sua idade, fugindo do grupo. Agora, os três restantes precisam percorrer quilômetros de estradas vazias para encontrar a jovem e a trazer para perto deles.

Com um orçamento beirando os 43 milhões de dólares, e com o mesmo diretor do primeiro filme, o norte americano Ruben Fleischer, o filme parece tentar se reinventar a cada instante, brincado de forma inteligente com o universo da franquia e com os produtos televisivos de universo parecido (a piada com a revistinha de Walking Dead é ótima). Óbvio que nem tudo dá certo e partes dos meios dos arcos parecem inconclusivos ou desinteressantes, além do fraco aproveitamento dos potenciais coadjuvantes que o quarteto encontra pela sua nova aventura. As cenas de ação são ótimas, a legendagem na tela também continua funcionando. Há muito deboche, marca da franquia, e questões existenciais mais profundas sempre em torno do personagem nerd Columbus.

Sentar e assistir a um filme como Zumbilândia 2 – Atire Duas Vezes vai ser sempre uma boa diversão. É o melhor filme do ano passado? Não, nem perto. É o melhor filme do universo Zumbi? Também não, nem perto. Por isso a lógica seria um seriado para reunir todo o universo ainda não explorado. Se tiver um terceiro filme e por acaso deslizar nas suas ideias, pode ser decretado o fim da potencial franquia.

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19/01/2020

Crítica do filme: 'Viver Duas Vezes'


Certas histórias não precisam ser perfeitas para emocionar. Dirigido pela cineasta espanhola Maria Ripoll, Viver Duas Vezes, mais um filme lançamento no super catálogo da Netflix desses últimos meses, é uma linda fábula sobre o amor que percorre barreiras do tempo e quando o destino chama, entendemos o porquê é tão lindo viver. O roteiro de María Mínguez transborda simpatia apoiado na construção não original de um protagonista rabugento mas que vai se abrindo conforme as situações acontecem. Nesse caso, a fórmula dá certo pela competência e brilhantismo do grande ator argentino Oscar Martínez

Na trama, conhecemos o mal humorado ex-professor de matemática Emílio (Oscar Martínez), um homem no terço final e sua vida que dedicou grande parte de seu tempo na terra para decifrar os enigmas da famosa ciência mais exata, chegando até a encontrar um desconhecido número primo. Quando essa mente brilhante é diagnosticado com Alzheimer, sua filha Julia (interpretado pela ótima Inma Cuesta) e sua neta Blanca (Mafalda Carbonell em uma atuação marcante e emocionante em muitos momentos) se aproximam dele e juntos partem em uma inusitada aventura em busca do primeiro amor de Emílio.

O filme toca em temas interessantes, mesmo que não haja profundidade, talvez até pelo tempo. Casamentos e seus problemas, a deficiência física, o relacionamento entre família, o projeto busca soluções para todos esses temas ou melhor, demonstram de maneira muito verdadeira ações para o não deixar a vida ficar triste. Essa troca de gerações, principalmente na relação avô e neta é ótima, encaixa com perfeição nas linhas do roteiro. Pai e filha também tem vários embates, mas provam que onde não falta amor não falta nada.

É um bonito filme, uma metáfora sobre a idade passando pelas gerações e como toda família, mesmo sem ser perfeita por conta das personalidades, nunca deixa de estar unida de alguma forma.

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