17/05/2020

Crítica do filme: 'Desejo de Matar' (2020)


Quando a vingança é o único destino que temos. Baseado na obra homônima de Brian Garfield e também no clássico longa-metragem da década de 70 dirigido por Michael Winner, roteirizado Wendell Mayes e protagonizado pelo lendário Charles Bronson, Desejo de Matar (2020), filme já disponível no amplo catálogo da Netflix é um projeto que busca na ação sua força motriz, dessa vez protagonizada pelo eterno John McClane Bruce Willis, mostra a história de contraponto à redenção de uma alma perturbada por traumas que desperta para a violência de maneira inconsequente. Pena que tudo é muito previsível nesse novo roteiro, tendo brilho somente no pequeno espaço que arranja para falar sobre a questão da violência e a própria população se armando para se defender.

Na trama, conhecemos o renomado médico cirurgião Paul Kersey (Bruce Willis), aluno brilhante da prestigiada faculdade de Stanford que vive uma vida praticamente perfeita ao lado de sua esposa Lucy (Elisabeth Shue) e sua filha Jordan (Camila Morrone). Certo dia, a vida do protagonista muda ao avesso quando descobre que sua filha e sua esposa foram baleadas em uma tentativa de assalto a sua própria casa. A partir desse trauma, Paul desperta em si uma parte nunca antes vista, aprendendo sobre armas e virando um justiceiro implacável na cidade de Chicago.

Se não fosse a previsibilidade que compõe os primeiros arcos, essa fita de ação tinha boas chances de estar na galeria dos bons projetos do gênero ação de 2020. Mas não adianta, parece que existem fórmulas hollywoodianas que insistem em estar em todas os filmes. Um copiar/colar que incomoda muito a quem assiste muitos filmes. Bruce Willis, conhecido em filmes de ação, topa o desafio de tentar buscar originalidade em um roteiro não tão brilhante quanto o da década de 70, tenta levar o roteiro nas costas muito por conta de seu intenso carisma mas acaba naufragando junto com todo o resto.

Continue lendo... Crítica do filme: 'Desejo de Matar' (2020)

09/05/2020

,

Crítica do filme: 'A Maratona de Brittany'


Os benefícios mental e corporal a partir de mudanças chaves na nossa rotina. Cinema é um ótimo jeito de conscientizar pessoas ao redor de todo o planeta, com esse pensamento o debutante em roteiros e direção cinematográfica de longas-metragens Paul Downs Colaizzo resolve contar com bastante realidade e de maneira muito objetiva, a trajetória de uma mulher que entra em uma auto descoberta sobre a vida perto dos 30 anos e revoluciona sua maneira de pensar, agir e se cuidar. Exibido no Festival de Sundance no ano passado, e passando quase desapercebido pelo circuito exibidor brasileiro, o projeto conta com ótima atuação da atriz Jillian Bell.

Na trama, conhecemos a baladeira e descompromissada com a vida Brittany (JIllian Bell), uma mulher de 28 anos, gordinha que não consegue se encontrar em nenhuma parte de sua vida. Após uma consulta de rotina ao médico, descobre que seu corpo vai muito mal das pernas e resolve mudar da água pro vinho sua rotina, começando pelo grande desafio de conseguir correr todo dia na rua para se exercitar. Essas corridas logo se transformam em bem estar, amizade, mudança radical na sua rotina e assim, batalhando contra sua mente do passado, ela foca para encarar todos os desafios que a vida lhe coloca.

Impressionante como em menos de duas horas de fita, um projeto consegue tocar em tantos pontos importantes na vida de uma pessoa. Muito bem filmado, o espectador se sente a todo instante, de alguma forma louca que só o cinema consegue, interagindo com a personagem, interpretado pela ótima Jillian Bell (que perdeu cerca de 40 quilos durante as filmagens, assim como sua personagem durante o curso do filme). As lições sobre as amizades positivas e negativas, o preconceito (a parábola do segurar ou não a porta do metrô é excelente), as oportunidades que batem a porta e precisamos estar preparados, luta de viver numa cidade grande, concorrência para conseguir um bom emprego, o roteiro navega de maneira deliciosa por esses e outros ótimos temas sempre tendo como pano de fundo as ações e reações da protagonista.

Baseado na vida de Brittany O'Neill, como deixa claro no final, nos créditos, A Maratona de Brittany é um despertador de emoções muito bonito. Acredito na premissa de que quem assiste a esse filme pode também conseguir querer mudanças, lutar e ser feliz. No final das contas, o que importa é como nos vemos, não os outros.

Continue lendo... Crítica do filme: 'A Maratona de Brittany'

07/05/2020

Crítica do filme: 'Sem Palavras'


Sempre teremos tudo aquilo que quisermos, mas, às vezes, só o tempo dirá quando. Navegando pelo caótico universo capitalista e competitivo que vivemos, somos testemunhas de mais um brilhante refém dos nossos tempos, que consome sua vida de Workholic se cuidando mal e dando pouco valor a sua família. Dirigido pelo cineasta francês Hervé Mimran, em seu terceiro longa-metragem no currículo, Sem Palavras é um filme guiado por um assunto complexo mas que tem no leme um dos mais habilidosos artistas do mundo, especialista em caminhar entre o drama e a comédia de maneira elegante e muito carismática, o fantástico Fabrice Luchini. A melancolia que estaciona entre alguns arcos deixa o filme pouco dinâmico mas com Luchini em cena tudo pode mudar em minutos, ele puxa para si a responsabilidade de emocionar. E consegue. A história é inspirada no livro J'étais un homme pressé de Christian Streiff. ex-CEO da Airbus e da Peugeot Citroen.

Na trama, ambientada na mais famosa cidade francesa e seu enorme centro egocêntrico de concorrência coorporativa, conhecemos o brilhante professor e homem de negócios Alain Wapler (Fabrice Luchini) que passa mais tempo no trabalho do que em casa, tendo pouca proximidade com a filha, principalmente após a perda da esposa. Durante uma semana corrida e cansativa, Alain tem um AVC que afeta seu cérebro na região da memória e onde grava palavras, assim, precisa passar um tempo longe do trabalho para se recuperar e conta com a ajuda de sua filha Julia (Rebecca Marder) e da Fonoaudióloga Jeanne (Leïla Bekhti). Com o passar dos dias Alain percebe que sua vida entrou em uma grande e inesperada mudança.

O ritmo acelerado do início é para marcar o território da personalidade forte do protagonista, praticamente um extenso tapete vermelho que ligará os pontos no futuro com a intensa transformação que passa o personagem principal ao longo dos 100 minutos de projeção. Como já comentado, os arcos variam muito, há uma tríade criada com a chegada de Jeanne importante que mostra um pouco além da ótima personagem, seus dramas no campo amoroso e na descoberta maternal.

Recheado de analogias, fator super positivo, em uma cena específica, quase sem palavras muito se diz, nessa, há uma belíssima comparação fina entre a letra de uma canção emblemática, inclusive a cena do filme que tem essa música aparece, nos guiando a preencher lacunas e a pensar, será que agora o pai lidará com a possibilidade de melhorar o relacionamento com sua única filha? Veja o filme e saberá a resposta! Vale por Luchini.

Continue lendo... Crítica do filme: 'Sem Palavras'

05/05/2020

Crítica do filme: 'Ordinary Love'


Não haverá um minuto em que não estrei com você. Exibido pela primeira vez no Festival de Cinema de Toronto no ano passado, o drama Ordinary Love, com estreia apontada para outubro no Brasil, é encontro de dois grandes atores mostrando a vida como ela é. Um primoroso roteiro, inclemente, profundo mais próximo da realidade do que nossos corações permitem para não se emocionar. Das atuações em perfeita harmonia, Leslie Manville e Liam Neeson, parece que enxergamos esse casal numa volta na praia, ou correndo por aí em alguma pista para pedestres esportistas amadores. Dirigido pela dupla de cineasta Glenn Leyburn e Lisa Barros D'as, Ordinary Love é uma devastadora história sobre amores, união e perdas.

Na trama, conhecemos o harmônico casal Joan (Lesley Manville) e Tom (Liam Neeson) que vivem seus dias animados e com uma união de anos em perfeita sintonia mesmo com os fortes abalos de uma tragédia anos atrás. Mas, a rotina do casal que adora realizar caminhadas matinais, é mudada abruptamente quando a primeira é diagnosticada com câncer de mama e precisa iniciar o tratamento por quimioterapia. A partir dessa situação o relacionamento dos dois muda mas o amor que vive no lar deles é preparado também para enfrentar qualquer tristeza.

Os conflitos durante o tratamento pela quimioterapia expõe os limites emocionais que cada parte do casal chega. Por meio de metáforas delicadas inseridas nas emoções, medos e resistências da protagonista, fruto do magistral roteiro assinado por Owen McCafferty, como a cena do sonhar de um trem partindo e o marido do lado de fora. Essa analogia mostra muito sobre as emoções desse momento delicada que ela enfrenta. A cena do diálogo de Nesson conversando e dizendo tudo que sente sobre a situação com ele enfrentada em frente ao túmulo da filha é algo que emociona numa escala inimaginável, só vendo e sentindo a força dessa cena.

Mas o que seria um bom filme sem dois grandes atoes em cena? Manvile e Neeson nasceram para esses respectivos papéis. A sintonia é enorme, parece que estamos abrindo a porta de casa e encontrando à luz da vida de um casal de vizinhos ou mesmo de lembranças de histórias que nos contam na realidade. A atuação dos dois já vale o ingresso mas Ordinary Love ainda tem muitos outros méritos e merece uma chance nas suas escolhas sobre ‘qual filme quero ver nesse ano’.

Continue lendo... Crítica do filme: 'Ordinary Love'

04/05/2020

Crítica do filme: 'A Ilha dos Assobios' (La Gomera)


Quanto mais você aprende sobre as coisas peculiares, mais o universo deposita um vale de sorte. Depois de conquistar a atenção dos cinéfilos nos ótimos A Leste de Bucareste (2006), Polícia, Adjetivo (2009) e O Tesouro (2015), o cineasta romeno Corneliu Porumboiu volta às telonas com mais uma retrato instigante da natureza humana que mistura características peculiares envoltas em uma trama muito bem amarrada. A Ilha dos Assobios, La Gomera no original, concorreu a palma de ouro em Cannes no ano passado. Mais um vez, Porumboiu brinca entre o drama e a tragicomédia apresentando uma forte história que fala sobre escolhas e assobios. Ótimo!

Na trama, conhecemos o indeciso policial Cristi (Vlad Ivanov), um homem que é meio que um agente duplo: policial e joga também do lado do crime. Ele é envolvido em uma trama onde é pressionado por Gilda (Catrinel Marlon), esposa de um chefe de uma gang a libertar esse em uma prisão que fica numa ilha, onde um peculiar dialeto é o jeito mais seguro de se comunicar. Tendo que aprender as regras gramaticais dos assobios, o policial precisa definir de que lado está nessa grande enrascada.

Podem perceber que todo filme bom começa com um ritmo meio confuso mais aos poucos, quando as peças se encaixam, tudo fica mais nítido, um deleite pro cinéfilo. Usando da excentricidade para contar uma saga descontrolada de um homem sem mais nada a perder na vida (pois tudo que fez até aqui fere seus princípios) até encontrar o amor novamente, Porumboiu encaixa elementos de plano de fundo cirúrgicos, de vez em quando cronologicamente misturados que fazem o espectador entender o que ta vendo não pelos arcos mas por uma ótica de transformação do protagonista. É como se a cada sequência do personagem principal abrisse uma porta e nos levássemos junto a ele para saber o que tem lá dentro, uma jornada com tentativa de ser original o tempo todo, um frescor no meio de tanto mais do mesmo que assistimos por aí.

Continue lendo... Crítica do filme: 'A Ilha dos Assobios' (La Gomera)

30/04/2020

Crítica do filme: 'Bait'

Quando a técnica de filmagem se sobrepõe e faz tudo ganhar sentido na características dos personagens. Bait, tá aí um filme extremamente interessante! O cineasta Mark Jenkin, que assina a direção e roteiro dessa pérola com passagem pelo Festival de Berlim e vencedor de um BAFTA, resolveu usar 130 rolos de filme Kodak que viraram um 16mm todo em preto e branco para mostrar aos cinéfilos as possibilidades de criatividades, não só narrativas mas de técnicas quando pensamos sobre um filme. Simples e complexo, dramático e pulsante, um baita achado na galeria dos bons filmes exibidos em festivais nos últimos anos.

Na trama, conhecemos o emburrado pescador Martin Ward (Edward Rowe), um homem de poucas palavras, que possui um sonho de ter um barco só dele para ganhar mais dinheiro e buscar uma felicidade ainda distante. O protagonista possui um péssimo relacionamento com o irmão Steven (Giles King), pois, esse usa o barco que foi do pai deles como transporte turístico e não para pescar conforme as tradições da família. Além disso, Martin confronta a tudo e a todos buscando preservar a parte da cidade que mais conhece da maneira como ele sempre conheceu. Mas, no meio tempo de tudo isso, uma tragédia acontece e isso pode mexer nos planos do destino de Martin.

O modo como fora filmado, belíssimo, que teve até que ter todos os diálogos dublados em estúdio, às vezes pode atrapalhar nossa análise sobre essa pequena relíquia cinematográfica. Há um complemento entre a técnica utilizada e as características dos personagens, o preto e branco carrega no ar a essência de seu protagonista, alma pesada, emoções de um protagonista cheio de problemas. Tudo se encaixa muito bem principalmente quando conhecemos os porquês e as consequências de tudo que assistimos. Ainda há tempo do roteiro abordar como subtrama jovens e descobertas do amor, os impactos e embates da mudança de rota do turismo de uma região tradicional, relacionamento familiar, ciúmes de irmão.

O interessante é que se formos analisar a fundo, percebemos que dá para se entender o filme de trás pra frente, ou ao contrário. Jenkin mostra aos cinéfilos que a simplicidade usada com criatividade, é uma arma impactante de quem busca uma originalidade tão necessária na mesmice de nossos tempos.
Continue lendo... Crítica do filme: 'Bait'

Crítica do filme: 'Bad Education'


Li essa frase em algum lugar recentemente: ‘A ganância insaciável é um dos tristes fenômenos que apressam a autodestruição do homem.’, não sei de quem é mas ela ilustra muito bem o que assistimos no ótimo longa-metragem produzido pela HBO, Bad Education. Lançado a poucos dias no Brasil, o projeto busca recriar um dos maiores escândalo envolvendo roubos quando falamos na ajuda que o governo norte-americano oferece as escolas públicas. Reunindo uma série de situações que mostram toda a ganância e princípios evidentes de sociopatia dos envolvidos, o filme além de bombástico do ponto de vista humano é um espetáculo de boas atuações do ponto de vista cinematográfico. Hugh Jackman, na pele do protagonista, mostra que como herói ele foi muito bom ator mas como vilão é muito melhor.

Com direção de Cory Finley (em seu segundo longa-metragem) e roteiro assinado pelo nova iorquino Mike Makowsky (baseado no artigo de Robert Kolker para a New York Magazine), Bad Education, conta a história de duas pessoas amadas pela comunidade de Roslyn (Nova Iorque), nos Estados Unidos, Pam Gluckin (Allison Janney) e Frank Tassone (Hugh Jackman). A primeira é uma espécie de chefe do financeiro e o segundo o chefe da administração da escola. Dois exemplares funcionários que conseguiram levar, junto com o resto da equipe, a escola pública de Roslyn até a quarta posição no ranking nacional de escolas públicas. O problema é que após um deslize e uma investigação amadora feita por uma aluna que faz estágio no jornal da escola, colocam em xeque a personalidade e caráter dessas duas figuras.

Os absurdos do roubo que acontece é vista muito pela ótica de Tassone, um homem respeitado pela comunidade, cheio de manias, metrossexual e que parece ter o mundo em suas mãos. Quando seu castelo de cartas começa a desmoronar, principalmente quando Pam é ‘condenada’ pelo conselho que achou suas falcatruas, o personagem entra em uma grande transformação, ou melhor, aquela parede que não nos permitia enxergar quem ele realmente é, cai por terra levando-o a uma série de cinismos e um relacionamento extraconjugal mais prolongado. O mais chocante disso tudo é que ninguém desconfiava de nada, pois, a escola era uma das referências na região, fazendo inclusive aumentarem os próximos dos imóveis que a cercavam.

O roteiro, que possui arcos muito bem definidos, alterna ótimos diálogos com cenas impactantes de como a ganância deixa uma pessoa completamente cega e que no final do dia vale mais a pena ver chorar a outra família do que a sua, pelo menos para os envolvidos nesse roubo que ocorreu de verdade em 2004 (inclusive, o roteirista Mike Makowsky era aluno do high school numa região próxima ao ocorrido.).

Um ótimo filme, profundo, impactante e que mostra verdades chocantes de um escândalo que abalou as estruturas do ensino norte-americano.

Continue lendo... Crítica do filme: 'Bad Education'
,

Crítica do filme: 'Bloodshot'


A vingança é o propulsor de qualquer pessoa que não consegue tirar isso da cabeça. Um dos blockbusters mais atingidos pela pandemia do coronavírus desse ano, Bloodshot, baseado na HQ homônima de Kevin VanHook, Don Perlin e Bob Layton da Valiant Comics, é um filme de ação com méritos que busca suas razões e objetivos a partir das memórias e dos arranjos maquiavélicos tecnológicos que o ser humano pode por enquanto pensar. Entradas triunfais, frases de efeitos, espaços neurais, egocêntrico vilão, projeções tecnológicas futurísticas, plot twist, clichês de filmes do gênero... tem de tudo nesse pipocão que na média final passa de ano, é muito melhor que muitos outros blockbusters de ação lançados nos últimos anos. Na pele do protagonista, um morto agora vivo soldado de alta liderança, o rosto da franquia Velozes e Furiosos, o carismático Vin Diesel.

Na trama, conhecemos um experiente soldado chamado Ray Garrison (Vin Diesel) que é morto por um bandido que também mata sua esposa. Final do filme? Nada disso. O soldado é ‘ressuscitado’ por uma nova tecnologia criada pelo egocêntrico Dr. Emil Harting (Guy Pearce) que transforma seu corpo em uma indestrutível máquina de matar. Assim que acorda, Ray só tem um objetivo: caçar o assassino da sua esposa (e o dele também, no caso). Mas, nada é o que parece nesse filme repleto de adrenalina.

Viver é não saber o que está por vir. O filme tem uma reviravolta importante que praticamente abre o arco mais importante do roteiro. Com o alicerce da premissa da trama caindo por terra, o roteiro muda o jeitão do filme de somente cenas sanguinárias para um pouco de história e tecnologia. Mas não se iludam: tiro, porrada e bomba continuam nessa ficção científica repleta de efeitos onde o objetivo do protagonista, como todo bom ‘anti-herói’ de filme de ação desde os primórdios do cinema, é a única coisa que importa. Um filme de ação ok, bom pra distrair nesses tempos de pandemia e quarentena.

Continue lendo... Crítica do filme: 'Bloodshot'

Crítica do filme: 'Encontros'


Os lamentos de dois corações amargurados pela natureza melancólica. História de amor? Drama existencial? Críticas ao melodramático viver? Classificar o novo filme do cineasta francês Cédric Klapisch (dos ótimos Albergue Espanhol e Bonecas Russas) é muito difícil, o que pode ser muito positivo para quem tem faro macro sobre a ótica da vida. Não é um filme bonito, é um filme que se aproxima de muitas almas na realidade, então, joga limpo, é despido de entrelinhas não decifráveis, o gesto fala mais que muitas palavras. Há bloqueios para amar, outras preocupações ocupam a mente desses jovens, sozinhos em uma cidade enorme como Paris.

Na trama, conhecemos Melanie (Ana Girardot) e Remy (François Civil), dois jovens que estão em Paris sozinhos tentando buscar novas realizações profissionais, cada um de sua forma. Ela, pesquisadora farmacêutica, ele, um funcionário de uma empresa grande que acaba de ganhar uma vaga em um novo setor. Duas almas completamente diferentes mas que possuem a interseção da melancolia diária, atolados de emoções que não conseguem decifrar. Assim, vamos caminhando nessa crônicas dos tempos modernos onde o encontro é um mero detalhe.

Para quem gosta de filmes redondinhos, que seguem as cartilhas, mudem de opção na hora de escolher o que assistir. Encontros é profundo, cheio de detalhes, foge do que achamos que vai acontecer a todo instante. Surpreendente? Nem tanto mas com pitadas generosas de crises existenciais que já vivemos ou já ouvimos de algum amigo ou conhecido. A psicoterapia ganha bastante espaço nessa ótica moderna da depressão e seus desenrolares, até mesmo o próprio doutor entra na melancolia e vira paciente em determinado momento.

Surfa na onda de alguns outros filmes onde os protagonistas não se encontram ou demoram para se encontrar, o roteiro foca em contar uma história com duas óticas onde, de fato, vemos a bifurcação no ato final. Delicado, o roteiro perde ritmo facilmente, o que pode incomodar aos menos sensíveis. Não há um grande clímax, quem busca isso em um filme, também, pode descartar assistir a esse. Nesse projeto, o que conta é o todo, dois caminhos em busca de um mesmo objetivo: ser feliz.

Continue lendo... Crítica do filme: 'Encontros'

29/04/2020

Crítica do filme: 'Resgate'


Nenhum soldado fica pra trás na mente do guerreiro. Escrito por Joe Russo (diretor dos últimos dois filmes da vitoriosa franquia Os Vingadores, ao lado de seu irmão Anthony) e com direção de Sam Hargrave, debutando em longas-metragens, Resgate, novo filme de ação e explosão da toda poderosa (nos tempos de pandemia ainda mais) Netflix é uma grande seleção de clichês em meio a bombas e cenas de ação bem executadas. O fraco roteiro de Russo, transforma o filme em uma caçada sem fim, seco e com ritmo destrutivo. Parece muito os filmes de barulho e explosão do Michael Bay. Tudo é tão repetitivo que dá um grande sono chegar até o fim prestando a atenção ao que acontece, pois, já sabemos intuitivamente. Filme bom mesmo com o mesmo tema, ‘extraction’, é Prova de Vida com o Russell Crowe.

Na trama, conhecemos um jovem, filho de um líder do submundo indiano que um dia é sequestrado por um rival de seu pai. Buscando uma solução, a família do garoto parte para contratar uma equipe especializada nesse tipo de assunto e assim chega ao nome de Tyler (Chris Hemsworth), um homem com um passado triste que beira a inconsequência nos seus atos. Chegando até o local onde o jovem está, começa uma explosiva busca para encontrarem o caminho de casa.

Típico dos pipocões que chegam às salas de cinema, falta muita profundidade no roteiro para entendermos melhor os personagens, o que fica como parâmetro, por incrível que pareça e viajar na onda do clichê, é, imaginar analogias com outros sofridos heróis imortais. Tyler não tem direção, não tem destino, é um soldado pronto para a guerra mas de repente tentamos entende-lo quando sabemos algumas informações de seus traumas do passado, por isso a importância de uma certa profundidade. As subtramas do roteiro são esquecidas, do outro ‘herói’ que trabalha par aa família do menino sequestrado, ou mesmo de um aproveitamento melhor de David Harbour (estrela da Netflix em Stranger Things).

E não custa nada, produtores e produções, tentarem fazer de Tyler uma espécie de herói de guerra, como Rambo ou qualquer personagem assim, e realizarem inúmeras continuações para suas aventuras. Até certo ponto há uma carência nesse tipo de filme para essa nova ‘geração vingadores’. Mas por favor, caso isso ocorre, que não vire somente um bang bang em alguma cidade com problemas, que tenha mais profundidade no completo da trama.

Continue lendo... Crítica do filme: 'Resgate'

28/04/2020

Crítica do filme: 'New World'


Em uma estrada com apenas dois caminhos, você precisa escolher o seu lado. Escrito e dirigido pelo cineasta sul-coreano Hoon-jung Park, New World, Sinsegye no original, é mais um daqueles interessantes roteiros sul-coreanos cheio de reviravoltas que deixa o espectador sempre com os olhos atentos ao que acontece a cada cena. Com muitas cenas de ação e bastante sangue, à la Tarantino, o projeto navega na onda da ganância pessoal e no instinto de sobrevivência como alicerce de uma personalidade consumida por emoções divididas. O protagonista é enigmático e leva as consequências de suas escolhas até o último frame. Mesmo com alguns pequenos deslizes e alguns arcos um pouco mal construídos, esse é mais um impactante trabalho sul coreano pro mundo da sétima arte.

Na trama, acompanhamos a história de Ja-sung (Jung-jae Lee), um agente infiltrado da polícia que está sob disfarce faz quase uma década e enfim consegue o objetivo que queria juntamente com a única pessoa que sabe que ele está disfarçado, o chefe de polícia Kang (Min-sik Choi). Dentro de uma operação chamada Novo Mundo que mexe com os poderosos submundos dos sindicatos na Coreia do Sul, Ja-sung precisará agora escolher se segue em frente e completa o objetivo, pesando o fato de ele estar com um filho a caminho e o fato de o medo sempre o pairar em ser descoberto. Assim, se envolvendo em uma série de situações explosivas sucessivas, a escolha será feita.

De tão mirabolante o roteiro as vezes se perde, exatamente pelas idas e vindas no roteiro já no seu arco final o que deixa o público sem amplitude para suas perspectivas. As peças se embaralham muito rápido nesse filme que possui um ritmo eletrizante em alguns momentos, além de cenas de luta muito bem coreografadas. Quando conseguimos nos entender com a história e montar grande parte do quebra-cabeça o filme cresce aos nossos olhos, ainda deixando brechas para futuras surpresas que viriam.

Não é de hoje que a Coreia do Sul é um dos pilares de qualidade do cinema mundial. Impressiona a cada ano. Mesmo quando buscamos resgatar filmes de anos passados (como é esse o caso), já que poucos filmes coreanos chegam ao nosso circuito exibidor (esperamos que isso mude em breve! Alô distribuidoras!), somos surpreendidos com filmes de impacto.

Continue lendo... Crítica do filme: 'New World'

27/04/2020

Crítica do filme: 'Fuga de Pretória'


As ideias e as engenhocas da liberdade. Transformando em cinema a história do livro Escape from Pretoria de Tim Jenkin, o cineasta britânico Francis Annan apresenta uma mirabolante fuga de uma prisão na África do Sul no epicentro do Apartheid em 1979. O projeto navega em um roteiro nada mirabolante que usa de artifícios/técnicas cinematográficas para gerar alguma força nas cenas que acompanhamos. É o típico caso de uma história mas um filme nem tão bom assim. Fora que acaba caindo em comparação com referências a outros tantos ótimos filmes de ‘fuga de prisão’, onde está bem abaixo. Um esforçado Daniel Radcliffe (cada vez mais distante do bruxinho que o tornou famoso) busca ser a mola propulsora para o filme ganhar ritmo e força nas cenas, consegue em partes.
 
Na trama, acompanhamos a África do Sul no epicentro do Apartheid no final da década de 70, onde muitos lutavam pelo término desse regime de separação racial. Dentro desse contexto, conhecemos Tim (Daniel Radcliffe) e Stephen (Daniel Webber), dois amigos que se associam na luta contra o governo mas acabam sendo presos e enviados a uma prisão de segurança máxima em Pretória. Dentro da prisão, tentando não enlouquecer, Tim cria um mirabolante plano que consiste em criar com pedaços de madeiras os moldes de todas as portas da prisão e assim possibilitar uma grande fuga.

Há uma falta de profundidade evidente na composição dos personagens coadjuvantes. O que leva o peso todo para o protagonista interpretado por Radcliffe. As ações passam a todo instante por ele e seu instinto de liberdade desde o primeiro dia na prisão. Ao não focar um pouco no lado de fora da prisão, coisa que com certeza a obra em que foi baseada o roteiro menciona, a história como um todo perde força. Por mais que o desejo de liberdade seja evidente, as subtramas que compõe esse desejo desaparecem em meio as forçadas tentativas de clímax e uma trilha envolvente a cada colocada de chave nos buracos de fechaduras.

De qualquer forma, esse filme que acabara sendo lançado em alguns países no início da pandemia do coronavírus e acabou atrapalhando sua carreira nas janelas de exibição não é um trabalho esquecível, principalmente quando paramos para pensar sobre a origem de sua história, a época do apartheid Acredito que professores possam usar esse filme para falar sobre esse importante tema da história da humanidade.

Continue lendo... Crítica do filme: 'Fuga de Pretória'

Crítica do filme: 'Jojo Rabbit'


As delicadezas de uma época triste. Tentando ser o mais leve possível para falar sobre as absurdas caçadas aos judeus pelos nazistas, o diretor neo-zelandês Taika Waititi consegue com seu novo trabalho, Jojo Rabbit (indicado a algumas categorias do Oscar) criar um universo peculiar, fruto de um roteiro criativo (baseado na obra Caging Skies, de Christine Leunens) que navega na linha tênue entre a tragédia e os bons sentimentos de uma família de dois, que na verdade eram três. Com muita força expressiva em cena com diálogos marcantes, e porque não dizer emocionantes, o projeto mostra ao mundo mais uma vez que pela arte conseguimos recriar o passado mas sem perder a ternura em determinados olhares.

Na trama, ambientada no período da segunda grande guerra, conhecemos o jovem Jojo (Roman Griffin Davis, em atuação marcante), um pequeno alemão ridicularizado por muitos colegas, completamente extremista por tudo que ouviu falar sobre o nazismo. Jojo passa seus dias trazendo pra sua realidade sua mente fértil. Tão fértil que consegue ter um incomum amigo imaginário: Hitler, de quem escutas todo dia conselhos e mais conselhos. Certo dia, após ouvir um barulho em sua casa, descobre, escondida, uma jovem judia chamada Elsa (Thomasin McKenzie).  A partir daí, sua vida muda e suas dias passam a debates interessantes com sua mãe Rosie (Scarlett Johansson) e com a nova amiga.

Impressiona a força que possui a personagem de Johansson, sua delicadeza em recriar um mundo mais amável para seu filho, brincando e dançando para fugir de uma rotina de notícias ruins ligadas a violência, ódio e guerra que chegam aos ouvidos de seu filho a todo instante. O projeto fala sobre família, esse sentimento bom que vem de quem a gente ama mesmo com o mundo pirando fora de nossa casa. A amizade ganha luz e ao mesmo tempo força, unindo uma judia em fuga e um pequeno nazista consumido por um extremismo doentio por tentar encontrar um lugar onde se encaixe. Os arcos do roteiro, muito bem definidos, transformam dor em esperança a cada sequência.

Ganhador do BAFTA de melhor roteiro no ano passado, orçado em 14 milhões de dólares (bem abaixo de muitas outras produções indicadas ao Oscar em 2019), Jojo Rabbit é um filme pouco comentado, para alguns até exagerado, mas que apresenta ao público uma leveza tão difícil de encontrar dentro de todo o contexto triste de uma guerra. Um belo trabalho do descendente de judeus, Taika Waititi.


Continue lendo... Crítica do filme: 'Jojo Rabbit'

16/04/2020

Crítica do filme: 'Buoyancy'


A falta de perspectiva em um mundo que se distancia das emoções positivas. Indicado da Austrália ao Oscar de Melhor filme estrangeiro no ano passado (não chegou entre os cinco finalistas), Buoyancy, ou Empuxo como alguns denominaram por aqui, é uma forte e dramática saga de um jovem sem rumo que buscando oportunidades na liberdade das escolhas acaba envolvido no submundo absurdo do tráfico de pessoas. Com uma fotografia impecável e um roteiro com bastante profundidade, o projeto dirigido e roteirizado pelo cineasta australiano Rodd Rathjen (debutando em longas) nos guia para uma metáfora de sobrevivência cruel e impactante.

Há muitas verdades sobre o mundo lá fora que nem imaginamos ou nunca paramos para pensar. O dia a dia de milhares de jovens sem oportunidades de renda, alimentação e estudo básicos é o pontapé inicial dessa cruel história de um jovem de menos de 15 anos chamado Chakra (Sarm Heng) que resolve abandonar a família no Camboja para tentar a sorte de ser alguém no mundo e assim acaba sendo enviado para um barco de pesca em alto mar onde o capitão é uma alma bastante cruel. Buscando sobreviver após humilhações e testemunhando atos cruéis do capitão, Chakra precisará ser forte e lutar com todas suas forças para sobreviver ao pesadelo.

Existem filmes onde a profundidade da maldade é colocada dentro de uma profundeza difícil de acessar. Humano até o limite de qualquer borda de alma, os princípios de raízes da sobrevivência viram a única solução para a situação caótica enfrentada pelo protagonista. Há um jogo de emoções conturbado por situações extremas, como o fato de ter que trabalhar quase o dia todo para comer um potinho de arroz. O protagonista vai se modelando, inflando dentro de sua emoções para se tornar amadurecido a ponto de tomar decisões vitais para ter alguma chance de sobreviver em meio a essa maldade toda.

O arco final é intenso e condiz com tudo que o filme se mostra. Exibido no Festival de Berlim do ano passado, Buoyancy vai até seu último minuto nos mostrando as escolhas e como e porquê o protagonista resolve suas questões. O que será do futuro dele? Há esperança por dias melhores? Ele se tornara outra pessoa? Depois dessa tempestade, uma coisa é certa, ninguém fica igual ao que era antes. Filmaço, que absurdamente não ganhou chances no circuito brasileiro de exibição.  

Continue lendo... Crítica do filme: 'Buoyancy'

15/04/2020

Crítica do filme: 'A Verdade'


As analogias da tartaruga e no desdém do cotidiano nas relações interpessoais. Baseado em curto argumento de Ken Liu, o primeiro embarque a uma produção fora do oriente do aclamado cineasta japonês Hirokazu Koreeda, A Verdade, indicado ao Leão de Ouro em Veneza no ano passado e exibido no prestigiado Festival de Toronto no mesmo ano, é uma grande rodada de argumentos e situações envolvidos dentro de um drama familiar oriundos dos gestos e ações de uma amargurada atriz veterana que busca o conflito a todo instante. Há muita sutileza na condução de Koreeda mas a profundidade dos ricos personagens de outros filmes aqui se camuflam em uma única destacada atuação. É como se a melancolia atravessasse a trama de maneira a deixar tudo sem sentido em importantes definições de arcos.

Na trama, conhecemos mais profundamente Fabienne (Catherine Deneuve), uma excêntrica estrela do cinema francês que resolve de uma hora pra outra lançar um livro de memórias o que acarreta na ida de sua filha Lumir (Juliette Binoche) que mora nos Estados Unidos e trabalha como roteirista ir até a França para visitá-la junto de seu marido, Hank (Ethan Hawke), um ator de série b da televisão norte-americana. Chegando na casa de sua mãe e voltando para a rotina de set de filmagens e difíceis conversas, o tempo passa mas o passado chega forte com assuntos mal resolvidos dentro de uma profunda amargura nos diálogos de ambos os lados.  

O roteiro se sustenta nos embates insípidos da protagonista com todos que a cercam, desde sua eclética família até mesmo suas colegas de profissão mas principalmente a filha. Apontando o dedo em tudo e em todos, as razões da perfeição não se sustentam em nenhum momento, talvez fruto da amargura vista em cena. As críticas sobre atuações, sobre os textos duvidosos da Wikipedia as vezes dão luz a um medo pela próxima aposentadoria mas sem nunca reconhecer erros ou verdades de outros sobre situações do presente ou passado. Os retratos inimistas e familiares conhecidos pela filmografia de Koreeda aqui se transformam em longos minutos sem muita força e principalmente, sem dizer nada. Não chega a ser decepcionante mas esperávamos tanto de um filme com tanta qualidade na frente e atrás das câmeras.

Ainda sem previsão de estreia no circuito exibidor brasileiro por conta da pandemia do coronavírus que mexeu com o mercado audiovisual mundial de maneiro impactante A Verdade tem em seu maior pecado os poucos respiros dentro do eterno e inacabável embate entre mãe e filha. É de cortar o coração que o sono chegue forte em um filme com Deneuve e Binoche.




Continue lendo... Crítica do filme: 'A Verdade'