23/07/2022

Crítica do filme: 'Duck Butter'


A busca pelo dom de não se preocupar com o que o mundo pensa sobre você. Buscando um exercício de refletir que caminha entre as conflituosas estradas da autoconfiança, Duck Butter, filme que está disponível lá no catálogo da Netflix, aborda também as zonas de conforto do amor com as vertentes do se jogar ao encontro de um, aos olhos de duas apaixonadas protagonistas. Intimidades, segredos, conflitos em fases da vida, sexo, ao longo de uma noite intensa cheia de diálogos que passam pelos mais diversos temas vamos conhecendo melhor as personagens que tem muita coisa a dizer.


Na trama, conhecemos Naima (Alia Shawkat), uma jovem atriz que acabara de conseguir uma grande oportunidade em um filme dos irmãos Duplass. Durante uma saída a um bar num noite, de maneira despretensiosa acaba conhecendo Sergio (Laia Costa), uma jovem cantora e compositora por quem logo se interessa. Em certo momento, logo do primeiro dia que se conhecem, as duas combinam algo inusitado: ficarem 24 horas juntas para se conhecerem mais rapidamente e entender os rumos dessa relação. Assim, embarcam em um dia intenso onde ambas vão aprender mais sobre a outra.


Há um choque entre a questão do sexo no contexto da impessoalidade contra o prazer com sentimentos. Isso fica mais evidente próximo da conclusão quando conseguimos ter um panorama sobre as situações que acompanhamos ao longo de pouco mais de 90 minutos. Impressionante como durante todo esse dia que passam juntas há tempo para discussões calorosas, sexo, terríveis brigas, decepções, desabafos, mentiras, carinho, afeto, choros, tudo isso de forma intensa.


Reflexões sobre a insegurança com a profissão de atriz aos olhos da protagonista, inclusive, ganham uma passagem com forma de metalinguagem para entendermos os conflitos da realidade com o que se passa nos intensos conflitos vivida pelas duas protagonistas, nesse momento os diretores Jay e Mark Duplass interpretam eles mesmos, assim como o ator paquistanês Kumail Nanjiani.


Dizer tudo que você quer dizer ao mundo e não ser confrontado sobre isso é quase um exercício egocêntrico. Dirigido pelo cineasta porto-riquenho Miguel Arteta, em Duck Butter acompanhamos um desenho, um recorte interessante sobre relações, das diversas formas de conflito a dois em um mundo cada vez menos se importando com os sentimentos, querendo viver mais os momentos.

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Crítica do filme: 'Secretária'


O prazer, o desejo nos encontros entre a dominação e a submissão. Baseado em uma obra da romancista norte-americana Mary Gaitskill, Secretária, filme lançado 20 anos atrás, é uma jornada intensa, provocante, que mostra os caminhos do prazer de maneira fundamentada em percepções, sentimentos, desejos, em um tour por duas mentes que se encontram a partir de uma relação profissional convencional até chegarem as descobertas íntimas. Dirigido pelo cineasta Steven Shainberg.


Na trama, conhecemos Lee (Maggie Gyllenhaal) uma tímida mulher que passou por muitos momentos de aflições na vida, inclusive precisando ser internada por um tempo por conta do vício em se cortar. Quando recebe alta da clínica, percebe que seu mundo de alguma forma está no mesmo lugar que deixou e acaba investindo em uma profissão de datilógrafa. Assim, acaba chegando até o escritório de um advogado, Mr. Grey (James Spader), um homem extremamente controlador, amargurado, rígido que começa um jogo de dominação com a protagonista, fato que mudará a vida dos dois para sempre.


Os paralelos entre a dominação e a submissão. Construído de maneira instigante, que traça um raio-x bem profundo de cada um dos dois personagens protagonistas, o roteiro apresenta paralelos dentro de ações e consequências, partindo das características dos elos construtores dessa história até os encaixes em relação aos desejos. O sexo aqui se torna algo secundário, as fantasias dominam os personagens. Muito antes do Mr. Grey da era das redes sociais (aquele personagem dos famosos livros de E. L. James), existiu esse Mr. Grey interpretado brilhantemente por James Spader. Há semelhanças mas essa produção aqui consegue ser muito mais profunda e provocante falando sobre o mesmo tema.


As descobertas do prazer se chocam sobre o momento dos personagens. Mr. Grey parece que luta contra seus desejos, busca o controle em relação a tudo mas parece ter o descontrole como marca. Ele acaba encontrando o equilíbrio na relação com Lee, essa uma mulher que se descobre para a vida através do prazer vivido pelas situações com o chefe. Há o componente da dor como fator de reflexão, quase um elo entre os personagens, uma por conta do sentimento em relação as dores físicas, o outro mais na dor emocional, um grande conflito por ter aqueles impulsos.


Ao fim, chegamos a conclusão que um dos objetivos desse interessante projeto é nos fazer entender sobre a intimidade. Abre-se uma porta para o pensar também sobre desejos, o sexo, as fantasias e o prazer. Um filme muito interessante.



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21/07/2022

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Pausa para uma Série: 'The White Lotus'


O refletir que passa por cima do moralismo. Sensação da última temporada no universo das séries, The White Lotus é um projeto fascinante quando pensamos nas reflexões sobre os aspectos humanos, no refletir sobre o caráter sob pontos de vistas completamente diferentes. Intrigante até o último minuto, esconde muito bem seus mistérios, muitos desses colocados de planos de fundo para um abre alas das profundezas argumentativas das individualidades da razão humana. A HBO Max inclusive já renovou para uma segunda temporada que serão no estilo antologia, onde personagens diferentes, em situações diferentes, exploram as mesmas temáticas.


Criada por Mike White, The White Lotus nos leva para uma fascinante jornada até um badalado hotel, caríssimo, que fica no Havaí. Nossos olhos são alguns personagens que chegam até o local em um barco disponível apenas para os hóspedes vips. Assim, conhecemos uma família que beira ao disfuncional, uma solteirona carente e com muitos problemas emocionais que tem como objetivo jogar as cinzas da mãe no mar, um casal que acabara de se casar e vai passar parte da lua de mel no hotel. Esses completam um lado da história que tem seu complemento com a visão dos funcionários do hotel sobre todas as curiosas situações que acontecem durante o tempo desses vips no lugar, principalmente o gerente do hotel e a administradora do SPA aberto para clientes do hotel.


Desde o primeiro episódio sabemos que alguém morre mas isso nem é 1% de interessante quando pensamos na profunda análise comportamental que é proposta. Na verdade essa é uma informação que você esquece até o último dos seis episódios dessa primeira temporada já toda disponível na HBO Max. Nada é tabu aqui nessa estrada de conflitos que mostra lados profundos de personalidades distantes umas das outras. Assim vamos vendo uma ampla análise da estrutura social em forma de crítica onde cada peça acaba preenchendo seu espaço dentro do universo das questões morais.


Dentro das subtramas acompanhamos algumas batalhas entre hóspedes e os funcionários, conflitos esses que nos levam para embates sociais e um paralelo interessante de alguns personagens que chegam ao estopim exatamente nesse resort tropical. Esses arcos conclusivos dos personagens e a maneira como chegam até eles levam o espectador em uma gangorra de emoções entrando a fundo em um casamento que tá na cara que não vai dar certo, um casal em crise após 20 anos juntos, um descontrolado gerente que acaba sendo interseção de muitos desses conflitos chegarem ao seu clímax, entre outras situações.


The White Lotus abre uma janela enorme com a realidade, mostrando em alto e bom tom uma sociedade destruída emocionalmente, confrontando o espectador a cada cena sobre se existe um medidor sobre o que é certo ou errado.



 

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20/07/2022

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Crítica do filme: 'Casa de Antiguidades'


Os caminhos do refletir, passando pelo sentir, em alegorias interpretativas. Selecionado para alguns festivais de cinema pelo mundo, inclusive o Festival de Cinema de Toronto e também o Festival de Cannes, Casa de Antiguidades gira em torna de um pacato e humilde trabalhador brasileiro que luta contra uma solidão profunda em um lugar onde ele sofre diariamente com o preconceito. Escrito e dirigido por João Paulo Miranda Maria, o projeto conta com uma maravilhosa atuação do veterano ator Antonio Pitanga.


Na trama, conhecemos um homem chamado Cristovam (Antonio Pitanga), um senhor de idade, nascido em Goiás, que trabalha em uma cidade diferente da que nasceu, fruto de uma oportunidade em uma empresa estrangeira chamada Laticínio Kainz situada agora em outro lugar no interior do Brasil. O filme já se inicia com absurdos trabalhistas que muitos sofrem diariamente, com reduções absurdas de salário feito por imposições de quem comanda. Sozinho nesse lugar, acaba sofrendo na pele o preconceito de outros moradores locais se afunilando em algumas decisões que mexerão demais com a sua caminhada.


Provocar o sentir é um dos objetivos desse filme profundo, onde nos jogamos no exercício de refletir sobre algo mais amplo. Conforme os conflitos vão se estabelecendo, o protagonista parece embarcar em uma jornada de resgate de suas memórias, ou pelo menos a tentativa de trazê-las para sua cruel realidade. O lado emocional aqui é um grande mistério interpretativo onde buscamos decifrar algumas intrigantes cenas que deixam a obviedade bem distante. O paralelo com a realidade chega mais forte nas questões trabalhistas, na crítica de um Brasil que quer se manter dividido, onde o pensar muda de lugar para lugar mas tendo o preconceito como uma manobra de crueldade.


Casa de Antiguidades não é um filme fácil. O real e o abstrato aqui ganham a mesma estrada e as interpretações podem ser variadas mas somente se você conseguir se conectar com essa história que fala de maneira clara sobre o racismo.  



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Crítica do filme: 'Boa Sorte, Leo Grande'


As quebras dos paradigmas por meio de interessantes diálogos. Dirigido pela cineasta australiana Sophie Hyde e com roteiro assinado pela britânica Katy Brand, Boa Sorte, Leo Grande fala sobre um embate amistoso de gerações, que também abre-se brechas para aprendizados, entre uma mulher na faixa dos 50 anos que só conheceu um homem na cama e um jovem que usa do corpo como ferramenta de trabalho. Ao longo das pouco mais de uma hora e meia de projeção, acompanhamos uma forte harmonia entre os personagens que se encontram por alguns dias no mesmo quarto de hotel. Parece que estamos na primeira fileira de uma peça de teatro onde os diálogos nos cativam e nos fazem refletir sobre os dois intrigantes personagens.


Na trama, conhecemos Nancy (Emma Thompson) uma viúva, aposentada, que depois de muito se sentir sozinha e após o falecimento do marido, resolve se hospedar em um quarto de hotel e contratar um profissional do sexo bem mais jovem que ela, Leo (Daryl McCormack), para lhe satisfazer os desejos. Só que essa professora, mãe de dois filhos adultos, não sabe direito, de início, como agir. Ao longo de muitas conversas que vão desde prazeres e fantasias sexuais até mesmo os conflitos familiares fora dali, os dois embarcam em diálogos e situações que os farão pensar com outros olhos sobre a vida.


O medo, a insegurança, as descobertas de uma nova vida (ou pelo menos uma maneira de viver) após anos vivendo sem graça. Dirigido pela cineasta australiano Sophie Hyde e com roteiro assinado pela britânica Katy Brand o longa-metragem que estreia nos cinemas brasileiros em meados de julho de 2022 busca sua referência nos escancarados conflitos de Nancy, uma mulher que lecionava educação religiosa entra em choque com paradigmas criados por todo uma vida mesmo quando resolve pelas próprias forças descobrir situações, viver conflitos, que jamais teve em sua vira metódica, controlada. Mas se engana quem pensa que o roteiro só segue uma parte desse rio. Leo também tem suas questões, mesmo muito seguro de suas atitudes e formas de enxergar os propósitos sobre a vida que leva, se deixa levar pela harmonia que possui com Nancy para acessar emoções profundas, as vezes até escondidas, o tirando completamente da zona de conforto.


Boa Sorte, Leo Grande atinge de maneira muito certeira o que propõe desde a primeira linha do roteiro: nos fazer refletir sobre relações humanas além de deixar nas entrelinhas que falar de sexo não deve ser um tabu, na verdade é sempre um grandioso aprendizado, até mesmo fora das quatro paredes. Ótimo filme!

 

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19/07/2022

3 FILMAÇOS COM ETHAN HAWKE !!!

 


🔴 Juliana e Raphael Camacho 🍿

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18/07/2022

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Pausa para uma série: 'Barry'


As eternas dificuldades de se entender como ser humano. Caminhando nas linhas do humor non-sense, um dos grandes sucessos recentes da HBO é sem dúvidas a curiosa série Barry. Com episódios que giram em torno de 30 minutos, vamos acompanhando a saga de um ex-militar, hoje assassino profissional, que após ter o contato com o mundo da atuação vê sua vida mudar radicalmente. No papel principal o ator, e também um dos criadores da série, Bill Hader, que volta e meia é indicado aos maiores prêmios da televisão norte-americana.


Na trama, acompanhamos um depressivo assassino profissional chamado Barry (Bill Hader) que mora no meio-oeste norte-americano. Quando é chamado para um serviço em Los Angeles, de forma inusitada, acaba parando em uma aula de teatro, fato que o faz repensar muito sobre seu momento e sua vida como um todo. Agora, buscando o equilíbrio entre sua profissão arriscada e o novo mundo que aparece em sua frente, Barry passará por enormes conflitos emocionais em busca de dias melhores.


O absurdo aqui é força motriz, dentro de profundos dramas não só de seu protagonista mas também dos ótimos coadjuvantes. Barry é uma alma introspectiva, repleta de maus exemplos por toda uma vida que se vê na interpretação de outros uma maneira para ter mais tranquilidade no seu pensar. Frio e calculista, acaba embarcando nas linhas sempre complicadas da atuação, onde é testado a todo instante longe de uma perfeição que sempre buscou atingir na sua conflituosa profissão. Dentro das linhas do humor non-sense o seriado busca explicações para uma auto análise.


O interessante em Barry é que não há uma grande história de background por onde caminham os personagens, tudo gira em torno das novas descobertas do problemático protagonista um homem que não consegue respirar sem que a violência chegue na sua frente. Esse conflito compõe boa parte dos curtos e objetivos episódios.



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Pausa para uma série: 'Yellowstone'


Uma das mais aclamadas séries da atualidade, em breve já chegando na sua quinta temporada, Yellowstone nos mostra a saga de uma família repleta de conflitos que precisa defender suas terras. Aqui não há heróis nem vilões, todos rompem barreiras da moral mostrando a força da ganância em uma região que gira longe dos holofotes da mídia, em terras rentáveis, um universo extremamente violento ditado por regras impostas por quem comanda. Criado pela dupla Taylor Sheridan e John Linson, tendo Kevin Costner como protagonista.

Nesse resgate do faroeste em versão moderna, acompanhamos a família Dutton, liderado por John (Kevin Costner) um ex-homem da lei que comanda um dos maiores ranchos do mundo, situado no estado norte-americano de Montana. Nessa família, há todo tipo de drama, o relacionamento entre pai e filhos gera embates explosivos além dos combates a aproveitadores do capitalismo e os conflitos frequentes com moradores da reserva indígena. Quem está certo nessa história? Não há uma definição para isso, apenas completamos nosso refletir em intensos episódios (cada um melhor que o outro) que giram em torno dessa família de anti-heróis, gananciosa, que fará de tudo para proteger o que eles acham serem deles por direito.


Nesse projeto super elogiado disponível no streaming da Paramount+, o leque é amplo. Há o foco profundo em uma família que muitas vezes não se entende por conta das ações e inconsequências do pai, um viúvo que vive de proteger o que ele acha ser de sua família por direito. Inclusive, um dos grandes embates da primeira temporada gira em torno do distanciamento de um dos filhos de John, Kayce (Luke Grimes) que abdicou do legado da família e foi viver uma vida com a esposa Monica (Kelsey Asbille) e o filho dentro da reserva indígena. Os outros filhos do protagonista também são intrigantes, Wes Bentley interpreta Jamie, o advogado dos Dutton, que almeja ter uma carreira política e assim ser mais reconhecido por sua doação à família. Temos também a intrigante Beth (Kelly Reilly), peça importante nas batalhas políticas que o família se mete, uma mulher dura e ríspida que camufla um forte trauma emocional pela morte da mãe.


Sem tempo para conversas e resoluções na linha da paz, violentas cenas compõem as ações, onde traições e personagens ambíguos são figuras frequentes. Tudo fica mais interessante quando entendemos a origem das lutas pelas terras, nesse ponto nos apresentam cenários interpretativos, onde empresários buscam a guerra para terem posse de parte da terra da família. Há também o outro norte, a questão indígena, fato sempre recriado e trazido aos olhos para refletir, por meio desses conhecemos mais sobre sua cultura, ou o que sobrou dela, por conta do avanço do poder da terra repleto de amarras políticas caminhando em leis movidas a conveniência.


Yellowstone mete o dedo em feridas da história norte-americana, contorno dramas familiares potentes e personagens intrigantes. Um baita seriado, imperdível!


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Crítica do filme: 'Thor: Amor e Trovão'


O tempero cômico que passou do ponto. Fugindo da essência de um dos personagens mais queridos do Universo Cinematográfico da Marvel, o cineasta neo-zelandês Taika Waititi nos leva a uma jornada de pouca ação e muita comédia no decepcionante Thor: Amor e Trovão. Tinha tudo para ser a grande história do guerreiro nórdico nos cinemas, um baita vilão, poderosas ferramentas de guerra, tudo isso acaba sendo deixado de lado para um foco demasiado numa desconstrução do personagem. A veia cômica nessa fase que o protagonista está passando, se redescobrindo após emocionantes batalhas e perdas, acaba tomando conta do filme fato que pode deixar os fãs um pouco perdidos com as portas que se abrem nas suas conclusões.


Na trama, acompanhamos o nosso carismático herói Thor (Chris Hemsworth) que por conta de todas as escolhas que fez, situações que viveu, passa por uma fase de auto amadurecimento lutando pelas planetas com os Guardiões da Galáxias. Até certo dia, um chamado de socorro de uma amiga o chama a atenção e percebe que precisa retornar as suas origens para combater Gorr (Christian Bale), um ser que acaba virando um terrível assassino pelo universo portando a perigosa Necroespada a única arma que pode matar deuses. Só que muitas surpresas o encontrarão pelo caminho, uma delas uma nova Thor, já que o seu grande amor, a doutora Jane Foster (Natalie Portman) agora é a protetora do Mjölnir.


Vamos começar falando do que quase deu certo: o vilão. O aguardado Gorr de Christian Bale é um personagem intrigante, não assusta como deveria (por conta de tudo que se sabe sobre esse personagem) também está em uma jornada, só que de vingança contra tudo que acreditava, sua fé nos deuses e tudo que culminou na perda da sua filha. O personagem se desmancha no arco conclusivo com lacunas ainda em aberto, sem o público conhecer mais daquele misterioso personagem que tinha um grande poder em mãos através da poderosa Necroespada, utensílio que deixa Zeus e outros deuses de cabelo em pé.


Os caminhos do herói em sua recuperação de força e mente como um grande guerreiro tem várias etapas, que vão desde a amizade, passando pelo amor, até mesmo a caída de ficha que chega quando o perigo se torna algo muito próximo. Seus conflitos emocionais acabam não sendo profundos, colocando o protagonista sempre na visão do outro, como se seus problemas se resolvessem como consequência de um outro alguém.


Talvez o maior pecado do filme é romper as características dos personagens em troca do riso fácil deixando o carisma de lado por qualquer piada. Asgard, por exemplo, virou uma piada, um parque temático digno daqueles que existem nos Estados Unidos, onde a propaganda rola solta. O próprio Thor e sua jornada de entendimento dos sentimentos que o cercam acaba ficando jogado de um lado buscando a comédia para refletir sobre a amargura. Um personagem emblemático que poderia ser mais profundo acaba se torna comum, raso, dentro um roteiro que busca trazer novos elementos e esquece da sua essência de guerreiro.


Com uma poderosa trilha sonora, com clássicos conhecidos, Thor: Amor e Trovão acaba sendo apenas um filme ponte, aquela produção que antecede a um novo universo de possibilidades dentro de uma saga de filmes que começam a perder forças por escolhas equivocadas, jogando fora a essência de personagens marcantes nos quadrinhos e também das telonas.



 

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Crítica do filme: 'O Mapa das Pequenas Coisas Perfeitas'


O que você faria se o seu dia se repetisse toda vez que você acordasse? Essa pergunta você com certeza já se fez pensando em outras produções mas aqui em O Mapa das Pequenas Coisas Perfeitas o refletir consegue ser mais profundo, somos guiados em uma análise muito densa, emocionalmente e intelectualmente, onde somos testemunhas de uma forte desconstruções de dois personagens com lacunas na imaturidade e as respectivas visões que possuem de tudo que acontece ao seu redor. Baseado na obra homônima do romancista e crítico literário norte-americano Lev Grossman.


Na trama, conhecemos Mark (Kyle Allen), um jovem com problemas de comunicação com o pai, que vê a mãe muito pouco, afastado da irmã que possui apenas uma certeza: seguir em frente na tentativa de entrar em uma faculdade para cursar artes. A questão aqui é que ele está em Loop, em uma repetição infinita de um mesmo dia onde através dos mesmos passos busca entender a situação inusitada e seus porquês. Até que um dia, conhece Margaret (Kathryn Newton), um jovem que ama astronomia e que está na mesma situação que ele. Assim, essa dupla de descobridores sobre a essência da vida irá precisar reunir forças para combater todos os dramas e fortes emoções que virão pela frente, numa jornada de autodescoberta.


O Feitiço do Tempo, o recente Palm Springs, são alguns dos outros filmes que a princípio podem parecer semelhantes a esse projeto lançado em 2021 e disponível lá na Prime Video. A questão aqui é o forte foco no amadurecimento em dois personagens que vestem suas verdades na imaturidade onde acompanhamos um desabrochar para os dramas da vida, fato que chega até mesmo de forma precoce por conta da bolha inusitada que estão. Em O Mapa das Pequenas Coisas Perfeitas não é importante saber o porquê da questão física/existencial de como eles foram parar nesse espaço tempo nada contínuo, aqui o que importa são as diversas formas de aprender a romper as barreiras de limites emocionais da fase presente de suas vidas. O ingrediente do amor, um destino que se torna óbvio, aqui vira uma variável propulsora para o rompimento das amarras que deixavam esses corações mais tristes.


O Mapa das Pequenas Coisas Perfeitas busca a originalidade, escapa dos polêmicos caminhos da física para falar sobre crises existenciais na visão de duas almas que tem a oportunidade de aprender bastante sobre a vida.



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3 FILMAÇOS EUROPEUS QUE ESTÃO NOS STREAMINGS!

 


🔴 Juliana e Raphael Camacho 🍿

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Crítica do filme: 'Aos Nossos Filhos'


O desabafo em forma de verdades que precisam serem ditas. Dirigido por Maria de Medeiros, o longa-metragem caminha pelas linhas sempre cheias de conflitos sobre as relações familiares, aqui num recorte amplo e cheio de significado em embates entre mãe e filha. Por meio de subtramas que nos levam a mais reflexões vamos conhecendo várias partes de toda a carga emocional envolvida nessas personalidades cheias de medos, sonhos e pensamentos em conflitos. A maternidade em uma visão vinda de várias formas ganha variáveis emocionantes com verdades carregadas sendo expostas aos montes reproduzindo a força feminina por todos os lados. Há tempo também para trazer aos nossos olhos os desabafos emocionantes dos tempos de prisão na época da ditadura, que aqui acaba ganhando contornos profundos com a chegada na história de um jornalista que fora filho da parceira de Vera na prisão.


Na trama, conhecemos Vera (Marieta Severo), uma mulher recém divorciada que comanda uma ONG. Ela é mãe de Tânia (Laura Castro), uma mulher na casa dos 40 anos, casada Vanessa (Marta Nobrega) que tem o sonho de ter um filho com a companheira. Vera sofreu traumas enormes durante a ditadura, principalmente no período em que esteve presa. Ela não tem um bom relacionamento com a filha. Essa última passa por uma fase muito difícil, estudando para concurso e tendo que lidar com os conflitos no seu relacionamento, muitos desses provocados pelas tentativas de gravidez. Essas duas estradas acabam entrando em choques as levando para um caminho de questões que precisam serem debatidos.


A fortaleza e a fragilidade. Antagônicos dentro de uma mesma personalidade, esse duelo acaba sendo uma das importantes questões do filme, corre na força da narrativa alegórica, do escondido dentro de uma mensagem. Assim, chegamos nos dois paralelos como foco nesse trabalho. Um deles é o de Vera, uma mulher que sofrera os horrores da ditadura, época em que fora presa grávida deixando traumas na sua vida até hoje. O outro é o de Tânia, filha de Vera, que busca ter um filho com a esposa por meio de inseminação artificial enfrentando as dificuldades de todo esse processo. As duas personagens mal se falam, são distantes, fruto de um passado de brigas até mesmo dentro do confronto batido do conservadorismo contra o progressivo.


As subtramas são excelentes. O roteiro navega em vários temas que são diariamente discutidos na realidade, como a inseminação artificial, adoção, os traumas da ditadura no Brasil, preconceito, direitos humanos. Também, debates importantes sobre a questão do soro positivo (o HIV) ganham o caminho dos personagens. Um fato que chama a atenção e que abre mais um leque para reflexões é da violência urbana, na guerra que muitas cidades vivem. Muitas situações chaves na história acontecem durante tiroteios entre bandidos e traficantes.


Aos Nossos Filhos, baseado na peça teatral (que teve Maria de Medeiros como uma das protagonistas) escrita por Laura Castro, estreia nesse mês de julho nos cinemas, um filme que fala tão profundamente de tantas questões importantes que se torna um tocante retrato de muitas janelas abertas por aí.





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16/07/2022

Crítica do filme: 'A Felicidade das Pequenas Coisas'


Alguns dos super-heróis do cotidiano são mesmo os professores! Indicado ao Oscar na categoria de melhor longa-metragem estrangeiro representando o quase desconhecido país Butão, A Felicidade das Pequenas Coisas nos mostra a saga de um jovem professor e toda a transformação que acontece em sua vida após ser enviado para dar aulas em uma das escolas mais distantes do mundo. Escrito e dirigido pelo cineasta indiano Pawo Choyning Dorji, o longa-metragem emociona do início ao fim, entre outros refletires mostra ao público a força e a importância da educação.


Na trama, conhecemos o recém nomeado professor Ugyen Dorji (Sherab Dorji), um jovem que mora com sua avó e tem o sonho de seguir carreira na música e ir morar na Austrália. Ele é contratado do governo de Butão exercendo a função de professor e se vê sempre em desilusões nessa profissão. Certo dia é enviado para Lunana, um lugar distante do grande centro, onde para se chegar é preciso caminhar cerca de uma semana. Sem ter o que fazer, ele embarca para o lugar sem saber que lá passará por lições que nunca mais esquecerá em sua vida.


Xô nos confortos do ocidente! Mesmo todos sendo do mesmo país, há um choque cultural muito grande de quem vive nos grandes centros, caso do protagonista, em relação a quem mora nas regiões de alta altitude. Num início tudo é conflito mas a forma de ver o mundo muda bastante para o professor o fazendo entender a importância dos pequenos gestos, das pequenas coisas. Em relações as detalhadas sequências, vemos uma forte passagem sobre as tradições, a fé, o modo simples e objetivo de ver o mundo, o cotidiano com o básico dessa vila de menos de 100 habitantes que fica numa parte do Himalaia. Dentro desse choque cultural, há um diálogo simples mas que faz refletir muito sobre o descongelamento das montanhas do Himalaia por conta do aquecimento global.


A força da educação ganha contornos emocionantes quando pensamos no choque de realidade. Um vilarejo longe das constantes mudanças do mundo, da globalização, das atualizações diárias da tecnologia, possui uma escola sem quadro, sem materiais para o uso básico do aprendizado. Mas o saber, o conhecer, o ensinar, são para os criativos e para os que querem fazer acontecer algo importante e pode acontecer em qualquer lugar, só querer. Conforme vai percebendo o bem que fez aquela comunidade, o protagonista entra em uma auto análise sobre a própria vida, em meio a canções que aprende seus verdadeiros significados.


A Felicidade das Pequenas Coisas é uma pequena obra-prima que nos faz refletir sobre nossas próprias vidas, em tudo que temos e as vezes não damos valor.



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14/07/2022

Crítica do filme: 'O Bom Patrão'


O malabarismo do suposto equilíbrio. Vencedor do prêmio Goya de Melhor Filme em 2022 (uma espécie de Oscar da Espanha), El Buen Patrón fala sobre a relação entre patrões e empregados que aqui, quase didaticamente, acaba nos levando na direção da realidade, nessa sempre conflituosa relação. Aqui o ponto de vista é do patrão, um manipulador de ações e situações que acaba caindo em verdades do mundo, sendo muitas vezes o vilão da sua própria trajetória. Há outros vilões implícitos, o capitalismo por exemplo e suas formas de corroer. Dirigido e escrito pelo cineasta Fernando León de Aranoa o projeto é sarcástico na medida certa, o que culmina em momentos hilários mas sem deixar de gerar a reflexão. O filme marca uma das grandes atuações recentes na carreira do excelente ator Javier Bardem.


Na trama, conhecemos ao longo de uma semana a rotina de Blanco (Javier Bardem), o proprietário de uma empresa de fabricação de balanças industriais que nos próximos dias irá receber um famoso comitê para ganhar mais um prêmio. A questão é que justo nessa semana importante para seus objetivos, o caos reina em sua rotina pessoal e profissional. Um funcionário demitido acampa na frente da entrada da empresa, o poderoso patrão passa a se relacionar com a nova estagiária sem saber que ela é alguém que já conhecera, um funcionário antigo começa a causar problemas por conta da traição da esposa. Tudo aqui nesse filme pode ser visto como um grande crítica social com o subtópico nas éticas do mundo trabalhista.


Como resolver os diários conflitos? E quais são mesmo esses conflitos? Ao longo de uma semana na vida desse chefão de uma empresa, que fica em uma área industrial da Espanha, vamos acompanhando diversas situações que vão nos mostrando sua personalidade, seus inúmeros deslizes no campo moral e nas ações que influenciam a empresa. Esse homem que busca o carisma a todo instante, vindo de uma família que lhe deu toda a estrutura para seguir profissionalmente no lucrativo negócio criado por seu pai, faz de tudo e sem nenhum limite para conseguir o que quer. Podemos dizer que é um dos inúmeros mimados do capitalismo, que se apoia em brechas, situações controláveis, na teoria de que não há limites para o comando. Isso tudo e muito mais chega em alto e bom tom para quem quiser refletir ao longo de pouco menos de 120 minutos.


O filme mais indicado na história do Goya, com incríveis 20 indicações, nos apresenta também um ótimo paralelo com a questão do equilíbrio, já que na fabricação de uma balança e também na saúde de toda e qualquer empresa essa palavrinha mágica molda ações e reações. A parte moral desse curioso protagonista é jogada ao pensar a todo instante, e com uma interpretação brilhante, Javier Bardem mostra mais uma vez porque é um dos maiores artistas do universo do cinema. Só por ele já vale o ingresso!

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13/07/2022

Crítica do filme: 'A Garota da Foto'


O labirinto de maldade. Disponível no catálogo da Netflix, o chocante documentário A Garota da Foto nos apresenta descobertas surpreendentes da vida de uma jovem que nunca teve uma chance de ser feliz. Ao longo dos desconcertantes 101 minutos de projeção somos levados ao caos que ela vivia durante anos sem tempo de saber as verdades sobre sua própria história. Por meio de depoimentos dos investigadores e pessoas próximas à jovem, somos levados para uma rebobinada na trajetória dessa mulher que tem um passado tão triste quanto sua trágica morte. A direção é de Skye Borgman.  


Na trama, que no início se parece muito confusa por conta da quantidade de informações jogadas na tela, acompanhamos os desenrolares investigativos da morte de uma jovem mãe e o sequestro de seu único filho. Ao longo de muitos anos a Polícia tenta desvendar esse mistério que acaba levando os responsáveis pela investigação para o passado da mulher e sua relação com um homem que na verdade era um assassino procurado pela polícia levando essa história a chocantes revelações. Qual o verdadeiro nome da jovem? Quem era ela? Ela era casada? Fora sequestrada? O que de fato aconteceu com a criança sequestrada? Quem era o homem que vivia com ela? Há muitas perguntas que o projeto busca responder.


Nesse documentário investigativo, somos surpreendidos a todo instante com novas variáveis dessa história que abalou a todos que a conhecem. Isso aconteceu também com os envolvidos da parte investigativa, seja os policiais que não conseguiam chegar à conclusão de tudo, fato que marcou carreiras, até mesmo virou um livro de um jornalista que achara peças perdidas desse intenso quebra-cabeça e a partir disso achou-se outras partes da vida da jovem que ninguém sabia. Há uma certa crítica em relação as investigações e o alcance do poder da lei, mesmo que de maneira superficial. Como um homem procurado em muitos Estados conseguia trocar de nome facilmente e fazer barbaridades por onde andava durante anos? Chega a ser inacreditável!


A Garota da Foto, mesmo se tratando de uma história em volta de um fato triste que causa dor apresenta um desfecho de esperança para todos aqueles que conheceram essa história e ajudaram a encontrar as respostas perdidas.



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