12/08/2013

Coletiva do filme: ' Flores Raras'

O novo trabalho da família Barreto, grandes produtores do nosso cinema, Flores Raras, chega aos cinemas brasileiros na próxima sexta-feira (16). O filme, apesar de se passar na década de 60, aborda questões muito atuais da sociedade de maneira global, como o homossexualismo. Para falar sobre o projeto, Bruno Barreto, Lucy Barreto e Miranda Otto se reuniram no Hotel Pestanna no bairro de Copacabana.

A trajetória do filme começou há 17 anos atrás. A ideia de fazer o longa Flores Raras surgiu quando a produtora mineira Lucy Barreto recebeu o livro Flores Raras e Banalíssimas – do qual o roteiro foi baseado – na noite de natal de 1995. No dia seguinte, após ter lido a publicação por completo durante toda a madrugada, Dona Lucy Barreto ligou para a amiga que lhe deu o presente – a autora do livro Carmen Oliveira - e disse que queria fazer esse filme.

Ao longo desses anos, a corajosa produtora continuou desenvolvendo o projeto com diversos roteiros como opções. Propôs o filme ao diretor Bruno Barreto inicialmente e a princípio, o mesmo, não via filme nessa história. Conversou sobre o projeto com o diretor argentino – radicalizado no Brasil - Hector Babenco (Carandiru) que disse algo semelhante. Assim, Lucy Barreto começou a desenvolver sozinha toda a idealização deste filme. Até que um dia, Bruno Barreto voltou a procurá-la e disse que estava interessado em tornar essa história em filme.  

“Eu conheci Bishop e Lota em 1959. Na ocasião, meu marido Luis Carlos Barreto foi, a pedido da Revista O Cruzeiro, fazer uma matéria com as duas na samambaia. Era um almoço de domingo onde estava a intelectualidade brasileira, citando alguns nomes presentes: Vinícius de Moraes, Manoel Bandeira, Carlos leão. Fiquei muito impressionada com as duas, com a cumplicidade que elas tinham. Elas se divertiam com os olhares de uma para outra”, comentou emocionada a grande produtora.  

Sobre a escolha do elenco, uma certeza era dominante: Glória Pires (É Proibido Fumar) seria Lota de Macedo Soares, não poderia ser outra opção. Um fato que chamou a atenção dos jornalistas foi a declaração de Dona Lucy Barreto a esse fato: “Liguei para a Glorinha (Pires) e disse: ‘Você é a Lota de Macedo de Soares, estou te mandando o livro, leia e me diga o que acha.’ Dois dias depois ela me ligou e disse que queria o papel”, comentou a veterana em produções nacionais.

A arquiteta Lota Macedo de Moraes teve criação elitista, foi criada na Europa, falava sete línguas. Por isso que a língua é muito importante nesse filme, para passar a veracidade das ações. Flores Raras é falado 95% em português e apenas 5% em português. Os roteiristas escolhidos foram a jovem Carolina Kotscho (2 Filhos De Francisco) e o experiente britânico Matthew Chapman (A Tentação).

A dificuldade da pronúncia da língua portuguesa foi um dos assuntos abordados na coletiva. A artista australiana Miranda Otto (Guerra dos Mundos), que interpreta a poetisa e ganhadora do prêmio Pulitzer Elisabeth Bishop, falou: “Eu tinha uma desculpa. Elisabeth Bishop não falava o português tão bom, a preparadora do elenco que me ensinou algumas palavras em português. Eu já falei outras línguas em outros filmes antes. Eu gosto desse desafio.

A falta de reconhecimento sobre a construção do Parque do Flamengo pela grande idealizadora e uma das protagonistas do filme foi um dos motivos para a realização desta obra. Sobre isso, Dona Lucy Barreto abre o coração: “Eu sempre morei no flamengo. Então acompanhei a construção do parque. O resgate da Lota é muito importante para mim, ela não é reconhecida por essa obra maravilhosa. A única coisa que nós temos é uma plaquinha que fica na rua Tucumán na passagem subterrânea entre a praia do flamengo e o parque.”

Como fazer um personagem, até certo ponto antipático em algo mais suave que passe empatia? A atriz australiana, que rouba cena em muitos momentos do filme, teve uma grande responsabilidade para contar essa história de amor. A ideia dos envolvidos no projeto era de que o filme não poderia ser somente da Lota. “O grande desafio no roteiro, na filmagem, no trabalho com a Miranda. A grande qualidade da Miranda foi não cair na armadilha hollywoodiana de querer fazer o seu personagem simpático. Muitos atores norte-americanos caem nesta armadilha (mesmo que a artista em questão seja australiana)”, relatou o diretor.

Sobre o período de filmagens no Brasil, Miranda Otto confessou que adorou gravar no Rio de Janeiro, sentiu dificuldade nos set de filmagens e se apaixonou pela nossa culinária: “Foi uma sorte enorme vir ao Brasil filmar. Me ofereceram esse papel fantástico e ir trabalhar todo dia era muito bom. Adorava a hora do almoço,  feijoada e a goiabada agora são minhas comidas favoritas. A comida brasileira é fenomenal. Algumas coisas nas filmagens são bem diferentes das produções lá fora, demorei um pouquinho para me adaptar como as coisas acontecem por aqui.”

Em uma das cenas mais marcantes do filme, quando Lota e Bishop compram uma criança – uma espécie de adoção de outras épocas – foi tema de uma inteligente colocação durante a coletiva. “A realidade não tem a mínima importância, mesmo se fosse real o meu compromisso não é com a realidade é com a verossimilhança. Eu sou um ficcionista não sou um documentarista. Essa situação era uma coisa que ocorria. No nordeste ainda ocorre, até cinco anos atrás vinham estrangeiros à procura de adoção nessa região. Nós pesquisamos para buscar a realidade na ficção”, comentou Bruno Barreto.

Com pretensões de indicações ao próximo Oscar (principalmente para as duas atrizes) e com temas polêmicas que vão gerar debates interessantes, Flores Raras – que já se chamara Você Nunca Disse Eu Te Amo – promete emocionar o público, ansioso para conferir essa produção que estreia em 150 salas de cinema de todo o Brasil.


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Crítica do filme: 'Vendo ou Alugo'

Para falar sobre a classe média e as malandragens de uma família deveras peculiar, a diretora Betse de Paula (Celeste & Estrela) reuniu um elenco conhecido do grande público – tornando o filme mais popular possível – jogou dentro de uma casa antiga e tentou contar uma história sobre situações que giram em torno de uma venda, a falta de dinheiro e os vícios que todo consumidor descontrolado corre o risco de sofrer. Pena que nada encaixou com nada.

Nessa nova e premiada produção nacional - levou 12 prêmios no último Festival de Cinema de Pernambuco – uma família repleta de gerações – Bisavó, avó, mãe e filha moram em uma gigantesca casa no pé de uma perigosa favela que está sendo ocupada pela polícia para ser pacificada, por isso não conseguem vender nem lugar o terreno encontrando-se em grandes dificuldades financeiras. Mesmo assim, aparecem alguns possíveis compradores, como: um gringo excêntrico, veteranas jogadoras de pôquer e um pastor bem suspeito.

É um humor sociológico, que preza pelo desespero financeiro e o descontrole emocional. O gênero comédia se encaixa em qualquer tema: brincar, fazer piadas, diálogos com falas soltas e debochadas fazem parte. Em Vendo ou Alugo há um exagero neste sentido. Em quanto a diretora tenta captar o melhor enquadramento e condução das sequências – a direção é sem dúvidas a melhor coisa do filme -, os atores se descontrolam em ações desordenadas o que acaba justificando a confusão que conferimos na telona.  

O foco em quatro protagonistas é muito mal definido no roteiro, assinado por cinco pessoas: Maria Lucia Dahl, Júlia de Abreu, Betse De Paula, Adriana Falcão, José Roberto Toreiro. Há críticas neste quesito também. Será necessário tanta gente para escrever uma história? Os pontos de vista diferentes derrubam a interação com o público. Sobra apenas o carisma dos personagens, muito pouco para agradar o público.


A atitude e a coragem de sair da mesmice das comédias nacionais é um mérito que o filme merece receber. Mas isso não quer dizer que o filme seja nem ao menos bom. As pessoas ligadas ao nosso cinema, precisam de uma vez por todas entender de que boas idéias o inferno está cheio. O certo era vender ou alugar essa ideia para algum seriado de canal aberto. 
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11/08/2013

Crítica do filme: 'Deixe a Luz Acesa'

Em um relacionamento, as pessoas se somam ou se complementam? Para falar de amor a um nível intenso, cheio de dramas e conflitos, o diretor Ira Sachs (Vida de Casado) aborda todas essas variáveis aplicadas a um relacionamento homossexual no excelente drama Deixe a Luz Acesa.  Além da direção primorosa, o longa conta com uma atuação espetacular de seu protagonista, o dinamarquês Thure Lindhardt (Velozes e Furiosos 6).

Na trama, acompanhamos o cineasta Erik (Lindhardt), um documentarista morador de Manhattan, homossexual, que gosta de conhecer pessoas pelo telefone. Em uma dessas ligações, conhece o enrustido advogado Paul. O relacionamento dos dois se torna cada vez mais excessivo, alimentado por altos e baixos e comportamentos fora do normal. A luta de ambos é na verdade uma grande negociação dos limites que ambos ultrapassam a cada nova ação inconsequente.

A falta de maturidade é a grande questão abordada do magnificente roteiro. O relacionamento dos protagonistas se torna descontrolado, há amor, paixão e amizade mas ambos não conseguem dosar suas atitudes, vícios de drogas e sumiços sem explicações. Traições se tornam frequentes, levando ambos para o fundo do poço. Um dos personagens ainda consegue desafogar suas mágoas no excelente núcleo familiar comandado pela carismática e querida pelos cinéfilos Paprika Steen (Amor é Tudo o Que Você Precisa).

O filme não é em nenhum momento vulgar e não possui cenas desnecessárias de nudez e sexo. Tudo é muito bem dosado nos excelentes planos e enquadramentos de Sachs. Há um grande preconceito contra filmes que falam de maneira aberta e clara sobre relacionamentos homossexuais. Esse drama é uma aula de cinema, há pureza e poesia nesta história que vai marcar quem a conferir.


A entrega dos atores que mais circulam pelas lentes de Sachs é um ponto importante para criar a mais possível veracidade da história. Thure Lindhardt e Zachary Booth (Um Novo Despertar) dão um verdadeiro show em cena. Como o filme é repleto de altos e baixos, contando a saga deste conturbado relacionamento, os artistas precisam ser fiéis a seus personagens, rindo e chorando ao limite. Um esforço que vemos do primeiro ao último minuto. Merece ser conferido! Bravo!
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09/08/2013

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Crítica do filme: 'Os Escolhidos'



Quem não gosta de levar um bom susto em uma sala de cinema? Depois de dois filmes voltados ao sobrenatural (O Padre e Legião), o cineasta Scott Stewart muda sua fórmula para entreter o público, abdicando dos excessivos imaginativos e criando a tensão através de sustos que geram calafrios. Os Escolhidos é uma típica história possível de acontecer em qualquer família e essa proximidade com a realidade é um grande achado pelo roteiro – escrito pelo próprio diretor.


No suspense, somos apresentados a família Barret, os apaixonados Daniel (Josh Hamilton) e Lacey (Keri RusseIl) levam uma vida pacata numa cidadezinha do interior dos Estados Unidos. A paz e a calmaria terminam quando seu filho Jesse (Dakota Goyo) passa a agir de maneira esquisita.  A partir daí, resolvem investigar e uma série de estranhos e misteriosos eventos passam a fazer parte de sua rotina.


O suspense é uma mescla entre A Entidade e Sobrenatural. Na verdade, o filme poderia muito bem se chamar A Entidade Sobrenatural. Muitas referências destes dois projetos mencionados são vistas em algumas das sequências de Os Escolhidos, que não deixa de ser um longa fiel a temática. Entre um dos pontos próprios do segmento, abre um caminho para discussões sobre o mundo oculto da Ufologia. Alguns exageros para modelagem e ligações das tramas - para o filme ganhar corpo - são necessárias mas os exageros não vão além disso, deixando o clima de suspense no ar a todo instante.  


O desfecho do suspense é uma grande sacada do criador da história. Deve surpreender qualquer tipo de público, até mesmo aquele cinéfilo que sabe todos os finais de filmes deste gênero. Como foi lançado em fevereiro nos Estados Unidos, muita gente já tem acesso a esse filme mas fica o pedido ou a sugestão de assistir Os Esquecidos na tela grande, causa um efeito bem maior ao espectador.



O elenco tem força cênica suficiente para sustentar a tensão do início ao fim. Todos os atores estão muito bem em cena. O público se sente dentro daquela casa mal assombrada, descobrindo junto com os personagens os mistérios contidos naquele lugar. Para quem curte filmes do gênero esse competente trabalho é um prato cheio. Gosta de filmes de suspense que beiram ao terror? Então, o escolhido é você!
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08/08/2013

Crítica do filme: 'Flores Raras'

Como contar uma história de amor em forma de poesia? O cineasta carioca Bruno Barreto (Última Parada 174) teve a difícil missão de mostrar na tela grande um amor – polêmico para a época – entre duas fortes e diferentes mulheres. Flores Raras é uma história de outro tempo, onde todas as emoções viravam poesia. As atrizes principais, em seus respectivos papéis, dão um show em cena, valorizando cada segundo do bom trabalho de Barreto atrás das câmeras.

Com um roteiro de Carolina Kotscho (Quebrando o Tabu) e Matthew Chapman (A Tentação), o longa mostra a conturbada e emocionante história que caminha a passos curtos rumo a um triângulo amoroso entre uma poetisa tímida e inteligente norte-americana (Elisabeth Bishop), uma arquiteta brasileira de prestígio (Lota) casada com uma norte-americana radicada no Rio de Janeiro. Essa relação contém amor, carinho, compaixão e loucura, levando os personagens reais a um desfecho repleto de melancolia.

Dissolvendo a dor em doses de álcool, Elisabeth Bishop é interpretada pela excelente atriz australiana Miranda Otto (Guerra dos Mundos, 2005). A serenidade da artista estrangeira chama a atenção. Consegue com peculiar leveza desenvolver sua personagem. A depressiva poetisa e sua busca pelo amor ganham vida na bela interpretação da artista australiana. Seus problemas com o alcoolismo começam a afetar sua relação com Lota (Glória) e isso as leva para o fundo do poço.

Glória Pires (É Proibido Fumar, 2009), em sua melhor performance no cinema, interpreta a corajosa Lota de Macedo Soares. Um primoroso trabalho de doação carnal e emocional da veterana atriz de novelas. Não seria um absurdo dizer que tanto Glória, quanto Miranda tem reais chances de uma indicação ao Oscar de Melhor atriz coadjuvante e Melhor atriz, respectivamente, no ano que vem.

A mudança cultural é muito bem apresentada no filme. Bishop chega a uma terra nova, cheia de novidades e perigos. Não espera se apaixonar mas acaba caindo em tentação quando vê seus sentimentos correspondidos. Desse amor surge livro, histórias, vícios e muita dor. Sua relação com Lota nunca foi bem estabelecida por conta disso há um descontrole eminente escondido em cada verso dessa poética história.

Por conta da intensidade desenfreada da relação apresentada, a trama acaba se arrastando em seu desfecho. Há um descontrole do roteiro para as definições dos desfechos de cada personagem. Fato negativo do projeto. Uma história de amor intensa, repleta de felicidade e aflições precisava ter tido um carinho maior com o seu encerramento. Mas nada disso supera as outras dezenas de qualidades que o filme possui.


Quando a espera da melhoria num relacionamento é insuportável, o ser humano é levado ao limite. Todos já lemos, escutamos, vimos no cinema, inúmeras histórias de amor. Essa é mais uma. Só que dessa vez, bem rara. 
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Coletiva do filme: 'Rio Eu Te Amo'

Para falar de amor em uma das mais românticas cidades do mundo nada melhor que reunir diversas visões cinematográficas sobre a cidade maravilhosa. Na última segunda (05), a imprensa carioca foi chamada para a coletiva do filme Rio Eu Te Amo, que correu no Theatro Municipal. O trabalho seguirá a linha estrutural do sucesso Paris, Te Amo (2006) – que faz parte da franquia Cities of Love - e contará com onze seguimentos que serão filmados em diversas partes da cidade maravilhosa.

Para apresentar o planejamento dessas filmagens foram reunidos artistas, produtores e diretores. Conversaram com a imprensa Denise Gomes da Bossa Nova Films, Pedro Buarque de Hollanda, Leonardo Barros e Dan Klabin, esses últimos da Conspiração Filmes. Além dos diretores Carlos Saldanha (Rio), Im Sang-soo (A Empregada, 2011) e os atores Rodrigo Santoro(Uma História de Amor e Fúria, 2013), Tonico Pereira (Cores) e as atrizes Roberta Rodrigues (Vamos Fazer um Brinde, 2011) e Bruna Linzmeyer.

Carlos Saldanha, que deu uma breve pausa na pós-produção de Rio 2 para participar do projeto escolheu como sua locação o Theatro Municipal e terá Santoro e Linzmeyer  como seus protagonistas. Eles começam a filmar ainda nesta semana. “Eu sempre gostei do Centro da cidade, é uma das partes mais marcantes da cidade pra mim. Toda a história do Rio de Janeiro começou por aqui. Quando estava fazendo o primeiro filme Rio, queria recriar o municipal pelo computador mas vimos que isso é impossível”, declarou Saldanha.
Rodrigo Santoro comentou o fato de ser um bailarino no segmento de Saldanha. “Tivemos pouquíssimo tempo de preparação. O ator trabalha o tempo todo com o corpo. É um universo muito particular. Precisa de muita dedicação, concentração e de perfeição”, falou rapidamente o ator.

Em seguida as filmagens no Theatro Municipal, começa a ser rodado o seguimento do grande diretor sul-coreano Im Sang-soo (A Empregada, 2011). Seu primeiro longa metragem foi recorde de bilheteria na Coréia do Sul e escolheu fazer o seguimento sobre amor e escolheu os atores Tonico Pereira e a atriz Roberta Rodrigues. “Eu não sei nada do Rio (risos) mas quero conhecer melhor e fazer um grande filme sobre essa cidade”, comentou Sang-Soo.

No final de agosto, mais três seguimentos serão filmados no Rio de Janeiro. O diretor australiano Stephan Elliott (Priscilla, a Rainha do Deserto, 1994) – que ficou muito tempo sem filmar – e tem muita relação com o Brasil e por isso escolheu que seu segmento fosse filmado no Pão de Açúcar. A diretora libanesa Nadine Labaki (E Agora Onde Vamos?, 2011), um dos grandes nomes femininos do cinema mundial, escolheu como locação a Gamboa. E o diretor brasileiro Fernando Meirelles (360) que elegeu como locação para seu segmento o bairro mais famoso do Rio de Janeiro, Copacabana.

Na segunda parte do projeto, que será filmado em outubro, três diretores já foram contratados. O cineasta mexicano Guillermo Arriaga (roteirista de Babel, 2006) que escolheu Santa Teresa para filmar, o diretor do novo RoboCop: A Origem (2014) José Padilha (Tropa de Elite 2) escolheu rodar sua história na Pedra Bonita e o diretor Andrucha Waddington (Lope) no segmento Centro da Cidade. Leonardo Barros, produtor da Conspiração Filmes, anunciou que mais três diretores estão em negociação para dirigirem seguimentos no projeto mas não adiantou os nomes.

O diretor Vicente Amorim (Corações Sujos, 2012) estará a cargo das cenas de transição, uma das características dos filmes da franquia “Cities of Love”. “O grande objetivo das transições é criar um senso de unidade, cada diretor tem o dom criativo e suas particulariedades. Terei a tarefa de fazer essas historias se unirem, virando um filme. É um exercício de você se apropriar dos personagens e da dramaturgia de outros diretores.”, explicou Amorim.

Esses onze diretores (três ainda não foram anunciados) representam uma variedade geográfica muito grande o que se caracteriza como um diferencial no projeto. Esses nomes importantes da indústria cinematográfica contam com uma qualidade artística mundial e inquestionável. Somado a isso, Gilberto Gil será o responsável pela trilha sonora que promete emocionar os corações mundo à fora.



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Crítica do filme: 'Tabu'

Falando sobre a descoberta de um passado e as profundezas da melancolia dos relacionamentos, o diretor português Miguel Gomes (Aquele querido mês de agosto) apresenta seu novo e corajoso trabalho, Tabu. Com tamanha ousadia e uma estética que impressiona os olhos mais rígidos, o realizador português, que iniciou sua longa carreira no cinema como crítico, apresentou este belo trabalho no último Festival do Rio.

A história é dividida em arcos dramáticos, com prólogo, duas partes e um Epílogo. Conhecemos primeiro Dona Aurora, uma idosa temperamental que divide o andar de um prédio em Lisboa com uma mulher nascida em Cabo Verde e uma outra vizinha de bom coração. Quando há o falecimento da primeira personagem apresentada, as outras duas descobrem segredos do passado dela como uma história de amor vivida no continente africano.

O grande destaque do filme é a direção - praticamente impecável - do cineasta português. Consegue com muita simplicidade encontrar o tom certo de cada diálogo, cada plano sequência, cada momento de emoção que o filme se propõe. A estética eleva a qualidade do trabalho que deve ser elogiado por público e crítica. O plano em preto e branco é algo de destaque mostrando a coragem do diretor de produzir um filme tão longe dos padrões comerciais.

Escrito por Miguel Gomes e Mariana Ricardo, o roteiro percorre um passado também de Portugal. A própria nostalgia do império africano perdido em citações de livros antigos se mostra como sendo a juventude dos tempos atuais. Esse contraponto é deveras interessante e pode ser utilizado como ferramenta de estudo por estudiosos da área de sociologia, psicologia e antropologia.


Taxado como um projeto Cult, o longa deve fugir dos grandes cinemas aqui no Brasil. Uma pena. Por isso, como no teatro, o boca a boca pode ser a única solução para quebrar esse tabu de que filmes de artes não podem ser um bom divertimento.  
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05/08/2013

Crítica do filme: 'Augustine'

Escrito e dirigido pelo jovem talento francês Alice Winocour, Augustine tinha tudo para ser somente um filme angustiante, próprio para quem tem estômago forte. Mesmo abusando de extremismo, em cenas complexas, a estreante em longa metragem consegue o mérito de explorar as melhores características da sua dupla de protagonista - o experiente Vincent Lindon (A Criança da Meia-Noite) e a quase desconhecida Soko (As Melhores Amigas, 2006) – transformando este trabalho em um fenomenal retrato da medicina experimental.

Ambientado no final do século XIX, Augustine mostra a vida e os difíceis estudos do professor Charcot (Lindon), que trabalha no prestigiado Hospital Pitié-Salpêtriere. Dedicando a vida a resolver os problemas duvidosos da medicina, acompanhamos seu mais novo estudo, a histeria. Entre muitos testes e experimentos, a jovem Augustine (Soko), torna-se sua cobaia favorita e o professor passa de objeto de estudo para objeto do seu desejo.

As impactantes sequências ocorridas durante os experimentos executados pelo protagonista chocam parte do público. As mãos seguras da diretora conseguem capturar todas as emoções e reações dos envolvidos nessas cenas, fazendo o contraponto entre tensão e realidade. A sensibilidade encontrada pela diretora, em meio aos angustiantes episódios de experimentos é a chave do sucesso desse belo trabalho.

Os protagonistas, em seus respectivos papéis complicados, valorizam o roteiro até a última linha. A relação apresentada e que muda a todo instante – entre médico e paciente – joga o espectador em um interessante jogo com ar misterioso deixando o desfecho em aberto, o que faz o público ficar com os olhos atentos para não perder nenhum detalhe. Uma das grandes características das produções francesas é essa: prender a atenção do espectador com histórias ricas em emoção.


Não precisa ter sangue frio, nem estômago de aço. Há sofrimento e cenas difíceis mas como abordado nos parágrafos anteriores o filme é muito mais que isso. A elegância da dor de maneira raramente vista no cinema transforma essa produção num prato cheio para todo tipo de cinéfilo. Bravo!
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03/08/2013

Crítica do filme: 'Vulcão'

Como reconstruir quando você só destrói? Falando sobre a busca da felicidade de um homem, o jovem cineasta islandês Rúnar Rúnarsson – em seu primeiro longa-metragem -  transforma um conflito pessoal em uma obra de arte. Vulcão é o tipo de filme que você nunca ouviu falar mas que certamente vai querer debater sobre ele.

Na trama, conhecemos Hannes (Theodór Júlíusson) um rabugento fumante de idade avançada que leva a vida de maneira triste e sem novos grandes objetivos. Faz questão de ser a pessoa mais inconveniente dos lugares onde passa, sendo assim, visto por todos como um infeliz que não gosta de ninguém. Certo dia, após retornar de uma falha tentativa de suicídio, uma certa conversa que escuta desperta nele um sentimento de mudanças.

O que mais chama a atenção no longa é a descontrução do personagem - absurdamente bem feita. A lentidão apresentada neste trabalho -característica de alguns filmes de arte europeus - é extremamente necessária para captar todos os elementos que caracterizam o universo familiar que o protagonista vive. Méritos total do diretor, que também escreveu o roteiro.

Theodór Júlíusson – o ator que interpreta o protagonista da história - tem uma atuação fabulosa. Não perde um segundo o foco de seu difícil personagem, o que facilita a exposição dos conflitos para o espectador.  Toda a dor, angústia, aflição, insegurança e desespero são mostrados com uma verdade que impressiona. A todo instante, o público interage com a trama e sai do cinema sem saber se Hannes é o vilão ou o mocinho dos fatos.

A cena mais importante da película, a do travesseiro, expõe o tão longe do seu limite emocional o protagonista ja se encontrava. A dor dá lugar à compaixão, podemos interpretar não como uma despedida mais um ato de socorro de quem quer recomeçar mais escolheu muito tarde essa opção. É uma parte tocante, uma espécie de clímax desta dramática história.

O filme é de 2011 e infelizmente deve estar jogado nas locadoras que ainda restam, atrás dos blockbusters que são lançados a cada minuto pela indústria mais forte por trás do cinema. Esse belíssimo filme de arte precisa de pessoas como eu e você para ganhar força e ser usado como ferramenta de estudo dos campos da sociologia e do direito, principalmente.


Diretamente das lindas paisagens geladas da Islândia uma pérola cinematográfica brota. Vejam, não há como se arrepender. Fabuloso. Bravo! 
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Crítica do filme: 'Praga'

Como curar um sofrimento provocado por duas pessoas casadas? Praga, o trabalho do diretor dinamarquês Ole Christian Madsen (Flammen & Citronen) é o retrato sobre um casamento em ruínas onde nenhuma das partes envolvidas é inocente. A direção é competente tentando encontrar formas diferentes de mostrar essa situação. O roteiro atrapalha a harmonia e cansa o espectador, transformando lindas imagens em um sonífero dos mais poderosos.

Na trama, acompanhamos o casal interpretado pelo astro dinamarquês Mads Mikkelsen e a atriz Stine Stengade (Flamen & Citronem) que viajam rumo a uma terra desconhecida por ambos, a princípio, para cuidar da papelada e resgatar o corpo do pai de um deles. Aos poucos vamos descobrindo segredos sobre esse tumultuado relacionamento, fato que leva os personagens a um clima de dor e desespero.

O sofrimento e a vontade de se torturar do personagem Christoffer (Mikkelsen) são escancarados na telona, provocando muita dor e angústia inflamados pelos diálogos calorosos com sua companheira Maja (Stengade). Os personagens vão ao limite de suas emoções, fica claro para o espectador. Porém, os atores que os interpretam parecem estar perdidos no meio da inconsequência emocional que se instaura. A tentativa de recriar a realidade vai por água abaixo quando há um descontrole dos atores sob os seus respectivos papéis.

O roteiro é o grande problema dessa película dinamarquesa. O objetivo dos personagens é perdido quando acontece a mudança de foco. A ida para Praga não era somente para buscar o corpo do pai, era para provocar um grande ultimato em um relacionamento doloroso que foi se construindo ao longos dos anos que passaram juntos. O filme explica essa mudança de maneira confusa o que dificulta a relação do espectador com a história.


Se encararmos como uma peça de teatro, o formato se encaixaria bem melhor. Dois atores em cena, diálogos intrigantes que chegam ao limite, poucos cenários e uma boa direção. No formato cinema, outros elementos são necessários e nesse caso, toda essa sustenção cinematográfica é terrivelmente executada. Uma pena.
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