19/10/2014

Crítica do filme: 'Drácula – A História Nunca contada'



Como dizia o filósofo britânico Francis Bacon: “A Vingança é uma espécie de justiça selvagem”, assim para seguir exatamente esse pensamento, um dos maiores estúdios de cinema do mundo contratou o inexperiente diretor Gary Shore, juntou um orçamento de 100 Milhões de dólares e deve ter pedido: por favor, me faça o melhor filme sobre Drácula já feito! Resultado, uma tentativa misturar Game of Thrones e Senhor dos Anéis, recheado de efeitos e atores sem nenhum tipo de carisma envolvidos em um roteiro que até a metade do filme funciona, depois vira um show da Broadway chato que nem de longe lembra outros belos filmes do famoso Drácula.   

Na trama, no começo muito bem construída, somos levado a conhecer uma terrível guerra entre os romenos e os turcos. Assim, logo aparece o temido príncipe romeno Vlad, carinhosamente ou não conhecido como: o Empalador!  Uma espécie de herói/anti-herói que luta pelo bem estar de seu povo. Durante essa guerra sanguinária, Vlad toma decisões arriscadas e coloca todo seu povo em risco. Para consertar e vencer a guerra, resolve fazer uma espécie de pacto com um monstrengo dando início a uma mitológica e já conhecida história sobre vampiros e criaturas feiticeiras.

Obviamente a ideia dessa produção é dar início a uma saga que culminará na história do Drácula, já contada em outros filmes. Criar esse “Begins” é interessante, diversas outras franquias estão seguindo esses passos com sucesso. A questão é que nesse caso, a combinação que os produtores querem é a de um Drácula histórico com o do romance famoso de Bram Stoker. Partindo desse princípio, Drácula – A História Nunca contada, começa bem bastante real e convencendo com bons argumentos históricos de como essa lenda começou a partir de Vlad e seu misterioso pacto. O problema é quando começam a entrar os efeitos na história e tudo que estava sendo construído vira um calabouço exibicionista, muito mal dirigido e com interpretações extremamente não convincentes. 

Há uma quebra de ritmo, de cronologia, os efeitos tomam conta de uma maneira que qualquer movimento real feito, vira um enter dado por um computador. Precisa ter alguém com experiência por trás das câmeras para tornar esses efeitos com um certo sentido dentro da história. Ao longo dos curtos 92 minutos, os dentes afiados, as bizonhas atuações, a fraca direção acabam tornando as cenas que eram para serem aterrorizadoras virarem um grande Lexotan. Lugar para dormir é em casa, não no cinema.
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Crítica do filme: 'O Juiz'



Pais e filhos não foram feitos para ser amigos. Foram feitos para ser pais e filhos. Reunindo uma dupla de atores premiados, um diretor acostumado a fazer comédias e um roteiro que esconde sobre o que de fato o filme é, chegou aos cinemas semana passada o aguardado novo filme estrelado pelo nosso querido homem de ferro, O Juiz. Em pouco mais de longos 140 minutos de fita, o público é submetido a virar testemunha de uma grande terapia familiar que culmina em um inusitado julgamento numa cidadezinha dos Estados Unidos. O fato de não achar a profundidade em nenhum arco do roteiro, atrapalha muito o andamento dessa história como um todo. Pra piorar, a pegada cômica que o diretor tenta colocar em algumas sequências (surpreendentemente Downey Jr. não achou seu personagem em nenhum momento), viram esquetes no nível do Zorra Total.

Na trama, acompanhamos Hank Palmer (Robert Downey Jr.), um advogado de sucesso cheio da grana (quase um Tony Stark do direito) que se encontra em um conturbado fim de relacionamento com sua esposa. Quando sua distante mãe falece, ele precisa voltar para a cidade onde nasceu e lá encontrar todo um passado, que por diversos motivos preferiu deixar pra trás. Quando Hank chega ao local, percebemos um grave problema no seu relacionamento com seu pai Joseph Palmer (Robert Duvall), o juiz mais prestigiado da cidade. Quando está prestes a ir embora e voltar para sua atual vida, Hank é surpreendido quando seu pai é acusado de assassinato.  Assim, no meio de um conflito entre presente e passado, precisa reunir forças e ganhar o caso mais difícil de sua vida.

Esse projeto fala sobre a relação, às vezes conturbada, entre pais e filhos. Quem já viveu, ou vive algo parecido vai conseguir se conectar mais facilmente a história. Hank e Joseph possuem enormes traumas que influenciaram nas decisões de cada um ao longo dos anos. Essa relação poderia ser mais explorada e assim explicada melhor ao público. Na tela, vemos discussões, momentos de tensão e não sabemos direito o porquê que isso acontece. No final, tentam dar uma explicação bem imaginativa mas que não convence. Em falar nisso, os desfechos dos personagens são algo assim inimagináveis. Tem o tio que pega o sobrinha sem querer, a ex-namorada que ficou grávida do irmão e ninguém sabe, a ex-exposa que some da história sem explicação entre outras chamativas conclusões.

O Juiz possui uma série de problemáticas em relação ao que se propõe como filme. Peca nos momentos dramáticos por conta da falta de profundidade nessas sequências (se não fosse o Duvall tentando levar o filme nas costas, poderia ser pior ainda), e para complicar mais ainda, nos momentos mais ‘engraçadinhos’ da trama se perde completamente, muito por conta de um Downey Jr. bem pouco inspirado. Nada contra o diretor David Dobkin, mas seu currículo possui somente filmes cômicos bobinhos como: Bater ou Correr em Londres, Penetras Bons de Bico e Eu Queria ter a sua Vida. Por conta disso e não só por isso, fica bem nítido que faltou experiência nesse tipo de drama. Talvez nas mãos de um outro diretor, essa história conseguisse ter um andamento mais interessante.
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17/10/2014

Crítica do filme: 'Boyhood - Da Infância à Juventude'



Quando chegadas e partidas estão lado a lado, avalie profundamente mas continue corajoso. O novo e brilhante trabalho do experiente cineasta Richard Linklater, é um dos filmes que mais demoraram pra ficar prontos da história do cinema, exatos 12 anos! Mais toda a espera valeu a pena! Contando a trajetória de um menino, da infância à adolescência, Linklater brinda os cinéfilos com uma história rica em verdades e questionamentos profundos sobre toda uma sociedade que variou seu modo de pensar ao longo de toda uma década. Um trabalho inesquecível, absolutamente genial!

Ao longo de 165 minutos de filme, acompanhamos um grande período da vida de Mason (Ellar Coltrane), um menino sonhador que vive com sua batalhadora mãe e sua irmã em um bairro de classe média nos Estados Unidos. A figura do pai de Mason, interpretado por um inspirado Ethan Hawke, volta e meia aparece na história, praticamente um porto seguro para o protagonista, para quem desabafa suas alegrias e tem coragem para dividir suas angústias. Assim, ao longo de toda sua infância e adolescência, Mason vai se descobrindo e começa a projetar quem vai ser no futuro.

Com uma abertura inspiradora, ao som da música Yellow da banda britânica Coldplay, essa linda fita fala sobre relacionamentos familiares, sexualidade, primeiro amor, Beatles, e outros, que geram diálogos maravilhosos, contundentes, onde o público interage quase sempre. As variações desse drama são muito dinâmicas, vai do inusitado dedo podre da mãe de Mason escolhendo sempre maridos problemáticos com bebidas, até a relação com o pai, cheio de argumentos criativos que mostram verdades comoventes.

As argumentações/pensamentos sobre a era das redes sociais vira um contraponto aos olhos do protagonista. Mason chega a ser um anti-herói da comunicação, introspectivo e vivendo em um mundo criado por ele, possui dificuldades em se abrir para os outros. Se achando diferente em muitos momentos, se joga profundamente em uma jornada de autodescoberta principalmente quando cresce e ganha mais liberdade para enxergar o que quer do mundo que vive.

Com uma trilha sonora absurdamente bem encaixada (cada canção adiciona muito em cada cena), personagens levados ao seu máximo por um elenco talentoso, um roteiro que beira à perfeição e uma direção digna de todos os prêmios que o mundo do cinema pode oferecer, Boyhood - Da Infância à Juventude vai demorar para sair da nossa memória, causa um impacto gigante em nossos corações. Seguindo os mandamentos desta história, não se esqueça que a vida é feita de momentos. Por isso pule, brinque, chore, ria. Não perca um segundo, viva!
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16/10/2014

Crítica do filme: 'Festa no Céu'



A mística dos sonhos românticos, ano após ano, quando desenterrada, fazem toda a diferença. Produzida pelo craque do cinema Guilhermo Del Toro, a comédia romântica que utiliza técnicas de animação Festa no Céu é um filme que será taxado, facilmente, como fofo. Além dos simpáticos personagens, o roteiro consegue ser competente o suficiente para oferecer diversão e reflexão para todas as idades.

Esta ótima animação, bem romântica por sinal, traz de volta aos cinemas o polêmico universo das touradas. Assim conhecemos o Julio Iglesias das touradas, Manolo, um jovem confiante e corajoso que é apaixonado pela bela Maria. Manolo é íntegro em seu modo de pensar e sempre sofre bullying de todos por não querer machucar os tourinhos que desafia. Até que um dia, por força de uma aposta de duas figuras místicas, Manolo vai para o céu mas logo percebe que seu lugar é entre os vivos, por isso, embarca em uma divertida aventura de volta ao nosso mundo para, entre outras coisas, lutar por seu grande amor.

Com um enredo repleto de canções, Festa no Céu pode ser considerado um semi-musical animado. O protagonista, usa todo seu charme na música, ecoando a voz de romântico sempre acompanhado de seu inseparável banjo. A interpretação de uma adaptação da música Creep da banda Radiohead é maravilhosa! Sem dúvidas o número musical mais legal da fita!

O poder da música, a força do coração, a coragem para vencer os medos... esse belo projeto cheio de efeitos, personagens desenhados com traços diferenciáveis, explora muitos conceitos que vemos aos montes em nosso cotidiano. Além de tudo, consegue com maestria ser um filme para todas as idades. Não perca essa deliciosa viagem pela história da família Sanchez que, mal ou bem, pode parecer com a minha ou a sua.
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12/10/2014

Crítica do filme: 'Obvious Child'



A energia criativa e a confiança em arriscar, às vezes, chega quando estamos no fundo do poço. O primeiro trabalho da cineasta Gillian Robespierre conta uma profunda história sobre a arte de reconstruir uma vida. O filme, baseado em um curta-metragem do ano de 2009, homônimo, de sucesso, não daria tão certo senão fosse a interpretação inspirada da desconhecida atriz Jenny Slate, que simplesmente dá um verdadeiro show a cada segundo seu em cena. Obvious Child é uma história sobre adultos em crise e o delicado pensamento sobre as escolhas que comandam o destino.

Na história, conhecemos Donna (Jenny Slate), uma mulher triste e sem muitos planejamentos sobre seu futuro que encontra um oásis quando sobe ao palco e faz seu carismático e engraçado Stand Up Comedy. Sua vida muda completamente quando leva um pé na bunda do namorado e conhece Max (Jake Lacy) com quem tem uma noite de risos e sexo. A questão é que Donna engravida e assim precisa tomar decisões que vão afetar completamente seu modo de ver a vida.

A trilha sonora tem uma forte influência na trama, entre um stand up comedy e outro, dita  ritmo da redescoberta da vida na figura da protagonista. A personagem principal é fascinante, se desconstrói em vários momentos. Uma atuação digna de Oscar da ótima Jenny Slate. Delicada, sarcástica, completamente sem rumo na vida e ativando frequentemente um infinito emocional, Donna faz com que o público sinta pena, raiva e, de certa forma, interagir com tudo que acontece em cena.  

A desconhecida inteligência sarcástica da vida envolvem os 90 minutos desse ótimo projeto. Esse, é um daqueles filmes que vamos discutir durante muito tempo após os créditos começarem a subir, tem muitos assuntos polêmicos e interessantes para ser explorados com aquele chopp e a boa conversa cinéfila de cada dia.
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