14/01/2015

Crítica do filme: 'Antes de Dormir'



Depois de dirigir o longa-metragem britânico O Pior dos Pecados, um filme bem mediano, o cineasta Rowan Joffe ganha mais uma chance de aparecer, dessa vez com um elenco de primeira, com o suspense Antes de Dormir. O filme tem uma narrativa muito interessante mas os três atores que contornam a trama é quem levam a fita nas costas, prendem o espectador em exatos momentos chaves fazendo com que haja uma grande interesse em desvendar o grande mistério que cerca a história.

Na trama, conhecemos Christine (Nicole Kidman), uma mulher que anos após sofrer um acidente misterioso todo dia acorda sem lembrar quem é. Seu marido Ben (Colin Firth) faz de tudo para que tudo possa ser o mais natural possível, explicando todas as manhãs sentado na cama toda sua história. Até que um dia, uma nova variável aparece, o Dr Nasch (Mark Strong) um médico que nutre uma paixão por Christine e tenta ajudá-la a descobrir os mistérios por trás de sua trajetória de vida.

O roteiro, assinado pelo próprio diretor, baseado em um Best-seller de S.J Watson, é muito competente e cumpre a missão de deixar lacunas abertas de propósito para que o público aos poucos vá se surpreendendo com o andamento da história. A competência cênica dos três ótimos atores é fabulosa e transforma um possível filme regular em um surpreendente longa-metragem de suspense. Como no pôquer, muitos personagens vão escondendo quem realmente são e as revelações feitas deixam o público intrigado com a trama. 

Com a onda de filmes indicados ao Oscar no line-up das distribuidoras aqui do Brasil, Antes de Dormir teve seu lançamento adiado (provavelmente, deve estrear dia 22 de janeiro) e pode cumprir muito bem um espaço deixado pelo circuito nesse começo de ano, bons filmes de suspense. Com pouco mais de 90 minutos de fita, Antes de Dormir cumpre o que se propõe: surpreender o público.
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Crítica do filme: 'O Jogo da Imitação'



Às vezes, as pessoas que menos esperamos podem faz as coisas mais inacreditáveis. Dirigido pelo desconhecido cineasta norueguês Morten Tyldum (do ótimo Headhunters), O Jogo da Imitação é uma grande aula de matemática com um profundo drama de pano de fundo que conta com atuações brilhantes, principalmente de Benedict Cumberbatch que deve concorrer ao seu primeiro Oscar este ano. O roteiro é detalhista, baseado na obra de Andrew Hodges (Alan Turing: The Enigma) e assinado pelo estreante em longas-metragens Graham Moore. 

Na trama, somos apresentados ao matemático Alan Turing (Benedict Cumberbatch), um gênio destemido e ao mesmo tempo um completo anti-social. Com a Inglaterra sofrendo sérios problemas por conta  da guerra, Turing se candidata a ajudar a inteligência britânica a decifrar um código indecifrável dos nazistas e vencer a guerra. Teorema de Euler, Álgebra linear, conhecimentos de eletrônica, Charadas, trivias, pegadinhas matemáticas, todos esses são elementos que Turing e sua equipe possuem para cumprir o objetivo.  O filme, fortíssimo candidato a uma indicação para o próximo Oscar, é modelado via Flashbacks em muitas fases da vida do personagem principal. 

Cérebro elétrico, computador digital, décadas atrás raríssimas pessoas conseguiam pensar sobre tudo isso, Alan Turing era uma dessas mentes brilhantes. Mas como todo gênio, possuía problemas na arte de se relacionar.  Talvez por isso, uma peça importante na história é Joan Clarke (interpretada pela sempre delicada e competente Keira Knightley), uma espécie de Oásis de Alan, uma amiga, esposa de mentirinha que ajuda o protagonista em suas diárias conturbações sociais. Enxergamos o filme sob a ótica de Joan também e toda a influência que teve sob o trabalho de Turing.

Em uma época hipócrita e de leis que não conseguimos entender até hoje, por ser homossexual, Alan é perseguido e colocado em chantagem a todo instante. Esse contexto praticamente preenche as lacunas do ato final desse grande filme. Alan Turing, considerado o pai do computador, ajudou os aliados a ganharem a guerra e merecia maior reconhecimento. Normandia, Stanlingrado, salvação de mais de 14 milhões de pessoas, todas essas e outras vitórias não seriam possíveis sem a ajuda de Turing e sua turma de decifradores ingleses. 

Quem diria que realmente o amor ajudou a acabar com a guerra? Essa inusitada questão é uma das chaves do trabalho mais brilhante que Alan Turing executou em sua curta vida. A guerra para ele e seus amigos não eram com armas e bombardeios, era com palavras cruzadas em uma pequena vila no sul da Inglaterra. O Jogo da Imitação não deixa de ser uma homenagem a um homem que dedicou sua vida respirando matemática e ao mesmo tempo escreveu seu nome com louvor na história da humanidade.
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13/01/2015

Crítica do filme: 'Birdman'



A vida não passa de uma sombra nômade para os que necessitam de algum gesto de reconhecimento. Estimado em U$$ 22 Milhões de Dólares, o novo e inovador projeto do cineasta mexicano Alejandro González Iñárritu é uma crítica à uma sociedade que necessita dos aplausos e deseja algum dia se tornar um viral da tecnologia. Em Birdman, somos apresentados a um ator, interpretado de maneira brilhante por Michael Keaton, que confunde amor com admiração e que se encontra em uma semi-realidade nada confiante. Nos bastidores de uma peça na Broadway o filme vai ganhando ritmo, tendo por base um roteiro inteligente e dinâmico. Vai papar muitos prêmios e deve premiar merecidamente Keaton com seu primeiro Oscar.

Na trama, conhecemos Riggan (Michael Keaton), um ator famoso nos 90 por interpretar um super-herói que agora, já em decadência, resolve montar uma peça teatral na Broadway em busca de recuperar prestígio e ter o talento reconhecido. O problema é que precisará combater os egos dos outros artistas, resolver problemas familiares e se livrar de uma voz estranha que conversa com ele a todo instante.

As complexas emoções por trás dos artistas que vivem para seu trabalho é muito bem caracterizada, elevando a fita.  As subtramas ganham espaço louvável sob as lentes de Iñárritu. A relação do personagem principal com sua filha é muito bem encaixada, conseguimos entender toda a profundidade e mágoas dessa relação. Emma Stone e Michael Keaton executam profundos e divertidos diálogos a todo instante.  O ótimo Edward Norton quase rouba a cena, com seu personagem explodindo em um complexo de emoções dentro e fora dos palcos, mas o filme é de Keaton.  

Com uma trilha sonora envolvente, assinada por Antonio Sanchez, o filme é moldado perfeitamente em torno do protagonista. Michael Keaton dá quase um show, exalando empatia a cada segundo, ele faz o espectador gargalhar, voa, e consegue uma interpretação que é uma das grandes de sua vasta carreira. Seu personagem cresce ao lado dos outros ótimos Edward Norton, Emma Stone, Naomi Watts e Zach Galifianakis, transformando Birdman em um filme bastante peculiar que merece ser visto por todo mundo que ama cinema.

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08/01/2015

Crítica do filme: 'Invencível'



Estimado em U$$ 65 Milhões, o novo projeto, da agora atriz e diretora Angelina Jolie é equivalente a uma novela mexicana: Dramalhões, cenas forçadas, atuações longe da perfeição e uma direção que tenta maquiar cinematografic amente qualquer falha de um roteiro bem fraco. Invencível é um enlatado norte-americano que tenta criar um herói, uma espécie de soldado super atleta e patriota que não respinga um pingo de simpatia nos longos minutos de filme. 

O roteiro não é muito atraente (uma grande decepção pois foi escrito pelos irmãos Coen), a ideia dos flashbacks foi muito mal executada porque não consegue chegar no clímax de nenhum dos momentos vividos pelo sofrido protagonista, principalmente na época que começou sua carreira de atleta. Louis Zamperini é interpretado por Jack O'Connell, um ator que está longe de seu melhor momento, pelo menos nesse filme., o que atrapalha ainda mais no processo de interação do filme com o espectador, falta empatia. Domhnall Gleeson acaba sendo o grande ator do filme, com seu personagem de fala mansa e suas tiradas em meio aos dramáticos momentos que acompanha a história de seu personagem, Phil. Quando Phil, some do filme em determinada parte, os cinéfilos vão pedir pelo amor de Deus que ele retorne na cena seguinte urgente!

A parte mais interessante do filme acaba se tornando, um pouco forçadamente, quando Louis é preso no campo de concentração japonês Omori. Lutando contra um comandante japonês bem cruel, a esperança passa a ser uma ilusão perdida dentro dos pensamentos do protagonista. Mas mesmo nessas sequências, muitas cenas são forçadas. Parece que tentaram dar uma dramatização deveras forçada para cada ato de bravura que o personagem principal executava, fora a mal encaixada trilha sonora que percorre os incontáveis 137 minutos de fita.

Invencível estreia nesse mês de janeiro nas salas brasileiras e por conta de quem assina a direção do filme, deve gerar uma leve curiosidade dos amantes da sétima arte. Para vocês, corajosos cinéfilos que vão se aventurar a assistir a esse filme preparem-se para cenas dramáticas que não vão refletir em nenhum tipo de emoção. Como dizia Napoleão Bonaparte: “A bravura provém do sangue, a coragem provém do pensamento.” Falta coragem ao filme.

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Crítica do filme: 'Whiplash – Em Busca da Perfeição'



O preço da perfeição é a prática constante. Escrito e dirigido pelo cineasta, de apenas 29 anos, Damien Chazelle, Whiplash – Em Busca da Perfeição é o tipo de filme que vai levar o espectador a um grande sorriso assim que os créditos começarem a subir.  Eletrizante, emocionante, magnífico, espetacular. Impossível você sair da sala de cinema e não estar arrepiado com tamanha força que essa história possui, e, pra completar essa busca pela perfeição, o filme conta com a grande interpretação de um ator no ano passado: J.K. Simmons está simplesmente espetacular!

Na trama, acompanhamos o jovem músico Andrew (Miles Teller), um garoto talentoso que estuda na escola de música mais prestigiada dos Estados Unidos. O protagonista é um prodígio da bateria e não pensa em outra coisa a não ser estudar e aperfeiçoar todos seus movimentos. Certo dia, durante uma seleção surpresa para a principal banda de Jazz da escola em que estuda, Andrew é recrutado pelo temido professor Fletcher (J.K. Simmons) e assim começa uma trajetória de dor, sofrimento, dedicação, esforço e amor pela música. 

No compasso do jazz, nas batidas da emoção, o filme vai mergulhando na estrada árdua do perfeccionismo. Os calos nas mãos, abdicação de possíveis grandes amores, uma quase eminente ruptura com a família, a estrada que caminha Andrew se desconstrói para poder se reconstruir. Whiplash – Em Busca da Perfeição não deixa de ser uma saga em que podemos fazer um paralelo às pressões impostas pela sociedade em busca dos melhores. A mistura de imaturidade e foco demasiado é o grande trunfo do roteiro para deixar o seu personagem principal cada vez mais real, e também se soma a uma ótima atuação de Miles Teller.

Mas, Whiplash – Em Busca da Perfeição não seria o mesmo filme senão fosse a presença de um personagem forte, impactante, que mexesse demais com o espectador a cada nova sequência. O professor Fletcher é um anti-herói, um obsessivo pelo perfeccionismo que transforma a vida de todos seus alunos em uma verdade batalha entre a competência e a limitação. A interpretação iluminada de J.K. Simmons é algo magnífico, poucas vezes vistas nos últimos anos nos filmes norte-americanos. Esse grande ator de 65 anos encontrou o personagem de sua vida, aquele que cada ator sonha em encontrar e raramente encontra. Merece todos os prêmios que o cinema pode entregar.

Whiplash – Em Busca da Perfeição estreia nesta quinta-feira, 08 de janeiro, nos cinemas brasileiros. Uma grande oportunidade para você conferir um dos melhores longas-metragens do ano. Esse é um daqueles filmes inesquecíveis, podem ter certeza disso.
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