12/02/2017

Crítica do filme: 'Fome de Poder'



Há riqueza bastante no mundo para as necessidades do homem, mas não para a sua ambição. Um dos filmes mais polêmicos desse ano de 2017, Fome de Poder, explora a história da criação de uma das marcas mais famosas do mundo, o Mc Donald’s. Dirigido pelo bom cineasta texano John Lee Hancock (Um Sonho Possível), o filme apresenta argumentos sólidos, mostrando todo o início da empresa pelos olhos do ambicioso Ray Kroc. Na condução do protagonista, Michael Keaton usa e abusa de sua experiência para conseguir empatia com o público.

Na trama, conhecemos o vendedor de máquinas de Milk Shake, Ray Kroc (Michael Keaton), um desiludido ser humano que busca há mais de 50 anos uma grande oportunidade empreendedora.  Certo dia, após receber uma ligação de seu escritório, dirige rumo à rota 66 e encontra um empreendimento fabuloso do ramo alimentar, principalmente em sua ágil linha de produção, criado pelos irmãos Dic (Nick Offerman) e Mac (John Carroll Lynch) Donald’s. Assim, resolve estreitar laços com os irmãos e vira um franqueado da rede de sanduíches. Mas com sua ambição batendo toda hora em sua consciência, Ray resolve ter como objetivo de vida aumentar a rede para mais franqueados e com o passar do tempo um Mc Donalds era inaugurado a todo instante em todo os Estados Unidos.

O filme passa por todas as fases do início do Mc Donald’s, avançando sobre sua linha de produção e rapidez inovadora para época, onde hambúrgueres eram vendidos à incríveis 35 centavos de dólares. Os irmãos Donald’s eram conservadores em relação a muitas inovações exatamente para não se perder a qualidade no produto que criaram. Já Ray, autodenominado o Fundador, pensava diferente em alguns pontos e queria adicionar algumas inovações mais rentáveis para seus franqueados. Essa parte do filme, o marketing e administração por trás do grande negócio é o ponto alto da história, até sua conclusão com a expulsão dos verdadeiros criadores de toda a ideia Mc Donald’s.

O filme muito se assemelha com A Rede Social (o filme sobre a criação do Facebook dirigido por David Fincher) em muitos sentidos. Parece que para a criação de uma empresa com sucesso espetacular em seu meio você precisa se impor como um lobo e sem se importar com consequências. Ray Kroc era a cara da ambição e o roteiro escrito por Robert D. Siegel (O Lutador) deixa bem claro todas as facetas desse grande empreendedor mas talvez nem tão grande homem. O seu relacionamento frio com sua esposa Ethel, interpretada pela sempre ótima Laura Dern, é completamente abalado quando os negócios como franqueado do Mc Donald’s começa a decolar e até um novo amor surge sem dó nem piedade. Kroc é impiedoso, um vilão meticuloso que abre suas verdadeiras facetas conforme é atacado. Destrói sonhos dos outros para alcançar status e sucesso. Keaton, na pele desse conturbado Kroc, demonstra mais uma vez sua qualidade como ator.

Fome de Poder teve seu lançamento adiado tentando buscar alguma vaguinha no Oscar (fato que não se concretizou). O longa estreia em março aqui no circuito brasileiro e deve criar uma grande curiosidade no público para conhecer a verdadeira história por trás do sucesso da maior rede de fast food do mundo.

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29/01/2017

Crítica do filme: 'Jackie'

O recomeçar é doloroso. Faz-se necessário investigar novas verdades, adequar novos valores e conceitos. Não cabe reconstruir duas vezes a mesma vida numa só existência. Filme de estreia do excelente cineasta chileno Pablo Larraín (O Clube, Neruda, Tony Manero, No) em Hollywood, Jackie mostra a visão de da ex-primeira dama dos Estados Unidos Jacqueline Kennedy sobre a tragédia que aconteceu com seu marido, o ex-presidente John F. Kennedy. O roteiro, assinado por Noah Oppenheim (A Série Divergente: Convergente), é bem detalhista sobre os fatos apresentados e mostra uma Jackie repleta de indecisões logo após o falecimento de seu amado marido. No papel principal, Natalie Portman, em uma atuação irretocável e sensível, indicada ao Oscar de Melhor Atriz esse ano.

Na trama, ambientada em novembro de 1963, acompanha a ex-primeira dama dos Estados Unidos Jacqueline Kennedy (Natalie Portman) dias após a tragédia que o país mais poderoso do mundo nunca esquecera, a morte do 35° presidente dos Estados Unidos John F. Kennedy durante uma carreata presidencial em Dallas, no Texas. Acompanhamos em detalhes toda a dor e o sofrimento de Jackie e o desenrolar intenso logo após a morte de seu companheiro. Bobby Kennedy (Peter Sarsgaard, em ótima atuação), irmão do ex-presidente, tem papel importante nessa história com diálogos intensos com a ex-primeira dama.

Esses dias após o luto são narrados de maneira muito intensa, e, assim vamos construindo um interessante quebra cabeça sobre os pensamentos e personalidade de Jacqueline Kennedy. Seus intensos diálogos com um padre -confissões de pensamentos constantes – sua relação carinhosa com uma das assessoras da Casa Branca Nancy Tuckerman (interpretado pelo irreconhecível Greta Gerwig) que vira seu porto seguro em exposição com a mídia mostrado com detalhes na apresentação da Casa Branca para um programa de televisão, sua revolta na hora de tomar fortes decisões para se despedir do marido já que Jackie queria um enterro emblemático mas os Estados Unidos estava com receio de novos ataques. Bobby Kennedy também muito afetado pela tragédia tenta sempre ser um porto seguro para a cunhada e os sobrinhos se mantendo a frente das decisões políticas já com o novo presidente Lyndon B Johnson e assessores em exercício.


O filme tem um ritmo deveras lento, ganha mais com a força de seus personagens. Flashbacks curtos ganham contornos explicativos que rodam uma entrevista que um jornalista, interpretado pelo ator Billy Crudup faz com Jackie, já afastada da loucura de Washington, dias após a tragédia. Para quem quer saber mais sobre a história pessoal que cercou um dos presidentes mais famosos do planeta, Jackie é uma visão diferente sobre alguns fatos sempre apresentados. Um filme corajoso e com belíssimas interpretações. 
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Crítica do filme: 'Aliados'

Não há progresso se este não surgir através das dúvidas. Depois de diversos trabalhos impactantes na indústria cinematográfica mundial, como Forrest Gump, a trilogia De Volta para o Futuro, O Náufrago e tantos outros, o cineasta norte americano Robert Zemeckis volta às telonas em 2017 para mostrar uma trama repleta de referências a filmes antigos de espionagem onde o amor transborda e as escolhas viram conseqüências angustiantes. Aliados, protagonizado pelos excelentes atores Brad Pitt e Marion Cotillard é uma trama repleta de ação e suspense com revelações que se transformam em grandes reviravoltas ao longo dos intensos 124 minutos de projeção.

Na trama, ambientada no começa da década de 40, conhecemos o tenente coronel franco canadense Max Vatan (Brad Pitt), um espião em tempos de guerra que recebe uma missão em Casablanca, no Marrocos. Durante essa missão, que quase termina em tragédia para seu lado, conhece a bela e misteriosa agente francesa Marianne Beausejour (Marion Cotillard). Após conseguirem sair vivos da missão, ambos se apaixonam perdidamente e resolvem se casar e construir uma família. O problema maior dos pombinhos é que tempos mais tarde, Max é alertado por altas patentes do lado que luta que a esposa na verdade é uma espiã nazista que rouba essa identidade tempos atrás. Sem saber em quem acreditar e duvidando de tudo e todos, Max parte em uma missão pessoal que é descobrir a verdade sobre sua esposa.

Indicado ao Oscar, apenas na categoria de Melhor Figurino, o filme não deixa de ser uma pequena homenagem para o público que curte os filmes de espionagem. O roteiro, assinado pelo britânico Steven Knight (dos ótimos Locke e Senhores do Crime), é bem detalhista, tem grandes cenas de ação, uma espécie de clima noir no ar e muito suspense, estampado praticamente durante toda a fita pelas ações e descobertas dos personagens. É o típico filme que temos que esperar até a última cena para descobrir como montar as peças que faltam no tabuleiro.

A parte do romantismo e da descoberta do amor, lembra muito alguns filmes antigos na época dos lendários cineastas Michael Curtiz, Irving Rapper e tantos outros. Sempre com traumas e amores quase impossíveis ou muitas vezes sem aquele grande final feliz que todos esperam. O filme ganha contornos eletrizantes nos arcos finais, onde vira uma grande busca pessoal do protagonista para saber, na verdade, se tudo aquilo que viveu, sentiu com sua esposa era real ou fazia parte de um grande plano manipulador por conta dos objetivos da guerra, acima de tudo.


Aliados tem muitos méritos, não é um filme inesquecível mas é um filme para ser visto. Robert Zemeckis é um dos diretores mais acima da média em atividade, merece sempre a conferida dos cinéfilos. 
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28/01/2017

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Crítica do filme: 'O Ídolo'

A confiança em si mesmo é o primeiro segredo do sucesso. Depois de brindar os cinéfilos com excelentes filmes como Omar (2013) e Paradise Now (2005), o cineasta israelense Hany Abu-Assad volta às telonas dessa vez para contar uma história baseada em fatos reais repleta de sofrimento e chances de alcançar o tão sonhado sucesso. O Ídolo é um filme repleto de críticas sociais, principalmente sobre a região onde se passa Gaza na Palestina.

Na trama, conhecemos o jovem Mohammed Assaf que curte os dias na cidade de Gaza, na Palestina, onde vive com sua família. Alegre e repleto de amigos que sempre se envolveram com músicas, passa por um grande abismo quando perde precocemente sua única irmã para uma doença terrível. Assim, ele cresce e seus sonhos ficam mais distantes e a realidade que vive o vai sugando. Até que um dia resolve voltar a buscar a música como inspiração e se candidata ao Arab Idol (o American Idol Árabe) no ano de 2013 buscando seu tão sonhado sucesso e reconhecimento.

Um dos grandes méritos de Hany Abu-Assad nesse filme, que também assina o roteiro, é consegue preencher muito bem, em seus longos arcos, todas as lacunas sobre a personalidade desse futuro grande cantor. Num primeiro momento vemos o dia a dia do protagonista em sua primeira fase, a descoberta da música e a importância que tem sua família e amigos em seu cotidiano. Já no médio arco, vemos uma outra fase, aquela do sonho que lutando contra muitos consegue a oportunidade de realizá-lo.  

As críticas sociais, chegam em forma de obstáculos para o protagonista. Quando resolve fugir de Gaza para poder participar da eliminatória do programa (sem saber se poderia voltar para casa), a questão da religião também ganha contornos, nesse caso só na superfície, no papel do amigo que cresceu e virou assíduo quase atrapalhando a trajetória de sucesso do cantor. A paisagem destruída pela guerra também ganham contornos interessantes pelas lentes de Hany Abu-Assad, como na parte do Parkour entre os escombros que com certeza despertou em Mohammed Assaf a variável que faltava para acreditar em seu sonho e não desistir.


Com uma entrada bem discreta no circuito exibidor brasileiro nessa última semana, por conta da quantidade dos filmes indicados ao Oscar que já se encontram em circuito, O Ídolo é um filme reflexivo que faz a gente nunca deixar de acreditar em nossos sonhos, não importando os obstáculos.
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Crítica do filme: 'Manchester à Beira-Mar'

Só nos curamos de um sofrimento depois de o haver suportado até ao fim. Após alguns anos de hiato desde seu último filme, o cineasta nova iorquino Kenneth Lonergan (Conta Comigo) volta às telonas roteirizando e dirigindo um filme pra lá de triste que passa um angustia arrepiante sempre na ótica melancólica de seu protagonista. Manchester à Beira-Mar indicado a seis prêmios do Oscar, é uma história profunda repleta de buscas e dor, com flashbacks impactantes que muito nos mostram nas mudanças da vida de um homem que luta contra uma terrível tragédia em seu passado. Atuações marcantes são vistas, Casey Affleck e Michelle Williams elevam a qualidade da fita e o desconhecido Lucas Hedges cumpre com louvor seu importante papel na história.

Na trama, conhecemos Lee Chandler (Casey Affleck) um homem solitário que vive em um minúsculo quarto na cidade de Boston e sobrevive sendo uma espécie de faz tudo para alguns condomínios próximos a onde mora. Certo dia, seu passado bate em sua porta com a terrível notícia de que seu único irmão Joe (Kyle Chandler) acabara de falecera. Imediatamente, Lee precisa voltar a cidade onde morou durante anos, muito por conta de único sobrinho Patrick (Lucas Hedges), mas precisará enfrentar terríveis dores de seu passado.

Manchester à Beira-Mar é um longa metragem cirúrgico na modelagem de seus dramas. Há subtramas importantes que são exploradas aos poucos como a distante relação da ex-cunhada do protagonista com o filho. Quando descobrimos o que aconteceu com o protagonista, começamos a entender seu jeito caladão e distante que o acompanha em toda a trama. Os flashbacks, nos arcos iniciais um pouco jogados no roteiro, são parte importante do quebra cabeça que se monta, começamos a entender melhor o porquê daquela personalidade, perguntas do tipo: ‘Será que ele foi sempre assim?’ e ‘O que houve com esse personagem?’ são rapidamente respondidas, fator que nos faz sofrer junto com o personagem.

O filme fala também sobre as inúmeras tentativas que temos de recomeçar, mesmo quando quase tudo parece conspirar contra. A chance que Lee tem em tentar criar o filho de seu irmão, sendo seu tutor, é algo importante para ambos. Nesse desenrolar o roteiro segue frio e seco, e entre seus traumas (visão do protagonista), principalmente o confronto que acontece com sua ex-mulher Randi (Michelle Williams), após ser atualizado de como ela conseguiu de alguma forma seguir em frente é uma das cenas mais bonitas dos últimos anos, arrepia e emoção a flor da pele em cada segundo do emocionante diálogo.


Manchester à Beira-Mar não é um filme para corações fracos. A dor e a conseqüência andam lado a lado, assim como a emoção que sempre transborda no bom filme. Todo o elenco se doa ao máximo para que vejamos um excelente trabalho na telona.
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22/01/2017

Crítica do filme: 'Estrelas Além do Tempo'

A força sem inteligência é como o movimento sem direção. Baseado no livro Hidden Figures, de Margot Lee Shetterly, Estrelas Além do Tempo fala sobre o preconceito na época da corrida espacial, com o foco em três grandes mulheres negras que ajudaram a mudar o rumo das descobertas norte americanas nesse período. Com ótimas atuações e uma trilha sonora assinada pelo craque Pharrell Williams, o longa-metragem dirigido pelo cineasta Theodore Melfi (Um Santo Vizinho) é um daqueles belos filmes, nessa época corrida de muitos lançamentos de prováveis indicados ao Oscar, que você não pode perder.

Na trama, conhecemos três mulheres fortes e determinadas que trabalham em um departamento específico de matemática dentro da toda poderosa Nasa. A matemática brilhante e mãe de três filhas Katherine G. Johnson (Taraji P. Henson, em mais uma bela atuação), a engenheira e dona de duas graduações na área das exatas Mary Jackson (Janelle Monáe) e a primeira supervisora mulher e negra da história da Nasa Dorothy Vaughan (Octavia Spencer, em mais um grande trabalho no cinema). Cada uma na sua área de atuação mas todas dentro do mesmo departamento, com um foco maior em  Katherine, vamos descobrindo ao longo dos 127 minutos de projeção todo o preconceito e obstáculos que as jovens precisam enfrentar para poder ajudar seu país em uma importante disputa com a Rússia no domínio das navegações espaciais.

O filme começa com um belo arco inicial, focando no cotidiano profissional das três amigas e toda a luta para conquistarem seus reconhecimentos. Tendo que viver com uma segregação racial absurda, onde até os banheiros e refeitórios da Nasa eram divididos pela cor das pessoas, as três brilhantes em suas carreiras profissionais precisam ser valentes e lutarem por seus merecidos direitos a todo instante. O filme retrata bem essa época e faz uma grande reflexão também com os dias atuais e a merecida valorização da mulher no mercado de trabalho.  A matemática é o alfabeto com o qual Deus escreveu o universo, as leis dos senos e cossenos, além de diversas fórmulas complexas, ajudam as três protagonistas a encontrem seu espaço em um planeta que sofre até hoje com atitudes preconceituosas.

A física é a poesia da natureza. A matemática, o idioma. Já no segundo arco, o filme ganha contornos matemáticos profundos, com introdução de uma das personagens a famosa linguagem de programação Fortran (já que uma das jovens precisa entender a programar um enorme computador da ainda pouco conhecida, naquela época, IBM), tentativas de cálculos para levar um norte americano a dar sete voltas completas pela órbita da Terra. Também, nesse segundo arco, um embate jurídico para conseguir freqüentar uma faculdade que só entravam brancos por uma das jovens que sonhava em ser engenheira contratada da Nasa.


A história é muito bem contada, tem a força de sua leveza com os arranjos cinematográficos que ficam encaixados matematicamente perfeitos no grande carisma que as personagens possuem.  Estrelas Além do Tempo estreia na primeira quinta-feira de fevereiro nos cinemas brasileiros e você não pode deixar de conferir esse belo filme. 
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21/01/2017

Crítica do filme: 'Até o Último Homem'

Sem medo não há coragem. Indicado ao SAG, Globo de Ouro, Bafta e provavelmente ao próximo Oscar, o novo longa metragem do ator e diretor Mel Gibson (que não dirigia um filme há dez anos, Apocalypto (2006)) é baseado em uma história real e conta a saga de um jovem que segue firmemente em seus princípios e sua fé em um ambiente hostil dentro de um dos campos de batalha mais sangrentos na história do mundo.  Na pele do protagonista, o ex-Spider Man Andrew Garfield cumpre muito bem seu papel, o roteiro que deixa um pouco a desejar mesmo a direção sendo espetacular.

Na trama, ambientada na década de 40, conhecemos o carismático Desmond Doss (Andrew Garfield), um jovem que fora criado no interior dos Estados Unidos junto com seu irmão Hal, sua mãe e seu conturbado pai. Após apaixonar-se por uma linda enfermeira chamada Dorothy Schutte (Teresa Palmer), Desmond resolve se alistar no exército norte americano para lutar na segunda guerra mundial por achar que é seu dever. Cheio de princípios e invocando leis que poucas pessoas conheciam ele quer se manter no exército mas sem tocar em nenhuma arma, fazendo parte do corpo de médicos para ajudar nas batalhas quando preciso. Isso causa uma grande confusão com seus superiores, o Capitão Glover (Sam Worthington) e Sargento Howell (Vince Vaughn) que fazem de tudo para ele desistir. Só que a fé é gigante para esse jovem e mesmo indo a corte marcial consegue os direitos de ir pro campo de batalha totalmente desarmado e assim irá enfrentar os horrores da guerra tentando mostrar seu valor.

Andrew Garfield encaixou bem no papel do protagonista e seus coadjuvantes nos campos de batalha cumprem com louvor suas missões. Falta para a construção completa do personagem, um pouco mais de profundidade nos laços iniciais que possui com sua família, seu irmão Hal é completamente esquecido da trama fator que é estranho já que Desmond quer entrar no exército também por causa do irmão.  A sua fé é bastante explorada, com algumas cenas forçadas (é verdade) mas com muito simbolismo de algo que representa o alicerce dos seus princípios.

Logo que começa o filme, nós sabemos que será um projeto hollywoodiano em todos os sentidos. A busca constante pelos clichês, principalmente nos arcos iniciais, logo na construção do personagem principal deixa o filme com cara de enlatado norte americano. Do terceiro arco em diante, a produção parece que consegue uma certa liberdade para focar nos pontos mais interessantes dessa curiosa história. Mesmo com a construção inicial repleta de ‘momentos hollywood’, o filme cresce estrondosamente do meio para frente. Mel Gibson em todo o momento mantém suas ótica de forma exemplar, tenta mostrar ao público tanto emoções quanto situações, detalhes, que são importantes para nosso entendimento e envolvimento com a trama. É um belo trabalho de Mel na direção, mesmo o roteiro ajudando em somente partes da história.

Até o Último Homem estreia semana que vem no circuito brasileiro. Não é o melhor filme sobre guerra já feito, longe disso, mas quem curte filmes do gênero pode gostar.


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20/01/2017

Crítica do filme: 'A Garota do Trem'

O mistério do amor é maior que o mistério da morte. Baseado no livro homônimo, de Paula Hawkins, best-seller do jornal The New York Times, A Garota do Trem é uma trama esquisita onde nada é o que parece e o que parece também não é nada demais. Tudo é muito confuso na história dirigida pelo ator e diretor Tate Taylor (Histórias Cruzadas). A protagonista não possui a força e carisma necessários para prender nossa atenção nos sonolentos 100 minutos de projeção. Como filme, realmente não deu certo.

Na trama, conhecemos a desequilibrada Rachel (Emily Blunt) que tenta seguir em frente em sua vida mesmo tendo um vício constante por álcool e ter sida abandonada pelo ex-marido. Assim, escondendo da amiga que divide apartamento que perdeu seu emprego, passa seus dias andando de um lado para o outro de trem desenhando e criando em sua imaginação histórias para seus reais personagens. Até que certo dia acaba se envolvendo como testemunha de um terrível crime que aconteceu, por grande coincidência no bairro onde seu ex-marido mora com a nova esposa e o filho recém nascido.

O grave problema dessa produção é a falta de lacunas preenchidas para a composição de sua protagonista. Completamente fora do controle (ritmo desnecessariamente acelerado) , com várias passagens vagas e diálogos sem força na história, a personagem principal é mais confusa que o atual meio campo do time do São Paulo.  O filme fica navegando nas águas do mistério mas na verdade é um grande drama existencial mas sem possibilidades de nos conectarmos com seu enredo. Emily Blunt até se esforça em tentar compor a personagem mas chega no meio do caminho e parece mais perdida do que nós que assistimos o filme.


A Garota no Trem estreou no Brasil no fim do ano passado, é o típico produto enlatado hollywoodiano adaptado de um Best Seller que na hora de virar filme acaba se enchendo de elementos com recheios de clichês. O livro deve ser bem melhor!
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Crítica do filme: 'Toni Erdmann'

Sábio é o pai que conhece o seu próprio filho. Depois de um hiato de sete anos na direção de um longa-metragem, a cineasta alemã Maren Ade volta à telona em grande estilo com a hilária e doce dramédia Toni Erdmann. Contando a história de um pai cheio de impulsos cômicos na busca constante pela atenção de sua sisuda filha, o projeto, indicado a muitos prêmios internacionais e um dos favoritos para ganhar o próximo Oscar de Melhor filme Estrangeiro é um daqueles filmes imensos (2 horas e 40 de projeção) mas que não desejamos que acabe nunca, sempre à espera da próxima gracinha que Toni Erdmann vai aprontar.

Na trama, acompanhamos a árdua saga de Winfried Conradi (Peter Simonischek), um dedicado pai que muito se entristece com o distanciamento na relação com sua única filha Ines (Sandra Hüller), essa última, uma jovem em ascensão na empresa onde trabalha o que a transforma em uma Workholic sem limites. O problema é que Ines trabalha demais e pouco tempo de sua agenda é dedicada à sua família. Quando o o cachorrinho de Winfried morre, ele decide encarar o desafio de ter mais atenção de sua filha e para isso, entre outras coisas, viaja para vê-la quando ela está a trabalho e desenvolve um personagem, um Alter ego de nome Toni Erdmann. Não é preciso nem dizer as inúmeras e hilárias que esses dois vão se meter ao longo desse complexo processo de melhoramento na relação pai e filha.

Escolhido o Melhor Filme Estrangeiro de 2016 pelos críticos de Nova York, um dos sinais de sua provável indicação ao próximo Oscar, Toni Erdmann navega pelo humor para mostrar o cotidiano de um relacionamento conturbado entre pai e filha. De personalidades completamente diferentes, os dois embarcam em uma jornada basicamente de auto descoberta. Aos poucos, após uma quantidade absurda de insistência, Ines vai conseguindo se reconectar com seu pai, o que provoca uma cena de desfecho para lá de emblemática. Mesmo tendo quase três horas de duração o que dificulta sua entrada no circuito de cinema brasileiros, talvez um dos pontos para nenhuma distribuidora ter ainda comprado os direitos no filme no Brasil, o filme é uma delícia de assistir e essas horas passam voando.

 O foco no primeiro arco é a personalidade forte de Ines em paralelo as trapalhadas e atos incompreendidos de Winfried. Tudo começa a fazer mais sentido, praticamente a virada na trama, quando chega o Sr. Toni Erdmann, com sua peruca para lá de chamativa e dentes falsos para lá de explícitos. Esse Alter Ego transforma demais a visão de Ines sobre a personalidade cativante de seu pai. Assim, o longa-metragem cresce demais em emoção, o inusitado começa a ter sentido e fica num tom cômico na medida conforme as antes constrangedoras agora com sentido situações. Toni Erdmann, rouba a cena, transforma o mais difícil dos conflitos paternos em uma aula de amor e afeto.


O filme, que não tem previsão de estrear no Brasil, ainda é forte concorrente a alguns prêmios esse ano. Merece todos os prêmios, da direção ao roteiro e atuações, a produção joga por música, mexe com nossas emoções e transforma esse filme de quase três horas em algo obrigatório para todos que amam o bom cinema. Bravo!
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