Em seu sexto longa metragem,
Carlos Gerbase mistura drama psicológico com suspense e erotismo na trama de
“Menos que Nada”, estrelado por Felipe kannenberg, Rosane Mulholland e Branca
Messina. De forma não-dogmática, o diretor e roteirista apresenta uma discussão
sobre o sistema manicomial brasileiro e a relação médico e paciente, além de
abordar temas como a arqueologia e a psicanálise.
O filme foi exibido no Marché du Film, no último Festival de Cannes, e
teve lançamento nacional transmídia (cinema, internet, DVD e TV). “Menos que
Nada” é a primeira obra produzida pela Prana Filmes e pode ser visto até o dia
2 de setembro no SundayTV ( ). Em entrevista
exclusiva por e-mail, Gerbase conta um pouco mais sobre a produção do longa e a
sua visão do mercado cinematográfico no Brasil.
Como nasceu a ideia
de fazer o filme "Menos que Nada"?
O roteiro nasceu da leitura, em
2004, do conto "O diário de Redegonda", de Artur Schnitzler, que é um
escritor austríaco contemporâneo de Freud. Gostei do drama do protagonista, que
enlouquece (ou pelo menos começa a ter uma vida paralela que só existe em sua
imaginação) depois de se apaixonar por uma mulher impossível. Essa relação
entre amor e vida mental sempre me interessou. O projeto se tornou realidade
graças à seleção no edital de Mídias Digitais do Programa Petrobrás Cultural,
edição 2009.
Por que optaram pelo
lançamento transmídia?
O lançamento trasmídia é resultado dos bons resultados
obtidos com o "3 Efes", também dirigido por mim, em 2007. Foram os
mesmos veículos e a mesma lógica de circulação.
Como foi a escolha do
elenco? Houve algum teste específico ou os nomes surgiram de indicações?
Nem testes, nem indicações. Eu já
conhecia e tinha trabalhado com três dos atores gaúchos (Carla Cassapo,
Alexandre Vargas e Artur Pinto em "3 Efes") e conhecia o Roberto
Oliveira de alguns curtas e de sua participação em "Cão sem dono". A
Rosanne Mulholland, a Maria Manoella e a Branca Messina, a quem eu não conhecia
pessoalmente, despertaram minha atenção nos seguintes trabalhos: Rosanne no
filme "A concepção"; Maria Manoella na série "Mandrake";
Branca Messina no filme "Não por acaso". Entrei em contato, mandei o
roteiro, e elas toparam. Já o Felipe Kannenberg era uma ideia antiga
aproveitá-lo, já que é gaúcho e tinha experiência com cinema no centro do país.
Além disso, tinha um tipo físico perfeito para o papel.
Como surgiu seu amor
pelo cinema?
Não amo o cinema. Não mais do que a literatura, ou a música.
Às vezes me sinto como o personagem Cordélia, a filha mais jovem do Rei Lear.
As suas irmãs mais velhas dizem que amam seu pai acima de todas as coisas, mas
elas estão só fingindo para ficar com uma boa herança. A linguagem do cinema é
muito legal, mas eu a uso para contar histórias e fazer filmes, assim como eu
uso a linguagem da literatura para escrever contos e romances. Ou como usava a
música quando estava nos Replicantes. Cinema às vezes cansa. É difícil depender
tanto de dinheiro e de burocracia. Talvez em outros países a vida de cineasta
seja mais tranquila. Aqui no Brasil, em que cada filme parece ser o primeiro da
carreira, tem muita angústia no processo de financiamento e de distribuição.
Escrever roteiro e filmar é muito legal, mas o processo todo é desgastante.
Quais são os seus
filmes e artistas favoritos?
É claro que tenho meus filmes e
artistas favoritos. Citarei apenas dois filmes e seus diretores, bem
contrastantes: "Vidas secas", de Nelson Pereira dos Santos, e
"De olhos bem fechados", de Stanley Kubrick.
Ainda é muito difícil conseguir dinheiro (incentivo/patrocínio) para
rodar um longa metragem no Brasil?
Sim. É muito difícil. Hoje, o
cinema independente depende de editais do governo. Basta ver a quantidade de
projetos inscritos no último concurso do MINC. Fazer um filme é mais difícil
que passar no vestibular de Medicina numa boa universidade pública. São menos
vagas, e a concorrência é dura. Além disso, o vestibular tem critérios mais
objetivos para selecionar.
O que é cinema para
você?
Um veículo para contar histórias. O Umberto Eco tem uma
definição que eu gosto muito: o cinema é a mais poderosa máquina de contar
mentiras que a humanidade já inventou. É claro que contar mentiras é a única
maneira de falar sobre as verdades do mundo através da ficção.
Quais são os seus próximos projetos?
Quero fazer uma série de TV
baseada nos personagens de meu romance “Todos morrem no fim". Tudo gira em
torno de um inspetor de polícia gordo, sujo e meio amoral, mas que sabe botar
na cadeia os bandidos de verdade. Tenho visto algumas séries de TV
norte-americanas que são muito melhores que a maioria dos filmes de Hollywood.
Só para citar algumas: "Roma", "Mad men" e "Breaking
bad".
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Prestigiem o cinema brasileiro. Tanto
filmes pequenos e independentes como grandes produções falam de nosso país e de
nossa cultura.
Por Raphael Camacho e Letícia Alasse