Como contar uma história de amor em forma de poesia? O
cineasta carioca Bruno Barreto (Última Parada 174) teve a difícil
missão de mostrar na tela grande um amor – polêmico para a época – entre duas
fortes e diferentes mulheres. Flores Raras é uma história de outro
tempo, onde todas as emoções viravam poesia. As atrizes principais, em seus respectivos
papéis, dão um show em cena, valorizando cada segundo do bom trabalho de
Barreto atrás das câmeras.
Com um roteiro de Carolina Kotscho (Quebrando o Tabu) e
Matthew Chapman (A Tentação), o longa mostra a conturbada e emocionante história
que caminha a passos curtos rumo a um triângulo amoroso entre uma poetisa tímida
e inteligente norte-americana (Elisabeth Bishop), uma arquiteta brasileira de
prestígio (Lota) casada com uma norte-americana radicada no Rio de Janeiro. Essa
relação contém amor, carinho, compaixão e loucura, levando os personagens reais
a um desfecho repleto de melancolia.
Dissolvendo a dor em doses de álcool, Elisabeth Bishop é
interpretada pela excelente atriz australiana Miranda Otto (Guerra
dos Mundos, 2005). A serenidade da artista estrangeira chama a atenção.
Consegue com peculiar leveza desenvolver sua personagem. A depressiva poetisa e
sua busca pelo amor ganham vida na bela interpretação da artista australiana. Seus
problemas com o alcoolismo começam a afetar sua relação com Lota (Glória) e
isso as leva para o fundo do poço.
Glória Pires (É Proibido Fumar, 2009), em sua
melhor performance no cinema, interpreta a corajosa Lota de Macedo Soares. Um
primoroso trabalho de doação carnal e emocional da veterana atriz de novelas.
Não seria um absurdo dizer que tanto Glória, quanto Miranda tem reais chances
de uma indicação ao Oscar de Melhor atriz coadjuvante e Melhor atriz,
respectivamente, no ano que vem.
A mudança cultural é muito bem apresentada no filme. Bishop
chega a uma terra nova, cheia de novidades e perigos. Não espera se apaixonar
mas acaba caindo em tentação quando vê seus sentimentos correspondidos. Desse
amor surge livro, histórias, vícios e muita dor. Sua relação com Lota nunca foi
bem estabelecida por conta disso há um descontrole eminente escondido em cada
verso dessa poética história.
Por conta da intensidade desenfreada da relação apresentada,
a trama acaba se arrastando em seu desfecho. Há um descontrole do roteiro para
as definições dos desfechos de cada personagem. Fato negativo do projeto. Uma
história de amor intensa, repleta de felicidade e aflições precisava ter tido um
carinho maior com o seu encerramento. Mas nada disso supera as outras dezenas
de qualidades que o filme possui.
Quando a espera da melhoria num relacionamento é
insuportável, o ser humano é levado ao limite. Todos já lemos, escutamos, vimos
no cinema, inúmeras histórias de amor. Essa é mais uma. Só que dessa vez, bem
rara.